Com imensa pena minha, está prestes a chegar ao fim o meu mês Timberland. Há vários anos (mesmo muitos) que isto se repete.
Aí por finais de julho, aviados os últimos compromissos profissionais (este ano excecionalmente com o mais do que agradável interlúdio da "presidência de honra" das Festas de Viana), há quatro semanas em que só calço Timberland (e não estou a fazer a menor publicidade à marca, note-se), do vetusto modelo "classic boat". Sempre sem sombra de meias, claro!
Tenho hoje três pares, o mais antigo dos quais já com mais de uma dezena de anos, prestes a ser convocado para o museu da marca. Esse par mais antigo, o "três" (como íntima e carinhosamente lhe chamo), é o que ainda vai à praia, apanha água salgada ou das piscinas, faz de sandálias que não uso, tendo lá por dentro, sob as palmilhas quebradiças, alguma areia que eu creio que já fossilizou. Em tempos, o "três" deu voltas da Amazónia ao Cambodja, fez as praias da Normandia, andou pela Praça Vermelha e por Sharm el-Sheikh, pisou coisas tão longínquas como o Usebequistão ou Bornes de Aguiar (Não foram ontem à festa anual de Bornes? Nem sabem o que perderam!). Esse par está num estado lastimoso, mas isso não me impede de vigiar algumas sinistras tentativas de mo fazerem desaparecer, nas cruéis limpezas anuais às sapateiras. Mas ele, o velho "três", ainda continua, orgulhosamente, a ser aquele par de Timberland que os meus pés reconhecem como o seu mais amigo aconchego, desde há muitos anos.
No dia-a-dia destes dois últimos Verões, o "dois", um par que também ele já teve melhores tempos, mas que ainda aí está para muitas curvas, é o todo-o-terreno que me espreita logo à saída do banho, faz o percurso titubiante até ao "expresso" matinal que me acorda e, depois, acompanha-me quase todo o dia. Só este ano, andou do Pereira de Tróia aos ágapes numa certa quinta de Portalegre, fez milhares de quilómetros em viagens de automóvel, tem calcorreado cidades e aldeias, pisa os cafés, da Caravela de Viana ao Aurora de Chaves, corre as mesas da Gomes ou sustenta-me no balcão da Tosta Fina, em Vila Real, onde também sempre me acompanha aos rissóis e às pataniscas do Lameirão (um Vallado Reserva 2007, guardado para mim pelo Eleutério, fez-me no sábado ganhar o mês). Ainda há horas o "dois" foi "almoçar" ao Vidago (quem é daqui diz "ao Vidago", o pessoal da mourama diz "a Vidago") e passeou em Tourencinho e em Zimão. E está aqui ao meu lado, como mui fiel sapato, onde o meu pé entra sempre como a mão numa luva, sem sequer lhe tocar nos cordões, prestes a levar-me daqui a minutos para um pica-pau noturno no Tralha.
É, contudo, na perspetiva de deslocações a alguns restaurantes mais na moda ou a jantaradas a casas alheias que o "dois" começa, nos dias (mais nas noites) de hoje a ser objeto de alguma pouco subliminar discriminação. Não que isso assim aconteça por minha vontade, mas por uma suave imposição doméstica. E é então que entra em cena o último parceiro da trupe, o "um". O "um" é um par Timberland mais "finaço", que já comecei a perceber que me é sugerido ("não vais com esses sapatos velhos, por favor!") quando a camisa ou o polo são de certa marca. Com um Gant ou um Paul & Shark, ou mesmo com alguns Lacoste (pré Filipe Oliveira Batista), ainda me aceitam que leve o "dois". Porém, se acaso opto por um qualquer cavaleiro da Ralph Lauren, por um Boss, um Armani ou mesmo por um Tommy Hilfiger, é certo e sabido que logo surge a "pressãozinha" para que o "um" seja o par escolhido. E eu, que sou bem mandado, lá vou na onda, porque há batalhas que não valem um sobrolho feminino cerrado.
Enfim, é a vida! Com o "um", com o "dois" ou com o "três", a verdade é que só me sinto bem em férias com os meus Timberland. Se isto der para publicidade deles, não me importo nada! Bem merecem!