Há não muito tempo, depois de fazer uma palestra em Antália e de reuniões em Ancara, tomei a decisão, antes do regresso a Lisboa, de passar um dia em Istambul.
Parti de Ancara num voo bem matutino, instalei-me num hotel perto da Aya Sofia e, durante 11 horas (é verdade!), flanei sozinho pela antiga Constantinopla (ser filho único ajudou-me sempre muito a gostar de andar comigo mesmo). Almocei no restaurante da estação tornada famosa pelo Expresso do Oriente (de onde Gulbenkian partiu, em fuga, quando jovem), comprei castanhas pela rua, visitei mesquitas (nunca tinha ido à Suleimaniye), perdi-me no mercado das especiarias, fiz o clássico passeio de barco pelo Bósforo (onde tive uma curiosa conversa com um médico iraniano, que por aqui contei), vi o sol a pôr-se à passagem pelo palácio Dolmabahce, galguei até às alturas de Galata, com pausa para um copo no bar do Pera Palace, calcorreei toda a Istiklal até à praça Taksim (lembrando os confrontos, não muitos meses antes) e não resisti ao cliché de tomar o famoso elétrico de volta. Jantei muito bem, por ali, para o tarde, num restaurante moderno, com uma livraria acoplada (tudo publicado em turco, infelizmente...), com imensa gente, música ao vivo, acompanhado de um tinto búlgaro que me soube pela vida. A noite estava quente, desci no funicular, parei uns minutos na ponte, na travessia para a cidade velha, para observar a sorte dos seus eternos pescadores. Apenas por cansaço, tomei um taxi no percurso que me restava até ao hotel, não sem antes ter bebido um sumo de limão gelado num boteco tradicional. Um dia turístico barato, numa imensa tranquilidade, numa das mais vibrantes e belas cidades do mundo.
Senti-me então em Istambul em completa segurança, como sempre me recordo por lá. A cada vez, desde a primeira visita nos anos 80, a expressão islâmica no vestuário das mulheres acentua-se a olhos vistos - como aliás acontece no Cairo, em Tunis, mas muito pouco em Argel.
Se há cidade que, sempre que posso, recomendo a todos os meus amigos para visitarem é Istambul. Ontem, um terrível atentado vitimou turistas na cidade, na zona de Sultanahmet, junto ao hotel onde fiquei. Sinto raiva ao pensar que o terror começa a retirar ao mundo o usufruto das suas maravilhas.
9 comentários:
Senhor Embaixador,
Fui um dos felizes que conheci a Turquia, década 80, século passado e ao serviço de uma companhia americana de prospecção de petróleo. Corri quase todo esse país lindíssimo, de boa gente e hospitaleira. Adorei a Turquia!
Saudações de Banguecoque
Oui, Senhor Embaixador, a raiva é a expressão que convém ao ver como se reduz a economia dum país à miséria por causa da violência. A Tunísia, o Egipto, a Síria, o Iraque, o Afeganistão, pagam caro o apoio do Ocidente para lhes mostrar o caminho da democracia! Porque sejamos honestos , quem destabilizou esses países e esses povos fomos nós.
Mas a raiva é ainda maior quando se pensa nas vítimas inocentes da geopolítica ocidental , não só todos os turistas mas também os autóctones massacrados por milhares e milhares, e os migrantes afogados no Mediterrâneo.
Na origem encontramos sempre o Ocidente, as suas oligarquias poderosas, os seus interesses económicos .
Quanto a Istambul, também tem razão. estive lá com a minha esposa há dois anos. Fiz o mesmo circuito. Vi muitas coisas. Não tendo o tema no seu blogue, escrevi sobre a minha viagem no mesmo momento em que aparecia o seu "post" no Facebook. Fiz três fotos que me fizeram reflectir e que postei:
Um submarino nuclear russo que atravessava o Bósforo, e que ia certamente para a sua base na Síria, os dois continentes, asiático e europeu, fotografados do meu barco, unidos pela velha ponte em Istambul, que o Senhor atravessou, esta proximidade de 3 km que faz reflectir no problema da adesão da Turquia à UE, e a ilha grega de Lesbos que fotografei a algumas centenas de metros. Esta ilha que dá que pensar aos criadores do espaço Shengen.
