sábado, janeiro 27, 2024

Seteais




"No vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava, à luz rica da tarde um quadro maravilhoso, de uma composição quase fantástica, como a ilustração de uma bela lenda de cavalaria e de amor. Era no primeiro plano o terreiro deserto e verdejante todo salpicado de botões amarelos; ao fundo o renque cerrado de antigas árvores com hera nos troncos, fazendo ao longo da grade uma muralha de folhagem reluzente; e, emergindo abruptamente dessa copada linha de bosque assoalhado, subia no pleno resplendor do dia, destacando vigorosamente num relevo nítido sobre o céu azul claro, o cume airoso da serra, toda cor de violeta-escura coroada pelo Palácio da Pena, romântico e solitário no alto com o seu parque sombrio aos pés, a torre esbelta perdida no ar, e as cúpulas brilhando ao sol como se fossem feitas de ouro…”

( Eça de Queiroz, "Os Maias" )

22 comentários:

manuel campos disse...


O TIVOLI esteve lá 68 anos, agora é o "Valverde Sintra Palácio de Seteais".

O Grupo Valverde tem hotéis de luxo em Lisboa, Santar (Viseu) e Porto.

O de Lisboa fica na Avenida da Liberdade, a escassos 20 metros do Hotel Vitória, antiga sede do PCP e onde agora está a Organização Regional de Lisboa do Partido.

Ao lado deste edifício do PCP, de quem vem de cima, está uma loja da GUCCI e entre o edifício do PCP e o hotel está uma casa que se dedica à decoração e arquitectura de interiores, não exactamente de quaisquer interiores, como se imagina.

Desço por aquele lado do passeio uma a duas vezes por semana mas atravesso sempre a rua, ali no passeio exterior um minuto a olhar para o conjunt, uma visão imperdível enquanto durar.

Gucci, ORL do PCP e Hotel Valverde, a coexistência perfeita através de uma vizinhança saudável entre "dois regimes" que se opuseram ferozmente na vida e na cabeça das pessoas.
Há que aproveitar o momento que a evolução (em particular) da China tem vindo a banalizar, não tarda muito e já nem isto é curioso.

J Carvalho disse...

No dia em que se soube que Eça vai mesmo para o Panteão. É mais que merecido. Em Santa Cruz do Douro ficará a campa rasa, a lápide, a casa, as memórias...

AV disse...

Bela composição de texto e fotografia.

Flor disse...

Fiquei maravilhada com o texto poético do Eça de Queiroz acompanhado de uma fotografia belíssima com o Palácio da Pena ao longe. Adorei. Obrigada.

Flor disse...

Sr. Embaixador, não resisti, levei o seu post para a minha página do Facebook. Espero não se importe. Obrigada.

manuel campos disse...


Esta é uma zona que conheci muito bem e hoje em dia conheço muito mal, passei muitas férias de Verão da minha adolescência e princípio da idade adulta ali a 5 kms de Sintra, continuei a ír lá para esses lados com frequência pois um familiar muitíssimo próximo tinha casa na zona de Colares e, depois de reformado, passava lá muito tempo.

Quando tirei a carta de condução e tinha a viatura familiar disponível, nas férias ía estudar para os exames de Setembro (ficava sempre alguma cadeira pendurada) para a esplanada do Café Paris, em frente ao Palácio da Vila.
Isto dá uma pequeníssima ideia do que era essa época por ali (1966, 1967).

A esplanada do Café Paris e o largo do Palácio em frente tinham ambiente para se passar ali umas boas horas a ESTUDAR (leram bem), meia dúzia de pessoas cá fora a ler o jornal, de vez em quando passava uma caleche para turistas, que nessa altura eram raros à semana e quase todos nacionais.
O carro ficava ali em frente, estava sempre debaixo de olho, ía mudá-lo de sitio!) à medida que o sol rodava para evitar que volante e banco do condutor apanhassem muito sol, aquela zona tinha sempre mais lugares vagos que ocupados.

Quase todos as noites íamos passar o serão com esses familiares, normalmente utilizando uma descida que fica ao lado do que foi o Hotel Netto, ali ao fundo depois do Hotel Tivoli, só passava um carro mas mesmo assim nesse tempo tinha dois sentidos, porque a probabilidade de nos cruzarmos com outro carro era do mais remoto que havia.
Durante o dia utilizava evidentemente a estrada que passa a Seteais e Monserrate, uma das mais belas estradas que conheço, à noite não se encontraria ninguém nem ninguém nos encontraria, uma avaria no carro e ficávamos ali até de manhã.
Com bons amigos ali na zona de Colares, que faziam umas belíssimas petiscadas onde estávamos sempre nós, continuámos a ir para aqueles lados durante muitos anos, entretanto esses amigos já não eram novos e já cá não estão.

