Ontem, à margem de um almoço no Palácio da Ajuda, oferecido pelo Presidente da República, por ocasião dos 40 anos da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades Europeias, foi possível juntar um grupo de pessoas que ocuparam o cargo de Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, desde Vitor Martins até à atual titular Inês Domingos. Faltam na foto Teresa Moura, Manuel Lobo Antunes, Pedro Lourtie, Bruno Maçães e Morais Leitão.
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sexta-feira, junho 13, 2025
Assuntos Europeus
Ontem, à margem de um almoço no Palácio da Ajuda, oferecido pelo Presidente da República, por ocasião dos 40 anos da assinatura do Tratado de Adesão de Portugal às Comunidades Europeias, foi possível juntar um grupo de pessoas que ocuparam o cargo de Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, desde Vitor Martins até à atual titular Inês Domingos. Faltam na foto Teresa Moura, Manuel Lobo Antunes, Pedro Lourtie, Bruno Maçães e Morais Leitão.
quarta-feira, janeiro 10, 2024
Entrevista a José Cabrita Saraiva, para o semanário "Nascer do Sol"
Com uma carreira na função pública de 42 anos, esteve colocado em Oslo, Luanda, Londres, e foi embaixador nas Nações Unidas (Nova Iorque), OSCE (Viena), Brasil, França e UNESCO (Paris). Hoje exerce funções de administração e consultoria em várias empresas do setor privado e não se imagina a viver fora de Lisboa.
Durante a sua vida visitou mais de cem países e conheceu figuras decisivas do nosso tempo, como Bill e Hillary Clinton, Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, Chirac e Sarkozy, Gorbachov e o atual ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. Mas quem mais o impressionou foi Mário Soares – «estava à vontade em todo o lado, parecia aqueles velhos diplomatas que não se assustam com nada» – e, a nível internacional, Lula da Silva.
Alguns desses encontros, entre outros momentos e memórias, estão registados no livro Antes que me Esqueça (ed. D. Quixote), ponto de partida para uma conversa à volta da diplomacia e das suas circunstâncias.
Conheceu muita gente importante. Chegou a conhecer o Kissinger, que morreu recentemente?
Não conheci o Kissinger, mas todos nós no fundo somos um pouco clientes do seu realismo cínico. Se olharmos para os tempos da história a que esteve ligado, verificamos que há momentos dramáticos para muitos povos em que ele teve um papel decisivo. Estamo-nos a lembrar das ditaduras latino-americanas, do sudeste asiático, etc. Em relação a Portugal, Kissinger tem dois tempos. Um é o momento em que ele é convencido pelo Carlucci [embaixador dos EUA em Portugal entre 1975 e 1978] de que afinal Portugal não estava perdido nas mãos do comunismo internacional e que era possível encontrar uma solução através de Mário Soares e dos moderados dessa altura. Outro, talvez mais trágico, é o momento em que Kissinger vai com Gerald Ford à Indonésia e no dia seguinte, ou 48 horas depois, devido a uma luz verde dada por Washington, há a invasão indonésia. É nessas conversas que os indonésios ganham a consciência de que os americanos não se oporiam a uma invasão, na lógica da Guerra Fria. A eventualidade de Timor-Leste cair nas mãos do comunismo internacional levava a que Kissinger tivesse a noção de que valia tudo. No fundo não é muito diferente da velha lógica do Roosevelt, que a propósito creio que do Somosa, na Guatemala (*erro: era Nicarágua), dizia – e temos de fazer a tradução com cuidado: ‘He’s a son of a bitch, but he’s our son of a bitch’ [‘Ele é um filho da mãe, mas é o nosso filho da mãe’] Na Guerra Fria é quem está do nosso lado que conta, e ele põe um bocadinho os princípios de parte. Nesta última fase, o momento mais complexo terá sido quando, no início da guerra da Ucrânia, em mais um acesso de realismo, ele terá dito que era preciso fazer um compromisso que passasse eventualmente por algum trade-off relativamente ao território. Mas é um personagem extraordinariamente interessante da política americana. E devo dizer que ele pensa muito bem, escreve muito bem, é delicioso lê-lo. Mas nunca o vi.
Falemos então um pouco da sua experiência. O seu primeiro posto foi…
Na Noruega, em Oslo, em 79. Entrei para a carreira diplomática um pouco por acaso. Era funcionário da Caixa Geral de Depósitos, estava no meio do serviço militar, e fiz concurso…
Atirou o barro à parede a ver se pegava?
Já tenho falado com a minha mulher sobre isso. Eu já escrevia sobre questões internacionais n’A Voz de Trás-os-Montes, em Vila Real, aos 18, 19 anos. Ainda outro dia encontrei esses textos. E o meu pai era um francófilo e assinante do L’Express. Depois, entre um dos meus tios e o meu avô havia muita conversa sobre política internacional, virada para a guerra. E eu fui-me interessando. Havia concurso e pensei: ‘Eu sou capaz de fazer aquilo’. Há um elemento diletante nisto. Na altura, de manhã fazia umas horas numa empresa de publicidade e trabalhava comigo um personagem que chegou a ser famoso nos media portugueses, o locutor Pedro Moutinho. Quando eu lhe disse que ia fazer concurso para o Ministério [dos Negócios Estrangeiros], o Pedro disse: ‘Ó Francisco, você é de famílias com posses?’. E eu disse: ‘Não, eu vivo do meu ordenado’. ‘Então não pode ir para o Ministério. O Ministério é só para gente rica’. A verdade é que o meu salário, quando eu entrei, era mais baixo do que o que eu tinha na Caixa Geral de Depósitos. Portanto devo ter feito uma opção algo lúdica, no sentido de ‘deixa experimentar se sou capaz’. E devo dizer que os primeiros tempos não foram fáceis.
Porquê?
Quando entrei em 1975 o Ministério era uma casa basicamente conservadora. Mas ao mesmo tempo era uma casa muito liberal – talvez porque as pessoas viajem muito, tinha um grande cosmopolitismo. Eu tinha estado no MFA, tinha estado muito envolvido politicamente e com uma posição bastante radical. Andava com uma bigodaça e um cabelo imenso e as pessoas devem ter pensado: ‘Este tipo não está bem aqui’. Mas arranjei uma maneira de escapar: trabalhava muito e, sem modéstia, acho que trabalhava bem. Foi assim que eu subi à corda.
Foi assimilado?
Fui assimilado, numa casa que à partida não era a minha – o meu pai era gerente da Caixa Geral de Depósitos em Vila Real e eu vim estudar para Lisboa, portanto, não tenho ligações familiares nem sociais…
Porque existem linhagens no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Existiam mais no passado. E acho absolutamente normal que o filho de um diplomata tenha a tentação de seguir a carreira. Ainda hoje há muitos filhos de diplomatas na carreira e têm feito ótimas carreiras. Mas eu diria que o concurso de 1975, aquele em que eu entro – e o primeiro em que entram mulheres –, é o momento da abertura social do Ministério. Não é que não houvesse já pessoas de níveis sociais diferentes. Mas eu diria que um certo eixo Lisboa-Cascais, e certas famílias de uma aristocracia às vezes já um bocadinho erodida, predominavam no Ministério. Eu vinha com uma marca, que nunca procurei iludir, de esquerda. E a esquerda não é o território ideológico natural do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Mesmo hoje, penso eu.
Então vai para Oslo.
Vou para Oslo, depois vou para Luanda.
Geograficamente não é nos antípodas, mas em termos civilizacionais…
Oslo tinha sido um banho de civilização. Dali parto para Luanda. Luanda com recolher obrigatório, com os hotéis a não funcionarem, não havia restaurantes, não havia lojas, não havia nada. A minha casa em Luanda era muito fraca, a vida era uma complicação. Mas eu e a minha mulher fomos extremamente felizes em Angola. Se calhar só tenho esta perspectiva agora, mas foi muito enriquecedor também em termos de nos dar um banho de realismo. E esse realismo tem uma dimensão política, isto é, nós percebemos que as coisas não são bem como se pintam. Por essa altura, ou uns tempos antes, entre os comunistas, apesar das divisões – os que eram favoráveis à União Soviética e ao PCP, os que eram favoráveis aos movimentos maoístas, etc. – havia uma coisa que estava numa espécie de Olimpo, que eram os movimentos de libertação. E justificava-se até muitas coisas que corriam mal por estarem no princípio.
E percebeu que afinal não era bem assim? Perdeu essa ingenuidade?
Quatro anos de Luanda ajudam-nos a pôr os pés no chão. E ajudam-nos a perceber que essa tal ingenuidade tem que desaparecer. E devo dizer que estes banhos – aí no livro conto também uma viagem à União Soviética, a Ialta, com a minha mulher, nos anos 80 – são momentos de confronto com um mundo… Eu nunca fui convidado para o PCP, talvez as pessoas achassem que não tinha vocação de seguidismo. Mas fez-me muito bem ir a Berlim Leste em 79, fez-me muito bem ir a Ialta em 80. Você tem um confronto com uma sociedade em que, intimamente, diz: ‘Eu não quero viver numa coisa parecida com isto’.
É uma vacina?
E, passando para Angola, é a dose de reforço da vacina. É o momento em que, mesmo aqueles que vêm de uma tradição marxista, como era o meu caso, de repente têm uma espécie de reconversão, no sentido de dizer: ‘Afinal, com todos os seus defeitos, a democracia burguesa é o sítio onde eu me sinto bem a viver’. Depois pode estar mais à esquerda ou mais à direita. Mas esta noção de poder dizer o que lhe apetece, de poder escrever à vontade, de poder sair à vontade, isto é uma coisa que não tem preço. Aliás, a gente olha agora para o mundo e percebe que esse é o lado certo. Independentemente de depois poder ter as suas ambiguidades.
