sexta-feira, março 01, 2019

O mundo é pequeno!


Vim, há dois dias, a Bruxelas para fazer parte de um grupo de trabalho, integrado por um representante de cada Estado membro da União Europeia, que vai preparar um relatório sobre uma determinada temática internacional. Assinei hoje o (simpático, diga-se) contrato, mas não consegui satisfazer a minha curiosidade sobre quem terá, por aqui, sugerido o meu nome às duas entidades (ambas privadas e muito ciosas da sua independência face aos governos), uma alemã e outra belga, que me recrutaram para trabalhar nos próximos meses. Um dia, espero saber e agradecerei.

À entrada para a reunião, ouvi alguém dizer: “Estás na mesma!”. Era um velho amigo austríaco, que já não via há quinze anos e que, durante a nossa presidência da OSCE, eu havia empossado num cargo da organização, na Polónia. No seu país, passa agora a ter a mesma função do que eu. O que ele dizia não era, de todo, verdade, como era óbvio, mas não deixava de ser agradável de ouvir. 

Estava ainda nessa conversa quando alguém me pôs uma mão no ombro e me perguntou: “Ainda andas pelo Brasil?”. Era um qualificado diplomata dinamarquês, que conheço há décadas, e que havia encontrado, pela última vez, creio que em 2006, em S. Paulo - trata-se de um grande especialista das coisas europeias, que fez grande parte da sua carreira em Bruxelas, que agora vai ser um dos coordenadores do nosso trabalho e que tive como colega nomeadamente na negociação dos tratados de Amesterdão e Nice.

Ao final das primeiras horas de debate, no primeiro “coffee break”, dirigiu-se-me uma senhora búlgara, cuja cara, confesso, não me dizia nada: “Não se lembra da sua ida a Sófia?”. Tinha sido a seu convite que eu tinha visitado dessa vez a Bulgária, há bem mais de duas décadas, quando ambos tínhamos funções idênticas nos nossos respetivos governos. A memória veio então.

À saída, sob um vento e chuva fria desta invernosa Bruxelas, no regresso em passo rápido para o hotel, o representante espanhol no grupo perguntou-me: “Trabalhas com o Luis Tomé?”. Claro que sim! Como é que ele tinha adivinhado? Trata-se de um amigo próximo desse meu colega na Universidade Autónoma de Lisboa (como também o é de Nuno Severiano Teixeira) e, ao ler o meu currículo, dera conta da minha ligação à UAL.

O mundo é bem pequeno e Bruxelas, no fundo, é, desde há muito, uma das minhas “casas” habituais de passagem (embora o nunca tenha sido de vida). Há minutos, antes do almoço, estava eu a encher-me de livros, na magnífica “Filigranes”, quando ouvi, em bom português: “Com que então sempre interessado pela banda desenhada!”. Eu estava, de facto, a pensar como ia ter espaço para meter na mala o último “Blake & Mortimer” (já tinha comprado na Buchholz a tradução portuguesa, mas não resisti a adquirir o incomparável texto em francês deste “falso” Edgard P. Jacobs), quando este velho amigo português me surgiu ao encontro (se tivesse sido uns minutos antes, tinha-me apanhado a folhear um comprometedor Manara...)

Bom, vou andando para o aeroporto, porque esta capital belga cada vez se parece mais com o Chiado...

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Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...