Conheço alguma coisa de negociações internacionais para ousar ter um juízo simplista sobre o resultado da negociação comercial que, aparentemente, terá ontem ficado concluída entre os EUA e a União Europeia. (Escrevo "aparentemente" porque, com Trump, nada é seguro). Quero com isto dizer que não tenho a certeza de que uma qualquer outra equipa negocial europeia tivesse conseguido fazer melhor, nas atuais circunstâncias. Mas uma coisa é bem clara e não pode ser iludida: tratou-se de um "diktat" e o resultado é brutalmente desequilibrado em desfavor da Europa. A acrescer aos direitos aduaneiros impostos (que devem ser comparados com os atuais, não com o pior cenário, como desonestamente Bruxelas está a fazer), a Europa comprometeu-se (ainda não percebi bem como, dado que não se trata de uma competência comunitária) a comprar gás e petróleo aos Estados Unidos, bem como "enorme quantidade" (Trump dixit) de equipamento militar. Se alguém tinha pensado que o aumento exponencial de verbas orçamentais que vai passar a ser dedicado à defesa, aprovado no quadro NATO sob pressão americana, se destinava a reforçar as indústrias europeias e a contribuir para vir a obter a famosa "autonomia estratégica" do continente, pode tirar já o cavalo da chuva, antes que ele se constipe. Os europeus, que desde há três anos vivem atarantados com a ideia de que a Rússia pode "chegar com os tanques à praça da Concórdia", para recuperar uma célebre mitologia de 1981, entregaram-se agora por completo à vontade de Washington. Nada de novo, convenhamos, salvo esta humilhação alfandegária. Era possível fazer melhor? Não sei e, com total franqueza, duvido que fosse. Mas que o resultado é péssimo, disso não tenho a menor dúvida. E há que assumi-lo, sem querer fazer de nós parvos.
19 comentários:
Só tenho diuas palavras, farto que estou de escrever sobre esta matéria: Ucrânia, NordStream.
Com von der Leyen outra coisa não seria de esperar: covid, Israel, e certamente que há mais. Nem os lobos escapam se lhe entram no quintal. A senhora tem historial. Tem sido uma desgraça, mas para o fazer não tem estado sozinha. Até há algum tempo ainda tinha um criado belga para as bagagens que a deixava incomodada. Agora não. Agora até arranjou um vindo de país especializado em criadagem que é uma doçura (já sei, a política comercial não é competência do lacaio).
Von der Leyen é bem a prova de que as mulheres fazem a diferença na política. Dizer o contrário é preconceito: sexismo, machismo, heteropatriarcado e por aí.
Madame tem uma qualidade semelhante à da Rainha Isabel II: haja o que houver está sempre sorridente.
Fico preocupado e com engulhos por ver o Orban a dizer que o Trump comeu a Ursula von der Leyen ao pequeno-almoço.
Parece que a muy americana crença no Pai Natal está a ser uma lucrativa exportação para a Europa.
Na linha do que escreve vários paises europeus lamentam o acordo, falando em "dia sombrio" e "submissão ". Portugal saúda o acordo. Notavel Paulo Rangel, o fidelissimo.
J. Carvalho
Donald Trump celebra a „vitória“ dos EUA na disputa aduaneira com a UE, enquanto Ursula von der Leyen fica aliviada após negociações difíceis. Eu detesto a nossa Ursula desde o tempo em que foi Ministra da Família, mas ela não tem nada de que pedir desculpas. Negociar com Donald Trump não é para cobardes. Ela fez o melhor que pode, e o vosso António Costa não conseguiria resultados melhores, mesmo com a camisola do Cristiano Ronaldo como presente. Essa da camisola foi de uma parolice crassa.
Todos os alemães que visitaram a Casa Branca nos ultimos 3 anos mostraram que já estudaram muito bem o seu novo papel no mundo. E desta vez também basta ver a linguagem corporal da Fuhrer da CE nos primeiros minutos abertos à Comunicação Social. Nem sei se o termo absolutamente confrangedor, será suficiente. Como foi para o comediante Zelensky.