A Sublime Porte vai arrancar muitos cabelos aos pensadores iméritos da UE.
Mas Istambul, de facto, que pena , que massacre, que mundo horrível se prepara nessa região. Ou já é.
Não teve tempo para tomar um chazinho no Pierre Loti Cafe?...pena...
Partilho plenamente o incômodo com a constatação de que cada vez há mais destinos inseguros para turistas: Egito, Turquia, até mesmo a França!?
Por outro lado, como bem disse o Sr. Joaquim de Freitas, é preciso pensar em todas as pessoas que sofrem inconvenientes muito mais sérios com esses atentados: insegurança no dia-a-dia, ferimentos, mutilações, mortes. Diante disso, ver diminuídas as opções de lugares para passar férias parece certamente um mal muito menor.
"Na origem encontramos sempre o Ocidente, as suas oligarquias poderosas, os seus interesses económicos"
Sr. Joaquim Freitas:
Se consultar um dicionário de português verá que "oligarquia" é um Estado em que
a preponderância de uma ou mais famílias dispõe do governo. Ora, se há estados que são dominados literalmente por oligarquias são os estados mulçumanos, quer árabes, quer africanos. Não percebo como é que, tão anti-oligarca que é (aliás, anti-quase tudo: colonialista, imperialista, semita, americano, capital, neo-liberal, neo-con, união europeia, Merckel, Cameron, Hollande, ocidental), esse estados lhe mereçem tanta afeição e carinho, e ao invés, as democracias ocidentais, tanto ódio.
Ó homem, olhe que a diferença entre si e o seu, presume-se, "estimado" Bush, passe o meu exagero de o comparar a um presidente, não é nenhuma: o famigerado Bush dizia que o Iraque, o Irão e o Afeganistão representavam o "eixo do mal", você diz que o "eixo de todos os males" é o ocidente! E neste ponto colhe, naturalmente, a concordância do seus queridos amigos (e vítimas inocentes do bárbaro Ocidente) da "Al Qaeda", do "Estado Islâmico", do "Boko Haram" e de outras organizações islamitas. Estão todos de acordo: o eixo de todos os males do mundo é o ocidente. Amen!
PS.: isto não invalida que se reconheça algumas e substanciais responsabilidades do ocidente (e em particular dos seus "amigos" americanos) na actual situação mundial. Mas por mim, olhe, ainda assim, prefiro viver sob a "pés" dos seus "amigos" americanos do que na palma das mãos dos seus amigos.
Senhor Manuel do Edmundo-Filho : Admira-me que tenha conseguido escrever tantas coisas contraditórias e..falsas, num pequeno texto. Se lhe respondo é porque recordo outras debates com o Senhor, que tinham outra qualidade. Por cortesia, e sobretudo para lhe dizer o seguinte:
Estou de acordo com a lista dos anti , toda, mas recuso uma : a de anti semita. ou então o Senhor não sabe o que isso significa. Consulte o dicionário. Se tivesse escrito : anti sionista, reivindico-o. Tenho na minha família uma pessoa de religião judaica. Sei fazer a diferença.
Tenho outra leitura da palavra "oligarquia". Um sistema político no qual o poder pertence a um pequeno grupo de indivíduos, sim, constituindo uma elite intelectual, sim, (aristocracia)
ou uma minoria possuidora, (plutocracia), os dois aspectos estando frequentemente confundidos num grupo.
Manuel Valls, primeiro ministro francês, quando critica a politica de apartheid e o tratamento infligido pelos Israelitas aos Palestinianos, a ocupação da Palestina, o Muro e o roubo sistemático das terras, como eu o faço, não é anti semita. A esposa é Judia. Aquilo que o Senhor faz é usar o argumento ignóbil do amalgama, no qual criticar Israel é ser anti semita.
Quanto às monarquias absolutas da península árabe, pode chamar-lhe o que quiser. O que sei é que não são estados democráticos, são estados religiosos, feudais, e são amigos e aliados do Ocidente, ou vice versa, que, eles, têm, em princípio, outros valores.
