domingo, março 17, 2019

Fouquet’s


O Fouquet’s, o conhecido restaurante nos Campos Elísios, em Paris, foi, há horas, pilhado e incendiado pelos “coletes amarelos”. No comments...

O Fouquet’s, onde se come apenas “assim-assim”, para o preço que cobra, é uma “montra” de luxo para uma certa sociedade parisiense, que faz questão de por aí ”refeiçoar”, seja sob o sol da esplanada, seja na zona envidraçada em dias menos cálidos, ou ainda no seu luxuoso e confortável interior. (Por uma razão para mim sempre misteriosa, os franceses pronunciam “fuquétes” e não “fuquê”, mas eles é que sabem, porque deles é a língua).

Para a pequena história política francesa ficou famosa a ceia oferecida a Nicolas Sarkozy no Fouquet’s, em 2007, na noite da sua eleição como presidente, paga por alguns amigos da alta finança. Desde esse dia, e a começar por essa razão, Sarkozy nunca mais se livrou da imagem de ser o presidente ”dos ricos”. Quando, dois anos depois, fui viver para Paris, a associação do restaurante ao presidente surgia regularmente na imprensa. Até hoje (vão ao Google e verifiquem). 

Em 2012, cinco anos passados sobre a data da sua posse, Sarkozy foi de novo a votos, mas os franceses recusaram a sua reeleição e escolheram François Hollande.

Nesse dia, tive uma ideia. Enquanto os apoiantes de Hollande comemoravam, na Bastilha, a eleição de um novo presidente socialista (numa tentativa de “remake” da célebre manifestação de 1981, na chegada de François Mitterrand ao Eliseu), decidi desafiar um grupo de amigos para irmos jantar ao Fouquet’s. Era um grupo politicamente heterogéneo, no qual havia gente satisfeita com a vitória de Hollande e alguma outra algo triste com a derrota de Sarkozy. 

Era um jantar pretendidamente irónico. A curiosidade foi ver, em certas mesas, damas e cavalheiros claramente sarkozistas, que ali tinham reservado mesa com vista a comemorar simbolicamente uma reeleição que não viria a acontecer, de cara muito fechada e já a fazer as contas à vida (e a pensar na vida futura das suas contas bancárias, sob a ameaça dos impostos sobre as fortunas anunciados por Hollande). 

Nós, no nosso grupo, divertimo-nos bastante, devo confessar, em especial até à chegada da conta, que, como se presumia, não foi “leve”. Mas, como se costuma dizer, uma noite não são noites...

11 comentários:

Anónimo disse...


Fouquet's = em tons de anglicanismo ?!
para se ler "fouquê", teria de se escrever Fouquet ou Fouquets, assim me parece
triste situação a desse restaurante :(

Anónimo disse...

Os franceses dizem fuquétes correctamente , pois a palavra termina com t’s ... Qual é a dúvida ?

alvaro silva disse...

Na minha terra quando te dizem que estás fuquê. Estás mesmo!

Joaquim de Freitas disse...

Gostei da introdução sobre o nome do « fuquetes”…e dos comentários que seguiram sobre como pronunciar o nome do restaurante do “gang do fouquetes”…Pois que vai ser “modernizado” seria bom que o desbaptizem e acho que “Chez Fouquet” seria muito bem.

Tenho pena que não haja ninguém para defender esta bela língua francesa, por isso proponho “Chez” que é “bien de chez nous” (Vivo em França).

Na cumplicidade silenciosa da grande média, a empresa visando a marginalizar a língua francesa em todos os campos, para a substituir pelo anglo-americano da globalização financeira (globish), expulsar gradualmente a "língua da República" (Art. II da Constituição) para o espaço "doméstico", está prestes de atravessar uma linha potencialmente irreversível.

Esta mudança tem lugar sob o impulso da oligarquia financeira e a égide do poder político à sua devoção.
Dois exemplos depois da lei Fioraso de 2013 (de ensinar em inglês na Universidade) :

• Renault e PSA mudaram ilegalmente toda a sua documentação técnica interna para inglês e pressão é exercida sobre alguns engenheiros da PSA para trabalhar agora em inglês na França.

Trata-se dum verdadeiro “linguicidio”…E tenho pena, porque já me assassinaram, durante a minha ausência, a minha língua materna, com um subproduto da América do Sul e agora a minha segunda língua…

A oligarquia financeira estrangula o francês, ao mesmo ritmo e num projecto global de erradicação da “excepção francesa”, que os serviços públicos, o Código do trabalho, os estatutos, o poder de compra, as reformas por repartição, e a protecção social, com o único objectivo da globalização dos lucros;

A União Europeia, cujo alinhamento Atlântico é tal que, violando os seus próprios Tratados que a obrigam a defender a diversidade cultural dos Estados-Membros, Bruxelas está a oficializar cada vez mais o inglês como língua de comunicação, embora com o Brexit, o inglês já não seja uma língua oficial registada de qualquer Estado-membro da União.

