Passei por lá ontem. Chama-se O Consulado e vende panquecas. O espaço está muito diferente, naquela esquina da rua de Cedofeita com a rua dos Bragas. Até há não muito tempo, ficava ali o Café Latino.
Em 1968, eu vivia a dois passos, na rua da Torrinha, num lar universitário. O meu café habitual era o Bissau, muito frequentado por gente da faculdade de Engenharia, ali perto. Um dia, vi surgir o Latino. E, claro, a curiosidade levou-me a visitá-lo logo na data da inauguração. Para tentar fidelizar, recordo com que o Latino oferecia, nesse seu primeiro dia, um brandy, a acompanhar o café. Ao contrário do Bissau, tinha amplas janelas e era bem mais moderno. Mas não me recordo de ter ficado cliente, nesse ano em que me mudei para Lisboa.
Passou muito tempo. Numa tarde, numa deslocação ao Porto, passeava em Cedofeita, notei que o Bissau já tinha desaparecido e apeteceu-me entrar no Latino. Estava muito pouca gente. Sentei-me, pedi um café e o empregado disse: “Quer beber uma aguardente? Hoje é por conta da casa”. Ele explicou: “Comemoramos 40 anos de abertura deste café”. Não era possível! A pessoa que ia comigo estava siderada com a coincidência que eu lhe contava.
Eu estava feliz, confesso. Não bebi a aguardente, com toda a certeza, mas estou seguro de que os convenci - ao empregado e ao patrão, que veio ter connosco à mesa - do facto de que tinha estado ali, precisamente, no dia da inauguração do café, 40 anos antes.
Creio que nunca mais lá voltei. Nos últimos anos, ao passar na rua, notava-se que os melhores anos do Café Latino estavam já bem longe. Agora é O Consulado. A vender panquecas. É a vida!
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