Imagino que esses contrastes deem um cosmopolitismo que não é só o das grandes metrópoles, mas o cosmopolitismo que de certa forma lhe permite estar à vontade também em sítios menos ‘civilizados’.
É verdade, embora eu não seja dado, digamos, ao cultivo afetivo de coisas ‘étnicas’ ou de coisas ‘bizarras’ no plano cultural e da vida. Tento compreendê-las, mas não tenho paixão por isso. Sou muito urbano.
Muito europeu, também?
Muito europeu. Desde miúdo andei pela Europa. Fui à boleia da rotunda do Relógio até à Noruega.
Com que idade?
Com 19 anos e depois com 21, antes de me empregar na Caixa Geral de Depósitos. E fui aos Estados Unidos com 21 anos, nas primeiras férias que tive da Caixa Geral de Depósitos. Ninguém ia passar férias aos Estados Unidos. Também comecei nessa altura a nascer para a cultura anglo-saxónica – em minha casa era tudo francófilo, os meus livros eram em francês, as minhas referências eram francesas – e foi aí que comecei a abrir aos Estados Unidos e à cultura americana, à história política, aos Watergates, comecei a interessar-me muito por isso. Mas de facto há um cosmopolitismo que nós ganhamos e que é estar naturalmente em qualquer sítio. E perceber que estamos sempre – particularmente os diplomatas – numa posição secundária. É-nos dado o privilégio, em determinados momentos, de assistir a determinadas situações. Mas somos atores secundários. E não podemos ter a tentação de trair a lealdade e a fidelidade da função que nos é dada. As personagens que fui encontrando, os reis, os primeiros-ministros, essas coisas todas, percebemos que tudo roda, tudo muda. A parte diplomática dá-nos um papel, diria, de lugar na bancada para esse mundo. A certa altura, no final da minha vida – e este livro, no fundo, é o somatório de tudo isso – fui fazendo uns retratos à luz da minha própria maturação. Do princípio ao fim eu vou evoluindo e vou crescendo no olhar. E, se calhar, às vezes nalgum cinismo. Depois, a circunstância de ter passado de algum radicalismo marxista para a posição social-democrata que tenho hoje também me apaziguou comigo mesmo.
Já não tem aquela visão da luta de classes, portanto.
Não, não tenho. E mais do que isso: já não tenho a noção de que qualquer coisa que eu faça pode mudar o mundo. Talvez um voto de quando em quando ajude. Mas tenho a noção de que estas coisas têm uma dinâmica que nós não controlamos.
Existe um pouco a noção de que os diplomatas são pessoas que andam refasteladas em bons hotéis e em bons restaurantes a discutir os problemas do mundo mas sem terem verdadeiramente poder para os resolver.
Sempre fui bastante comodista e sempre procurei andar em bons hotéis. Há uma expressão que agora é muito utilizada, que é sair da sua zona de conforto. Eu estou lindamente bem na minha zona de conforto e lutei muito para lá chegar, portanto não me apetece sair dela. A minha zona de conforto é aquela que eu criei, que paguei, que saiu do meu trabalho. Sim, tenho a noção de que a vida diplomática dá às vezes essa ideia um bocadinho glamorosa de andar nos alcatifados e nos tapetes, com os reis, e os jantares e cocktails, não sabendo as pessoas que um cocktail ou um jantar com gente chata à volta é uma coisa absolutamente inenarrável. Mas imagino que alguns, particularmente aqueles que querem aceder à carreira, podem sentir-se tentados por aquilo a que o Medeiros Ferreira chamava ‘os sinais exteriores da carreira’. Hoje aceito com imensa relutância alguns convites diplomáticos de embaixadas, já dei para esse peditório.
Porque é uma estopada?
Às vezes não é. Às vezes são pessoas muito simpáticas, muito agradáveis. Mas, como eu não tenho futuro no terreno político, no terreno oficial, não preciso de estar a expandir esse networking, a troca dos cartões, etc. Já não tenho vida para isso.
Não tem uso?
O meu curriculum já parou e já dá para a nota necrológica. [risos] Acho que há um momento a partir do qual até nos libertamos disso e é um bocadinho um sentimento de alívio. Dito isto, há pessoas na carreira que têm maior apetência e ainda mantêm esse tipo de ligações. Eu cito no início do livro uma frase do De Gaulle que é um bocadinho aquilo que aprendi na vida: ‘É preciso saber deixar as coisas antes que as coisas nos deixem’. Para que nós amanhã não sejamos atirados para fora. Há uma história que eu julgo que não conto no livro, que é de um velho embaixador de uma grande embaixada portuguesa que estava já reformado em Lisboa, numa altura em que fui chefiar o protocolo durante 15 dias porque havia ali um problema. E o velho embaixador, figura prestigiadíssima, dos melhores nomes que a carreira teve, entra-me no gabinete que eu ocupava transitoriamente e diz-me: ‘Vem aí a visita do Presidente da República de […]. Não se esqueçam de mim para um lugar à mesa no jantar da Ajuda’. Tratei-o impecavelmente bem, acompanhei-o à porta, trouxe-o cá abaixo ao pátio, e disse para mim mesmo: ‘Espero ter aprendido a blindar-me contra a ideia de que alguma vez sou capaz de ir ao Ministério pedir para estar no jantar de Estado do Presidente da França ou da Rainha de Inglaterra’. Quando nos deixamos tomar por essa patine protocolar, cerimonial, de relações um bocadinho fátuas, é o fim. Acho que consegui escapar a isso.
Normalmente os diplomatas têm a palavra fácil, sabem fazer aquela conversa de salão – um bocadinho de história, um bocadinho de literatura…
Não sei se ainda sabem, mas sabiam.
Esse tipo de conversa é muito comum no meio diplomático?
É aquilo a que os franceses chamam langue de bois [língua de pau]. Ou, para usar outra expressão, são tipos que conseguem não dizer nada em várias línguas. Às vezes essa conversa tem que se fazer. Como diplomatas, somos seres sociais que estão ali, não em representação própria, em representação do Estado. E, se queremos dar continuidade àquela relação, temos que ser capazes de dizer alguma coisa que não fira o interlocutor. Ouvir barbaridades faz parte também. E ouvi-las com uma cara…
Impassível?
Aqui há tempos, em Lisboa, num jantar social de altíssimo nível a que eu tive de ir, uma senhora ao meu lado explicava-me: ‘Como sabe, nos países do sul da Europa só as ditaduras é que funcionam, não são países preparados para ter um regime democrático’. Como é que eu saio disto? Disse-lhe: ‘Isso é uma teoria interessante, valia a pena até…’ Sai-se pela ironia, não há outra maneira. Caso contrário vou dizer à senhora: ‘Você é uma parva, isso é um disparate!’.
Há uns meses estive em Bruxelas, e ouvi uma discussão surreal em torno da redação de uma recomendação. Tinham tanto medo de ofender este ou aquele, que às tantas o texto já não dizia nada.
Eu refiro isso no livro, às vezes discute-se noites inteiras por causa de uma palavra. É a chamada ‘agreed language’. Se a palavra é aceite, todos os documentos a partir dali vão ter essa palavra. Quem vê de fora acha: ‘Está tudo maluco, estes tipos estão a tratar coisas completamente sem sentido’. Mas no mundo da diplomacia multilateral pode ter algum sentido. O que não significa que às vezes não estejamos ali a perder tempo.
Na União Europeia existe uma burocracia complexa e…
Existe uma burocracia muito complexa e mais do que isso: como todas as burocracias, existe para se sustentar a si própria e para não ser destruída. Conheci um velho embaixador que dizia: ‘Sempre que se cria uma organização internacional, a primeira coisa que eles criam é um fundo de pensões’. [risos] E é um bocado verdade.
Está a dar a impressão de que é uma coisa quase parasitária.
Há um país cuja diplomacia respeito muito, mas cujos princípios práticos eu não respeito muito, que é o Reino Unido. O Reino Unido era contra as organizações, contra as estruturas, porque tinha a noção de que as estruturas institucionais têm uma vocação para ser uma espécie de um monstro que se auto-alimenta. E esses monstros adoram esse tipo de linguagem redonda de que falávamos, que não tem por onde se pegar. Quando estive como secretário de Estado, e ia ao Parlamento Europeu responder a deputados, o secretariado-geral do Conselho preparava-me as respostas e eu raramente respeitava o que ali estava. Eles ficavam desvairados, porque saía da langue de bois e saía daquele mecanismo de palavras redondas – ‘eventualmente’, ‘no caso de’ e tal.
Que nunca se compromete.
Nunca se compromete e, chegando ao fim, aquilo dá para tudo. A linguagem europeia é um perigo. Agora, a Europa trata de coisas muito sérias e trata outras de forma pouco séria. Quando fui secretário de Estado dos Assuntos Europeus, eu era soberanista, basicamente, porque tinha a noção de que sendo Portugal um país cujos interesses médios dificilmente se projetavam no processo de decisão europeia, queria ficar com a maior quantidade possível de cordelinhos na mão. Porque países como a Bélgica, a Holanda ou o Luxemburgo têm interesses iguaizinhos. Nós não. Estávamos à margem fisicamente, geograficamente, financeiramente, legislativamente e até mentalmente. Portanto eu dizia: ‘Quanto mais tarde partilhar a minha soberania, melhor’. Mas depois sou apanhado por algumas pessoas que se mostraram mais abertas – e aí são mais os políticos do que os diplomatas. O meu antecessor no lugar de secretário de Estado dos Assuntos Europeus, o Vítor Martins, é muito mais europeísta do que eu. Quando cheguei, dei-me conta de que herdava uma teoria com a qual convivia mal, e sou eu próprio que começo a europeizar-me e a perceber ‘se calhar eles é que têm razão’.
