domingo, dezembro 22, 2024

Hoje lembrei-me do padre Domingos


Das traseiras da igreja de São Martinho de Bornes tem-se esta vista. Estava assim, hoje à tarde. Lá em baixo, ficam as Pedras Salgadas, com as Romanas, Sabroso e algum casario do Bragado ao fundo. Do outro lado da igreja, fica o cemitério onde estão aqueles que hoje fui visitar, lembrando a falta que farão nas festas que aí vêm.

Por algumas décadas, oficiou por aqui o padre Domingos. Casou, batizou e enterrou muita gente da minha família, até que a lei da morte se aplicou um dia a ele próprio. A mim só me batizou, numa "infamous" jornada da qual há fotografias que revelam que já ia pelo meu pé e da qual saí com uma gravíssima bronco-pneumonia, que o meu pai sempre disse ter-se ficado a dever à água gelada da pia de água benta, neste caso benta "ma non troppo". Fui a primeira pessoa da família a quem o padre Domingos não casou "pela igreja", pelo que sempre me dizia, num léxico de caçador: "A ti, deixei-te escapar. Foi pena!". Não foi.

Um dia, o padre Domingos sofreu uma queda e ficou retido em casa, por umas semanas. Sabia-se que era tratado pela Martinha, uma senhora que nunca conheci mas que era o seu constante apoio caseiro. Algumas paroquianas, preocupadas com a saúde do padre Domingos, foram vê-lo a casa. Ficou famosa a resposta que deu a uma delas, que lhe perguntou: "Então o senhor padre Domingos partiu a bacia?" O pároco, que não era homem para deixar alguém sem resposta, contestou com uma frase que ficou para a pequena história das Pedras Salgadas: "Parti a bacia, parti. Mas não parti o jarro..."

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Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...