A última vez que fomos para ali (mas não chegámos a entrar em Sintra), foi há cerca de sete anos, é fácil de situar, lembramo-nos bem por causa de um episódio que teve a ver com o carro que eu tinha acabado de comprar novo e, portanto, havia ali umas habilidades que ele faz que eu ainda não conhecia.

Não faço ideia como Sintra estará agora e qual o ambiente geral, mas imagino pelas notícias que me chegam que é melhor não saber mais nada, dado o exposto atrás há alturas em que é preferível guardar as memórias e evitar pô-las em causa.
Um dos meus filhos, em momentos comemorativos, vai passar 2 ou 3 dias com a minha nora a Seteais.

Quanto à vinda dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão acho bem.
Não porque não estivessem também bem onde estão, mas conheço quem conheça o assunto, ainda que não se tenha metido em nada daquelas “batalhas” familiares e me assegura que o escritor não era propriamente um entusiasta de repousar em Santa Cruz do Douro nem em Lisboa.
Assim o Panteão é o sítio certo, eu não acho que seja em Lisboa, dada a sua simbologia é em todo o Portugal.



Nuno Figueiredo disse...

7 ais...

Tony disse...

Boa tarde Sr. Embaixador. Mais uma bela e magnifica foto. Gostei muito e agradeço. Mas hoje é Domingo, dia do Senhor. E, antes que me esqueça, venho enviar, embora virtual, um grande e forte abraço de parabéns pelo seu Aniversário Natalício, com desejos para que passe um dia particularmente alegre e feliz, Junto da sua "Maria." Como merece.

Flor disse...

Manuel Campos, que belo passeio pela Vila de Sintra que me proporcionou neste momento. Posso dizer-lhe que no dia de hoje a serra está envolta de uma neblina. Quando vim para esta casa conseguia ver, em dias claros, o Palácio da Pena. Entretanto essa vista ficou tapada pelo último prédio de uma urbanização.
Sempre gostei da Vila e desde pequena, apesar de morar em Lisboa na altura ia todos os domingos dar "o passeio dos tristes" e claro comer as afamadas queijadas da Piriquita.

manuel campos disse...


Para benefício de quem me julga um exagerado, peço licença ao dono da casa para pôr aqui uma ligação para uma imagem com o título "Sintra na década de sessenta do século XX".

https://www.alagamares.com/wp-content/uploads/2015/03/F1007-C13.jpg

Os modelos dos três carros que ali estão não me deixam mentir sobre as datas (já para não falar dos modelos dos táxis e dos autocarros).
O trânsito intenso de pessoas e viaturas também só confirma o facto da esplanada do Café de Paris ser nesses tempos mais calma que a biblioteca da universidade que eu frequentava.
E confirma-se ainda a trabalheira que eu tinha a escolher de hora a hora um lugar onde o sol batesse menos no volante e no banco, devia experimentar pelo menos 20 lugares diferentes até me decidir.

manuel campos disse...


Então muitos parabéns!

Felizmente anda por cá o amigo Tony sempre atento.

manuel campos disse...


Flor

Muito obrigado.
Serra de Sintra e neblina são muitas vezes inseparáveis.

Aqui há imensos anos uns conhecidos nossos foram passar ali uns dias na Várzea, logo nos primeiros dias apanharam uma noite em que lá no alto o Castelo dos Mouros estava envolto em neblina, a iluminação das ameias dava nessa noite um tom alaranjado à neblina, telefonaram para os bombeiros aflitos porque à volta do Castelo estava tudo a arder.
Ainda hoje são gozados com essa patetice.

As vistas que se perdem doem muito, felizmente isso aqui em Lisboa não me pode acontecer, não há onde construir nada que alguma vez me tape a vista, já o mesmo não se pode dizer de vizinhos daqui que andam a lutar contra um edifício projectado, invocando um qualquer “direito à vista” que desconheço e do qual tenho muitas dúvidas neste caso, a obra entretanto parou mas acho que é um problema de “massas”.

Costumo dizer que houve momentos difíceis da minha vida em que chegar à janela e olhar para o imenso casario da minha cidade também me ajudou a recomeçar a luta.
Lá no meu “algures” gastei uma pipa de massa numa altura menos propícia a comprar um terreno urbano onde se propunham construír não sei bem o quê nem vou saber, mantive assim a vista a perder de vista.