Converteu-se?
Fiquei, digamos, na soleira do federalismo. Mas nunca dei o passo verdadeiramente para a Europa federal. E acho que neste momento não há condições para isso. O cidadão português, quando vota, vota num deputado que elege um governo e a quem pede responsabilidades é a esse deputado e a esse governo. Não é a Bruxelas. E por isso estar a tomar decisões a nível europeu para depois o governante português dizer ‘Peço desculpa, eu não fui ouvido nem achado’ cria um problema de deslegitimação dos poderes nacionais.
Encontrei nestes textos várias referências a leituras e à aquisição de livros.
Aqui não há livros. Estão lá em baixo. A minha mulher, que é baixinha, entra no escritório e não me vê, tem que espreitar por trás das pilhas de livros. Eu tenho uma tese sobre a sexualidade dos livros, acho que os livros se multiplicam. De vez em quando saem daqui umas carradas para a biblioteca de Vila Real, onde já estão uns milhares. E há em Vila Real, na casa onde o meu sogro viveu, uma cave com 100 caixotes – não são 99 nem são 101, contei-os outro dia, são 100 – por abrir. Fotografias, discos, alguns dossiês, se calhar contas antigas. E livros e livros e livros. E também aquilo a que o Jaime Gama chama ‘não-livros’. Como Pássaros da Moldávia, aqueles coffee table books que na vida diplomática nos oferecem muito, e esses a Biblioteca de Vila Real não quer [risos]. Vivo atulhado de livros, vivo a comprar livros todos os dias. Será até ao final da vida. A única coisa a que eu não tenciono resistir é a comprar livros.
O problema é que é muito mais rápido e fácil comprá-los do que lê-los.
Até lhe digo mais: comprar um livro é uma coisa que dá um prazer às vezes superior à leitura!
Imagino que seja útil para um diplomata ter uma certa cultura livresca. Se vai à Rússia não pode dizer que não leu o Guerra e Paz.
É verdade. Mas não sei se as novas gerações são capazes de acompanhar isso. Havia uma cultura média, a que o meu pai chamava ‘cultura de almanaque’, que as pessoas tinham e que nos permite estar à mesa… Há uma história que se conta de uma mulher de um diplomata que ficou ao lado de um escritor, e perguntou-lhe: ‘O que é que está a escrever?’. E ele: ‘Uma autobiografia’. ‘Que interessante! E é sobre quê?’
[risos] Tem de haver um mínimo?
Exato. Não sei se hoje esses mínimos são cumpridos. A minha geração, que acabou o seu curso nos anos 60, princípios de 70, tinha uma espécie de curiosidade renascentista sobre tudo.Às vezes um bocadinho pela rama. Mas íamos a todas: cinema, literatura, semiologia, depois apareceu a linguística… Isso, para uma conversa social, é um mundo ideal. Não faço ideia se as novas gerações são capazes disso. Mas se calhar eu também sou incapaz de manter uma conversa com alguém que… Às vezes vejo os cartazes daqueles festivais de música e daquela lista de bandas não conheço ninguém. Fico angustiado. Outro dia veio cá aquele grupo, Coldplay. Quando pus no Twitter, fui insultado por não saber o que era o Coldplay.
Tal como há temas preferenciais nesses encontros sociais – como o vinho ou o novo filme que está no cinema – também há temas proibidos? Estou a pensar, por exemplo, no futebol e se o golo foi ou não fora de jogo.
Há um tema proibido socialmente, e não apenas na carreira diplomática: as questões religiosas. Também é de evitar as questões políticas, assim como conversas muito fracturantes. E algumas grosserias, algumas anedotas mais ‘pesadas’. A vida diplomática é muito parecida com a vida social da média-alta burguesia. A conversa é à volta dos livros que estão, dos filmes que estão, às vezes de coisas mais levezinhas. Há uma história que por acaso não conto aí, de uma bielorrussa lindíssima que eu conheci num jantar no Quirguistão e em que ela diz: ‘Eu quero ficar ao lado do embaixador de Portugal, que eu quero discutir um grande, grande escritor português’. E eu: ‘Claro, com certeza’. E pensei: será o Lobo Antunes, o Saramago?
E quem era o escritor?
Paulo Coelho. [risos] E posso garantir-lhe uma coisa: o Paulo Coelho foi durante todo esse jantar um grande escritor de língua portuguesa. Assumi a cem por cento. Devemos evitar atitudes muito radicais e confrontacionais. Embora às vezes a parte política seja mais complicada. Mas há um ponto interessante: a diplomacia é uma espécie de esperanto global muito marcado pela cultura europeia, que é aquela que define todas as regras do protocolo, o funcionamento das embaixadas, etc. E isso também nos ajuda a circular com alguma comodidade. Apanhando os códigos, estamos à vontade em qualquer sítio.
Sendo obviamente um meio requintado, com regras de etiqueta e de comportamento muito específicas, não há às vezes tendência para um certo snobismo?
Um certo…?
Snobismo.
Claro! Sim, sim, sim. A carreira [diplomática] é um espaço para cultivo da snobeira. Quem é à partida snob sente-se na carreira como peixe na água. Para já, porque permite alimentar e sustentar o seu sonho de convivência social, e portanto encontra ali o terreno ideal para isso. Depois, porque isto também é muito permeado por aristocracias, particularmente em países monárquicos. E porque ainda subsistem – acho que cada vez menos – aqueles momentos de solenidade do uso da casaca, do uso do fraque – se é de manhã com colete claro, se é à noite com colete escuro –, do uso do smoking, das condecorações, essas coisas todas. Há quem cultive essas coisas, e de certa maneira cultiva também o snobismo que vem atrás de tudo isso. A carreira antiga estava mais próxima desses rituais. Há um livro do embaixador Paulouro das Neves que tem o título ideal para isso: Rituais de Entendimento. São rituais de entendimento, mas também de comportamento. Não podemos, por exemplo, ter um tipo de agressividade que possa ser desagradável. Ou melhor: podemos ter agressividade, desde que ela seja estudada. Eu tenho hiatos de agressividade propositados. Por exemplo, receber um embaixador estrangeiro que na véspera disse umas coisas desagradáveis sobre Portugal. Ele começa a justificar-se, eu levanto-me e ponho-o na rua. ‘Pode continuar absolutamente a dizer de nós o que quiser como disse ontem. E não venha dizer que não disse, que eu tenho três testemunhas. Agora, da sua atitude nós vamos tirar consequências nas relações com o seu governo’. E ponho-o na rua. Passado duas semanas, ele estava a dizer bem de Portugal por todo o lado.
O diplomata pode ter de lidar hoje com Sócrates e amanhã com Passos Coelho, como foi o seu caso. A cor política muda alguma coisa na relação?
Tive 21 ministros dos Negócios Estrangeiros e 15 primeiros-ministros, creio eu. Nós temos que aprender uma coisa muito simples: somos funcionários do Estado, e eles também têm que aprender que nós somos funcionários do Estado e não funcionários do governo de turno.
Nem do partido.
Nem do partido. E temos que aprender que quem tem legitimidade política são eles. E perante isto, há duas coisas a fazer. Em primeiro lugar, perante alguma coisa que nos mandem fazer e sobre a qual nós tenhamos dúvidas, dizer: ‘Eu não concordo, por isto, por isto e por isto’. Ele diz: ‘Muito obrigado, mas de qualquer forma vai ter que fazer’. E eu faço. E assim eu resolvi todos os problemas da minha vida. Aconteceram-me duas ou três coisas na carreira em que me senti verdadeiramente dissociado. Uma delas, que é a principal, foi a Cimeira das Lajes. Ninguém me pediu para fazer nada, mas senti-me profundamente ofendido com a utilização do nome de Portugal para uma acção baseada naquilo que era uma evidente mentira. E não é só mentir, porque a gente está sempre a falar da mentira das armas de destruição maciça. Trata-se de falta de respeito pela vontade multilateral, que é um elemento fundamental da atitude portuguesa no plano internacional desde o 25 de Abril. Portugal associou-se a uma acção de natureza unilateral sem mandato das Nações Unidas.
Sentiu isso logo na altura ou a posteriori, depois de conhecermos as consequências?
Senti isso no dia. Senti isso na coreografia que levou à organização da cimeira. Senti-me envergonhado de ver o governo português envolvido numa ação daquela natureza, porque era uma acção de sabujice internacional relativamente aos americanos. Temos uma excelente relação com os Estados Unidos, é um dos elementos identitários mais fundamentais da nossa política externa. Mas temos que saber defender nesse quadro os princípios e valores que Portugal tem aculturado ao longo de quase 50 anos de democracia. Fugir disso rompendo com uma prática internacional vai contra os princípios constitucionais portugueses. Mas não disse uma palavra. Digo isto agora porque estou a fazer uma espécie de ponto de situação sobre a minha carreira. Depois, nos dois anos que estive em Paris, entre 2009 e 2011, procurei aumentar os consulados, aumentar o número de professores para os estudantes da comunidade portuguesa, dar mais meios para os leitorados, etc. E de repente vem a troika e dizem-me: ‘Há menos dinheiro. Vamos cortar pessoal, vamos baixar salários, vamos cortar professores, vamos reduzir os consulados. Você vai ter que ficar embaixador de Portugal em Paris e também na UNESCO, para poupar. E vamos vender a casa’.