Enfim, mais ou menos como o olhar perdido de Sholz quando também foi avisado na Conferencia de Imprensa final que iria perder o gas barato russo. Talvez se tenha lembrado do plano Morgenthau. Já que se limitou a dizer que o tema nem tinha sido abordado na reunião de duas horas que deu azo à Conferencia de Imprensa. Talvez Joe Dementia também se tenha esquecido.
Ao menos Merkl quando foi avisada que estava a ser escutada ainda teve a presença de espirito para perguntar se a CIA queria que ela falasse mais alto. E já em Berlim até teve a audacia de começar a falar na Europa começar a trilhar o seu próprio caminho. Claro que isto foi tudo antes de sermos totalmente tomados pelos mesmo cavaleiros que atravessaram o Atlantico montados no ultimo crash.
Talvez os alemães daqui para a frente devam enviar simplesmente o vassalo-mor Calvinista Rutte e evitar novas presenças na Casa Branca. Sobretudo o Fuhrer da Blackrock. Mas os russos é que vão pagar a factura de tamanha humilhação. Não vão mais maquinas de lavar roupa para a Russia. Agora é que a economia russa vai despencar em 3 semanas.
Quando uma das partes joga fora do rectângulo de jogo, é difícil algo melhor. Ainda para mais quando a outra parte finge que não vê.
Quando penso na enxurrada de insultos de anti-americanismo com que fui presenteado neste blogue, durante anos, pelos incautos ou incultos, por ter escrito tantas vezes o que acontece hoje, que era tao previsível...
“La mort est solitaire tandis que la servitude est collective.” Albert Camus, “La chute”,
Já compramos aos EU .Podemos deixar de comprar? Ou apenas podemos falar mais grosso e pedir água quente para lavar a louça? Quantos anos para autonomia'?
Esta União Europeia é esquisita. Úrsula vai a Washington, faz um acordo comercial que é criticado por alguns responsáveis nacionais, elogiados por outros. Não sabia que Úrsula Von der Leyen tinha luz verde para, em nome da União Europeia, negociar acordos comerciais que impliquem, diretamente, as economias dos respetivos países. À parte disto, parece mesmo que Trump é um belíssimo presidente para uma empresa chamada EUA.
Estive a ver melhor os termos a ouvir diversas interpretações. A conclusão a que chego é dramática. A concretizarem-se os termos deste diktat a União Europeia, enquanto espaço de fomento da prosperidade dos cidadãos europeus, cessa de existir. As condições não são duras, são duríssimas. Não só as tarifas dos 15 por cento para a generalidade dos produtos, mas, pior um pouco, as de 50 por cento para materiais estratégicos. A isso acrescem os fantásticos custos na obrigação de compra de energia, cujos preços são pelo menos o quádruplo do que eram quando a energia chegava da Rússia. Para além do mais, parece que não existem reservatórios para receber as fantásticas quantidades de gás pelo que terão de ser realizados mais investimentos infraestruturais ruinosos.
A isso acrescem as compras insanas essencialmente em material de guerra. Portanto, quem andou a dizer que o rearmamento europeu era bom, visto que iria dinamizar uma indústria praticamente inexistente, pode tirar o cavalinho da chuva, vão ser brinquedos americanos, versões de segunda linha e em muitos casos armamento que depende sempre do aval norte-americano para ser utilizado, dado a sofisticação do mesmo. Ou seja, quem sonhou com uma autonomia militar europeia, pode esperar exatamente o seu contrário. Ouço nas nossas televisões uns desgraçados mentais a dizer que não, que podia ser pior, que era inevitável. De facto, não era. Veja-se por exemplo o Brasil, que os mandou dar uma curva e não parecem muito preocupados. Claro está que o portefólio de exportações brasileiras é muito maior do que o europeu. África, Sudoeste Asiático e, principalmente, China. Ao invés, a UE alienou a China e a sua pegada em África some-se. Ainda há dois dias, dois pategos, Ursula e Costa, tiveram de encurtar a visita à China após terem sido recebidos com indiferença. Resultado, estamos à mercê da Administração dos EUA. Nada nos garante, por exemplo, que daqui a uns meses Trump não decida rever os termos, dada a tibieza, a cobardia, demonstrada pelos europeus.
