segunda-feira, março 04, 2019

O regresso de Monroe


Um dia, numa conversa em Caracas com Hugo Chávez, Lula da Silva fez-lhe notar que o desequilíbrio da balança comercial entre a Venezuela e o Brasil, em especial em bens de consumo corrente, atingira um tal ponto que, embora o saldo fosse agradável para a economia brasileira, começava a ter uma dimensão com que ele próprio, como amigo da Venezuela, não podia deixar de preocupar-se. Lula aconselhou-o, nesse encontro, a deixar criar unidades produtivas em áreas que pudessem dar resposta a algumas dessas carências mais evidentes, até ali supridas por compras ao exterior, adquiridas com os rendimentos do petróleo. Como me contou um ministro presente à conversa, Chávez retorquiu que estava a pensar criar empresas públicas para esses setores produtivos. O presidente brasileiro terá reagido: era em empresas privadas que estava a pensar, em abertura ao investimento estrangeiro - como o então sucesso da economia brasileira bem o provava. Chávez reagiu: “Privados? Nem pensar!” e a ideia ficou por ali.

O socialismo bolivariano era isso mesmo: uma obsessão estatizante, assente em políticas de distribuição de uma riqueza que não correspondia a um real crescimento do país, conduzindo a um ambiente inflacionário e, no plano político, a uma polarização maniqueísta que, cada vez mais, passou a recorrer ao sufoco das vozes dissonantes, nomeadamente através da domesticação da comunicação social. O facto dos setores conservadores venezuelanos, por mais de uma vez, terem dado mostras de não ter pejo em recorrer ao golpismo armado, para inverterem a legitimidade eleitoral que conduzira Chávez à presidência, conferia a este uma forte autoridade interna e, no plano externo, dava-lhe uma certa aura de um poder que, embora radical no formato, parecia ratificado pelo povo. Com o tempo, o autoritarismo político passou a estar presente no dia-a-dia do país. A Venezuela não era Cuba, não tinha o histórico da ilha de Fidel, mas, para se afirmar, Chávez ia mimetizando algumas das práticas repressivas mais detestáveis do seu parceiro privilegiado na região. O seu carisma continuava a suscitar algum proselitismo militante, mas a prova provada de uma impopularidade que se foi alargando era o facto das forças armadas e policiais se terem convertido na sua indispensável guarda pretoriana – contudo, rodeadas de acusações de implicação em negócios pouco claros.

Maduro não é Chávez, mas ninguém pode garantir que, se este tivesse sobrevivido, a Venezuela estaria hoje muito diferente, porque todos os erros que conduziram à atual situação já estavam nas cartas, ao tempo do antigo presidente. O modelo “bolivariano” era, desde o primeiro momento, um desastre anunciado, num mundo que já não ia por aí. Maduro apenas o conduziu inabilmente, e de uma forma quase caricata, ao impasse em que acabou por cair. O facto de uma guerra civil não ter eclodido é talvez o maior milagre que se produziu na Venezuela, mas nem sequer o podemos creditar à gestão de Maduro.

Depois de Cuba, a Venezuela era, de há muito e à evidência, uma espinha encravada nos humores de Washington na América Latina. Não se tratava de um caso qualquer: estamos a falar de um Estado com reservas imensas de petróleo e outras riquezas, circunstância que é óbvio não ser indiferente a um país que delas tem sido um pouco discreto cliente, na fria “realpolitik” do negócio. No passado recente, a bravata anti-yankee dos dirigentes venezuelanos ia sendo tida à conta de uma realidade incómoda que apenas havia que suportar, tanto mais que o país não era “produtor” de insegurança na sua periferia que justificasse uma ação específica nele focada, salvo o apoio às forças opositoras internas. O que é que mudou, entretanto?

No essencial, foi-se esgotando a complacência da comunidade internacional em face de um regime que, dia após dia, se tinha convertido numa mera caricatura democrática. O descaso oficial perante uma situação humanitária cada vez mais trágica, e o completo fechar de portas por Maduro a um diálogo com setores fora do núcleo político-social do governo, começou a escandalizar o mundo, com a União Europeia a dar sinais de crescente inquietude. A isto se somou, nos últimos meses, o afastamento claro do Brasil, com uma nova administração à qual, por razões de política interna, conveio a diabolização do modelo bolivariano. Este fator não tem sido sublinhado com a importância que julgo que realmente tem, porque tudo indica que o empenhamento americano, na tentativa de um rápido derrube de Maduro, dificilmente se teria processado, pelo menos nos moldes que assumiu, se, da parte de Brasília, como potência sub-regional, fosse presumível a promoção de uma qualquer reação, menos de “proteção” de Maduro e mais de rejeição da intromissão americana.