Tudo o contrário do que andava a defender, portanto…
Como o Thomas Moore, eu sou ‘a man for all seasons’ [um homem para todas as ocasiões]. Tenho que fazer isso, porque é essa a minha função como servidor público. O meu pai era funcionário do Estado, na Caixa Geral de Depósitos. Eu fiz concurso para a Caixa Geral de Depósitos, entrei e telefonei-lhe: ‘Sou seu colega’. O meu avô da parte materna era funcionário público, era juiz, na minha família são todos funcionários públicos. Tenho um grande, grande orgulho em ter sido funcionário público. E um diplomata também serve uma entidade. Não estamos ali por nós próprios, estamos ali pelo nome de Portugal. Ainda por cima é muito cómodo ser diplomata português no estrangeiro. Somos um país muito bem aceite, visto como um honest broker no quadro internacional. Somos um país antigo. E somos um país que projecta uma imagem positiva.
Sem desprimor, se calhar somos um bocadinho como o Belenenses ou a Académica…
Se calhar.
Não ameaçamos ninguém e por isso todos simpatizam connosco.
Exatamente. E como nós não temos grandes interesses, podemos dar-nos ao luxo de ter grandes princípios. Tem razão, a circunstância de sermos um país que não é muito agressivo, que não tem agendas muito tensas, torna-nos um bocado um Belenenses ou uma Académica. Toda a gente nos acha simpáticos. E se vir, sempre que procuramos eleger alguém para qualquer coisa é raro perdermos. Já perdemos, mas é raro. Porque temos amigos em todo o lado.Na América Latina, na África, na Ásia. Acabámos por nos reconciliar com as antigas colónias mais depressa do que outros impérios fizeram. Temos com alguns países da América Latina melhores relações do que eles têm com Espanha. E eles inclusivamente utilizam-nos como uma espécie de plataforma na relação com a Europa para fugir à tutela espanhola.
Insistindo um pouco na questão da cor política, toda a gente sabe o que o PS pensa de Cavaco Silva ou de Passos Coelho. Cada vez que Cavaco faz uma declaração, cai-lhe o PS todo em cima. Falámos no Belenenses mas o que se passa nos partidos é mais parecido com um Benfica-Sporting. Há um lado quase tribal, de claque. Para um diplomata ligado a um partido como é isso?
Nunca tive o mais pequeno problema. Cavaco, aliás, foi quem me fez a prova oral de Economia Política para a entrada para o Ministério. Fui adjunto de Durão Barroso para as questões de cooperação. E ele sabia, quando me contratou, o que eu era politicamente. No Ministério toda a gente sabia de onde eu vinha. E o Barroso não hesitou em ter-me no gabinete.
Ele também vinha da mesma área, na realidade…
Mas prevaleceu a noção de que eu tinha capacidade profissional para aquelas questões. E trabalhei com ele durante três anos sem o mais pequeno problema. No Ministério, até chegar a embaixador, e foram vinte e tal anos, não estive mais à vontade com gente do PS do que do PSD. Parece estranho mas é verdade. Acho que as pessoas até valorizavam a circunstância de eu vir de outra área política e apreciavam mais a minha lealdade em função disso. Pode-nos dar mais prazer representar uma pessoa do que outra, mas representei gente bastante à direita sem grandes problemas.
Mas reconhece que a política está a ficar… há pouco usei a palavra tribalizada.
Está. Se calhar, com esta fragmentação do espectro partidário e com a possível projeção da necessidade de novos modelos de alianças que possam comportar partidos que saem um bocadinho do mainstream, isso pode vir a tornar-se mais evidente. Eu praticamente não vejo telejornais, vejo muito pouca televisão, mas noto uma crispação na vida política muito forte. Por isso mesmo, quando lancei este livro, deu-me um grande agrado ver lá amigos do PSD, do CDS e de diferentes áreas, porque eu cultivo um bocadinho isso. Aliás, o livro foi apresentado pelo Jaime Nogueira Pinto e pelo Zé Ferreira Fernandes, e tem o prefácio do Jaime Gama. Eu não tenho mais amigos à esquerda do que à direita. Pelo contrário, se fizer bem as contas, se calhar tenho mais à direita do que à esquerda. Mas sim, sinto uma crispação na vida política, sinto que discurso às vezes resvala para elementos de natureza quase insultuosa. Mas depois consolo-me quando passo a fronteira do Caia e vejo o que se passa em Espanha. E veja o que se passa em França. Apesar de tudo fico mais sossegado.
Há um bocado falou-me do Quirguistão.
Sim.
Já esteve em muitos sítios estranhos, ou pelo menos onde não foram muitos portugueses.
Já estive em mais de 100 países, mas isso também significa conhecer muito pouco. Significa conhecer o aeroporto, o hotel, o centro da capital… Mas tive a oportunidade de conhecer quase toda a antiga União Soviética – os cinco países da Ásia Central, os países do Cáucaso, os bálticos – e é interessante perceber a identidade de cada uma daquelas repúblicas e até a relação que cada uma tem com Moscovo. Ganha-se imenso em ir lá. Referiu o caso do Quirguistão. Eu vivia em Viena, e fui numa missão que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa arranjou para embaixadores que quisessem ir. Estávamos num tempo de vacas magras e paguei do meu bolso. Só andando de país em país é que se percebe a diferença entre um e outro. Quase todos são ditaduras, e quase todos são, no fundo, subprodutos do mundo soviético. O diplomata tem – e eu tive essa sorte – a possibilidade de andar um bocadinho por aí.
Mas não são sítios para fazer turismo, imagino.
Acho que apesar de tudo a Ásia central dá para fazer turismo. Ir ao Uzbequistão, ir a Samarcanda, vale a pena. Mas depende das cidades. Uma das coisas que eu sempre achei no mundo soviético e mesmo na Europa de Leste é que faltava-lhes tinta. Havia uma espécie de uma obsessão para se manterem no cinzento e nos tons escuros, quando a cor muda tudo. Acho muita graça a visitar aqueles países, embora a vida daquela gente seja uma tragédia. Um dia, no Tajiquistão, tivemos uma reunião com o Governo e disseram-nos: ‘A oposição pode ter os jornais que quiser’. Depois fizemos uma reunião com a oposição, e confirmaram. ‘Sim, podemos ter os jornais que quisermos. Mas não nos vendem papel’. É assim. Ou uma outra história passada no Turquemenistão, com uma senhora de uma organização não-governamental que defendia presos políticos e tinha o marido na cadeia. Veio falar connosco, com um ar muito triste, mas com uma grande dignidade. E à saída disse: ‘Os senhores têm uma representação aqui, não é? Seria possível essa representação falar com as embaixadas ocidentais e dizer que vim ver-vos hoje aqui? É eu amanhã vou ser presa, naturalmente’. Aprende-se muito mais a amar a liberdade quando se tem este tipo de experiências.
segunda-feira, setembro 11, 2023
Memória de onzes de setembro
11 de setembro de 2001. Nova Iorque. A voz, pelo telefone, era de José Rodrigues dos Santos. Era o jornal da 13 horas da RTP, para o qual eu entrava em direto, sem imagem. Era embaixador português nas Nações Unidas, nesse dia trágico em que as Torres Gémeas tinham acabado de cair, por ação da barbárie. Dei conta, nessa curta intervenção, do trauma em que todos estávamos, na missão portuguesa, naquela cidade em compreensível estado de sítio, depois de uma louca manhã.
A certa altura, quase a concluir a conversa (logo depois, as ligações telefónicas com Lisboa iriam ficar interrompidas, por cerca de dois dias), Rodrigues dos Santos perguntou-me qualquer coisa como isto: "Embaixador, imagino que a data de 11 de setembro, a partir de hoje, vá ficar marcada na sua vida". Saiu-me algo assim: "Já estava. O 11 de setembro de 1973, data do golpe fascista de Pinochet no Chile, já fazia parte das minhas memórias trágicas". Pela troca de olhares, percebi que as duas pessoas que, no meu gabinete, assistiam à conversa, não pareciam muito concordantes com a oportunidade desta minha evocação. Dias depois, ouvidos de Lisboa, outros amigos também foram da mesma opinião. Eu, contudo, nunca me arrependi.
Passou, entretanto, uma semana. Entre as estantes da Barnes & Nobel da 3rd Avenue, dei de frente com Jose Miguel Insulza, ministro do Interior do Chile. Em 1998, ao tempo em que ele era ministro das Relações Exteriores, eu tinha sido o membro do nosso governo escolhido para o acolher em Lisboa, à frente da delegação do seu país à Expo 98. Dois anos depois, em Santiago, numa visita oficial que fiz ao Chile, ele tinha-me recebido calorosamente no Palácio de La Moneda, como presidente da República interino que então era. Nessa ocasião, que ocorreu logo depois de eu ter ido colocar cravos vermelhos no mausoléu de Allende, ele tinha notado que eu estava bastante emocionado, ao caminhar pelos corredores daquele palácio. No encontro na livraria em Nova Iorque, Insulza disse-me: "Os americanos acabam de ter o seu trágico 11 de setembro. Mas nós já tínhamos tido o nosso".
11 de setembro de 1973, faz hoje 50 anos. Lisboa, Lumiar, Escola Prática de Administração Militar. Ao final da tarde, um pequeno grupo de soldados-cadetes, de "Ação Psicológica" e "Licenciados em Direito", fazia formatura para sair da unidade. Um desses cadetes disse: "Já sabem as novidades do Chile? Ouvi na rádio que o regime de Allende está a ser derrubado por um golpe de estado militar. Convido todos a virem beber uma taça de champanhe a minha casa. Temos de comemorar!" Era a brincar, mas mesmo assim...
