quinta-feira, agosto 18, 2016

Cristas redentora

Assunção Cristas, líder dos democrata-cristãos, deixou-se fotografar numa pose insinuante, tendo como fundo uma Lisboa estival, com um vestido branco, curto, com motivos de kiwis.

(Poderia colocar aqui a fotografia, que está a atravessar o país das redes sociais, mas prefiro não o fazer. Por duas razões. A primeira é porque a não apresentação da fotografia, mesmo para os leitores que já a conhecem, permite-me alimentar imageticamente esta narrativa (e isto não é despiciendo para a lógica expressiva deste espaço, desculpem lá!). A segunda razão é porque isso me permite concretizar um sonho: entrar num exercício idêntico à daquele programa da SIC, aos domingos, sobre futebol, construído com "paleio", sem imagens.)

A fotografia é tirada do miradouro de S. Pedro de Alcântara, em Lisboa. Do piso superior, não do jardim de baixo, onde Fernanda de Castro, mulher de António Ferro, criou, com a complacência do ditador, um ramo da sua obra de assistência infantil. Desse nível, a perspetiva seria menos boa e a imagem decadente das estátuas, decapitadas ou mutiladas pela javardice das ressacas do Bairro Alto, não ajudaria. E, já nem no CDS deve haver muita gente que conheça a escritora, podendo ser assim sensível ao toque subliminar de uma referência conservadora.

Cristas (ou Líbano Monteiro ou Luís Paixão Martins ou António Cunha Vaz, dependendo da agência de comunicação avençada) quis ter Lisboa do alto. Mas não escolheu o vidro modernaço do terraço do Hotel Bairro Alto ou do Park bar ou da varanda do Insólito, por detrás da fotógrafa. Quis ter como base um peitoril sobre uma grade clássica, que esperou por uma excelente luminosidade para refletir uma cromia serena, nem excessivamente anoitada (inconveniente, na proximidade dos fados e do Bairro Alto), nem ensolarada de luz quente (que induziria nota de alguma lubricidade).

A pose é "casual", mas muito estudada. Por um lado, isso é bom. Um perfil totalmente natural induziria relaxamento, quiçá volúpia, abrindo portas (salvo seja!) a leituras liberais, nos usos e nos costumes. Ora Cristas é tudo o contrário disso, é uma senhora casada, mãe de família, com um rancho de crianças, num recorte muito tradicional. Fazer pose é, assim, de rigor.

Não se esperaria, porém, naquele cenário (com o Caldas ao fundo, para além do Condes) um "tailleur" cobrindo o joelho, como o fariam Ferreira Leite ou Teodora Cardoso, se lhes passasse pela cabeça deixarem-se retratar assim em frente à antiga FAUL, onde nasceu o PS lisboeta. Por isso, e porque é o elemento provocatório do conjunto, o vestido é toda "uma história". Tipo "saco", com meia manga larga, tem uma altura que não é chocante naquilo que revela, sem deixar de ter um toque ousado na sua contemporaneidade. Os motivos frutais têm tons de verde seco que acompanham os ramos do arvoredo por detrás da retratada, num conjunto que induz um tom algo intimista, de jardim, no mundo do recorte urbano. Os pés displicentemente cruzados, com sandália de tacão muito alto, assentam numa calçada dita portuguesa, embora verdadeiramente apenas lisboeta, reconduzindo a líder ao solo reconhecível. O relógio, negro, pouco clássico, rompe com a brancura da veste.

O olhar de Cristas é para a direita ("what else?"), para os lados do Paparrucha (outro belo possível cenário, para a próxima) ou do saudoso Pedro Quinto. O esgar é impecável, neutro, um toque de sobranceria que não fica mal, de destino assumido, auto-confiança, talvez com um excesso ligeiro de artificialismo na luz induzida. Há por ali firmeza, alguma distância, visão, uma determinação acentuada pelos tendões do pescoço, que revelam maturidade cruzada com a juventude adulta que se procura exaltar. Sobre os kiwis não me pronuncio, embora preferisse peras ou melões. Tudo menos laranjas!

Restam os joelhos. A decisão de mantê-los sem retoques de "photoshop" revela uma forte personalidade. "Chapeau"!

Que pensarå o PP sobre esta voluntária exposição da sua líder? E o velho CDS? E Portas, cujas poses eram em geral os seus piores retratos, porque ficava com ar de alguém que ironizava com a situação e tinha algo a esconder?

Esta é uma fotografia reveladora de uma certa imagem que Cristas procura fazer passar: ousada, firme, insinuante, conservadora moderna.

À atenção do PSD!

13 comentários:

Anónimo disse...

