sexta-feira, março 29, 2019

O senhor PSD


A morte de Zeca Mendonça (assim crismado pelos próximos, numa forma que o país adotou), hoje lamentada em todos os quadrantes políticos, suscita uma reflexão interessante sobre este tipo de personalidades que estão para além da transitoriedade dos líderes de turno e que, no fundo, dão corpo temporal às instituições, enquanto seu esteio de continuidade. 

Conheci muito mal, em termos pessoais, Zeca Mendonça, com quem falei, brevemente, meia dúzia de vezes, em ocasiões circunstanciais. Mas, na realidade, como muitos portugueses, “conhecia-o” bem, da imagem televisiva, daquela sua função de acompanhante, que pensávamos eterno, dos sucessivos presidentes do PSD - e não me tinha dado conta de terem sido 17!

Muitas vezes me perguntava, ao vê-lo ao lado de figuras com tão forte contraste entre si, quem seria, lá no íntimo, o seu líder preferido, naturalmente depois de Sá Carneiro, “benchmark” indiscutível da casa. Tenho as minhas suposições, que não vêm para o caso.

Ficou-me para sempre um seu momento “político”, quando um dia o vi subir ao palco do Coliseu, falando em nome de Cavaco Silva, num momento muito tenso de um Congresso do PSD, apelando à calma coletiva. Não era claramente o “funcionário” que estava ali nesse momento, era o militante empenhado e preocupado. Foi um momento interessante, raro, que um dia tive ocasião de lhe referir.

Não sei se Zeca Mendonça deixou memórias póstumas - e é pena se o não tiver feito. É que a sua experiência de tantos anos, no centro da máquina de um partido estruturante da democracia portuguesa, iria ser, com toda a certeza, um contributo valioso para a nossa história política contemporânea.

Agora, neste momento derradeiro, só nos resta deixar registada a nossa simpatia.

5 comentários:

netus disse...

E condolências.
António Cabral

Anónimo disse...



Desculpem-me.
Segue em baixo o link para compreender melhor o que se passa por esse mundo a quem puder ler em francês.


https://www.agoravox.fr/tribune-libre/article/vomir-apres-la-grande-bouffe-213854

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Calculo que esse congresso tenha sido um que pôs o meu avô materno um fim-de-semana inteiro a rir por conta das barracadas que lá se passaram.
Como diz o Sr. Embaixador é uma pena se não existir um registo de tanta memória.

Anónimo disse...

O mesmo Zeca que pontapeou um jornalista aqui há uns anos. Está filmado e na Net. Pode ver-se.

disse...

Depois de ver apelidado de javardos quem gostam de BdC ou de Sergio Conceição, que se diria da atitude de alguém quando andou aos pontapés a um jornalista?ó porque morreu, passou a ser "tão boa pessoa"?

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...