sexta-feira, dezembro 31, 2010

Europa - 25 anos

Faz hoje precisamente um quarto de século (já!) que Portugal ingressou nas então Comunidades Europeias, mais tarde chamadas União Europeia. 

Uma publicação do gabinete do Parlamento Europeu em Portugal, intitulada "25 anos de Integração Europeia", a editar dentro de alguns dias, vai recordar esse trajeto.

Por lá deixo, como muitos outros, um curto depoimento, que intitulei "Os limites da integração": 

O pedido de adesão de Portugal às Comunidades Europeias foi a decorrência óbvia do novo curso político do país, no período subsequente à Revolução de 1974, pela necessidade sentida, por pressão das forças então emergentes como dominantes, de garantir que o Portugal democrático pudesse ganhar um espaço no seio de uma cultura política internacional de sucesso. Quem teve a força política para decidir essa opção sentiu que ela poderia, não apenas proporcionar apoios materiais a um mais rápido desenvolvimento económico e social do país, mas, igualmente, trazer um eficaz enquadramento para a consolidação, em moldes congéneres aos dos Estados já então membros, do modelo político que pretendiam implantar no país - assente em instituições democráticas e na economia de mercado. Não foi, por isso, uma opção política neutra, razão pela qual certos setores partidários então reagiram, porque pressentiram que ela iria condicionar definitivamente a dinâmica política do país.

A presença de Portugal nas instituições comunitárias acabou por ter um efeito muito importante sobre a nossa vida coletiva. Para além de induzir uma cultura de modernidade, nas mentalidades e no quotidiano material, bem como forçar algumas dinâmicas de reforma que o processo político interno dificilmente teria condições para gerar autonomamente, Portugal conseguiu com isso atenuar, embora não colmatar por completo, os efeitos do longo percurso de periferização, face ao centro europeu, a que a ditadura tinha condenado o país. Olhando em perspetiva, pode hoje concluir-se que, se acaso não tivesse ingressado nas instituições europeias em 1986, o nosso país teria tido necessidade de efetuar um esforço muito superior de adaptação, para poder integrar um dos alargamentos europeus posteriores, com muito menos vantagens materiais do que as que então obteve.

A experiência da nossa presença nas instituições europeias também nos mostra, contudo, que o voluntarismo tem os seus limites e que há idiossincrasias que não são mutáveis por mera pressão enquadradora externa, que há vícios e formas de comportamento que vão para além dos mecanismos políticos a cuja observância nos comprometemos. Se foi possível a Portugal introduzir as mudanças necessárias à adaptação ao Mercado Interno e à criação de condições sincrónicas para a entrada na moeda única, a verdade é que isso não induziu a interiorização de um cultura comportamental de rigor, suscetível de fazer perdurar no tempo, e maturar nos efeitos, as vantagens da nossa pertença ao “clube”. 

4 comentários:

José Martins disse...

Senhor Embaixador,
Passamos fisgados no tempo que não demos por ele e nos deixou os cabelos brancos, algumas rugas na face e memória exuberante, dentro de nós, daquele tempo, ido, que nos pareceu o raiar da aproximação de nova era.
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A publicação dos “25 anos de integração Europeia”, poucos certamente a vai desfolhar e ficar nas prateleiras ao pó, como tantas outras antes, publicadas, no percurso de história da vida social e política do nosso país.
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No que a mim me toca a integração de Portugal na União Europeia nunca me há dito nada, tão-pouco acreditei que os ricos ofereçam algo aos pobres sem deles esperar o triplo.
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Um tema, complexo a nossa filiação num clube, onde nos desafios em campo de disputas, uns sentam-se nas tribunas/bancadas e outros na geral ou a chamada “pontapé” nas costas.
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Condicionar a dinâmica política (onde incluo a económica) comparo a integração de Portugal na União Europeia, como a do dia de S.Marcos, o padroeiro dos bois, dos cavalos e dos burros, celebrado na minha santa terrinha, em 25 de Abril, onde neste dia os adultos ofereciam (no meu tempo) uns tostões aos miúdos, que poucos os guardavam para investir no futuro e outros desde que lhos ofertassem gastavam-nos nas doceiras em cavacas e rebuçados. Lá iam os tostões em guloseimas.
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Com isto os 25 anos de integração de Portugal, na União Europeia, foi semente de trigo lançada em terra seca que não germinou e produziu grão.
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Desejo-lhe muitos sucessos no ano 2011 e continue a divulgar temas de interesse e eu por aqui ainda viva para os ler.
Saudações do River Kwai – Kanchanaburi – Tailândia
José Martins

Anónimo disse...

vantagens da nossa pertença ao “clube”. (FSC;2011)

São efetivas basta a possibilidade da nossa livre circulação, do poder entrar sem mesuras ou aviso prévio de receção tratando-nos como concidadãos quase sem exceção nos direitos e deveres...
Isabel seixas

juliomoreno@sapo.pt disse...

...Retomando o tema do meu post de ontem – “Como seriam os Estados Unidos de Portugal?” - e relacionando-o com o velho ditado popular de que “a necessidade aguça o engenho…” não posso deixar de lembrar este velhíssimo e sábio conceito e relacioná-lo com aquilo que a História nos evidencia e demonstra quanto à sua indesmentível veracidade assim como à interrogação que, a mim próprio, colocava naquele post que referi.