Verdade seja que, ao forçar agora, com determinação, a mão à Venezuela, os Estados Unidos assumem, num novo ciclo histórico, o seu nunca dispensado “droit de regard” sobre a América Latina, na linha clássica da “doutrina Monroe”. Fazem-no numa causa que sabem ser hoje popular em vários quadrantes, explorando o inédito isolamento em que Maduro se deixou cair. Trump aproveita este tipo de “fogachos” como uma oportunidade para gerar uma fácil unidade interna, que lhe pode render alguns dividendos políticos. Na ordem externa, esta iniciativa pode também garantir aos EUA, aos olhos de alguns, um estatuto de liderança na promoção dos valores democráticos. Além disso, deixando o juízo sobre estas prioridades ao sabor de cada um, trata-se de uma oportunidade soberana para Washington poder assegurar um lugar privilegiado na preservação dos seus próprios interesses económicos na região. Ainda neste jogo de sombras que é a agenda de desígnios, convirá notar um ponto que, com toda a certeza, nunca deixou de estar presente na coreografia geopolítica da América: Cuba. Uma queda de Maduro, com Lula e os seus heterónimos já fora do cenário, levará o regime de Havana a sentir-se cada vez mais fragilizado – e isso não pode deixar de fazer parte das contas de prazer em Washington.

(Artigo publicado na Revista, a convite do "Expresso", em 2 de março de 2019)

17 comentários:

Luís Lavoura disse...

foi-se esgotando a complacência da comunidade internacional

O que é que, precisamente, é "a comunidade internacional" para si, Francisco?

Anónimo disse...

De todas as maneiras o pos maduro criara instabilidade não so para venezuela mas também pra a colombia.
E com milicias populares armadas, não me parece evidente que a ideia de que um qualquer tipo de golpe americano, se faça sem um banho de sangue.
As elites sul americanas são quase tão boas como os Maduros que criam...
De todas as maneiras o que importa é o oil and gas, o resto são peanuts

Anónimo disse...

Lido com gosto.

Despacho.

Os primeiros paragrafos até pareceram com aquilo que poderia ter sido em Portugal nos finais dos anos 70, sem petróleo [nem no Beato] .
As republicas democráticas sem suporte estrangeiro ou petóleo acabam assim.... em trajédia que no caso da Venesuela pode ser regional ou planetária.

Dferido.

Joaquim de Freitas disse...

O INFERNO DAS CARAIBAS


As sanções são feitas para matar. Lentamente, metodicamente conscientemente, elas matam.

Na Venezuela atingem as pessoas mais pobres na sociedade, causando claramente a morte por causa da falta de alimentos e medicamentos, violando assim direitos humanos e visando impor mudanças económicas num país soberano.
Pode-se criticar a dependência excessiva do país no petróleo, mas a "guerra económica" praticada pelos Estados Unidos, a UE e o Canadá foram factores importantes na crise económica.
O facto de que a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo no mundo torna-a num alvo para o imperialismo americano. Claro que se fosse produtor de bananas não seria a mesma coisa…

Não apenas para "roubar o seu petróleo" como Trump quer, mas por razões geopolíticas.

Além de garantir o controle geopolítico total sobre a bacia das Caraíbas, sob o argumento de travar uma luta ideológica contra o socialismo, os Estados Unidos querem ter influência suficiente sobre a Venezuela para a integrar numa estrutura de estilo OPEC para lutar contra o acordo Russo-Saudita da OPEP, num cartel norte-americano-América do Sul países exportadores de petróleo (NASAPEC).

Esta entidade funcionará como o componente energético da "fortaleza americana" e poderia, a longo prazo, exercer grande pressão sobre o mercado internacional de petróleo em detrimento da Rússia e da Arábia Saudita.

Todas as administrações americanas desde George W. Bush introduziram sanções adicionais ao encontro da Venezuela. As piores são as sanções financeiras que tornam a compra de importações extremamente difícil.

Todos os Estados que foram submetidos a tais sanções, Iraque Saddam Hussein, Coréia do Norte, Irão, Síria e Venezuela estão tentaram contornar estas sanções, através do contrabando, aos quais os governos geralmente se opõem, que de repente se torna uma necessidade. Empresários ou militares em quem o governo confia podem assim construir monopólios se são capazes de importar bens sancionados.

