quarta-feira, julho 29, 2020

O país das trincheiras


A anunciada decisão de algumas televisões de virem a evitar, no futuro, debates com comentadores abertamente vinculados a emblemas clubistas pode ser uma excelente notícia. Prouvera que a conversa sobre futebol, que polui o nosso panorama televisivo, venha a ganhar alguma dignidade com essa depuração, já que a sua redução drástica não parece, infelizmente, estar nas cartas.

Muita da crispação que hoje marca o ambiente futebolístico nacional releva de alguns incendiários da palavra, que excitam o sectarismo, garantindo a pés juntos que “foi penálti”, mas apenas quando tal corresponde aos interesses do seu clube e, claro, nada disso tendo a ver com a verdade objetiva dos factos, que é o que menos lhes importa.

As nossas televisões, à cata desesperada de audiências, enchem, por horas, esse circo de polémica, que é relativamente barato de sustentar e se sabe ter um mundo ululante de seguidores. Com mais ou menos adjetivos e decibéis, todos os canais televisivos seguem o mesmo caminho, mesmo aqueles que, pagos por todos nós, tinham obrigação de evitar esses vícios, assumindo a função pedagógica que o serviço público lhes deveria impor. Projetar verdades relativas, opiniões sobre factos que se sabe apenas motivadas por clubismo, às vezes com cartilhas de apoio, é um péssimo serviço prestado à educação cívica. A alguns media deveria ser a deontologia a impor essa obrigação, outros têm-na mesmo na sua natureza.

Mas fica-se por aqui esse mundo de trincheiras, a preto e branco, de factos relativos? Não fica. A política é também pasto para esse ambiente sectário, que sai das telas para se projetar nos jornais e, também, um pouco nas rádios.

Não conheço – mas admito poder estar enganado, se alguém mo provar – nenhuma democracia em que figuras eleitas ou dirigentes partidários disponham de colunas ou de outros espaços privativos de expressão mediática, com caráter regular, em órgãos de comunicação social, salvo naqueles que são, abertamente, folhas de propaganda das formações a que pertencem.

Por cá, contudo, há personalidades na política ativa que alimentam verdadeiros “tempos de antena” – nos jornais, rádios ou televisões. O que se pode esperar de alguém que foi eleito por uma certa cor, cujo futuro depende, em muito, da formação a que pertencem? Que critiquem os seus partidos? Multiplicando os atores, os media absolvem-se de acusação de sectarismo e alimentam a cacofonia, enchendo assim as horas e as páginas.

Isto já não muda, dizem alguns. São capazes de ter razão.

10 comentários:

Anónimo disse...

Nunca estive tão de acordo consigo! Se as TVs fizessem desaparecer de cena essas figuras detestáveis do futebol e da politica partidária, que dão corpo aos piores valores que se podem imaginar: a desonestidade, a falta de respeito pelo outro (e pela nossa inteligência), etc, etc. Precisava disso para ganhar o gosto de viver em Portugal. Caramba, acho que este país melhorava logo de um dia para o outro! Falta-nos fair-play e civismo como de pão para a boca.

Anónimo disse...

De repente, lembro-me de dois programas: "Circulatura do Quadrado" e "Sem Moderação". Em ambos os casos, as figuras afetas ao PS são meras caixas de ressonância da linha oficial do partido, incapazes de uma palavra que seja que demonstre oposição à "cassete" do momento.

Vemos Pacheco Pereira, Lobo Xavier, José Euardo Martins, Francisco Mendes da Silva, todos, num ou outro momento (quando não frequentemente), discordar das posições dos seus partidos ou criticar a sua área política mas... os representantes do PS? Meu Deus!