A maioria daquele grupo era bastante conservadora e, se bem me lembro, havia por ali algum regozijo com a notícia. O António Franco, o Miguel Lobo Antunes e eu (não sei se mais alguém) rugimos algumas imprecações. O António foi mais longe e disse, irónico, em voz alta: "Vocês, seus "fachos", estão com muita sorte. É que já entreguei no armeiro a minha G3..." Recordo que o 25 de Abril só chegaria no ano seguinte.
sábado, fevereiro 18, 2023
A luz de João Salgueiro
João Salgueiro, que ontem morreu aos 88 anos, morava quase em frente a mim. Desde sempre, em todas as noites do ano, duas da janelas da sua casa permaneciam com a luz acesa. Tive sempre curiosidade de saber porquê, mas nunca lhe perguntei.
Salgueiro foi um brilhante jovem membro do governo de Marcelo Caetano. Fundador da Sedes, viria a ser, depois do 25 de Abril, uma importante figura dentro do PPD/PSD, a cuja liderança chegou a ser candidato. Mas ganhou Cavaco Silva. Ocupou o cargo de ministro das Finanças, de presidente do Banco de Fomento Nacional e da Caixa Geral de Depósitos, tendo sido igualmente professor universitário.
Conheci Salgueiro em 1979, na Noruega. Uma década depois, ao tempo em que era presidente do Banco de Fomento Nacional, desafiou-me para uma "aventura" na área bancária que decidi não aceitar, trocando-a pela ida para a embaixada em Londres. Em 2012, ambos integrámos a comissão que preparou o anterior Conceito Estratégico de Defesa Nacional. A partir do ano seguinte, voltámos a cruzar-nos, com regularidade, numa tertúlia "discussante", bastante matutina, que Miguel Lobo Antunes reunia na Culturgest, da qual resultaram debates públicos e que produziu documentos coletivos que foram publicados na imprensa. Quando Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa mostraram interesse em conhecer os trabalhos desse grupo, foi João Salgueiro o nosso eloquente porta-voz, nas reuniões que tivemos em Belém e S. Bento.
João Salgueiro era um homem frontal, sem receio de dizer o que pensava - e pensava muito bem. Tinha uma leitura clara, às vezes bastante cética, sobre as coisas da pátria, cujos destinos levava muito a sério. Extraordinariamente inteligente e sempre atualizado sobre a vida económica, portuguesa e internacional, era um profundo conhecedor da área bancária, tendo sido presidente da Associação Portuguesa de Bancos. Sobre o projeto europeu, assunto que muito o interessava, alimentava algumas justificáveis, e creio que crescentes, reticências. E não o escondia. Por algumas vezes, em torno do tema, convidou-me a colaborar nas aulas de Economia que dava a alunos estrangeiros, na Universidade Nova de Lisboa.
A nossa tertúlia, como acontece com tudo, acabou um dia. Aos poucos, fui também deixando de encontrar João Salgueiro pela nossa rua comum, como sucedeu por vários anos. Há momentos, olhei para a casa. A luz já está apagada.
quinta-feira, novembro 17, 2022
Coisas
Alguém me consegue explicar este mistério? Saramago é imensamente popular no Brasil e Lobo Antunes é bastante menos lido. Em França, passa-se o contrário.
sábado, setembro 12, 2020
12 de setembro de 1973
Pela rádio, naquele dia 12 de setembro de 1973, tinham-nos chegado algumas notícias sobre o derrube violento do governo de Allende, no Chile, com a morte do próprio presidente e a tomada do poder pela junta militar.
(Meses depois, quando por cá se ouviu falar de “Junta de Salvação Nacional”, muitos de nós ficámos algo inquietos com o uso do termo).
Longe estávamos então de poder prever a onda de barbárie que iria ocorrer no Chile, nos anos seguintes.
Eu estava então na Escola Prática de Administração Militar, no Lumiar, prestes a concluir o segundo ciclo, logo passando a “aspirante a oficial miliciano”. Seria, aliás, o único daquele grupo que continuaria naquela unidade até junho do ano seguinte, como instrutor militar, com o 25 de abril pelo meio.
Pelo meio da tarde, como era de regra, os soldados-cadete das especialidades de “Ação Psicológica” e de “Licenciados em Direito”, que somados não chegavam à vintena, “formavam” juntos na parada, antes de poderem ser autorizados a sair da unidade (a imagem reproduz o local). O Miguel Lobo Antunes, que era um de nós, lembrar-se-á bem desse ritual.
Naqueles escassos minutos em que nos alinhávamos antes de poder “destroçar”, dois dos nossos colegas, gente de uma direita radical extrema, crítica ‘pela direita” do regime de Marcelo Caetano, que acusavam de tibieza, manifestaram, em comentários, o seu vivo contentamento com a queda do regime de Allende, rejubilando com a instauração da ditadura militar em Santiago.
Conhecendo-me, a mim próprio, à época, presumo que lhes terei lançado, como reação, alguns pouco carinhosos impropérios qualificativos. Tudo, diga-se, num ambiente de cordialidade que, não obstante, as profundas divergências políticas, marcava esse nosso convívio.
Um desses colegas foi então ao ponto de convidar quem, de entre nós, estivesse disponível, para ir a sua casa, não muito longe dali, beber uma “taça de champanhe” (ainda não tinha imperado a ditadura das “flutes”), para celebração da chegada dos militares ao poder no Chile.
Aquilo era dito num tom de brincadeira, convocando comentários e gracejos, mas os sentimentos de fundo de cada um de nós eram bem claros.
Nesse mini-pelotão, perfilado em frente à caserna, ouviu-se então uma voz forte, num comentário dirigido ao mais radical daqueles ultra-reacionários: “Tu tens muita sorte, sabes?”. Ele não sabia porquê. “É que se eu não tivesse entregado já a minha G3 no armeiro, não sei se não te dava um tiro!”. Todos sorrimos, até o visado.
Tudo aquilo era retórica. Mas o colega que se saiu com aquela frase quis mostrar como estava chocado com os defensores despudorados do golpe militar. O seu nome era António Franco, viria a ser um dos meus grandes amigos de vida e morreu há muito pouco tempo.
quinta-feira, fevereiro 06, 2020
Caridade
No dia de hoje, vou praticar um ato de caridade: não vou falar sobre o texto da Joacine Katar Moreira àcerca do “mulherio”. Apenas notarei, como disse Miguel Lobo Antunes, que a senhora perdeu a cabeça e ainda a não encontrou
sábado, janeiro 04, 2020
Júlio Castro Caldas
Já o não via há muito tempo e, em especial, havia notado a sua falta ao almoço em que, há uns tempos, juntei em minha casa aquilo a que chamo o “grupo dos nove e meia“ - essa tertúlia “do bem”, para refletir sobre país, que, sob o estímulo de Miguel Lobo Antunes, reuniu por vários anos, às nove e meia da manhã (não conheço outras tertúlias matutinas), na Culturgest, tendo publicado alguns textos coletivos, ainda consultáveis aqui. O Júlio foi um dos últimos membros a aderir ao grupo, mas a sua participação, num estilo que lhe era muito próprio, era sempre muito informada e animada. Na fotografia dos membros dessa tertúlia, Júlio Castro Caldas é o único que se vê de casaco.
Um dia, numa conferência de imprensa no fim de um Conselho Europeu, nos anos 90, um jornalista perguntou a António Guterres se já tinha nomes para uma remodelação do governo de que toda a gente falava. Guterres disse que nomes não faltavam, se quisesse fazer uma mudança e exibiu um pequeno retângulo de papel com coisas rabiscadas. Eu estava ao seu lado e, quando ele pousou o papel sobre a mesa, saltou-me à vista a sigla JCC. Quando nos íamos a levantar, ousei perguntar-lhe: “Está a pensar no Júlio Castro Caldas?”. Notei que Guterres ficou um tanto surpreendido, e talvez desagradado, com a minha “espionagem” e pouco adiantou. Eu tomei nota da sigla.
A remodelação acabou por ter lugar e Castro Caldas não entrou no governo. Passaram uns meses e, um dia, vi Júlio Castro Caldas assumir o ministério da Defesa, pelo que concluí afinal tinha razão. Foi já com o novo ministro que, tempos mais tarde, me desloquei, em substituição de Jaime Gama, a uma reunião ministerial da União da Europa Ocidental (UEO), creio que em Bruxelas, tendo estabelecido com ele uma excelente relação. Lembro-me, meses depois, de ter estado com o Júlio, a convite de António Guterres, num almoço restrito com Mikhail Gorbachev, em S. Bento. Depois de sair do governo, fui para o estrangeiro, perdemo-nos de vista e só nos voltaríamos a reencontrar nessa tertúlia da Culturgest.
Júlio Castro Caldas era uma figura muito cordial, que rapidamente tratava as pessoas por tu, como comigo sucedeu, desde o primeiro momento. Além de ser um advogado de primeira linha, era um homem que gostava da vida e dos amigos. Tinha sempre histórias magníficas, sabia de factos que ninguém mais sabia, era intenso e definitivo na apreciação das coisas do mundo e da vida. Vida e mundo de que agora se despediu.
quinta-feira, agosto 08, 2019
Miguel
Ficou-se agora a saber que o Miguel Lobo Antunes entra como ator num filme. A fita vai mesmo ao Festival de Locarno! Uáu! A imagem de cima é um fotograma dessa película em que ele faz de caixeiro viajante à beira da reforma, pelos vistos com mau feitio, papel que, como todos os seus amigos sabem, lhe deve ir a matar.
Fui aos meus arquivos e descobri a imagem de um outro filme, mais reflexivo, mais Murnau, em que o Miguel parece ponderar a expressividade de um gesto alheio, o qual, seguramente, suportava uma proposta programática que, se fosse seguida, nos daria a todos prosperidade e felicidades eternas. Outros tempos...
sexta-feira, junho 14, 2019
Escritas
Ela era lindíssima, muito bem “desenhada”, bielorussa, com vinte e poucos anos, funcionária da missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em Bishkek, no Quirguistão. Chamava a atenção de toda a gente.