Todos os países sofrem de corrupção política, mas as sanções tendem a aumentá-la enormemente. :

As sanções conduzem sempre a preços mais elevados e à inflação no país de destino. Eles destroem a classe média e devastam os pobres:

Os Estados Unidos acusam o governo venezuelano de ser corrupto. Deploram 2 milhões de pessoas que fogem do país. Mas esses fenómenos são em grande parte as consequências da guerra económica que eles estão travando contra o país.

Mas as sanções contra o Iraque, Irão, Síria e Venezuela foram ou estão todos destinados a provocar uma mudança de regime. Os responsáveis por esses países teriam que cometer suicídio, ou pelo menos desistir das suas posições, para obter alívio das sanções.

Eles não têm nenhuma razão para fazê-lo. As sanções contra um país tornam a população mais dependente do seu governo. Permitem que os dirigentes aumentem o seu poder.
É, portanto, claro que estas sanções destinam-se a destruir os países, e não têm nada a ver com "direitos humanos".

As sanções dos EUA são ilegais ao abrigo do direito internacional porque não foram aprovadas pelo Conselho de segurança da ONU.

As actuais sanções económicas e bloqueios são comparáveis aos cercos medievais das cidades.
As sanções do século XXI tentam pôr de joelhos não só as cidades, mas também os países soberanos.

Os cercos e as sanções raramente conseguem alcançar os objectivos. Os cercos medievais geralmente terminaram pela retirada do atacante ou pelo assalto e saqueamento da cidade.

Os cercos e as sanções são os meios de enfraquecimento do alvo, para ter menos problema para atacá-lo mais tarde. Durante treze anos, foram impostas sanções muito brutais ao Iraque. Mas foi necessário uma guerra em grande escala para derrubar Saddam Hussein.

Com o custo exorbitante de 200.000 mortos iraquianos e 5 000 americanos e dezenas de milhares de feridos. E 800 mil milhões de dólares

E a guerra ainda não acabou.

v

Joaquim de Freitas disse...

A comunidade internacional, define-se assim, Senhor Embaixador:

1- Os países que não têm voz autorizada, pequenos lacaios que seguem as directrizes de Washington, como Portugal. E que englobados na NATO curvam o busto e seguem silenciosos. Basta ver o MNE português a confirmar o reconhecimento dum usurpador, sem governo, sem exército, sem aceitação nacional nem internacional- 40 países em 140, que conta a ONU, entre os quais a Rússia, a China, e outras grandes potências, e que se propõe vender o seu país aos EUA. Convidando-os mesmo à invasao da sua Patria...
2- As democracias onde se degolam os oponentes ou esquartejam os jornalistas nos consulados no estrangeiro.
3- A União Europeia, esfarrapada, sem soberania politica nem militar e dependente economicamente dos embargos do Império.
4- Os países satélites dos EUA, dependentes da sua ajuda financeira, como Israel, ou do seu voto na ONU para escapar à condenação mundial.
5-
6- As Bahamas, a ilha de Grenada, Puerto Rico, etc.…

Entretanto, ninguém se preocupa do drama de Haiti, das Honduras e da Argentina, do Iémen ..

Anónimo disse...


Percebe-se que alguns dos seus amigos tenham saído de cena, Sr. Embaixador. Com efeito, o Sr. Embaixador olha com bonomia para os crimes do "amigo" americano …


João Pedro

Anónimo disse...