Realmente, se atentarmos que a actual segurança aérea e marítima muito deve à invenção dos radares, ocorrida durante a segunda guerra mundial pela necessidade de detectar a aproximação da aviação e dos navios inimigos; que muito do actual progresso da engenharia, nos seus variados ramos, se deve igualmente à fase de reconstrução que a Europa se viu forçada a empreender depois de devastada pela guerra; que as comunicações sofreram todo o seu vital impulso na decorrência dessa mesma catástrofe a que venho aludindo, teremos de convir que muito do que hoje temos, somos e fazemos aconteceu e continua a acontecer porque forças poderosas e alheias à nossa humana e real vontade do “dolce fare niente” no-lo impuseram em situações de extrema e urgente necessidade e, paradoxalmente, de proveitoso comodismo.

Quero com isto dizer que, quer os arianos de Hitler o queiram ou não – que ainda os há e haverá sempre – quer o afectado britanismo da “city” pretenda dar continuidade à afectação snobe do “fair play” dos lordes continue a suportá-lo com a indulgência própria dos seres que se acham superiores, a miscigenação, que já hoje é uma abençoada realidade, sê-lo-á muito mais e muito em breve total, apenas passando a existir o homem sem qualquer referência à especificidade da sua cor, raça, situação cultural ou credo religioso e político.

O homem deixará então de ter uma nacionalidade para apenas possuir uma única qualificação: - a de ser terrestre, a qual, quando em confronto com seres de outras galáxias, o individualizará e permitirá distingui-lo dos demais caso os “outros” sejam de tal jeito morfologicamente semelhantes que uma qualquer confusão seja possível.

Ora, os E.U.P. (Estados Unidos de Portugal), se existissem e não tivessem sido jogados fora por aqueles que, para o lixo, atiram tudo aquilo que consideram desnecessário ou desprezível – por afectação, miopia, gravíssima ignorância ou maquiavélico e inconfessável interesse pessoal - em muito teriam contribuído para esse futuro que, muito embora longínquo, de acordo com os nossos actuais padrões de espaço e tempo, bem próximo estará de nós se considerada a verdadeira intemporalidade do mundo novo que se avizinha.

Continuamos a desbaratar a água doce que continua correndo para o mar esquecidos de que, quando esta voltar à terra, no final do ciclo milenar da evaporação/condensação, já virá poluída, filtrada que terá sido pelas invisíveis mas mortíferas partículas do progresso que cada vez mais numerosas estão suspensas no e do ar que respiramos…

Fui, sou e, creio que o serei sempre. contra a integração europeia...

juliomoreno@sapo.pt disse...

O meu post de "ontem":
Como seriam os Estados Unidos de Portugal?
U.S.P. – United States of Portugal.
Remontando ao tempo das descobertas, e, talvez, apelando um pouco ao texto do Tratado de Tordesilhas, mais uma vez teríamos dado cartas ao mundo construindo um Estado soberano inter-racial e intercontinental, espalhado, com verdade e não em termos de pura retórica, pelos quatro cantos do Mundo, do Minho a Timor!
Já imaginaram como teria sido?
Uma federação de estados portuguesa sob a bandeira das quinas, dando um mais consistente significado à esfera armilar que ostenta e com um pouco mais de castelos do que os actuais sete conquistados aos mouros.
Um castelo por cada região: - Portugal, Açores, Madeira, Guiné, Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Goa, Damão, Diu, Macau e Timor! Ao todo treze! Treze castelos flutuando nas bandeiras das quinas hasteadas em terras banhadas por todos os oceanos e de quase todos os continentes, orgulhosamente ombreando com as cinquenta estrelas da bandeira dos E.U.A senão em número pelo menos em significado e com a suprema originalidade da dispersão geográfica o que certamente em muito iria contribuir para tornar o mundo moderno cada dia mais “miscégeno” e mais pequeno.
Seria esta hipótese uma utopia?
Definitivamente considero que não e atrever-me-ia mesmo a dizer que talvez fosse assim mesmo que pensasse o Infante nos primórdios de 1400 quando lançava as suas naus por esses mares desconhecidos e que algo de semelhante seria o pensamento do Marechal Spínola e da teoria subjacente ao seu livro “Portugal e o Futuro” e que bem poucos terão entendido: - o seu conceito muito pessoal de federalismo e que eu igualmente perfilho, bem ao contrário desta louca adesão a uma Europa que sempre nos ignorou e que hoje nos espezinha perante o estado de estranha subserviência em que nos colocámos e que a muitos políticos terá aproveitado e continuará a aproveitar…
É que se assim fosse, ou melhor, se assim tivesse sido, estaríamos hoje a braços com a crise que nos consome a todos no lauto banquete que só a muito escasso número de “glutões”aproveita?
Como se teriam desenvolvido, a Nação Portuguesa, a nossa criatividade e capacidade improvisadora, toda a nossa actividade no domínio dos transportes e das comunicações, da produção e do real progresso e toda a nossa natural tendência para a “miscigenação”?
Como e com que força não estariam hoje fundidas as culturas europeias, africanas e asiáticas e se teria desenvolvido o intercâmbio mundial tão ansiosamente procurado e constantemente frustrado por mentes limitadas que se afirmam patrióticas e mais não sabem, ou não querem saber, do que desrespeitar os seus mortos que tudo sacrificaram pela sua Pátria, não hesitando em vendê-la a troco de míseros pratos de lentilhas com que se julgam mais ricos e tanto que até Fundações sem fundamento criam?
Que outro Povo teria tido, em todo o Mundo, a nossa inata capacidade de fusão, de comunhão e de entendimento, afinal tudo aquilo que se busca nos diversos Tratados e Acordos internacionais que hoje tanto proliferam, tanto tempo consomem e tanto gastam do erário que, sendo público, a todos faz falta e de que todos se vêm reclamando tão carenciados!
Que Mundo tão diferente teria sido então este em que vivemos e que, muito embora a muitos pese o que digo e penso, trocámos por trinta dinheiros...

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...