Os "colabos da pub e do dinheiro" que, não manifestando a menor criatividade poética, empobrecem o nosso espaço mental com os seus pobres French Bank,Blue Sky, The Voice e e outros OUIG (para evitar o WE) Pobre França.

Alors , à bientôt “ Chez Fouquet” rejuvenescido , sem cheiro de bolor …

Anónimo disse...

A Republica da Irlanda entre outras coisas tem a língua inglesa como oficial, e é um membro da UE.
Se bem que tal coisa tenha fugido à atenção dos anglo-saxónicos de um e do outro lado do Atlântico a língua inglesa já não é somente deles mas existe um país no mundo que a utiliza no seu modo muito especifico, a Índia... Poderemos dizer que é um resultado do colonialismo imperial da Great Britain mas ficou... como ficou o português no Brasil e nas ex-colónias em África... E não nos podemos queixar que tanta gente a use a seu prazer. Não tem nada a ver com o Fouquet mas com a história das línguas em geral. Foram são e serão sempre o resultado de integração modifica e alteração causada por outras línguas. Aliás de que nos queixamos nós que temos uma língua neo-latina... Imagino o horror dos romanos do sec I AC se pudessem ouvir as derivações actuais do latim...
Escrevo actualmente com e sem referimento ao acordo ortográfico... Já fui mais reticente às influencias do sub-produto da América do Sul mencionado do que sou agora mas depois de trinta anos fora dos quais 22 em Roma fiquei muito menos "radical". Aliás quanto mais radical se tornam estas questões menos radical fico eu pelas questões ligadas à identidade cultural, à língua, etc... Acho que o inglês deveria ser "assaltado e conquistado" transformando-o num novo latim... :-) sem que isso nos impeça de apreciar as nossas línguas locais que quem sabe podem vir a contribuir interessantes adições ao novo latim...:-) Tipo "a saudade"... (que por nesta outra grande península europeia muita tinta fez gastar a muitos escritores entre os quais um certo Tabucchi)... Pode ser que tenha chegado do povo sul-americano que a pronuncia ligeiramente aberta mas como diria algum meu compatriota "é nossa"... :-D
Foi o meu pai que me endereçou a este blog do (ex-)Embaixador Francisco Seixas da Costa. Ele que tinha família em Carrazedo de Montenegro, que estudou no Porto há muitos anos transferiu-se a Lisboa (eu ainda nasci no Porto mas os meus irmãos já não) e que viveu em Luanda a partir de 1979 até aos anos noventa (por trabalho) e que de lá tem recordações que algumas vezes me refere, entre o divertido, o triste e o saudoso... os russos, os cubanos, os japoneses (!), os americanos mais tarde, e a guerra civil, os cobre-fogo, a falta de tudo, mas também os jantares entre amigos, a imensidão dos espaços, as praias de Luanda... E agora ouve falar da "invasão dos chineses" e não se surpreende nada
C'est la vie...

R.

Anónimo disse...

Não percebo exactamente qual é o protesto que justifica o que é um acto de vandalismo. Parece-me que debaixo dos coletes amarelos há outras cores. É como ir protestar para a Av. da Liberdade e aproveitar para trazer umas coisitas grátis da Prada, LV, etc. Macron parece ter perdido o controlo da situação.

Joaquim de Freitas disse...

Senhor comentador anónimo de18 de Março de 2019 às 11:21: Olhe que eu creio que a língua oficial da Irlanda não é o inglês, mas o irlandês gaélico. O inglês é classificado como segunda língua da Irlanda.

Anónimo disse...

Sr. Joaquim de Freitas, mais uma vez, podia ter optado pela sabedoria do silêncio...

Anónimo disse...

não tinha necessidade de ter censurado o meu simpatico comentário para o de Freitas em argot francês///
nem vejo bem o porquê

olhe fica aqui isto
agora que passam anuncios da el-al na radio

https://www.haaretz.com/israel-news/elections/israel-s-justice-minister-sprays-herself-with-fascism-perfume-in-provocative-ad-1.7039221

Joaquim de Freitas disse...

Anonimo 18 de março de 2019 às 20:47:


"“Le silence est la vertu des sots.”"

Anónimo disse...

As duas linguas são oficiais... (da Wikipedia sobre a Republica da Irlanda, secção Linguas: "As línguas oficiais são o irlandês, a língua celta nativa, e o inglês, que constitucionalmente é descrito como uma língua oficial secundária. Aprender irlandês é obrigatório no ensino do país, mas o inglês é amplamente prevalente. A sinalética é geralmente bilíngue, que também existe na mídia nacional irlandesa." o que para o nosso caso significa que o inglês ainda pode ser usado na UE mesmo que os "Bifes" finalmente decidam sair... Mas tudo isto é um pouquinho OT... Era minha intenção dizer que as linguas são algo de vivo e dificil limitar com fronteiras...

R.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...