O Leitor Joaquim de Freitas (felizmente sempre atento a estas coisas) já disse o que havia a dizer, daí que pouco mais haverá a acrescentar.
Mas, ocorreu-me esta coisa: Trump (e os seus acólitos - os tais que correram a pôr-se de joelhos perante Washington, como o nosso MNE e Governo) voa até Hanoi para se encontrar com um biltre, o líder da Coreia do Norte. Na agenda não há, nem pensar, questões relacionadas com Direitos Humanos, matéria que Pyang Yong desconhece e nem quer saber. A ideia de Trump é que a Coreia do Norte "adopte" um sistema autocrátrico e ditatorial, tipo China ou Vietname, ou seja, com um Partido Comunista a comandar os destinos políticos do país e uma economia, cá por baixo, de mercado, que permita entre outros, investimentos americanos.
2. Já na Venezuela, o esquema não funciona assim. Direitos Humanos devassados, petróleo nas mãos dos venezuelanos (em vez das democráticas mãos dos EUA), ouro e colton nas mãos amigas norte-americanas, em vez de nas venezuelanas, e o Mundo terá de perceber que haverá sempre dois pesos e duas medidas: uma coisa é a Coreia do Norte (comunistíssima e títere), a Arábia Saudita (embora criminosa é amiga do Ocidente e o genocídio no Yemen é para "melhorar a situação que ali se vive, com armamento ocidental, e assim sendo, livre de crítica).
Esta é, entre outras, a realidade que o nosso actual Governo e o o nosso MNE que se vergou aos interesses norte-americanos, a par de uns tantos outros Estados vassalos dos EUA, no que respeita à Venezuela.
Tenho dúvidas se Obama teria enveredado por este caminho!
Enfim, e assim é este "mundinho" patético, ocidental, da U.E e a que pertencemos "com orgulho", basta ver as declarações de Augusto Ernesto Santos Silva.
a) Jorge Albuquerque

Anónimo disse...

Senhor Joaquim Freitas o senhor vive em permanência obcecado com um ódio visceral aos Estados Unidos, que não o deixa ver a realidade.

A Venezuela está numa situação de probreza extrema devido à incompetência e vontade de destruir dos seus líderes.

Chávez primeiro e Maduro depois tentar impôr ao país um sistema político e económico totalitário que já havia falhado noutras latitudes. Eles destruíram completamente a economia e a sociedade, não foram necessárias quaisquer sanções externas.
A Nomenklatura chavista habituou-se a governar e a roubar a seu bel-prazer. Lançaram-se projectos megalómanos que em inúmeros casos não se concretizaram e foram pagos várias vezes.

Com o seu ódio à iniciativa privada Chávez foi destruindo todo o sistema produtivo e nada criando em troca, a maioria do que foi privatizado falhou e isso não foi por culpa de nenhumas sanções.

A PDVSA responsável pela produção de petróleo do país viu os seus dirigentes e quadros qualificados foram afastados e susbtituídos por fiés que não souberam investir e desviaram o que puderam. Bom a falta de investimento houve significativas perdas de produção. As sanções em nada influíram.

A Venezuela tem de mudar de dirigentes que sacrificaram o seu povo e o seu país por uma ideologia que falhou e não faz parte do futuro.

Joaquim de Freitas disse...

Ao Senhor Anonimo das 02 :43 :

Lendo o seu comentário, retive meia dúzia de palavras , para constatar que não temos a mesma visão do problema.

1- “Pobreza extrema”: Uma constatação: Todos os principais avanços sociais e societais, no meu país, a França, há mais de um século, foram por iniciativa da esquerda: abolição do trabalho da criança, código do trabalho, acordos colectivos, salário mínimo, férias pagas, horário de 40 horas e mesmo menos, segurança social, abolição da pena de morte, assistência médica universal, etc. para além de, e é notável, para as mulheres o direito ao aborto defendido por uma mulher muito corajosa, Mrs. Simone Veil, apoiada pelo Presidente Valéry Giscard d' Estaing , um partido de direita; apoiado pela esquerda. Alguns destes avanços societais ainda nao chegaram ao povo americano !

2- Por isso,, é justo recordar que, desde a eleição de Chavez, o único partido político que foi eleito para conduzir uma política de progresso social corajosa e inovadora foi o seu Partido Socialista Bolivariano. Esta politica social de Chavez levou à erradicação do analfabetismo, com a educaçao gratuita, à queda da taxa de pobreza de mais de 50%, à construção de 1 milhão de alojamentos sociais, visando a destruição das favelas, serviços de saúde gratuitos, e o reconhecimento dos Negros e Mestiços como cidadãos venezuelanos.
3- Se desejar responder honestamente, verifique qual governo fez mais para o povo que Chavez. E sobretudo, qual era a situação da Venezuela quando este chegou ao poder.

4- “Sistema político e económico totalitário” diz o Senhor. Indique-nos qual país da América Latina organizou mais eleições nas datas previstas pela Constituição que a Venezuela.

5- “Económico totalitário?” Quem detém o quase monopólio da distribuição dos produtos alimentares e de grande consumo, senão a burguesia de negócios? Que lhes permite especular e açambarcar hoje, precisamente, para estrangular a economia e levar o povo à revolta. Como no Chile de Pinochet.

