domingo, março 31, 2019

O Brasil de Carmen


Ruy Castro, o excelente escritor brasileiro, escreveu a biografia de Carmen Miranda, a vedeta lendária da canção brasileira, que Hollywood acolheu. 

Carmen Miranda nasceu no Marco de Canavezes, a poucos meses da República ser implantada. Os pais de Carmen emigraram para o Brasil em 1909. 

É sobre o Rio de Janeiro desse tempo, que aposto que a esmagadora maioria dos portugueses desconhece (mesmo alguns que por lá vivem), que Ruy Castro escreve hoje, no “Diário de Notícias” (o leitor ainda não compra este excelente semanário? nem sabe o que perde!), um belo artigo de que extraí este pedaço:

”No Rio a que a pequena Carmen chegou, os portugueses dominavam o comércio de azeite, sardinha, bacalhau, cortiça e vinhos, as associações comerciais, o mercado de casas para alugar, os serviços de táxi, as casas de pasto, os secos e molhados, açougues, armarinhos, casas de ferragens e até os teatros, tanto dentro como fora do palco. Estavam também nos serviços de rua, como jardineiros, estivadores, cocheiros. Ao desembarcar do navio na Praça Mauá, todo jovem português já tinha outro a recebê-lo, alojá-lo e até dar-lhe emprego. José Maria, pai de Carmen, tornou-se barbeiro; sua mãe, Maria Emília, lavadeira.

Era normal que um português recém-chegado, ao andar pelas ruas do Rio, reconhecesse não apenas patrícios aos magotes, mas gente de sua aldeia ou freguesia, já aclimatada ou bem posta na vida. O Rio tinha cinco jornais diários portugueses. Vivia-se entre os patrícios como na metrópole. Tudo isso aconteceu com os pais de Carmen. Até aos 5 anos, ela não conheceu outra criança que não fosse filha de portugueses e a única canção que aprendeu a cantarolar foi uma pecinha folclórica da região de seus pais. Os quais, por tudo isso - e como a maioria de seus amigos -, nunca se preocuparam em se naturalizar brasileiros. Não precisavam. Em compensação, de anos em anos, deviam comparecer ao consulado português para renovar seus registos de permanência e atualizar seus endereços particulares e profissionais.”

E esta?

4 comentários:

Joaquim de Freitas disse...

Descrição realista do « nosso » Brasil, antes da chegada dos bandoleiros de toda a espécie e de todos os níveis… Pobre Brasil, democracia assassinada por gente das cavernas.

Embora a maior parte da classe planetária bem pensante composta por filósofos, analistas políticos e jornalistas, não pare de nos dizer que não estamos a viver o retorno do fascismo, mas a uma nova forma nunca vista do populismo, o exemplo demonstra que a brutalidade e a perseguição de outros tempos já estão lá, no presente!

A fim de ser capaz de aplicar a definição de fascismo para 100%, ele carece de "apenas", de facto, , que o PSL de Bolsonaro se torne em único partido, mas para isso leva um pouco de tempo, menos do que a Donald Trump, em qualquer caso, para desmantelar completamente as instituições.

Bolsonaro, o tipo que disse « O erro da ditadura (1964-1985) foi de torturar sem matar ».

Quando penso nas trocas de galhardetes entre Trump e Bolsonaro, tenho pena do Brasil.

“Na sua conta Twitter, Trump escreveu: "Parabéns ao Presidente Jair Bolsonaro, que acaba de fazer um grande discurso de investidura – os EUA estão com você". E Bolsonaro retwitte: caro Sr. Presidente Trump, obrigado por suas palavras de encorajamento. Juntos, sob a protecção de Deus, vamos trazer aos nossos povos mais prosperidade e progresso.”

O fascismo tem os dentes longos: Anexou Jerusalém, quer anexar a Venezuela, e anexou Deus.

Anónimo disse...



Carmen Miranda Mamãe Eu Quero - 1943 (marchinha carnavalesca)
https://www.youtube.com/watch?v=2dSff6Myxao

segundo vários estudos:
as marchinhas tiveram origem nas quadrilhas e nas marchas dos Santos Populares em Portugal:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=34&v=UAA6MdI0srw


A primeira marcha foi a composição de 1899 de Chiquinha Gonzaga, intitulada Ó Abre Alas, feita para o cordão carnavalesco Rosa de Ouro.
Um estilo musical importado para o Brasil, descende diretamente das marchas populares portuguesas, partilhando com elas o compasso binário das marchas militares, embora mais acelerado, melodias simples e vivas, e letras picantes, cheias de duplo sentido(Wikipedia)
….
Inicialmente calmas e bucólicas, a partir da segunda década do século XX passaram a ter seu andamento acelerado, devido a influência da música comercial norte-americana da era jazz-bands, tendo como exemplo as marchinhas Eu vi e Zizinha, de 1926, ambas do pianista e compositor José Francisco de Freitas….
...As marchinhas de carnaval tiveram seu auge nos anos 30, 40 e 50. Depois delas, muito foi produzido, pouco aproveitado. Dos anos 60 em diante, as marchinhas começaram a perder espaço para os sambas-enredo...


Anónimo disse...

@anónimo de 31 de Março 20:35.

Muito interessante e insrutivo comentário.
Em Portugal, até ao final do Século XVIII, havia sempre nas caudas das grandes procissões, dançarinas e dançarinos acompanhados de músicos populares. Era uma espécie de espetáculo carnavalesco.

Anónimo disse...

@ Sr. De freitas.

"Anexou Jerusalém, quer anexar a Venezuela, e anexou Deus."

31 de março de 2019 às 09:17

Mas isso de Deus deve ser o caso mais grave das anexações efectuadas pelo sr. Trump.

Em marcha forçada camaradas, vamos em passo de corrida anexar o Sr. Trump não vá Ele (Deus) dar ainda mais poder ao senhor que o anexou.


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