quinta-feira, julho 16, 2020

António Franco

A lealdade para com os amigos e a elevada exigência para consigo mesmo estavam-lhe coladas à pele. Vivia, sem a menor dificuldade, esse comportamento extremo de rigor, mas sempre num tom nada macambúzio, com um eterno espírito de bonomia, de graça, de alegria de vida. 

Falámos pelo telefone, pela última vez, na passada semana, a minutos de ele partir para o hospital, de onde já não sairia. Estava a comer uma “bacalhauzada”. A mim, sem o menor jeito para estas cenas, saiu-me um qualquer dito tolo. A reação dele foi: “Que diabo de frase é essa?” Dias antes, num prenúncio, tinha-me dito que, sem remorsos, estava a ter a paga dos prazeres e da liberdade de que nunca se privara, ao longo da vida. 

Acabo de saber que morreu António Franco, um colega um pouco mais velho do que eu, a conselho de quem entrei para o Ministério dos Negócios Estrangeiros e que, curiosamente, viria a substituir no seu último posto como embaixador. Conhecemo-nos na parada de Mafra e fomo-nos encontrando a partir daí pela vida, com imensa frequência e regularidade.

Fomos muito amigos. Se posso contar os meus amigos dos dedos de uma mão, o António, sem a menor dúvida, foi um deles. Por décadas, cultivámos imensas cumplicidades, de toda a natureza. Em todos os passos importantes da minha vida, consultei-o sempre antes, pela certeza do seu bom senso e do seu equilíbrio. 

Nos últimos anos, por motivos que para aqui agora não importam, não olhámos da mesma forma para algumas coisas e isso afastou-nos um pouco. Tive muita pena. Porém, nos últimos meses, voltámos a falar bastante. E isso fez-me muito bem.

A morte do António não foi uma surpresa, já era prenunciada por uma mensagem recebida da Ana, há escassas horas. Sinto-me muito triste com a partida do António.

Para a Ana e para os filhos do António, a quem ele se dedicava sem limites, deixo aqui um forte abraço e o nosso imenso pesar.

7 comentários:

Anónimo disse...

Partiu um amigo, como disse uma amiga em comum, de uma dignidade Humana, moral e etica como poucos. Nada mais a dizer porque essas poucas palavras dizem tudo desse grande homem.

Sérgio de Almeida Correia disse...

Um abraço também para si, é sempre difícil perder um amigo.

Anónimo disse...

https://aquitailandia.blogspot.com/2020/07/morreu-o-embaixador-antonio-franco.html

Anónimo disse...

Caro Francisco,

O António tinha tambêm a qualidade de tratar os colegas mais novos como se estes o não fossem, e era amigo do seu amigo. Conheci-o há mais de trinta e cinco anos e levámos a cabo projectos no Brasil. Recordo longas conversas em Jacarta. Gostava de facto dos prazeres da vida e mereceu-os. Um grande abraço à Ana. Foi-se a âncora dela e de muitos de nós.

JPGarcia

Luís Lavoura disse...

Dias antes, num prenúncio, tinha-me dito que, sem remorsos, estava a ter a paga dos prazeres e da liberdade de que nunca se privara, ao longo da vida.

Fez ele muito bem e encarou a morte de uma forma digna.

Não foi pelos vistos como os cobardes que agora se encafuam todos em casa com medo de um vírusico, perdendo a liberdade.

Anónimo disse...

Um Senhor.
Os meus sentimentos.

Luis Gil disse...

Sei que será também penosa a partida deste seu amigo que muito estimava e conhecia de muitos encontros profissionais/oficiais.
Sei-o porque não há muito (3 meses) também perdi um dos amigos (contam-se pelos dedos de uma mão) que são muito para além do termo!
Para si digmo Embaixador, os meus sinceros e respeitosos sentimentos...também.

Vou ler isto outra vez...