6- A gestão da economia venezuelana não foi isenta de erros. Não sou competente para julgar. Visitei três ou quatro vezes a Venezuela para os meus negócios. Não tinha uma visão global para julgar, mas fiz negócios e as instalações funcionam. Mas creio que o panorama que o Senhor Embaixador descreveu, aquando da sua visita, é plausível. A falta de diversificação industrial é visível e dramática. Mas compreendo que a prioridade para Chavez era o social, porque a miséria era imensa quando chegou ao poder. Informe-se. Foi por isso que foi eleito logo nas primeiras eleiçoes;

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7- Mas o que sei é que, se Portugal em 1974 tinha enveredado por uma via, digamos idêntica, de esquerda revolucionária, o tal Senhor Carlucci que pairava sobre Lisboa, teria decretado o mesmo género de embargos e problemas de toda a espécie, até que o governo da revolução deponha as armas e entre na ordem da NATO. E Portugal teria sido domesticado mais facilmente, porque não tem os mesmos recursos e apoio internacional que a Venezuela. Se o anónimo pensa que os embargos de toda a espécie, aplicados desde há anos, sobre a economia da Venezuela, pelos EUA e a EU, não contribuíram para degradação da situação, é que algo lhe escapou.

8- Penso realmente, que transformar a Venezuela numa economia de mercado regulamentada, controlada, com uma política social coerente e eficiente paralelamente, é possível. Mas os EUA não desejam nas traseiras da casa, exemplos de sociedade socialista, onde a classe trabalhadora é defendida e protegida. A exploração e a procura do lucro máximo são incompatíveis com este tipo de sociedade livre. E a América Latina foi sempre, para os americanos "Terra de Vacas Gordas"...Como as colonias foram para os Europeus.

9- O Senhor Embaixador frisou este ponto muito bem o seu texto: Estrangular o “mau” exemplo da Venezuela e aproveitar a oportunidade para acabar de vez com Cuba.

Joaquim de Freitas disse...

SUITE) 16- Espero que compreendeu porque é que sou adversário dos EUA. Trabalhei lá muitos anos, conheço-os bem, foram mesmo meus acionistas, mase é uma sociedade que só pode existir e desenvolver-se pela força bruta, económica e militar.

Basta ver o aviso lançado ontem pelos EUA aos paises da liga Arabe, que aceitarem de participar à reconstruçao da Siria, que serao vitimas imediatamente de embargo americano. Destruiram mas recusam reconstruir. Agem como se fossem os proprietàrios do planeta. Talvez a China os faça, um dia, pensar de outra maneira.

A América foi assim desde a sua génese. A violência sob todas as formas, a ausência de humanidade e a manipulação dos homens. Basta analisar um segundo a personalidade do seu presidente actual, que envergonha os seus próprios concidadãos de bem, porque também os há. Mas aparentemente tem os seus adeptos no estrangeiro. O Mundo é feito de tudo. Mas os EUA sao os "voyous" do planeta.

Anónimo disse...

Caro Joaquim Freitas

Alguns comentários:

Relativamente à Venezuela:

2- Erradicação de favelas? Por amor de Deus, vá ver Petare, a maior favela de américa latina. Serviços de saúde gratuitos? Veja a taxa de mortalidade dos venezuelanos;

3- Quem fez mais pelo povo que Chávez? Pérez Jimenez que foi o responsável pelas principais infra-estruturas da Venezuela. Carlos Andrés Perez no seu primeiro governo;

4- Claro que Maduro e Chávez fazem e fizeram muitas eleições, mas essas eleições são exactamente iguais àsz que tinham lugar na URSS, sabia-se o resultado com antecedência e também a percentagem de votantes. Na Venezuela elimina-se a comunicação social que critica o governo e Maduro e sus muchachos entram em cadeia nacional em todos os meios de TV e rádio quando querem. As eleições de Maio do ano passado foram mais uma farsa escandalosa, bastava andar em Caracas para ver todas as mesas de voto vazias, apesar dos prémios financeiros e caixas de CLAPque o governo oferecia e mesmo assim Maduro teve o desplante de afirmar que teve oito milhões de votos, algo que nem o próprio Chávez teve alguma vez;

5-Economia totalitária - em que outro país é que o senhor vê o Vice-Presidente responsável pelas questões económicas impor os comerciantes a vender os produtos a preços regulados, ir a produtores de carne e confiscar tudo o que têm, ou a prender gerentes de supermercados? Também vê grupos do governo a invadir lojas e a impor a venda de todos os produtos ali existentes a preços que eles fixam no momento?