Estávamos num jantar oferecido pelo chefe da missão a cinco embaixadores, idos de Viena, numa viagem de duas semanas que fazíamos por todos os países da Ásia Central. (Para que não fiquem dúvidas: fiz essa deslocação à minha custa).
O ambiente era descontraído, numa espécie de taverna típica, um pouco fora do centro da cidade, creio que perto de uma estância de ski. Não havia protocolo, a ocupação das mesas era informal, "free seating".
A bela bielorussa sentou-se ao meu lado, anunciando, alto: "Eu fico aqui, para falar com o embaixador de Portugal". Desfiz-me num deliciado sorriso, perante a onda de ironia invejosa da esmagadora maioria dos parceiros (pelo menos) masculinos do repasto. A bielorussa logo esclareceu, contudo, as suas castas intenções: "Tenho a maior admiração por um grande escritor português e quero falar sobre a sua obra. Tenho a certeza que o embaixador o conhece bem".
Preparei-me, intimamente, para lhe explicar a grandeza dos sinos ou os encantos da biblioteca de Mafra, a pretexto do "Memorial do Convento", de José Saramago. Ou, no caso de ser Lobo Antunes, tentaria contextualizar uma literatura angustiada, nascida nos traumas da guerra colonial, como em "Os cus de Judas”, embora o significado de um título como esse levasse mais algum tempo a detalhar. Não estava a ver que outro escritor português pudesse mobilizar o interesse de beldades de Minsk e arredores. Embora longe de ser um alargado conhecedor daqueles autores, o que sabia dava-me para garantir uma dose mais do que suficiente para uma agradável conversa.
Foi então que a jovem me lançou um desafio impossível: "Conhece bem a obra do Paulo Coelho, com certeza! É o maior escritor português, não é? Li tantos livros dele...” Passaram muitos anos e, daquele jantar pelas terras da Rota da Seda, só me ficaram memórias vagas. De uma coisa tenho a absoluta certeza: Paulo Coelho, durante esse repasto, foi um português dos sete costados.
segunda-feira, setembro 24, 2018
Portugal no Brasil (2)
Aqui deixo a segunda polémica.
Prezado Senhor Mino Carta
Director de Redacção da Carta Capital
Leitor atento da vossa revista, acabo de ler o artigo do vosso colaborador Miguel Sanches Neto, sob o título de ‘Brasil recolonizado’, no último número da Carta Capital. Gostaria de ter o direito de réplica a essa peça, pelo que lhe envio em anexo um texto cuja publicação muito agradeceria. Com os melhores cumprimentos.
Francisco Seixas da Costa
Embaixador de Portugal no Brasil
***
Quem tem medo de Inês Pedrosa?
No Brasil há menos de um ano, aprendi rápido que a abertura ao mundo constitui uma das matrizes deste país, fruto da sua permanente convivência descomplexada com a diferença. A brasilidade fez-se e firmou-se sobre todas as marcas e referências que aqui chegaram, usando-as e transformando-as num magma cultural original, com uma identidade fortíssima, que hoje não precisa de defesas artificiais para se afirmar.
Por tudo isso, foi com alguma surpresa que li o artigo de Miguel Sanches Neto, ‘Brasil recolonizado’, onde é feita uma aberta apologia do proteccionismo linguístico, do fechamento da fronteira cultural do Brasil à nova literatura portuguesa, tida por poluente veículo de uma estética convencional, apoiada numa norma escrita já decrépita, fechada à sacralização da oralidade. A crer no autor, urge afundar no horizonte, pela crítica profilática, as novas naus de letras que agora trazem por aí Inês Pedrosa, Sousa Tavares, Lídia Jorge, Lobo Antunes, Hélder Macedo, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto, Francisco José Viegas, Rui Zink e tantos e tantos outros, com o usurpador nobélico Saramago na proa. Por que não se deixa que sejam os leitores brasileiros a usar a sua maturidade para separar o trigo do joio, o que gostam ou não, sem necessitarem de filtros tutelares preventivos?
Faço a justiça de não colocar Sanches Neto nos cultores do despeito atávico pelo que vem da ‘terrinha’, coisa velha em algumas mentalidades residuais, onde o anti-portuguesismo – essa doença infantil da brasilidade – se mantém recorrente, espreitando pelas esquinas do preconceito, sobrevivendo em algumas vozes e penas, no desespero em tentar fazer do Brasil e de Portugal dois países separados por uma língua comum. Mas é bem triste ver adubada e ajudada essa mesma deriva por figuras da cultura, dando verniz ideológico e intelectual ao preconceito.
Deixo apenas uma nota mais.
Na minha juventude em Portugal, a ditadura não se atrevia a privar-nos de Amado, Guimarães Rosa ou Veríssimo, a afastar-nos da Pasárgada da esperança acenada por Bandeira, que nos ajudava a sonhar longe dos ‘mortos de sobrecasaca’ que nos rondavam os dias. Se alguém hoje ousasse por lá dizer que Nélida Piñon, Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro ou o outro Veríssimo afectavam a estética literária caseira teria, como resposta, uma gargalhada do tamanho do Atlântico, ouvida no Além pela velhinha de Taubaté*.
(*) A "velhinha de Taubaté" foi uma figura suscitada em textos de Luiz Fernando Veríssimo, que, à época, era muito conhecida no Brasil
quinta-feira, setembro 13, 2018
A montra
No sábado, bati com o nariz na porta (férias...) de uma livraria onde, nesse mesmo dia da semana, quase sempre costumo “arruinar-me devagarinho” (a expressão não é minha), como que a “compensar” a barateza (existirá a palavra?) da conta acabada de pagar no local onde nesses dias almoço.
Ao meu lado, a ver uma das montras, estava um cavalheiro mais idoso do que eu, com o nariz desta vez literalmente no vidro, parado, pareceu-me que a olhar os livros, mas não tenho a certeza. Não lhe vi a cara. A senhora, que até um instante antes estivera junto dele, havia entretanto entrado num prédio. O cavalheiro por ali ficou, visivelmente apenas à espera dela, continuando a olhar a montra, estático, com um cuidado de atenção que o que estava nessa mesma montra claramente não merecia. Nem deu por mim, a um metro, nem por ninguém. Achei estranha aquela fixação e mirei-o melhor. Era António Lobo Antunes.
Não lhe disse nada, porque tive receio que isso pudesse incomodar o seu silêncio. Conheço Lobo Antunes, falámos algumas vezes. Quando eu vivia em Paris, organizei-lhe na embaixada uma homenagem, que incluiu uma sessão de debate com especialistas e jornalistas. Também por lá, almoçámos e jantámos juntos, noutras ocasiões. É um autor altamente apreciado em França. É conhecido por ter um feitio nem sempre fácil ou, como se costuma dizer, tem fama de ser “de luas”. Há poucos anos, já aqui em Lisboa, passámos um bom quarto de hora de conversa a dois, num velório, falando de várias coisas, de França, de dois dos seus irmãos de quem sou amigo, de Melo Antunes, que era um companheiro dele muito querido. Mas, repito, desta vez decidi não o incomodar naquela sua solidão vidrada na montra errada (o conteúdo da outra montra é geralmente melhor) da minha livraria dos sábados. Se soubesse o que sei hoje, tê-lo-ia interpelado.
E o que é que sei hoje que não sabia no sábado? Soube que António Lobo Antunes vai ter a sua obra publicada na Pléiade, a biblioteca editada pela Gallimard, uma verdadeira “montra” em que só entram os grandes génios da literatura. O único português por lá é Fernando Pessoa. Acreditem em mim: a presença de António Lobo Antunes na Pléiade é uma das maiores homenagens internacionais que podiam ser prestadas à literatura portuguesa. Confesso que é uma grande alegria que, como português, acabo de ter.
Parabéns assim a Portugal e, claro, a António Lobo Antunes!
(ps - já sei que alguns comentários a este post vão-se afastar da honra que é ter ALA publicado na Pléiade, acabando por ser sobre se se gosta ou não dele, se Saramago é melhor, coisas assim... É a vida!)
quinta-feira, março 01, 2018
“Crónicas da Visão”
Tive o gosto de ver um texto meu - “O tempo e o medo” - incluído numa antologia de crónicas publicadas pela revista “Visão”, entre 1993 e 2018, numa edição comemorativa dos 25 anos da revista, que foi hoje distribuída.
Surjo nessa coletânea em belíssima companhia: José Saramago, Manuel António Pina, António Lobo Antunes, Eduardo Lourenço, Manuel Alegre, Dinis Machado, Eduardo Prado Coelho também Mário Soares, Jorge Sampaio, Marcelo Rebelo de Sousa, Maria de Lourdes Pintasilgo, Adriano Moreira e Ricardo Araújo Pereira, entre alguns outros.
sábado, novembro 18, 2017
Grupo Culturgest
Aqui deixo, em registo para a posteridade, ”au complet”, o grupo que, durante anos (no meu caso, desde 2013), pelas 9.30 horas da manhã de certos dias, reuniu na Culturgest, sob a hospitalidade e a benévola tutela de Miguel Lobo Antunes.
Reflexões, palestras e textos em jornais resultaram deste trabalho conjunto, parte do qual ficou registado no blogue Pensar Portugal.
Dezenas de pessoas de diversos área da sociedade portuguesa - do setor empresarial, da administração pública, de orgãos de soberania, das instituições europeias, da sociedade civil - contribuiram também para as atividades deste “think tank”, cujas ideias e propostas foram pessoalmente transmitidas ao primeiro-ministro e ao presidente da República.
