Tenho algum orgulho em poder dizer que sempre olhei com grande simpatia para a presença de estrangeiros a trabalhar em Portugal. Por isso, acho que tenho alguma autoridade para poder dizer que não me parece normal que, nas quatro viagens que ontem fiz em TVDE, me tenha cruzado com três condutores que não falavam uma única palavra de português e que tinham um inglês abaixo de "macarrónico". Vá lá: dois deles, no final, com um grande sorriso, disseram "obrigado".
14 comentários:
Tudo bem se titulares da necessária (e legal) licença.
Já trouxe aqui este assunto mais de uma vez ainda que não seja utilizador dos TVDE ("transporte em veículo descaracterizado a partir de plataforma eletrónica"), minha mulher é que era.
E era porque voltou aos "velhos" táxis que também os há organizados em plataformas que funcionam do mesmo modo e que, face à concorrência, melhoraram muito.
Uma das razões dela foi exactamente esta da língua falada (ou não falada, neste caso), profunda conhecedora de Lisboa não lhes conseguia explicar que o caminho que os "GPS" deles indicavam eram um disparate face às alternativas de percurso existentes.
Pela minha parte tenho tido alguns "desaguisados" por aí quando ao volante, já os contei, a resposta habitual que recebo é o dedo do meio espetado, que essa linguagem é universal.
Impressionante: no passado, gente como o Francisco queixava-se de que os taxistas portugueses falavam mal e de mais; agora, queixam-se de que eles não falam...
A função de um condutor de táxi, seja ele TVDE ou não seja, é conduzir, não é falar com o passageiro!
de facto portugal é um país superliberal, ao contrário do que dizem os liberais. qualquer pessoa pode chegar e atender clientes mesmo não falando uma palavra português (é válido para os ubers mas também para lojas indianas/bengalis/pakis e chinesas). mas valha a verdade isso também é válido para os produtos que chegam ao supermercado, muitos deles sem qualquer indicação em português (aqui a nota mais alta vai para a spar), algo que não vê em mais nenhum outro país. e todos conhecemos gente, mesmo qualificada, que passou por cá dois ou três anos e que não ficou a falar português (que diferença para a espanha ou o brasil, por exemplo). para os ministros ou secretários de estado da cultura (devem aborrecer-se do tanto que têm para fazer), que andam sempre empenhados em divulgar a língua portuguesa noutras paragens, talvez fosse mais avisado promover a língua entre portas.
Talvez sem falar patavina, se ande mais tranquilo do que ouvindo falar português em crioulo.
Algum crioulo, há o crioulo dos que os caboverdeanos chamam de "badio de Praia".
É melhor pedir aconselhamento na capital de Caboverde.
O atual governo parece que quer, em meu entender bem, construir uma política de imigração orientada preferencialmente para os países de língua oficial portuguesa, em substituição da política de portas abertas e não-preferencial do governo anterior.
Talvez, se esta intenção do atual governo fôr avante, no futuro o Francisco possa usufruir de um taxista moçambicano ou timorense com quem possa trocar impressões - sendo certo que as impressões de um taxista são sempre impressionantes - durante a viagem, em vez de ter que gramar com um pouco loquaz taxista punjabi ou bengali.
Poderiam ser substituídos com vantagem por táxis autónomos!
Tony Fedup
São os azares dos utilizadores da TVDE.
É o mínimo! Até porque é preciso saber a língua para passar nas admissões. Em Espanha, teriam de falar espanhol desde o primeiro dia! Mas que fazemos nós por cá? Que falem o que lhes apetecer, desde que não seja português. É verdadeiramente indecente.
Manuel Campos
o caminho que os "GPS" deles indicavam eram um disparate face às alternativas de percurso existentes
Eu não percebo nada de TVDE mas, tanto quanto julgo saber, nesses táxis os condutores são supostos seguir o trajeto que a plataforma lhes indica, por forma a que o passageiro possa confirmar que o trajeto que está a ser seguido é, precisamente, aquele que é devido.
A beleza dos TVDE está, precisamente, em que um passageiro sabe que o condutor está a conduzir pelo trajeto devido, e que o preço final da viagem será o pré-determinado, em vez de ser o condutor quem escolhe um trajeto qualquer.
Ou seja: se você toma um táxi que não é um TVDE, você tem a liberdade de dizer ao motorista "siga por aqui e por acolá". Mas, se você toma um TVDE, não tem essa liberdade: tanto você como o motorista são supostos seguir o trajeto indicado pela plataforma.
