Há quatro anos, quando vivia no Brasil, fui convidado para fazer uma palestra na universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Antes do evento, foi-me oferecido um almoço, por responsáveis e professores. A certo passo da refeição, um docente canadiano, atirou-me, de chofre:
- A vossa zona euro está a dar sinais de degradação. A Alemanha e a França começam a não conseguir cumprir os critérios de convergência. Quantos anos mais Portugal conseguirá resistir, antes de ser forçado a abandonar a moeda única?
Confesso que fiquei aturdido. Até então, nunca ninguém me tinha colocado semelhante questão, que, à época, me parecia sem o menor sentido.
Recordo-me bem do que respondi:
- O custo que poderá representar, para Portugal, a tomada de medidas que venham a revelar-se necessárias para se manter na zona euro será sempre muito inferior àquele que o país teria de suportar se acaso viesse a ter de sobreviver fora dessa mesma zona, de regresso a uma moeda nacional.
O mundo deu, entretanto, muitas voltas e a discussão sobre a nossa posição face à "eurozona" anda agora por aí. Mas continuo a acreditar piamente na resposta que então dei.
9 comentários:
Eu também.
Senhor
Francisco
O Senhor deu a resposta correta com brilhantismo.
Então já morou no Brasil.! Conhece BH?
com carinho MOnica
Sobre este tema há várias crenças, tantas quantas os segmentos de privilégio ou sacrifício que se encontram em Portugal. Será bom para as pseudo - elites e simultaneamente para o povo? Para todos ou só para alguns? O caminho Francês dos anos sessenta e setenta não augura nada de bom! Por mim parece-me indiferente a não ser que substituíssemos as pseudo - elites de excelentes provas dadas indígenas, por elites teutónicas mais rigorosas.
Cara Mônica
Conheço "Bêagá"/"Bêlô" muito bem, das Mangabeiras à Pampulha, do museu Histórico ao Palácio da Liberdade, do Barro Preto às delícias do Vecchio Sogno ou do Taste Vin. E conheço muito bem todo o Estado de Minas, de Sabará ao Serro e Diamantina, de Tiradentes e S. João del Rei a Ouro Preto e Mariana, mas também de Montes Claros a Uberlândia.
Minas é a minha "segunda terra".
Cordialmente
Ajudei a divulgar o euro em Portugal, pois fui director de Comunicação da Comissão Euro do MF.
Continuo a acreditar firmemente na moeda única. Se tivéssemos ainda o escudo, onde estaríamos agora?
Senhor Embaixador:
Com o desconto que sempre se deve dar aos leigos, ou melhor, àqueles que, como eu, se atrevem a meter a foice em seara alheia, gostaria de tomar alguns minutos do seu precioso tempo pedindo-lhe para me acompanhar nesta simplista e talvez infeliz análise:
- Voltámo-nos para a Europa, esquecendo o mar, fonte perene e inesgotável das nossas maiores conquistas e afirmações no Mundo, isto a fazer fé no que dizem e me ensinaram, quando à nossa frente tínhamos a vasta Espanha, inimiga antiga e donde os ventos e os casamentos nem sempre foram os melhores, os Pirinéus, tão difíceis de transpor como até de imaginar, e essa bela França, onde V.Exa. hoje nos representa, mas de onde partiram os exércitos de Napoleão que, durante alguns anos, nos tentaram submeter e subjugar embora quando por aí andei, de tal me esquecesse tão bem me sabia o “bordeaux” no saudoso acolhimento do “Au Bon’Amour”, restaurante que então visitava com alguma frequência.
- Voltámo-nos para a Europa e com ela veio o “euro” que, durante meses foi objecto de intensíssima propagando pseudo técnica e toda ela laboriosamente preparada no sentido de nos demonstrar que, a adopção da nova moeda, em nada viria alterar a nossa vida.
- Muitos acreditaram. Eu não. E não porque, entre outras coisas, cedo verifiquei que, tendo agora como moeda corrente de menor valor o cêntimo (dois escudos aproximadamente) nunca mais conseguiria comprar o que quer que fosse que só valesse um escudo – e havia ainda tantas coisas a esse preço!
- Claro que poderia comprar duas coisas (entraria no supérfluo talvez mesmo no sumptuário o que qualquer economista condenaria, se não pelo valor, pelo menos pelo acto em si) ou então deixaria de comprar o que pretendia já que o “vendedor”não teria troco para me dar que não fosse em espécie!
- Paralelamente – e como hoje tanto jeito nos faria e, ao tempo, seria previsível – deixámos de poder desvalorizar a moeda e de poder, dessa forma, fazer face ás crises económicas que surgissem como, no passado, tantas vezes tínhamos já feito sempre que as importações excediam as exportações.
- Simultaneamente, com este nosso jeito de sobrevalorizar o que é estrangeiro, desatámos a comprar, a preços europeus, mediante as facilidades que a Banca, fugazmente, nos proporcionou – insistindo em nos emprestar o guarda-chuva para, como dizem os ingleses, no-lo tirar logo que começasse a chover… - e lamentavelmente nos esquecendo de que os nossos salários continuavam sendo os nacionais, portugueses de sempre… (não para todos, entenda-se).
E aqui terminaria o meu temerário raciocínio se não me restasse ainda uma pergunta, pergunta essa para a qual não fui capaz de encontrar resposta satisfatoriamente convincente: - será que ganhámos ou perdemos com o “euro”?
Que a saída dele seria hoje catastrófica, disso, porém, não tenho a menor dúvida. Só que me parece que continuamos a voar num ultra-leve tendo-nos esquecido do pára-quedas para o caso de termos um acidente e, quanto ao que a mim respeita, de levar mesmo comigo quem, na ocasião, me empurrasse…
Com os meus agradecimentos, lhe peço desculpa pelo tempo que lhe roubei com tanta asneira junta…
Senhor Embaixador
Concordo consigo. Mas suspeito que serão diferentes as razões que nos animam. No meu caso, e de modo muito egoísta, o pouco que tenho, ficaria naturalmente reduzido a metade. O que, depois de uma vida de trabalho me não agrada nada.Já bastam os sacrifícios desiguais que nos são pedidos.
Para o país, o raciocínio não seria muito diferente...
Também quero acreditar que não vamos voltar ao Escudo!
Isabel BP
Eu, que mercê do trabalho do meu marido, em terras do Canadá, resolvi tirar umas férias das notícias de Portugal, apenas por opção, claro está, pois elas estão como todos sabemos no mundo virtual. No entanto tenho sido ávida leitora dos jornais desta terra e digo-lhes: não ouço especias alarmes quanto a Portugal em exclusivo como nos querem fazer crer, lá estão sempre a Irlanda, a Grécia e a Espanha. Embora leiga sobre o assunto penso que se nos "escorraçacem" do Euro, outros iriam connosco!
DM
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