6- As instalações funcionam - quais? Quando para tirar um visto de residência tem que esperar mais de um ano ou então pagar em dólares debaixo da mesa. Quando para tirar um passaporte é obrigado a fazer o mesmo, pagar em dólares clandestinamente. Quando falta todos os dias água e luz em Caracas. Nada funciona correctamente, a última vez que aterrei em Caracas a electricidade falho tantas vezes que, depois de quase uma hora tiveram de deixar sair todos os passageiros sem controlar as bagagens no raio X, como fazem sempre;

8- Este governo não tenta criar uma economia de mercado regulada, este momento tenta criar uma economia socialista, ou bolivariana, como eles preferem dizer, onde o Estado e os seus enchufados controlem tudo e depois só esses gastem com impunidade o que roubaram à Venezuela e ao seu povo.

Quanto aos EUA, creio ser uma obsessão sua, com a qual eu não concordo minimamente.

Joaquim de Freitas disse...

Senhor Anonimo de 5 de Março de 2019 às 18:10


O Senhor tem as suas ideias, que respeito, e eu tenho as minhas. Diz que estou obcecado e o Senhor está intoxicado pelos EUA. Para nao abusar da paciência do Senhor Embaixador, deixo aqui o link de dois jornalistas americanos independentes que vieram de Caracas.

https://supuestonegado.com/documentalistas-estadounidenses-caracas-venezuela-tiene-facil-siria/
Anya Parampil et Max Blumenthal
Traduction : Frédérique BUHL
»» https://venezuelainfos.wordpress.com/2019/03/04/anya-parampil-et-max-b...

O seu discurso faz-me pensar no que lemos semanas antes do golpe de Estado de Pinochet, quando as senhoras bem de Santiago andavam na rua a bater nas caçarolas, porque havia falta de muitas coisas. O que não diziam é que a CIA tinha "investido" nos camionistas para que façam greve, e nuns pais tão longo como o Chile era fácil bloquear e tornar a vida impossível.

Depois foi o que se viu.

Por outro lado, o que me impressiona é que o Senhor considere que um país qualquer, tão poderoso seja ele, tem o direito de mudar o governo e o presidente eleito dum pais, porque lhe convém por muitas razoes. E o Direito Internacional é o quê para o Senhor.

Joaquim de Freitas disse...

Senhor Anonimo de 5 de Março -18:10:


Carlos André Jimenez? O primeiro presidente da Venezuela demitido e metido na prisão, por ter roubado 250 milhões de bolívares dos fundos do Estado?

O Senhor tem boas referências. O “Caracazo” conhece? Síntese das insatisfações, das injustiças e do sufocamento de nível extremo vivenciado pelo povo venezuelano durante o período em que vigoraram as políticas neoliberais do Pacto de Punto Fijo.

Cerca de 3,5 milhões de crianças viviam em situação de pobreza, 83% da população carecia de serviços básicos, 5% do empresariado concentrava 70% da produção do país, 70% das pessoas viviam abaixo da linha da pobreza, 30% viviam literalmente em estado de pobreza absoluta, o PIB (Produto Interno Bruto) encolheu em 20%, o salário mínimo perdeu 48% de seu valor e o desemprego oscilou entre 25% a 30%, conforme dados do governo. Um horripilante quadro social que pode ser avaliado como uma crise humanitária, onde uma em cada cinco pessoas passava fome no país.

E é isto a sua referência do “antes “ de Chavez? Claro que ninguém pediu a “ajuda humanitária” dos EUA, porque Perez era um amigo pessoal do presdente Ford et de Bush Pai.

Carlos Andrés Pérez assumiu o seu segundo mandato como presidente da Venezuela no dia 2 de Fevereiro de 1989. , que foi ainda pior.

Imagine se Chavez ou Maduro, para sair duma crise imposta pelos seus amigos americanos, lançava para a rua 4 mil militares, utilisava 4 milhões de munições e vários tanques de guerra para conter os protestos populares, resultando em uma das repressões mais sangrentas da história venezuelana.

O número de mortos e feridos foi tão grande que os hospitais não conseguiam responder. . Ainda nos dias de hoje não se sabe ao certo o número de vítimas, no entanto, números oficias do governo da época apontam a morte de 300 pessoas, 2.000 mil desaparecidas e outras milhares de feridas. Entretanto, números extra oficiais alegam a morte de pelo menos 3.000 pessoas.