Estamos entregues a bichos e, temo bem, este tenha sido o primeiro grande passo para a dissolução da UE, porque os seus povos, que já sentem na pele grandes dificuldades, em poucos anos sentirão muito pior. Por isso até, provavelmente, o que está na génese de tudo, o estúpido conflito para o qual a Administração Biden nos empurrou, só terá resolução no campo de batalha. Os senhores da UE, mais do que nunca, precisam da ameaça do papão Russo, na tentativa insana de venderem aos povos mais crise, mais dificuldade. Não têm marcha-atrás, são completamente loucos. O problema é que o conflito só pode ter uma de duas resoluções: a derrota, que trará uma enorme humilhação ou a terceira guerra mundial. Ainda há tempo para reverter este processo? Haver há, é preciso é ceder e ceder em grande (aceitar os quatro oblasts, a desmilitarização da Ucrânia, a sua não entrada na NATO). O que não há é inteligência para o fazer e como não a há, vamos todos ter de pagar big time ao daddy.
Uma das partes não respeita as linhas de jogo, a outra finge que não vê e alinha. E no meio quem se lixa é o cidadão comum europeu. Bonito serviço, "senhora" Von der Leyen.
Adenda ao meu comentário anterior: imagine-se o que vai acontecer à indústria automóvel alemã. Já passa por enormes dificuldades face à concorrência chinesa, passa a pagar três ou quatro vezes mais nos custos energéticos, passa a colocar cada viatura pelo menos 15 por cento mais cara nos EUA e a sonhada reconversão para blindados militares deixa de ser possível. Quanto tempo até isso chegar à Auto-Europa? É só um exemplo, poderia elencar centenas. E outra coisa ainda: é suposto continuar a ser a UE e apenas a UE a pagar os custos do dia à dia da economia da Ucrânia, salários, equipamentos etc, coisa pouca, anualmente apenas o dobro do que a Troika nos emprestou para aquele maravilhoso programa de "assistência". O que nos leva a outra pergunta. Como vão fazer, digitalizar zeros nos euros que já não têm? E a inflação, como vai ficar?
Exactamente, Lucio Ferro. Mas quantos europeus sabem ler entre as linhas do certificado de obito da UE?
Vassalos a serem vassalos. Nada de novo.
Pois eu sinto um certo alívio e uma certa segurança ao adivinhar uma grande influência do Nosso António na Senhora da UE. Dão-se bem e compreendem-se. Vê-se que sabem contornar as batalhas e se aconselham... António Costa tem a grande qualidade de amenizar situações complicadas. A camisola do rapaz da bola foi um gesto evasivo, uma especie de rebuçado para entreter... -assim esta dupla se conserve. Haja um pouco de harmonia neste mundo em guerra...
" alívio e uma certa segurança ao adivinhar uma grande influência do Nosso António na Senhora da UE." Mon Dieu! Este anonymo das 11.15 nao leu a Historia. Que pesa o conselheiro Costa perante Trump? E mesmo a sua "patroa"?
A história troça. Crua. Cíclica. Cruel. Todo o tratado de paz dá origem a um campo de ruínas. Todo o juramento solene se transforma, logo que é proclamado, numa promessa traída. Subtilmente — e, por vezes, ferozmente —.
Em 1945, em Potsdam [1], os Aliados juraram construir um novo mundo. Quatro ideais foram traçados com tinta fresca, enquanto as cinzas ainda quentes do Apocalipse flutuavam sobre os subúrbios de Berlim. Mal o fogo europeu se extinguira quando, na sombra, outros — movidos pela ganância — atiçaram as brasas .
A bomba nuclear ainda não tinha atingido Hiroshima, mas o momento era iminente. Os Aliados proclamaram um juramento solene: erradicar o nazismo. Desarmar o ódio. Libertar o povo. Acabar com os cartéis.