O resto do seu comentário, caro Senhor, é tão excessivo, incoerente e incompreensível vindo de si, que prefiro abster-me de responder.
A culpa é dos iluminados de espírito, ateus até á medula, adoradores dos aventais,sempre "ex-sempre-qualquer coisa na política" (conforme o-que-está-a-dar...) laicos na sua vida de "entouráges" e mundanidades do "bem bom",esquecendo-se rápidamente das suas raízes culturais históricas.
Nunca serão europeus !
A actual UE é uma amálgama de burocratas "perdidos e sem cabeça" para definir um rumo, sem saber fazer escolhas, com a ideia sempre presente da "não ofender", quando os outros todos os dias ofendem a cultura ocidental e a fé cristã.
O Senhor "amgvieira" , quando escreve : " quando os outros todos os dias ofendem a cultura ocidental e a fé cristã.", cavalga um puro sangue do cristianismo triunfante que está nos genes da cultura ocidental. E confunde alegremente a cultura com a fé cristã.
Como se biliões de humanos, com outras "fés", não possuíssem culturas milenárias. Como se a cultura e a fé fossem baluartes de defesa da integridade, da bondade, do humanismo e do respeito do ser humano.
Como se o mundo ocidental, apoiado na fé secular do cristianismo e na cultura greco-romana, não tivesse sido capaz de desencadear as duas maiores guerras da história da humanidade no nosso continente, no mesmo século! Com o triste recorde de dezenas de milhões de mortos, todos cristãos, numa guerra civil sem nome, com o apogeu da crueldade no drama da SHOA , ou a industrialização da morte, cujos obreiros tinham marcado nos cinturões "Got Mit Uns".
E o fogo de artifício único na história do homem, no horror de Hiroshima e Nagasaki. Ah Senhor "amgvieira" devia ir dormir àquele hotel onde dormi , aquando duma visita comercial à firma Mazda, em Hiroshima, e saber porque é que uma empregada vinha fazer o seu trabalho só quando os clientes tinham ido todos embora, para não mostrar o seu rosto desfigurado, e que fazia medo a toda a gente.
E toda esta carnificina após o século que viu a crueldade refinada duma religião , que inventou o auto da fé para , pelo fogo, impor uma crença a pobres humanos que tiveram o triste destino de nascer ou de se encontrar ao acaso das emigrações forçadas, errando em países que se deram por arrogância a missão de salvar o mundo dos incrédulos porque criam noutros deuses ou no mesmo, mas de outra maneira.
Sem falar da guerra civil entre cristãos , clientes de duas ou três igrejas concorrentes, uns reformistas e os outros conservadores, batendo-se por um dogma que o pobre povo dos fieis não compreendia, excepto quando se aperceberam que os pecados eram redimíveis com um pagamento cash!
Onde a crueldade mais uma vez marcou em letras de sangue a mais estúpida das guerras que é a guerra de religião. Que nenhum Deus exigiu, mas que os homens de igreja inventaram para assentar um poder temporal .
Alors, Caro Senhor "amgvieira" vir-me falar dos problemas da Europa e querer atribuir a culpa "aos iluminados do espírito , ateus até à medula, adoradores de aventais, laicos "
(porque aceitam todas as religiões e não aceitam a supremacia duma só) .
Como está longe da razão essencial da deriva da nossa sociedade.
Podemos contar sobre a direita e a extrema direita para alimentar as crispações egoístas e odiosas , para conduzir uma política de poder, de poder de exclusão, de rebaixamento da humanidade, de anti fraternidade.
Mas é de solidariedade e duma política de dignidade humana que temos necessidade . Porque dignidade e solidariedade conjugam-se em conjunto contra cinismo e exclusão.
Ora, o sistema económico vigente é antinómico. E é ele que é preciso mudar.
Sr. Freitas não seja "dramático", não sou anti-religioso, não quero é uma sociedade europeia medieval, do tipo 1437 oriental em 2016,e quem fomenta a idade-média para a Europa são os primeiros a apelar á igualdade, fraternidade, esquecendo-se de separar o trigo do joio.
Enviar um comentário