Saiu da cena da vida, ao que acabo de saber pelo Armindo Quinteira, o Nené (Carlos Correia, de seu nome). Na imagem, numa festa do liceu, está entre o Quinteira e o Olívio, com o Coroliano a surgir por detrás.
O Néné era irmão gémeo do Jujú, filhos do senhor Carlos da sapataria. Entrámos juntos para as aulas do professor Pena, na Escola do Trem, nos idos de 1954. Juntos seguimos para o liceu. Anos mais tarde, a geografia das vidas separou-nos o quotidiano. O Jujú foi para o Porto. O Néné ficou em Vila Real, onde tinha a sapataria com o nome do pai. A amizade com ambos os irmãos manteve-se, para sempre.
Por muitos anos, quando regressava a Vila Real, mantive um agradável ritual de visita a lojas comerciais onde tinha pessoas amigas, alguns de infância e juventude, outros da idade adulta: o Tito Gomes da dita Gomes, o Neves da Pompeia, o João Nascimento oculista, o Bragança dos jornais, o Jorge Santoalha dos tecidos, o Euclides da funerária, o Eduardo dos eletrodomésticos, o Pires fotógrafo, o Salgueiro da relojoaria, o Alonso da Real, o Néné da sapataria, o Eduardo da papelaria, o Carvalho da drogaria, o Alfredo Branco da livraria, o Zé Macário fotógrafo, o Dr. Otlílio da Setentrião, a Rosa das castanhas, o Joaquim Mesquita da farmácia, o Zé Araújo das antiguidades, o Fernando Choco dos jornais, o Albertino Ribeiro das ferragens e alguns outros. Esse ritual foi variando e esmorecendo, quase sempre ao ritmo da desaparição das pessoas.
Na sapataria do Néné, ao pé da capela nova, eu entrava e atirava-lhe a mesma pergunta, uma expressão local que não era para ter nenhuma resposta: " 'Comué', Néné?!" Lá vinha um abraço, uns minutos breves de conversa - até ao outro Natal ou à Páscoa ou ao verão. Um dia, dei conta que as montras da sapataria do Nené passaram a estar fechadas com jornais. Perguntei por ele. Andaria doente.
E agora: "Comué, Néné?!"

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