16:59 - também pode, e deve. mas eu toco piano e falo francês...
Luís Lavoura
E você seria suposto não começar a dar lições começando por dizer "eu não percebo nada do assunto", mas já se sabe que por aí não há volta a dar-lhe.
Eu não sei se a beleza dos TVDE é essa porque não ando de TVDE, quando sozinho ando a pé, de Metro ou de autocarro (e de qualquer modo o meu Nokia 3310 não tem andado a aceitar aplicações), mas o que sei é que há uma coisita que se chama "bom senso" ainda que se note outra vez que não está tão bem distribuída como uma leitura apressada de Descartes levaria a supor.
Ora eu comecei por dizer que minha mulher conhece muito bem Lisboa.
Assim como minha mulher eu também conheço muito bem Lisboa.
E tal como este simpático casal que nós somos há uma quantidade maluca de pessoas que conhece muito bem Lisboa.
Nessas pessoas que conhecem muito bem Lisboa incluem-se os motoristas de táxis convencionais e o que eram os primeiros condutores de TVDE quando aquilo surgiu, de um modo geral nacionais, habitantes locais, muitas vezes com carros próprios.
Portanto os condutores de táxis perguntam que caminho queremos tomar ou nós começamos por lhes dizer e os condutores de TVDE iniciais que conhecem bem Lisboa nem sempre seguem a indicação porque sabem que àquela hora pode não ser boa ideia aquele caminho ou porque acabaram de ouvir na rádio que não é mesmo boa ideia irem por ali para já porque está tudo embrulhado.
Acontece então muito que minha mulher indique uma alternativa e taxistas e TVDEistas no fim lhe agradeçam o conselho, mas para isso têm que perceber o que lhes estão a dizer.
Já percebi aí noutro comentário que o Luís Lavoura não gosta de conversas com condutores de táxis e compreendo que eles não queiram conversas consigo.
Não sei se sabe mas eu digo-lhe: um condutor de TVDE parado num engarrafamento maluco não é um homem feliz, já um de táxi pode ou não ser porque o taxímetro não pára.
Agora temos nos TVDE muita gente nova que trabalha para outros, a forçar mudanças de fila ou a apertar connosco nas prioridades, que à mínima troca de “galhardetes” e pela janela aberta nos avisa que o patrão é advogado e nos dá cabo da vida (já ouvi isto mais de uma vez, devem ser as instruções chapa 3 que recebem, fiquei assustadíssimo como se imagina). Dos tais condutores iniciais cada vez se vêem menos, pois deixaram-se disso, o “negócio mudou".
Eu só não percebo como é que o cliente “sabe que o condutor está a conduzir pelo trajeto devido, e que o preço final da viagem será o pré-determinado”, pois se o condutor não faz a mínima ideia por onde anda e segue acriticamente o boneco (nem as instruções em inglês percebe às vezes), o cliente não lhe consegue explicar o seu ponto de vista de “alfacinha de gema” (cá em casa há 3 gerações que o somos) e o preço não sendo igual a todas as horas do dia e todos os dias para o mesmo trajecto (depende do “mercado” na hora), é portanto uma incógnita à partida se de facto aquele é o caminho certo e ninguém pode fazer nada, uns porque não percebem e outros porque não são percebidos.
Em tempo, pois acho que me expliquei mal.
No último parágrafo do meu comentário anterior, a ideia é a de que ao aceitar o serviço por um determinado preço, tanto o cliente como o fornecedor ficam sem margem de manobra dialogante, um no tempo que considera perdido e o outro no custo acrescido que não pode evitar, se algo correr mal no transito.
E isso é uma limitação não ajustável do sistema existente se não houver margem de entendimento.
Não há sistemas perfeitos mas, apesar de tudo, ainda ontem num táxi que minha mulher apanhou aconteceu que o condutor se baralhou nas voltas e, quando ela lhe chamou a atenção, ele não quis cobrar a parte final da viagem.
Mas como defender a língua portuguesa se é o próprio presidente da República que lhe retira relevância, quando não a utiliza em viagens ao estrangeiro ( e não só)? Lembram-se de Angela Merkel e do seu uso exclusivo da língua alemã? E como se pode admitir que médicos do SNS não sejam obrigados a falar português com os doentes nem entendam o que estes dizem - porque os ditos só falam espanhol?
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