Na imagem, da esquerda para a direita: Lino Fernandes, João Ferreira do Amaral, Júlio Castro Caldas, Miguel Lobo Antunes (de pé), João Salgueiro, Francisco Seixas da Costa, José Manuel Felix Ribeiro, João Costa Pinto e Fernando Bello.
terça-feira, abril 04, 2017
"Clube de Lisboa"
Ao final da tarde de ontem, numa bela sala da Câmara Municipal de Lisboa, foram eleitos os primeiros Corpos Gerentes do "Clube de Lisboa", numa Assembleia Geral para a qual foram convocados os seus 100 sócios fundadores. O Clube, uma organização sem fins lucrativos, terá a seu cargo a organização futura das Conferências de Lisboa, um evento bienal de reflexão sobre temas internacionais, de que houve já duas edições. (Saiba aqui mais sobre as Conferências de Lisboa)
Com a criação do "Clube de Lisboa", pretende-se não apenas dar continuidade às Conferências mas, igualmente, lançar um programa com outras iniciativas que permitam colocar Lisboa no centro da reflexão internacional sobre diversas temáticas de natureza global. Integram o Clube personalidades de diversos setores ligados às relações externas, ficando futuramente a porta aberta para a adesão de muitas outras pessoas que operam no mesmo âmbito.
Dentro em breve, o Conselho Diretivo do Clube - presidido por Luis Amado, de que faço parte com Marina Costa Lobo, Alberto Laplaine Guimarães, Fernando Jorge Cardoso, Hélder de Oliveira, Luis Pais Antunes, Mónica Ferro e Raquel Vaz Pinto - vai apresentar o seu plano de atividades.
sábado, março 04, 2017
Miguel Lobo Antunes
Sou muito suspeito, sou amigo do Miguel, por quem tenho uma grande admiração, pelo que é e por tudo quanto soube construir ao longo da vida, com azares e muitas coisas boas pelo meio. Fizemos "tropa" juntos, temos algumas ideias (nem todas) em comum, mas eu tenho melhor feitio do que ele (o que, aliás, é fácil).
A seu convite, faço parte de uma "conspiração do bem" que ele criou há vários anos, uma combinação improvável de pessoas que discretamente se dedica, sem a menor agenda de interesses, a refletir sobre os caminhos de futuro para o país - e que deve ser a única "tertúlia" no mundo que reúne às 9.30 da manhã (temos água e café de borla).
Gostei agora de uma entrevista que deu, feita, com a serenidade inteligente de sempre, pela Ana Sousa Dias, onde ele se mostra perplexo com a reforma que aí (lhe) virá.
Não te preocupes, Miguel! O ativo ou a reforma não são categorias que se excluam mutuamente. Conheço muita gente que, estando teoricamente "no ativo", está "reformada" há muito, às vezes desde sempre. E, tal como tu, também conheço alguns "maduros" para quem estar tecnicamente reformado significa apenas ter conseguido muito mais tempo para aquilo em que quer manter-se ativo.
Welcome to the club, old chap!
(Leia-se a entrevista aqui)
terça-feira, dezembro 13, 2016
Pensar Portugal
Ao tempo em que ainda vivia em Paris, fui convidado por Miguel Lobo Antunes, diretor da Culturgest, a integrar, quando regressasse definitivamente a Portugal, um grupo que se dedicava a refletir sobre a sociedade portuguesa e o seu futuro. O objetivo do grupo era exclusivamente esse: pensar de forma aberta, sem qualquer espartilho político-partidário, alguns problemas centrais do país, dando especial atenção aos constrangimentos ao seu crescimento, quer na área económica quer na estrutura do Estado, agregando para tal as contribuiçōes externas tidas por interessantes.
À época, para além do próprio Miguel Lobo Antunes, compunham o grupo Fernando Bello, João Ferreira do Amaral, João Salgueiro e José Manuel Felix-Ribeiro. Com o tempo, juntaram-se-nos João Costa Pinto, Lino Fernandes e Júlio Castro Caldas.
Para além de vários debates organizados na Culturgest, abertos ao público, onde intervieram deputados europeus e muitas outras personalidades, o grupo produziu documentos, que vieram a ser publicados na imprensa, com contributos que, frequentemente, refletiram o saldo de audições feitas a diversos especialistas, num espetro de opiniões sempre muito alargado. Todos os documentos produzidos pelo grupo podem ser consultados no blogue Pensar Portugal (www.pensarportugal2016.blogspot.com).
Hoje, o "Jornal de Negócios" publica o primeiro de dois novos textos do grupo, subordinados ao tema "Mudar de Vida ou a Economia portuguesa na Globalização". Esse primeiro texto pode ser consultado aqui.
segunda-feira, outubro 31, 2016
UP
A revista UP, que a TAP oferece aos seus viajantes, convida todos os meses uma personalidade diferente a escrever o seu editorial. A ideia é elaborar uma curta mensagem personalizada, em português e inglês, que estimule quem nos visita a conhecer algo mais sobre o país.
Tive o prazer de ser convidado a ser o "anfitrião" da UP do mês de novembro, que estará em distribuição a partir de amanhã. Tenho assim o privilégio de juntar-me a figuras como Miguel Sousa Tavares, Gonçalo M. Tavares, Clara Ferreira Alves, Lídia Jorge, João Lobo Antunes e muitos outros.
No meu texto, optei por estimular os visitantes para olharem para Portugal para além dos "clichés" dos guias turísticos e, muito em particular, a chamar a atenção para Trás-os-Montes, uma zona do país que a maioria estrangeiros, mas também muitos portugueses, ainda desconhecem - e não sabem o que perdem!
Mas é melhor lerem:
Uma vida passada em grande parte fora de Portugal fez de mim um quase
obsessivo turista no meu próprio país. Por décadas, parte importante das minhas
férias era passada a recuperar o que perdia no resto do ano. E essa viagem nunca
mais parou.
Nessas visitas, fui criando uma espécie de mapa, humano e cultural, do meu
Portugal afetivo. Frequentemente, dei por mim a testar, junto de amigos e
conhecidos estrangeiros que nos visitavam, esse meu íntimo guia sentimental. Para
tal, era importante transmitir-lhes alguns instrumentos para a compreensão do país.
E nada melhor, para isso, do que revelar o modo como eu próprio me comportava no
meu eterno regresso a Portugal.
São coisas bastante simples, como o atentar no movimento num largo
principal de uma aldeia recôndita, na alegria de uma festa popular numa
vilória, no silêncio de uma paisagem, de um miradouro improvisado. Mas,
igualmente, o gosto de nos sentarmos no «café central» das cidades de
província, olhando a coreografia social, o prazer em descobrir restaurantes e
tascas em locais recônditos, onde nos servem vinhos que não conhecemos, doces
que por ali se conservam por tradição. E também aquilo que se aprende ao
entrar em pequenas lojas, fora dos grandes circuitos de comércio, onde se
encontram coisas insólitas, entrecruzadas com conversas e amena simpatia.
É que, longe dos locais turísticos que os guias apontam ao visitante minucioso,
existe um Portugal sereno que, sem se impor, se oferece discretamente a quem o
visita. E em que vale a pena um visitante perder-se.
Desse Portugal, que não sendo imenso é, ainda assim, muito diverso, o que é
que eu selecionaria para apontar, como um destino seguro, a um visitante
estrangeiro disposto seguir o meu conselho? Um país feito de dureza de vida, de
beleza única, de gentes fortes e de caráter: Trás-os-Montes.
Trás-os-Montes é a natureza mais bravia que Portugal tem para oferecer.
Situado, como o nome indica, por detrás das grandes serras nortenhas, é um
mundo de paisagens deslumbrantes, de uma culinária preciosa, de cidades cheias
de história. Miguel Torga, o poeta que por lá nasceu, chamou-lhe, imodestamente,
“o reino maravilhoso”. E talvez não tenha exagerado. Para lhe dar razão, basta
atentar no rio Douro, que desenha a fronteira sul da região, obra ímpar da
natureza e do homem, no colorido das vinhas que são a sua riqueza, na majestade
dos seus vales profundos.
Vá a Trás-os-Montes! Arrisque perder-se naquilo que Portugal tem de mais
autêntico, genuíno e belo. E, depois, diga-me se eu não estava certo.
sexta-feira, julho 08, 2016
"Brexit, projeto europeu e interesses de Portugal"
Hoje, no jornal "Público", subscrevo com Fernando Bello, João Costa Pinto, João Ferreira do Amaral, João Salgueiro, José Manuel Felix Ribeiro, Júlio Castro Caldas e Miguel Lobo Antunes o texto "Brexit", projeto europeu e interesses de Portugal".
Por não haver link disponível, o texto pode ser consultado aqui
quarta-feira, maio 04, 2016
Manifesto
RECONFIGURAÇÃO DA BANCA EM PORTUGAL
– DESAFIOS E LINHAS VERMELHAS –
- Tudo indica que os problemas de reconfiguração da banca em curso em Portugal permanecem, infelizmente, uma questão de relevante actualidade. É público e manifesto o desagrado e preocupações com o modo como esta questão têm sido abordada e decidida, e com a evolução daí resultante. O recente resgate do BANIF é apontado, a vários títulos, como um mau exemplo, que não pode repetir-se: excessivo voluntarismo, pouca transparência, deficiente gestão estratégica, falta de liderança política, destruição de valor e custos significativos e prolongados, para a economia portuguesa. Em particular, são motivos de inquietação a metodologia e objectivos adoptados pelas autoridades europeias, não devidamente compensados pela actuação dos decisores nacionais. O receio de que as falhas identificadas no processo possam vir a afectar qualquer outro banco português, com graves consequências para o sistema bancário e para o futuro do País, justifica, em nosso entender, uma tomada de posição clara por parte dos que não concordam com o recente curso dos acontecimentos.