O Senhor pode dizer o que quiser de Chavez e Maduro mas o facto é que existe um índice oficial para o período dos 19 anos de governo socialista:


– O Gini² – índice utilizado pelo Banco Mundial para medir a desigualdade social – passou de 0,498 para 0,394 (quanto mais próximo de zero melhor), sendo que o índice brasileiro ficou em 0,520 (3º pior da América Latina) se comparado no mesmo período.
– O IDH³ (Índice de Desenvolvimento Humano) – medida utilizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para classificar os países pelo seu grau de “desenvolvimento humano” – da Venezuela ficou na colocação 71º entre 188 países, a frente inclusive do Brasil e da média dos índices dos países latino-americanos.
– O desempregou caiu de 14% em 1999 para 5,5% em 2014.
– A taxa de analfabetismo foi reduzida de 9,1% (antes do chavismo) para 4,7% em 2015.
– A expectativa de vida aumentou de 72 anos em 1996 para 75 anos em 2014.
– A pobreza foi reduzida de 49,4% para 26,4% em 2010.
– A Venezuela passou a ser o 2º país na América Latina com maior proporção de estudantes universitários, cerca de 10,5 milhões ou 34% da população, ficando atrás apenas


Perez, na realidade abriu as portas a Chavez. O seu golpe de Estado só podia resultar.

Anónimo disse...

Não querendo, nem pretendendo ser “advogado” do Leitor e Comentador deste ilustre Blogue, Joaquim de Freitas, registo que o anónimo que lhe responde está muito preocupado com o que se passa na Venezuela, mas, curiosamente, muito pouco com o que se passa noutros países amigos da tal “Comunidade Internacional” (um eufemismo para disfarçar apenas os interesses norte-americanos e dos seus “caniches”, a U.E, CAN, etc), como o regime facínora de Riad, a Ditadura comunista da Coreia do Norte, enfim, da China, etc. Ali, naqueles países, os mesmos “atentos” EUA (e seus vassalos europeus – U.E) não estão preocupados, nem com Direitos Humanos, Liberdade de Imprensa, nem com assassínios por esquartejamento, etc. Pouco importa, visto serem importantes parceiros económicos dos EUA e U.E. (e CAN por junto). Trump não questionou o que se passa em termos de ausência democrática na Coreia do Norte, quando se encontrou com esse Ditador, em Hanói, que seguindo a Dinastia dos Kim lá vai maltratando o seu povo.
Também, o anónimo não se preocupa com atitudes dos EUA que no passado apoiaram e financiaram regimes criminosos como os de Pinochet, dos generais da Argentina, do Brasil, das diversas Ditaduras na América Latina (veja-se o caso do biltre do Ditador Strossner, do Paraguai, aqui invocado pelo autor deste Blogue, aqui há tempos).
Muita paciência tem o Maduro para ainda aturar esse fantoche que é o rapaz Guaidó! Numa Ditadura, os Guaidós da vida nunca emergem! Quanto ao estado caótico da economia venezuelana, embora haja culpas de gestão económico-política por parte de Maduro, muito também se deve ao boicote norte-americano (e Ocidental), que, por exemplo, não foi levado a cabo contra Pinochet, Argentina (dos Generais), Salazar, Franco, etc, etc (é que não se boicotam regimes totalitários de Direita. É um princípio do Ocidente, a tal “Comunidade Internacional”, sempre de braços abertos às patifarias mais hediondas da Direita)!
a)Jorge Albuquerque

carlos cardoso disse...

Não querendo, nem pretendendo ser “advogado” de nenhum Leitor ou Comentador deste ilustre Blogue, registo que o Jorge Albuquerque deixou aqui um excelente exemplo do que o Embaixador Seixas da Costa, também aqui, chamou há algum tempo o "whataboutism". Como, num comentário a um post sobre a Venezuela, um comentador fez considerações sobre a Venezuela, o Jorge Albuquerque, curiosamente, deduziu que esse comentador estava muito pouco preocupado com o que se passa noutros países. E até o acusou de não se preocupar "com atitudes dos EUA que no passado apoiaram e financiaram regimes criminosos".

Gostaria de reivindicar a possibilidade de criticar Maduro na Venezuela e simultaneamente criticar essas atitudes dos EUA. Também é possível estar-se preocupado com a situação na Venezuela e simultaneamente com a situação na Coreia do Norte, na Arábia Saudita, na China e em mais uns largos pares de lugares deste planeta.

