terça-feira, janeiro 19, 2016

"Much ado about nothing"

Nos últimos anos, dei aulas sobre prática diplomática a estudantes universitários. Alguns deles eram estrangeiros, o que fez com que, em diversas ocasiões, tivesse de abordar o modo muito diferenciado como cada país leva à prática aquilo que Paulouro das Neves tão bem trata no livro a que, com felicidade, deu o nome de "Rituais de Entendimento".

Um dos temas que sempre verifico que suscita curiosidade nas aulas prende-se com as condecorações que são atribuídas por um país a cidadãos estrangeiros. Se há práticas diplomáticas que é tradicional serem comuns, neste domínio elas divergem de Estado para Estado e cada país é chamado a definir as suas regras próprias, feitas de um historial que lhe é específico. E que, naturalmente, compete aos profissionais de cada diplomacia nacional acatar e respeitar.

Nas últimas horas, vi na internet e na comunicação social uma estranha polémica, aparentemente pelo facto da nossa embaixada em Paris não ter acolhido a entrega de uma condecoração atribuída pelo governo francês a uma determinada personalidade portuguesa.

Atentas as últimas funções diplomáticas que exerci, compreender-se-á que aborde este assunto com extremo cuidado, tanto mais que desconheço, em absoluto, o contexto dos factos. Mas há uma coisa que não posso deixar de afirmar, com a maior clareza: eu teria ficado surpreendido se uma condecoração francesa tivesse sido entregue a um cidadão português, quem quer que ele fosse, nas instalações da nossa embaixada em Paris. Apenas porque não é essa a regra.

Nunca vi - mas admito, modestamente, que possa não ter visto tudo - uma representação diplomática portuguesa acolher a entrega de condecorações oficiais estrangeiras. Posso entender que o agraciado pudesse ter gosto nisso, admito mesmo que o país agraciante pudesse não ver inconveniente em que um território diplomático estrangeiro pudesse ser usado para esse fim. Admito tudo isso, mas um Estado não deve adaptar as suas regras protocolares às vontades pessoais, por mais respeitáveis que sejam, ou a quaisquer práticas estrangeiras. Às representações diplomáticas e consulares portuguesas compete zelar pela observância das regras que são próprias a Portugal. E elas são, nesta matéria, muito claras. Nada disto me parece, sequer, discutível.

Com toda a franqueza, tudo isto me parece "much ado about nothing", como dizia Shakespeare para significar o nosso simples "tanto barulho por nada".

13 comentários:

Anónimo disse...

Por falar em rituais de entendimento Luis Amado, digo Augusto Santos Silva estreia-se mal, e não pelo próprio pé, indo repescar para chefe de gabinete a Representante Permanente de Vasco Valente no gabinete do ex ministro. Nessa capacidade anterior deu sinais suficientes de não transmitir informação de relevo ao ministro por forma a acomodar a sua ascensão meteórica na carreira. Anda um 'home socialista a votar no Piésee para isto. Augusto Santos Silva fica mal na fotografia, como diria Marques Mendes, depois de na Defesa, ter nomeado às escuras um assessor diplomático... do PSD. Era importante perceber se vêm aí ou não novos tempos e se o embaixador em Madrid vai. continuar a pontificar depois de ter sido o obreiro-mor de Passos Coelho nas Necesidades.

Anónimo disse...

" Personalidade " ?

Anónimo disse...

Estou de pleno acordo consigo. O que me espanta é o Estado Francês ter aceite (ou pelo menos assim percebi das notícias que li) entregar uma sua condecoração numa Embaixada.

jj.amarante disse...

Também me pareceu razoável a posição tomada pela embaixada de Portugal em França, embora seja a opinião de um "marciano" nestas matérias.

Francisco Seixas da Costa disse...