Em pequeno e aí até meio da adolescência também ía dar o “passeio dos tristes”, que incluía a Marginal e depois seguir pelo Guincho e Malveira da Serra ou virar logo para Sintra no Estoril.
Em Sintra paragem obrigatória na Piriquita para as queijadas (e depois os travesseiros).
Recordo uma paragem que ainda me “dói”, vou dizer porquê.
Pus-me a ajudar o meu Pai a fazer marcha atrás e uma das rodas passou-me por cima de um pé, o que não seria grave se não tivesse aparecido alguém a cumprimentá-lo.
Assim ele parou o carro, abriu a janela e pôs-se a conversar com a roda em cima do meu pé, sem dar por nada, claro.
Comecei assim a bater freneticamente no vidro da janela traseira e ele respondia-me com gestos irritados que tivesse calma, que não havia pressa.

Flor disse...

Manuel Campos e estas são as nossas pequenas memórias.

manuel campos disse...


Flor

Pois são e gosto delas, ainda que só vão surgindo ao sabor destas saborosas conversas com quem as sabe partilhar, estamos aqui num "sítio" de quem sabe partilhar memórias e com pessoas que as sabem partilhar.
Não são saudades nem nostalgias, não sou dado a isso, só vivo para o amanhã, a minha vida continuou a encher-se de memórias muito boas e também de outras muito más, mas é disso que todas as vidas que mereceram e continuam a merecer ser vividas são feitas.



afcm disse...

Muitos Parabéns, Sr. Embaixador!
Longa Vida!

AV disse...

Muitos parabéns.

O passeio da Marginal, Guincho, Azóia, Almoçageme e Colares, com opção de ir até a Sintra e voltar pelo Estoril ou de continuar até às Azenhas do Mar, é muito bonito. Fazia-o quase todos os fins de semana nos fins dos anos 80 e inícios dos 90. Dava para comprar uns legumes frescos numa venda à beira da estrada antes de Colares, junto a uma loja de artesanato com peças bonitas, com uns bons almoços e lanches (a antiga casa de chá Colares Velho!) pelo caminho. Bons tempos.


Flor disse...

AV

Belos passeios que ainda se podem fazer hoje. Há uns anos atrás quando passava perto da entrada para Azóia eu comprava lindos ramos de Mimosas.

manuel campos disse...


AV

Refere-se à venda de legumes frescos mesmo ali antes de Colares, segundo me parece.

É que há outra, bem maior, de legumes e frutas e outras coisas, no cruzamento da estrada que vem de Colares e segue em frente para o Pé da Serra ou, virando â direita, atravessa Almoçageme e liga à Praia Grande, Banzão e Praia das Maçãs.

manuel campos disse...


Flor

Ainda hoje fizemos o favorito de minha mulher, como anunciado, um passeio que já foi quase semanal ou pelo menos quinzenal, mas que esteve suspenso uns bons tempos, quando não era o mau tempo eram aí outras questões.

Portanto fomos almoçar a Carcavelos com o nosso mais velho e a nora daquele lado e, às 16.16 em ponto, entrávamos triunfalmente em Cascais a caminho do Guincho (também existe e também foi triunfantemente, para que saibam).
Não é necessário mas vou sempre por dentro da vila, ali pelo Hotel Baía, passando à Cidadela, de volta o mesmo caminho, o que estamos a fazer é um passeio, não vamos entrar de turno.

Trânsito na Marginal quase nenhum, no Estoril e em Cascais nenhum, naquela rua que segue até à baía só lá estávamos àquela hora, no Guincho parei o carro num daqueles lugares ao longo daquele passeio junto à falésia, três ou quatro carros, andámos por ali a fazer “les cent pas” até ficar fresquinho q.b., às cinco da tarde o sol espreitava envergonhado atrás das nuvens e o mar estava para o bravo (a minha neta finalista de “Gestão” diria que “estava tipo bravo”, espero que quando trabalhar não tenha que dizer ao patrão que a empresa “está tipo falida”).

AV disse...

Manuel Campos, refiro-me a uma que existia antes de Colares de quem vem de Cascais e de Almoçageme. Penso que agora é a segunda a que se refere, mas que a sua referência é de quem vem de Sintra e de Colares. Está de facto num cruzamento que dá para o Banzão e a Praia Grande. É agora muito maior do que há 30 anos atrás, como constatei com surpresa quando lá regressei em Novembro passado. Também tem mais uma ou duas lojas que são diferentes daquela que existia naquela altura. Cumprimentos.

manuel campos disse...


AV

Tem toda a razão, é isso mesmo, estamos a falar exactamente do mesmo local mas vindo de lados opostos.

Eu sei que estou a abusar da boa vontade do dono da casa, mas Sintra fica em Sintra, não vejo outra maneira de ir para aqueles lados sem ser por ligações, portanto é esta que aqui vai, AV o confirmará:

https://lifecooler.com/artigo/atividades/feira-de-almoageme/380412

Cumprimentos também para si
Uma boa noite



Anónimo disse...

Manuel Campos, exactamente, e muito agradeço a simpatia de disponibilizar o link.

AV

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