- A actividade bancária constitui um sector estratégico, que assegura a intermediação indispensável ao funcionamento de qualquer economia e ao desenvolvimento das suas relações com o exterior. As avaliações e decisões dos bancos em matéria de concessão de crédito seleccionam, na prática, quais as empresas e projectos que irão ser financiados. Desse modo, influenciam a composição das actividades produtivas, o crescimento e a criação de emprego. Por outro lado, o sistema bancário – pelo contacto directo com a diversidade da actividade económica – pode e deve desempenhar também um relevante papel na concretização de iniciativas de investimento e comércio, parcerias e aquisições ou fusões.
- A importante função da banca numa economia só poderá no entanto ser assegurada se o sector estiver adequadamente estruturado. Não sendo garantidas as necessárias condições de competitividade na configuração do sector, é previsível que qualquer banco, ao preferir menor risco e maior rendibilidade nas suas aplicações, oriente as poupanças que lhe são confiadas para os centros de maior dinamismo, agravando assim eventuais desequilíbrios regionais, não apenas no espaço nacional mas também no europeu.
- A diversidade de instituições financeiras pode, pois, contribuir significativamente para uma concorrência mais transparente, melhor aderência às realidades económicas e sociais locais, e até para mais eficaz resposta às políticas monetárias, evitando-se assim a dependência excessiva em bancos “too big to fail” e outros conglomerados financeiros, com os associados riscos sistémicos conhecidos. Não é aliás por acaso que na Europa e noutras regiões desenvolvidas do globo a propriedade das instituições bancárias tem sido preservada em estreita relação com as comunidades nacionais e regionais.
- A crise do sector bancário em Portugal (a partir de 2011) e o recente arranque da implementação da União Bancária Europeia tornam inevitável uma profunda reconfiguração do nosso sector financeiro. É indispensável que esta seja acompanhada com realismo , rigor e transparência pelas autoridades nacionais e europeias, de forma a permitir que, em complemento de uma adequada política fiscal, o sector bancário em Portugal contribua para o reforço da poupança nacional e do investimento produtivo no País. Uma reconfiguração mal orientada, pelo contrário, redundará previsivelmente no agravamento do actual quadro de estagnação económica e desemprego, podendo mesmo contribuir para suspeitas e rejeição do projecto de integração europeia.
- A diversificação da origem do capital é neste contexto factor determinante da concorrência, i.e. a estrutura bancária tem de assentar na diversidade das instituições accionistas e da correspondente origem, por forma a que as empresas portuguesas possam beneficiar de fontes de financiamento provenientes de diferentes nacionalidades e de centros de interesse distintos. Tal não poderá manifestamente ser garantido, se a propriedade da banca privada portuguesa vier a estar concentrada e/ou dominada por instituições de um qualquer único país estrangeiro.
- O triste caso do resgate do BANIF indicia a adoção de um paradigma inaceitável, que não pode ser replicado em casos futuros. Se o que parece é, a actuação do BCE neste caso, em vez de viabilizar soluções com menores custos e igualmente credíveis, antes reflecte uma estratégia que coloca a banca privada nacional na dependência de um muito escasso número de bancos de um país estrangeiro. Além de colocar Portugal numa posição de evidente vulnerabilidade relativamente a quaisquer questões bilaterais ou sistémicas, tal estratégia resultaria em claro detrimento da concorrência e da diversificação do relacionamento bancário externo.
- Neste caso do BANIF é também patente que a actuação do BCE menosprezou a dimensão da concorrência e a possibilidade das empresas portuguesas poderem beneficiar de fontes de financiamento provenientes de nacionalidades diversas e de centros de interesse distintos. Não é compreensível a razão para terem sido afastados do concurso concorrentes de nacionalidade distinta, detentores de licença para o exercício da actividade bancária e com ofertas de montantes significativamente superiores.
- Não cabe ao BCE pré- definir a configuração do sector bancário de qualquer país, nem o quadro das suas relações externas. Uma vez definido claramente, no âmbito da União Bancária, o quadro estratégico a prosseguir, sem discriminação de países ou regiões geográficas, compete aos reguladores nacionais, em articulação com os respectivos governos, zelar pela apropriada estruturação, sustentabilidade e solvabilidade da configuração resultante. O regulador nacional não é uma mera delegação do BCE, e não pode eximir-se a prestar contas às entidades nacionais, especialmente nesta fase de transição para a União Bancária, em que as decisões críticas são tomadas pelo BCE mas os inerentes custos são suportados exclusivamente pelo país em causa.
- No processo de venda do BANIF, registaram-se igualmente fragilidades e omissões na actuação das autoridades portuguesas e em particular do regulador, nomeadamente ao aceitarem – sem devido escrutínio e explicita ponderação de alternativas – um processo de resolução que, além de não devidamente experimentado na Europa, acarreta significativos custos para o sistema bancário e os portugueses.
- O caso do BANIF leva-nos a rejeitar a repetição de desenlaces semelhantes em casos futuros, e desde logo para o Novo Banco e o BCP. Em particular, não é aceitável que a reconfiguração do nosso sistema bancário possa decorrer em condições menos favoráveis – quanto a prazos e exigências de resgates – do que as facultadas a outros países europeus, e que permanecem em vigor. Há que ter em conta soluções que tornem possível a valorização dos activos, tendo em vista a sua eventual alienação, fusão ou detenção pública a título trasitório. Ou seja, sem recursos públicos adicionais, para além dos requeridos para a continuação da CGD na posse do Estado, uma vez que não é aceitável que, também neste caso, o accionista não deva capitalizar a sua empresa, como é sua obrigação. Acresce que os Tratados em vigor não autorizam discriminações de acordo com a natureza dos accionistas – privados, públicos ou mutualistas. Compete , pois, ao Governo diligenciar junto das entidades europeias ( e em particular da DGConcorrência) para que as soluções indispensáveis sejam susceptíveis de concretização.
- Em síntese, há que assegurar que em futuros casos, incluindo o do Novo Banco, a solução a adoptar tenha em conta a dimensão estratégica ( de longo prazo ) do problema e não somente os aspetos financeiros de curto prazo. Impõe-se por isso que, no caso da venda do Novo Banco, o momento e a forma escolhidos para a sua eventual concretização sejam clara e objectivamente discutidos. Uma extensão do prazo de venda, até Agosto de 2019, tal como a lei permite, poderá justificar-se, tendo em vista o estudo de soluções alternativas, nomeadamente processos de fusão entre instituições, ou de oferta pública de venda (IPO) que assegure um elevado número de novos accionistas. É igualmente importante que a modalidade de venda escolhida permita que entidades portuguesas relevantes possam participar do processo. Neste contexto não é de excluir, e seria mesmo desejável, a emergência de um banco de capitais portugueses, com expressão significativa no mercado. Importa, assim, que o processo seja clarificado, definido , tornado público e aberto a todos os potenciais interessados, em totais condições de igualdade, sendo inadmissível qualquer forma de escolha antecipada dos vencedores.
- A finalizar, considera-se indispensável que no âmbito da definição da estrutura accionista do Novo Banco e do BCP, sejam conhecidos os intervenientes que irão contribuir para a clarificação da situação e identificados os responsáveis pela decisão final, por forma a assegurar a transparência do processo, a competitividade do sistema e a sua contribuiçaõ efectiva para o desenvolvimento da nossa economia.
- O sector bancário português encontra-se actualmente numa encruzilhada entre dois caminhos distintos: A) reconfigurar-se por forma a conseguir a emergência de bancos fortes ( quer portugueses quer de nacionalidades diversas) que facilitem e promovam as relações de Portugal com os diferentes continentes; B) aceitar uma redução de autonomia, com crescente dependência da nossa economia do espaço ibérico – como parece decorrer da actuação recente das instituições europeias – interrompendo e contrariando a longa tradição portuguesa de participação activa e independente na globalização mundial.
É este o desafio que se coloca aos portugueses e em particular aos seus governantes.
Lisboa, 28 de Abril de 2016
- Alberto Ramalheira
– Alberto Regueira
– Alexandra Costa Gomes
– Álvaro Beleza
– Ângelo Correia
– António Bagão Felix
– António Barreto
– António d’Orey Capucho
– António Mendonça Pinto
– António Leite Garcia
– António Santiago Baptista
– Aurélio de Sousa
– Bernardo Frazão Sardinha
– Bruno Bobone
– Carlos Fernandes
– Carlos Melancia
– Carlos Morais
– Carlos Pereira
– Carlos Silva
– Celeste Coimbra
– Clemente Pedro Nunes
– Diogo Freitas do Amaral
– Eduardo Catroga
– Eduardo Madeira Correia
– Eduardo Marçal Grilo
– Feliciano Barreiras Duarte
– Fernando Bello
– Fernando Gomes da Silva
– Fernando Correia da Silva
– Francisco Seixas da Costa
– Henrique Neto
– Henrique Simões dos Reis
– Jaime Lacerda
– Joaquim Lopes
– João Baptista da Silva
– João Cortez de Lobão
– João Duque
– João Ferreira do Amaral
– João Miranda
– João Salgueiro
– João Vieira Lopes
– João Alexandre Oliveira
– José António Girão
– José Ribeiro e Castro
– José Roquette
– José Sales Henriques
– José Torres Campos
– Júlio Castro Caldas
– Luís Janeiro
– Luís Aires de Sousa
– Manuel Pinto Barbosa
– Manuel Ramalhete
– Manuela Ferreira Leite
– Manuela Morgado
– Miguel Beleza
– Miguel Lobo Antunes
– Nuno Diniz
– Nuno Morais Sarmento
– Olga Correia
– Paulino Balão Fernandes
– Pedro Ferraz da Costa
– Pedro Teles Baltazar
– Renato Baptista
– Rui Rio
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