terça-feira, março 12, 2019

Nortadas



“São do norte, não são?” Estranhámos a pergunta da empregada da loja, no Porto, hoje à tarde. Confirmámos que sim. “Pela pronúncia, não parece serem” (era óbvio que ela estava desatenta à nossa habitual troca dos “v” pelos “b” e à abertura exagerada de algumas vogais, que continuamos a fazer, apesar de vivermos em Lisboa há mais de meio século), “mas, ao falarem comigo como estão a falar, percebi logo que tinham de ser cá de cima. Os lá de baixo, em especial os de Lisboa, não falam assim connosco, são muito mais fechados”. 

Estranho. Nunca tinha refletido nisto. Será verdade? Confesso que nunca tinha pensado que os lisboetas (ou a gente que não é do Norte, em geral) fossem mais “fechados” do que o “pessoal” do Norte. Ando distraído?

6 comentários:

Luís Lavoura disse...

Os lisboetas não são mais fechados, nem tratam as pessoas do Norte de forma diferente da que se tratam entre si. Os lisboetas são é muito mal educados e agressivos, como imediatamente se constata ao ver a forma como um lojista lisboeta atende, quando comparada com a forma como um lojista nortenho atende. O lojista nortenho é solícito, amigável, familiar, e quer fazer negócio, enquanto que o lojista lisboeta faz questão de exibir o seu enfado, o seu nojo, o seu desgosto, a sua fúria por estar ali a atender.

Ferreira da Silva disse...

Exmo Senhor Embaixador,

O diálogo que a Senhora da loja conduziu e manteve com o Sr Embaixador encerra, em si, a resposta à pergunta que nos deixou.
Em que outro lado seria possível essa conversa no quadro de uma relação entre Vendedora de loja e Cliente ?
Não se trata de descaramento mas sim de franqueza no trato.

Anónimo disse...

Não sei se Lavoura é lisboeta mas eu sou e concordo totalmente com ele.
João Vieira

Anónimo disse...

Curioso o Lavoura não ter aproveitado para uma tirada do tipo "é o país que temos". Pelo menos, neste caso, sempre se fala de largas faixas da população...

Anónimo disse...

Há muitos anos li um artigo interessante que depois de ruminado em mim, com o que vi, sei e lembro de povos a falarem as suas línguas, fazia sentido.
Alguém dizia que, se atentarmos na forma como um povo fala, entre mover da boca, sons e respiração, conhecer-se-à a sua forma de ser e estar na vida.
Acho que isto também se aplica às regiões.
No Sul, talvez por influências mouras, usa-se pouco ar e boca.
Do Tejo para cima, a boca é mais revolta e sonora no ar que expira em sons.
Um pouco como o Tejo e o Douro.
Ambos belos se olhados de perto, mas cada um com a sua graça.
Boa tarde

Luís Lavoura disse...

João Vieira,

sou um lisboeta, na medida em que sempre vivi em Lisboa, mas a minha família materna era do Porto, pelo que também tenho alguma (infelizmente limitada) experiência do Norte.

E a minha experiência é isto que me diz: vou a uma loja no Porto, sou atendido rapidamente por um empregado gentil e prestável que está ansioso por me servir e por vender o que tem a vender; vou a uma loja em Lisboa, sou atendido por um empregado que parece estar raivoso e enfadado por ter que estar ali a atender-me, que considera que eu sou um desagradável intrometido na loja e parece estar ansioso por me correr dali para fora.

(Atualmente as coisas já não são bem assim, devido à evolução social e em particular à afluência de imigrantes a Lisboa as coisas melhoraram substancialmente.)

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...