Um sonho. Desejos piedosos, talvez sinceros. Mas este juramento, nascido no dealbar da era atómica, já trazia consigo a ameaça que ainda assombra o mundo. Mal nasceu, foi traído. Em 1945, em Potsdam [1], os Aliados juraram construir um novo mundo. Quatro ideais foram traçados com tinta fresca, enquanto as cinzas ainda quentes do Apocalipse flutuavam sobre os subúrbios de Berlim. Mal o fogo europeu se extinguira quando, na sombra, outros — movidos pela ideologia ou pela ganância — atiçaram as brasas .
A bomba nuclear ainda não tinha atingido Hiroshima, mas o momento era iminente. Os Aliados proclamaram um juramento solene: erradicar o nazismo. Desarmar o ódio. Libertar o povo. Acabar com os cartéis.
Um sonho. Desejos piedosos, talvez sinceros. Mas este juramento, nascido no dealbar da era atómica, já trazia consigo a ameaça que ainda assombra o mundo. Mal nasceu, foi traído. Quem é Ursula von Leyen? A melhor aliada e amiga do nazi de Kiev?
"O objectivo da NATO é manter os soviéticos afastados, os americanos na Europa e os alemães subjugados", diria mais tarde Hastings Ismay, o seu primeiro Secretário-Geral.
"
À sombra da década de 1930, um sussurro discreto das chancelarias delineou a brutalidade nazi como um trunfo, rapidamente consumido pelo horror.
Os nostálgicos da desumanidade são tenazes, sem remorso ou arrependimento.
Pois Potsdam não foi apenas o palco de uma nova ordem mundial. Foi também o prelúdio do grande espetáculo das renúncias — disfarçadas de promessas.
Já em 1945, a Operação Paperclip personificou esta renúncia, flagrante e cínica: os Estados Unidos exfiltraram mais de 1.600 cientistas nazis, apresentados como especialistas valiosos. Werner von Braun projectista dos mísseis V2 que caíram sobre Londres, cedo se tornou o pai da conquista americana do espaço.
Mas mascarando implicitamente o naufrágio moral da nova era. A perversão de certos seres humanos é — e continua a ser — ( ver Gaza ) irreversível. Os nostálgicos da desumanidade são tenazes, sem remorso ou arrependimento.
Pois Potsdam não foi apenas o palco de uma nova ordem mundial. Foi também o prelúdio do grande espetáculo das renúncias — disfarçadas de promessas. Já em 1945, a Operação Paperclip ] personificou esta renúncia, flagrante e cínica: os Estados Unidos exfiltraram mais de 1.600 cientistas nazis, apresentados como especialistas valiosos. Werner von Braun projectista dos mísseis V2 que caíram sobre Londres, cedo se tornou o pai da conquista americana do espaço. Naturalizado, condecorado e celebrado como um herói do mundo livre.
Nos bastidores, o General Reinhard Gehlen, chefe dos serviços de informação nazi na Frente Leste, era protegido por Washington. Em breve fundaria o serviço secreto da Alemanha Ocidental.
Theodor Oberländer, um importante líder nazi desde 1923 e implicado nos massacres da comunidade judaica de Lvov, tornou-se ministro da República Federal da Alemanha na década de 1950.
Yaroslav Stetsko, chefe de um Estado fantoche ucraniano pró-nazi em 1941, marchou em Washington, onde foi recebido de braços abertos. Foi recebido na Casa Branca e felicitado pelo presidente Ronald Reagan. Como Trump e Biden receberam Zelensky.
Na ONU, Kurt Waldheim, antigo responsável da Wehrmacht, presidiu de 1972 a 1981 – sem que isso provocasse qualquer indignação real.
Em 1968, apenas Beate Klarsfeld deu uma bofetada na cara de Kurt Kiesinger, um antigo dignatário nazi que se tornou chanceler.
O facto de Kiesinger ter conseguido ascender ao poder apesar do seu passado testemunha um duvidoso arrependimento e constitui uma injúria e uma afronta insuportáveis às inúmeras vítimas da abominação nazi.
Claro que ninguém pode dar uma bofetada na cara da Presidente da UE, que pôe os povos da UE no caminho do abismo.
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