Na casa das minhas tias, nas Pedras Salgadas, no belo terraço arredondado com cadeirões de verga ou de madeira, com largos braços, guardo a imagem dos mais velhos a porem a conversa em dia, comentando os casos da vida.
Na varanda que torneia o pátio da casa dos meus avós maternos, não muito longe, em Bornes, com as pessoas no escano ou nas muitas cadeiras que por lá havia, formava-se um cenáculo de belas conversas, com gente da família ou amigos a juntarem-se, vindas de outras casas, a quem era oferecido um cálice de “vinho fino”.
Eram também assim as noites em Viana do Castelo, nas férias grandes, em torno da minha avó paterna, na casa do largo Vasco da Gama, com os filhos no ritual da visita diária. Recordo-me que a claridade declinava, quase subitamente, e, se alguém, inesperadamente, entrasse na sala, ficaria com a ideia de que todos tinham para ali ido às escuras.
Esse é o segredo desses momentos. Se uma luz se acende, e cedo ou tarde isso acontece, toda a magia de penumbra desaparece. As conversas já não voltam a ser as mesmas.
7 comentários:
Muito bonito!
Imortalidades !
C.Falcao
Nas cidades nem tanto. Mas nas aldeias ainda se vê pessoas a conversar sentadas nos bancos de pedra ou outros ou cadeiras juntos às portas. Vizinhos com vizinhos conversam pela noite dentro. É bonito de se ver.
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Bom início de semana
Abraço
Também guardo memórias doces dos fins de tarde da minha infância.
Ainda hoje é a hora de que mais gosto.
A descrição que fez destes momentos é encantadora. São momentos em que afectos são sentidos, entendimentos tácitos se constroem, e valores se desenvolvem e são partilhados.
E quem é que fazia o jantar?
Nasci nas Pedras Salgadas e sou natural da freguesia de Bornes de Aguiar. Belos tempos em que o verão nas Pedras era animado por um mundo de "veraneantes " como então chamávamos aos turistas que lotavam os vários hotéis da terra.
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