Jorge Coelho chega a levar cábulas, que vai seguindo naquele seu discurso atabalhoado (mas sempre "com sinceridade" - uma "muleta" a merecer psicanálise), e Pedro Delgado Alves metralha-nos impiedosamente, cravando nos nossos ouvidos tudo o que tiver sido definido pela direção do partido. Por vezes, quase que fico com vontade de ter ali um boneco do PCP. Não se ganhava em genuidade mas talves desse para rir...

Anónimo disse...

É louvável a frontal idade com que os anónimos dizem a sua opinião. Bem como a imparcialidade do das 09:37
Fernando Neves

Anónimo disse...

Há programas que deviam ser encerrados, a bem da nossa sanidade mental. Por exemplo, a "Quadratura do Circulo", agora travestida de "Circulatura do Quadrado". Alguém tem paciência para o Pacheco Pereira, há 50 anos no programa, ou para o Jorge Coelho? Eixo do Mal: alguém tem paciência para aqueles comentadores, que se atropelam uns aos outros e a si próprios? Tem um tipo que levar com todos estes comentadores na tv, nos jornais e ainda na rádio, como é o caso do inenarrável Pedro Marques Lopes, que tem voz de falsete, e comenta tudo desde política até à justiça, passando pelo desporto. Alguém tem já paciência para os humoristas do regime, como o Ricardo Araújo Pereira, com aquele humor já requentado? Alguém suporta já o dito e os outros dois no Governo Sombra? Alguém consegue ouvir o Marçal Grilo e o Nobre Guedes? Eu Nâo, mas pelos vistos há mercado para isto tudo, para mal dos meus pecados.
No entanto, há um comentador que comenta todos os dias e bate todos os outros aos pontos: o nosso PR. Já nem o posso ver, salvo o devido respeito.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
aamgvieira disse...

Deviam acabar com o Eixo do Mal, era um favor que faziam para diminuir a poluição sonora e a estupidez televisiva.

Exibam filmes ou documentários sobre vários assuntos incluindo jornalismo de investigação (não vejo ninguém na TV dos manos Costa a fazer isso...).

Mandem embora esses indigentes da politica que masturbam o ego uns dos outros.....a ver qual é que mais sobressai na miserabilidade do programa !

Júdice, Anacleto e o Noia deviam ir cuidar dos netos, são autênticos papagaios da baixa política.

Cícero Catilinária disse...

Ó caríssimos, eu não sei onde está o problema. Não gosto, logo não vejo. Se deixar-mos
de ver esses programas que achamos sem qualidade, e honestidade, as audiências baixam e eles, os tais maus programas, vão à vida. O mesmo se passa com a imprensa escrita, não gosto, não compro, logo, caiem as vendas e a porcaria acaba. E neste caso, se a "vontade de ler" for muita, as livrarias têm muita coisa interessante para ser lida e contribuir para a nossa saúde mental, ao contrário da pasquinada que por aí se vende como jornais.
É tal e qual como ir ao talho, se me vendem carne cara, dura e sem qualidade o que faço? Mudo de talho, evidentemente.
Perceberam?

Anónimo disse...

Não vale, esquecerem-se do Ganda Noia. Está bem? Diz tudo com grande convicção e também o seu contrário, com a mesma convicção. Recordam-se do que disse, semanas a fio, sobre o BES?

Anónimo disse...

"Cícero Catilinária", a sua lógica é boa mas, quando isso acontece - ou seja, quando a imprensa perde leitores -, as publicações não mudam: pedem subsídio!!! E, portanto, você vai pagar indiretamente o que não lê. Mesma coisa com a TV. Mesma coisa com o "cinema"...

Troquem o Jorge Coelho pelo António Barreto. Passam a chamar ao programa "Triangulação do Círculo" e todos ganhamos. António Barreto seria alguém da área socialista mas independente e loquaz.

Anónimo disse...

Acabei de ouvir o último da Circulatura/Quadratura: Jorge Coelho vai-se embora do programa! A coisa até meteu vozes embargadas pela emoção. Espantoso mas saboroso.

Chamem o Barreto!

Seminário