quarta-feira, outubro 09, 2024

Passadeiras

Sou de um tempo - muito antigo - em que as pessoas, antes de atravessar as passadeiras, olhavam para ambos os lados da rua. Numa outra encarnação geográfica, lembro-me que o peão estendia o braço, para assinalar a sua intenção, antes de iniciar a travessia. Isso acabou. Agora, olha-se o telemóvel e caminha-se lentamente. Às vezes, raramente, alguns peões deitam um olhar sobranceiro para o automóvel estacado a uns metros, numa coreografia que quer significar: "Só quando eu quiser é que tu vais passar, percebes?"

2 comentários:

Anónimo disse...

Perfeito, perfeitíssimo, nada a acrescentar.
Ainda hoje, regressados de algures a Lisboa, só dizíamos um ao outro "que saudades tínhamos disto...".
E quando param de repente a meio da passadeira muito ocupados com o que estão a fazer?
Aí já dá para desengatar e dar uma boa aceleradela em seco, é cada cagaço (atenção, eu escrevi desengatar antes).
Sou peão muito mais vezes e durante muito mais tempo de cada vez em Lisboa do que o sou como automobilista, sou mesmo dos que insistem com os carros para avançarem eles quando vejo que posso atravessar logo a seguir, mas reconheço que isso se deve aos milhares de vezes que estou
"do outro lado".

manuel campos disse...

Às 00.47 era eu, tinha que ser, foi o entusiasmo, falhou o nome.
O Código da Estrada tem algumas regras de cautela para os peões, que os avisam de que as passadeiras não são para atravessar à balda só porque estão ali.
No entanto se algum for atropelado porque não as cumpriu, duvido que seja possível prová-lo, já para não falar de arranjar testemunhas.
Aqui há imensos anos, a atravessar uma vila em festa, dei um toque numa pessoa que surgiu de repente por detrás de uma carrinha grande, eu ia muito devagar e não aconteceu nada de grave.
Fui eu que chamei a GNR e, enquanto não chegavam, fui recebendo o apoio e a oferta de testemunhas várias, quando chegou a GNR nem uma lá estava para amostra ou fizeram-se de desentendidas.
Devo dizer que os agentes foram impecáveis, accionei de imediato o seguro (que tem que pagar obrigatóriamente idas ao hospital), ainda hoje tenho o telemóvel da pessoa mas nem nos temos telefonado nem nos temos atropelado.

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