quarta-feira, outubro 23, 2024

Pensem nisto


O colonialismo teve faces bem sombrias. Esquecê-las, só porque são desagradáveis, é uma estupidez histórica e um atentado à memória coletiva dos povos cujas culturas se projetam em língua portuguesa, a língua colonial sem a qual esta fotografia seria improvável.

6 comentários:

Retornado disse...

Foi por um triz que a lingua portuguesa ficou por lá.

Ninguém tinha o mais pequeno respeito nem ninguém levava a sério a colonização portuguesa nem a língua.

O destino daquilo tudo seria igual a Goa e o que ia acontecendo a Timor.

Os últimos 13 dos 500 anos salvaram pelo menos por alguns tempos o idioma luso.

Carlos Antunes disse...

Concordo que a língua portuguesa é um legado importante do colonialismo (até porque foi o factor preponderante da construção da unidade desses países de que, no caso particular de Moçambique, até Samora Machel se socorreu na sua divisa “do Rovuma ao Maputo, um só povo, uma só nação, uma só cultura, uma só língua (portuguesa) um só partido”) mas não o único legado não sombrio do colonialismo – como bem lembra o historiador e professor jubilado da Universidade de Coimbra, Luís Reis Torgal, devemos “estudar a colonização e o colonialismo com todo o rigor, mas sem preconceitos negativos ou positivos, como por aí se vê nesta febre de opinião ou de ideologia radical anticolonialista ou neo-imperialista, que vai deformando a interpretação da realidade” (Público, 2 de Março de 2023).
Não concordo, contudo, que a fotografia (de Mia Couto e Agualusa) represente o melhor legado da língua portuguesa nesses países. Por exemplo, no caso particular do meio literário de Moçambique, são evidentes as tensões, até de ordem estilística, entre Mia Couto e os seus contemporâneos Ungulani Ba Ka Khosa (o seu romance “Ualalapi” centrado sobre a crueldade e despotismo de Gungunhana foi considerada uma dos melhores obras literárias africanas do séc. XX), Nelson Saúte, Suleiman Cassamo e Marcelo Panguana, que têm sido relegados ao esquecimento em grande parte dos círculos editoriais, nomeadamente em Portugal, por força de uma eficiente máquina editorial montada por Mia Couto.
Simultaneamente, Mia Couto posicionou-se como promotor do escritor angolano José Eduardo Agualusa (que passou a viver na Ilha de Moçambique), tendo já defendido publicamente Agualusa quando este foi preterido no Prémio Camões. Hoje, ambos colaboram em obras colectivas, consolidando a sua presença no cenário literário lusófono e evidenciando a aliança que reforça a projecção das suas obras.
Felizmente, a literatura moçambicana é pujante e autores como os já citados, mas também Lucílio Manjate, Adelino Timóteo, Sangare Okapi, embora barrados em Portugal pela máquina editorial e mediática de Mia Couto, têm encontrado uma recepção digna, não só no meio literário moçambicano/africano (com traduções até para inglês), como no Brasil.
Post scriptum: Obviamente, é bom lembrar Paulina Chiziane, a primeira mulher africana a ganhar o Prémio Camões de Literatura/2021, que ultrapassou há muito o espaço lusófono, como foi o de ter sido recentemente homenageada na Universidade de Varsóvia, com a “Cátedra Paulina Chiziane” pelo reconhecimento da vasta contribuição da escritora moçambicana para a literatura e do seu papel como defensora da identidade cultural e da voz da mulher africana nas suas obras.

Luís Lavoura disse...

O comentário do Retornado parece-me muito verdadeiro.
É de facto surpreendente que a língua portuguesa pareça estar a criar raízes em Moçambique.

Anónimo disse...

Gostava de saber se o retornado é mesmo retornado e se Luís Lavoura conhece Moçambique, porque não percebo a admiração, sinceramente.

Luís Lavoura disse...

Anónimo, não, não conheço Moçambique.

Retornado disse...

anónimo, sim, sou retornado, com todos os privilégios a que tive direito, e aprendi bem a lição.
Foi uma "escola" que me ensinou muitíssimo.

25 de novembro