ALERTA LARANJA
A continuar assim, com Passos Coelho perdido e enredado no seu labirinto, o PSD arrisca-se a perder o lugar que ainda tem no espectro político do nosso país.
Esta é a grande oportunidade de Assunção Cristas.
O país não ficará melhor, com a populista Miss Piggy e a sua corte de anões, do tipo João Conchita Almeida, Pedro Orelhas de Abano Mota Soares, aquela deputada sempre efervescente, sempre em lume alto, descendente dos fogões Meireles, o Nuno Pai à Força Magalhães ou o Telmo Z Zagalo Correia.

Anónimo disse...

Pois, não dou ca foto para avaliar a justeza do dito.

Joaquim de Freitas disse...

« Chapeau » Senhor Embaixador ! Bem autopsiada, com um bisturi de marca, onde não falta a “touche” de sensual, ao passar pelos joelhos … Mas quem é essa Cristas ?

ignatz disse...

"E, nem no CDS, deve haver muita gente que conheça a escritora, podendo ser assim sensível ao toque subliminar de uma referência conservadora."

pelos vistos o autor do poste tamém não a conhece ou o termo conservadora é uma ironia à lata da sardinha. o resto é crítica de moda, tom machista, em serão de canastra peixeira. não tem de quê.

José Manuel Silva disse...

Que burburinho em torno da putativa "Dama de Ferro" portuguesa. Será que a senhora merece ou tem importância para tanto?

Helena Sacadura Cabral disse...

Ai Francisco que demolidor!
Coitadas da Teodora Cardoso e da Manuel Ferreira Leite para aqui "especialmente" chamadas... Só mesmo o seu sentido do humor se lembrariam destas duas senhoras...
Claro que podíamos escolher umas moçoilas do PS, que até se operaram para parecerem mais jovens, na pretensão aos lugares para que, bucolicamente, se candidataram e não ganharam...
Ai! essas féria deram-lhe ainda mais vigor. E não deixa por mão alheias - faz bem! - o elogio ao belo sexo, o que só prova que mantém a sua atenção, sobretudo quando ele é de direita...
São estas pequenas malícias que me fazem gostar de si. Mas, prometo-lhe mais para diante, arranjar um bouquet de donzelas de esquerda, que concorrem com Cristas. Não é nada difícil!
Quanto ao Paulo, não me compete pronunciar-me. Deixo essa tarefa ao Pai, seu amigo também!

Anónimo disse...

Não se trata do lançamento de uma campanha publicitária?

"Nós temos kiwis de muito boa qualidade que ombreiam ou superam os melhores do mundo."

http://observador.pt/2015/04/17/ministra-da-agricultura-destaca-potencial-exportador-do-setor-dos-kiwis/

Anónimo disse...

e ninguém põe aí a foto? ou a coisa não existe e foi uma invenção diplomática?

Anónimo disse...

Pronto, chegamos ao ponto mais baixo da politica, reduzida ao Bairro Alto e seus frequentadores que se limitam, nas "esquinas", a detratarem tudo e todos, mal disfarçando, sem vergonha, que nunca fizeram outra coisa na vida.
Qualquer chichiolina que hoje se candidate ao que quer que seja ganha certamente.
A causa? Está à vista: O "Circo" tem as prestações cada vez mais "realistas"!

rui esteves disse...

A foto, aparentemente tão casual, é produto de gabinetes de comunicação que sabem muito bem como apresentar/vender um produto.
Aqui, a Miss Piggy até parece elegante, fresca, confiável, quando ela é tão calhamaço, tão tóxica, tão manhosa.
Isto não passa de publicidade enganosa e devia ser feita queixa à DECO e à Direcção-Geral do Consumidor.

ignatz disse...

modas & bordados para desviar atenções dos beijos & abraços cds/mpla. pode ser que passe desta vez, não meti o portas ao barulho.

Anónimo disse...

fotografia é de uma peça jornalística, logo é feita, mesmo encenada, sem interferência de agências de comunicação, não é? Onde é que está a dúvida? Terá acordo da protagonista, eventualmente tera sido discutida entre ela e os seus assessores no sentido de fazer ou não sentido fazer a foto. Mas o resto é questão de fotojornalista e não de agência de comunicação. Só pode ter sido o jornalista a propor o conceito. Nunca, nem nos piores sonhos, um jornalista aceitaria para uma peça jornalistica uma produção fotográfica proposta da fora. Aquilo é pensado em termos de conceito na propriA revista, que tem gosto naquelas encenacoes. O embaixador quando foi entrevistado na revista não terá tido um conceito qualquer? Aposto que sim e que foi discutido apenas consigo, jornalistas e fotógrafos.

Isabel Seixas disse...

Está é bem gira.
até incrementaram a auréola de mistério, uma discrição a dar nas vistas, um agridoce alivio, uma senhora a insinuar-se na capacitação deliberada da sua experiência,um quase normal a querer fugir ao senso comum,um barato...até parecer caro, uau...
o seu artigo é compatível e interessante também.

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