A nomeação da Dra. Rita Laranjinha para chefe de gabinete do ministro Santos Silva é uma das muito boas notícias deste governo no MNE. Trata-se de uma das mais qualificadas diplomatas da sua geração, que tive o gosto de ter como minha adjunta no governo durante vários anos. E quanto a PSD's ou PS's nos gabinetes, então eu devo estar no "pelourinho": tive um chefe de gabinete que foi adjunto de Cavaco Silva, outro que foi adjunto de um membro do governo do PSD e outro que foi mesmo chefe de gabinete do meu antecessor, num governo PSD. Para utilizar uma frase que fez escola, o sectarismo é uma doença "que não me assiste". E nunca me dei mal com isso. As Necessidades não costumam ir por esses caminhos partidários. Embora a "dor-de-cotovelo", pelos vistos, afete alguns claustros...

Anónimo disse...

O anónimo parece-me ter mais raiva ao embaixador Vasco Valente do que à direita...

a) Feliciano da Mata, espião triplo

Luís Lavoura disse...

"tanto barulho por nada"?!

Está-se a falar da excelsa música do belo Tony Carreira, e o Francisco fala de "barulho"?!

Luís Lavoura disse...

O Francisco que tanto percebe de diplomacia, poderia esclarecer o povo sobre a notícia que hoje apareceu (veja um post no blogue Destreza das Dùvidas) sobre a compra pelo MNE de um faqueiro no valor de 75 000 euros, compra que se sucede a outras compras anteriores, por valores parecidos, de outros faqueiros e serviços de loiça. O que faz o MNE a tanta baixela? Para que é ela precisa?

Anónimo disse...

Penso que Tony Carreira não tinha como saber que não se entregam condecorações estrangeiras em território nacional. Tinha sido tão facil e tão profissional esclarecê-lo e, last but not the least, convida-lo para um almoço na Residência. No fundo era isto que ele queria.

Infelizmente, tenho a certeza de que se ele tocasse outra música, teria sido diferente ...

A JOGATANA disse...

Augusto Santos Silva, como sociólogo gostava de fazer um estudo aprofundado ao couro cabeludo de Tony Carreira.

Alcipe disse...

Nada, Luís Lavoura. Quando há visitas de Estado ou oficiais a Portugal, usam-se talheres de plástico e nas embaixadas de Portugal come-se à mão...

alvaro silva disse...

Oh Luis Lavoura o sr não sabe que nestes tempos de austeridade os convidados costumam levar os talheres no fim dos banquetes para na semana a seguir as irem "por no prego"!
Não há faqueiro ou baixela que resistam !

Anónimo disse...

"As Necessidades não costumam ir por esses caminhos partidários. Embora a "dor-de-cotovelo", pelos vistos, afete alguns claustros...", Meu caro colega, permita-me que retire esta sua frase da sua resposta. É que, infelizmente, desde há uns anos a esta parte, de governos MNEs PS aos do PSD/CDS, as tais Necessidades costuma e mal ir por esses caminhos. Cada fez mais. Embora, por vezes, de forma disfarçada. Lá vou observando, embora hoje, jubilado, me esteja nas tintas. Julgo que "a coisa" começou a partir de Durão Barroso, seguindo-se o PS que apanhou boleia e por aí adiante. Embora você tenha sido avesso a este tipo de práticas. Algumas colocações e promoções, hoje em dia, falam por si sobre este assunto. Creio bem que actualmente já não há volta a dar. Agora, mencionar nomes como aqui alguns comentadores fizeram é deselegante. Quanto ao caso Tony Carreira que aqui refere, concordo com a sua posição. Mas o António Monteiro é possível que discorde, pois segundo um orgão de comunicação social de hoje ele terá aceitado que a entrega de uma condecoração semelhante à artista Mísia se fizesse nas instalações da Embaixada. Será verdade? Menciono o nome do nosso ilustre colega e embaixador, neste caso, porque veio nesse tal jornal. Cordiais saudações e Bom Ano!
a)Claustros
PS: tenho pena do desaparecimente dessa figura ímpar que era Almeida Santos (e quando se lê o que alguns comentadores da notícia que o "SOl on line" dá, aquilo mete repulsa!)

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o sempre a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma extraor...