domingo, janeiro 24, 2016

Se houver segunda volta...


Não há a menor dúvida de que, logo à noite, Marcelo Rebelo de Sousa será o candidato mais votado. Também é claro que a segunda escolha irá para Sampaio da Nóvoa.

A grande questão está em saber se o candidato mais votado não ultrapassa os 50%, caso em que teria de ir a uma segunda volta. Se isso vier a acontecer, as próximas duas semanas de campanha serão muito interessantes.

Para o governo, uma segunda volta seria positiva, porque reforçaria a unidade das formações de esquerda à volta de Sampaio da Nóvoa o que funcionaria como uma sinergia de reforço da aliança política que apoia o executivo.

Devo dizer que não sei se, mesmo nessas condições, Nóvoa teria hipóteses de colmatar o "gap", em termos de votos, que irá ter face a Marcelo. Como também não sei se o eleitorado que apoia Maria de Belém, que irá ter um mau resultado, se transferiria necessariamente para Nóvoa.

É curioso que, se acaso tudo se tivesse passado ao contrário, isto é, se acaso Maria de Belem estivesse em melhor posição do que Nóvoa, as coisas seriam muito diferentes: toda a esquerda votaria nela, numa hipotética segunda volta, sem a menor hesitação. Mas é hoje evidente que o eleitorado de esquerda se revê muito mais num candidato como Sampaio da Nóvoa do que em Maria de Belém e que parte dos votos que esta obtiver nunca iriam para o candidato da esquerda. Muitos poderiam mesmo ir para Rebelo de Sousa. E isso muda toda a equação.

Voltando ainda ao interesse de António Costa e do governo numa segunda volta, há um aspeto a ter em conta. Se acaso a bipolarização e a confrontação viesse a ultrapassar um certo limite de tensão, e se Sampaio da Nóvoa acabasse afinal por não ser eleito, o governo teria perante si um novo presidente que os partidos seus apoiantes tinham acabado de combater fortemente. Por essa razão, não acredito que António Costa, mesmo na hipótese de uma segunda volta, se envolva demasiado na campanha. É que seria imprudente quebrar as "pontes" com um possível presidente Rebelo de Sousa. Percebo que isto possa parecer cínico para alguns, mas é a realidade.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, uma segunda volta, a acontecer, não deixaria de ter consequências políticas importantes. Contrariamente ao que ocorreu até agora, Marcelo necessitará da máquina da direita - ou, pelo menos, da máquina do PSD - para o ajudar a defrontar a mobilização que o conjunto dos partidos de esquerda farão em torno de Nóvoa. Ora isso funciona precisamente contra a "imagem" que, até agora, procurou criar: a de um candidato "transversal", que entra por algum eleitorado de esquerda através do fator "simpatia". A "despolitização" de Marcelo tem sido a chave do seu sucesso nas sondagens. Duas semanas de campanha com a máquina PSD ao lado transformarão necessariamente o candidato "mainstream" naquilo que ele, na realidade, é e tenta esconder: um político de direita. E isso tornará tudo muito mais verdadeiro.

Mas, para que tudo isso aconteça, é preciso que haja uma segunda volta. Logo veremos.

11 comentários:

Jaime Santos disse...

Não concordo totalmente. Se Marcelo for a uma segunda volta e precisar do apoio da máquina do PSD, isso irá obrigá-lo não apenas a assumir-se como candidato da Direita, mas igualmente a comprometer-se com essa Direita. Isso poderá criar engulhos a António Costa, que a ter que coabitar com MRS, preferirá provavelmente que este esteja o menos possível comprometido com o seu campo ideológico. Como Costa não gosta de arriscar, suspeito que amanhã estará a torcer por uma vitória de MRS já à primeira volta, de preferência com abstenção muito elevada, e por 50,1%...

Anónimo disse...

A meu ver, o prof. Marcelo tem grandes probabilidades de perder estas eleições.
Se isso vier a acontecer, pode agradecer esta derrota a Passos Coelho e à sua política de terra queimada.
Se amanhã não houver um vencedor com o mínimo de votos necessários, será convocada uma 2.ª volta.
E numa 2.ª volta, todos que são contra a política do Governo anterior, vão unir-se e votar Sampaio da Nóvoa .
Mais: a contagem de votos para a eleição do PR não obedece à aldrabice do método de Hondt . Aqui, cada voto conta.
E olhando para a composição da actual Assembleia da República, é visível que mais de 50% da população é contra a política daqueles que governaram contra os portugueses.

Anónimo disse...

Nós aqui no Golungo somos todos pelo Professor Marcelo Rebelo de Sousa . Mas para fazer o Bloco Central, que a Senhora Engenheira tanto deseja, acredite que o Dr. Costa e o Professor Marcelo vão fazê-lo bem melhor do que fariam a Dra Maria de Belém e o Dr Francisco Assis no papel de adjuntos do Dr Passos Coelho e da Dra Maria Luís ... E até rima!

a) Feliciano da Mata, possuidor de várias armações de óculos, frustrado candidato à Presidência da República

josé ricardo disse...

Já aqui o escrevi: seria um sinal de maturidade política do povo português remeter para uma segunda volta a decisão destas eleições, independentemente dos rodriguinhos políticos que daí possam advir. Mais importante do que tudo é, efetivamente, a clarificação dos candidatos, o que estes quinze dias tornaram, naturalmente, impossível. Depois disso, resta-nos confiar na capacidade e maturidade do novo presidente da República. A única certeza - e vitória - no meio de tudo isto: não será Cavaco Silva o vencedor. Nem o próprio, nem por interposta pessoa.

José Ricardo

A JOGATANA disse...

Imensos socialistas encarregar-se-iam de levar Marcelo ao colo, em qualquer segunda volta.

António Costa que se passeou agora pelo Tarrafal, a propósito de nada, poderia ir à península de Peniche.

E regressaria para botar o voto no Marcelinho novamente.

Anónimo disse...

O problema mesmo é termos sempre no poder candidatos com proveniência partidária à esquerda ou à direita. Os independentes nunca têm hipótese.

Anónimo disse...

Se MNDRS perder numa segunda volta ficamos governados por um PM que perdeu as eleições e com um PR que perdeu também as eleições.
Conclusão: como quem ganha as eleições não faz o "serviço" como deve ser, o Povo, com a sua grande "maturidade" concede o governo a quem perde... Pois tem que haver quem governe em condições, ora essa...

Francisco Seixas da Costa disse...

O anónimo daa 16.45 precisa de fazer melhor as contas. Então uma (eventual) 2a volta "não vale", é isso?

Anónimo disse...

Caro Embaixador esqueci-me de dizer, tal como na imagem do post, que o Povo a que me refiro quer dizer "votantes"...
Eu cá em casa faço as contas com todos!
E não se preocupe que eu também não me preocupo. Porque isto lá vai de uma maneira ou de outra. E nunca estive à cavaqueira com uma rapariga sobrinha da JF, que ainda por cima deveria ter os seus atributos, caso contrário, ninguém tinha notado...

Os meus respeitos

opjj disse...

Tantos psicólogos! Tanta fé!Até parece que o futuro presidente é que vai governar! Vamos pagar para ver António Costa. Aqui é que reside o problema.Já começou nos combustíveis. O povo AGORA vai engolir qualquer palha.
Cumps

Anónimo disse...

Segunda volta? só se for entre o Tino dos Anfibios e a senhora Dona Beata de Belém.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...