Quanto aos boicotes da "comunidade internacional" lembro o que contribuiu para o fim do vergonhoso regime de apartheid na Africa do Sul.

Anónimo disse...

O Apartheid não foi um bom exemplo, caro anónimo, visto ter sido arrancado a ferros, demorou anos, permitiu-se que o regime racista ainda durasse tempo demais e depois foram vários os países que furaram o boicote, embora de forma sofisticada.
Quanto aos outros exemplo, também registo que no que respeita, por exemplo, à Arábia Saudita, tudo continua na mesma, ou seja, não há boicote, nem exigências de eleições democráticas. Ide, para a Coreia do Norte, ou mesmo a China.
Ou seja, a dita "Comunidade Internacional" não está minimamente,ente preocupada com Direitos Humanos e Democracia, mas tão só em derrubar Maduro. O resto é treta, conversa fiada!
Não se vê um MNE, ou PM, ou PR desses países entre os quais nos incluímos a clamar por estas questões, ou suscitá-las publicamente ou junto de instâncias internacionais!
a)Jorge Albuquerque

Joaquim de Freitas disse...

Não querendo, nem pretendendo ser “advogado” de nenhum Leitor ou Comentador deste ilustre Blogue, registo que o Carlos Cardoso reivindica a possibilidade de criticar Maduro na Venezuela, o que é o seu direito, mas também de criticar “essas atitudes dos EUA”, como por exemplo, que nomeado por Trump para estabelecer a"democracia" na Venezuela, Elliott Abrams , o padrinho de Juan Guaido, dedicou a sua vida para a suprimir em varios paises.

Que Elliott Abrams foi secretário adjunto de Estado para a democracia, os direitos humanos e o trabalho da administração Reagan.

Que terá a responsabilidade por tudo o que se relaciona com os "nossos esforços para restabelecer a democracia", na nação “rica em recursos petrolíferos”.

Que Abrams desempenhou um papel criminoso , ( pelo qual condenado pelo Congresso Americano e posto na prisao, antes de ser libertado por Reagan), nalgumas das mais terríveis operações de política externa dos EUA dos últimos 40 anos, nas intervenções mais sórdidas dos EUA , que tem algo de inacreditável. Particularmente em quatro nações vizinhas: Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicarágua. Desde a sua fundação, todos haviam sido submetidos à dominação cruel de uma elite branca ultra minoritária, apoiada durante um século pelo intervencionismo dos EUA.

Em todos esses países, as famílias no poder consideravam os outros habitantes da sociedade como animais em forma humana, que podiam explorar ou até mesmo matar, dependendo das suas necessidades.

Em todos esses países, as populações, numerosas, como a da Nicarágua, eram explorados até à morte em plantações de café, e de pais, cujos filhos sucumbiam diante de seus olhos com doenças às quais um tratamento simples deveria ter permitido que sobrevivessem. Ah os Contras de Reagan !

Para não fazer do “whataboutism “, não citarei os 800 mortos de El Mozzote, incluídos no total dos 75 000 mortos do Salvador, nem dos 200 000 mortos da Guatemala.

Pouco importa, no final, os detalhes sórdidos da carreira de Abrams, o que é importante é guardar no espírito que as garras afiadas da águia dos EUA, acentuam a sua pressão sobre mais um país latino-americano e que Abrams não tem nada de excepcional. É apenas uma das rodas de uma máquina. O problema não vem das partes maliciosas que a compõe, mas da própria máquina.

Mas que o Carlos Cardoso, faça “whataboutism” POSITIVO, quando escreve todo o bem que pensa do boicote da "comunidade internacional" do vergonhoso regime de apartheid na África do Sul, confunde duas coisas:

1-° Se houve um regime na Venezuela que procurou, com resultados reconhecidos, combater a miséria, sob todas as formas, naquele país, foi o Chavismo.

Chavez deu a cidadania a todos os Venezuelanos, incluindo os Mestiços e os Negros.

O regime sul-africano recusou-a à maioria absoluta do povo Negro sul-africano. O boicote, só por isto, era mais que justificado.

2°- O boicote contra a Venezuela é injusto e imoral, porque é decretado por uma potência imperialista, contra um povo que só pode ser acusado dum “delito” : Possuir as maiores reservas de petróleo conhecidas.
E para mais, o boicote é um crime contra o Direito Internacional.

Poder é isto...

Na 4ª feira, em "A Arte da Guerra", o podcast semanal que desde há quatro anos faço no Jornal Económico com o jornalista António F...