Um romance do escritor cubano Leonardo Padura, "O homem que gostava de cães", está a ter apreciável êxito em França.
Perdi a ocasião do seu lançamento em Paris e, com isso, a oportunidade de reencontrar Padura, com quem tive uma longa e interessante conversa em Havana, há quase quatro anos, num jantar proporcionado pelo meu amigo e embaixador Mário Godinho de Matos.
Padura é uma personalidade suave, com um sorriso amigável e um modo muito sereno de olhar para a realidade do seu país. Nessa conversa em 2007, demos conta que havíamos vivido em Luanda ao mesmo tempo, na primeira metade dos anos 80. O escritor fizera parte dos "cooperantes" que Cuba enviava para apoio ao regime angolano. A certo passo da noite, perguntei-lhe se, como então se especulava, esses cubanos expatriados tinham fortes incentivos económicos, bem como de apoio às famílias que deixavam para trás, como compensação pela execução da sua missão. Confirmou-me que essas atividades lhes proporcionavam, de facto, algumas vantagens mas, enfatizou, nesse tempo havia em Cuba um alargado espírito de "missão internacionalista", que mobilizava muitos dos seus compatriotas. Para acrescentar, muito realisticamente, que, nos dias que correm, esse sentimento havia desaparecido quase por completo, pelo que era praticamente impossível recrutar técnicos cubanos para ações no exterior numa base predominantemente ideológica.
Padura é uma personalidade suave, com um sorriso amigável e um modo muito sereno de olhar para a realidade do seu país. Nessa conversa em 2007, demos conta que havíamos vivido em Luanda ao mesmo tempo, na primeira metade dos anos 80. O escritor fizera parte dos "cooperantes" que Cuba enviava para apoio ao regime angolano. A certo passo da noite, perguntei-lhe se, como então se especulava, esses cubanos expatriados tinham fortes incentivos económicos, bem como de apoio às famílias que deixavam para trás, como compensação pela execução da sua missão. Confirmou-me que essas atividades lhes proporcionavam, de facto, algumas vantagens mas, enfatizou, nesse tempo havia em Cuba um alargado espírito de "missão internacionalista", que mobilizava muitos dos seus compatriotas. Para acrescentar, muito realisticamente, que, nos dias que correm, esse sentimento havia desaparecido quase por completo, pelo que era praticamente impossível recrutar técnicos cubanos para ações no exterior numa base predominantemente ideológica.
Nessa bela noite de Havana, recordo bem que Padura nos falou num trabalho em que andava envolvido, em torno de documentação de Ramón Mercader, o homem que, no México, em 1940, assassinou Trotsky, às ordens de Stalin. Mercader viveu a parte final da sua vida em Havana, onde morreu, em 1978, tendo mais tarde sido sepultado, com honras soviéticas, em Moscovo.
O livro que Padura acaba de produzir centra-se na figura de Mercader. Um amigo francês, que esteve presente no lançamento da obra em Paris, que teve lugar na Casa da América Latina, dizia-me, há dias, que ele e outros acompanhantes haviam ficado siderados quando um jornalista francês ("na casa dos 40 anos", esclareceu) lhes perguntou se sabiam como se soletrava o nome de "um tal Trotsky", que Padura referira na sua intervenção. Foi pena que ninguém lhe tivesse feito notar que, na realidade, ele ouvira mal, que Padura pronunciara "Bronstein"...
De facto, o mundo já não é o que era...