É uma história de família. Da minha família.
Era uma vez uma mãe que tinha dois filhos. E uma sobrinha, bonita, de olhos verdes. Ambos os filhos gostavam da prima. A mãe decidiu, porque era muito decidida e ai de quem lhe fizesse frente, que havia de ser o filho mais novo a casar com a prima de olhos verdes. Só que o filho mais novo, que era o “ai jesus!” da mãe, viria a morrer, bem jovem, de forma trágica. A família nunca se recompôs do choque. A mãe e o pai, com o filho mais velho, mudaram-se para uma casa em frente ao cemitério, onde, todos os dias, até morrerem, visitavam o jazigo onde haviam depositado o filho querido.
Havia o outro filho, claro. E havia a prima. Que gostavam um do outro. Tinham um namoro escondido, um tabu na família, de que a mãe talvez suspeitasse, mas que nunca, em vida dela, se iria transformar em casamento. Foram décadas, acreditem! A mãe, um dia, já bem depois do pai, desapareceu. Os primos, superado o obstáculo, consagrando uma espécie de usucapião romântico, já passada a meia centena de anos de cada um, casaram, logo de seguida, claro.
Foram felizes? Quero crer que sim, embora uma felicidade bem tardia. Ele morreu, há cerca de três anos. Ela seguiu ontem para o cemitério, já perto dos 80 anos, fechando de vez os seus belos olhos verdes.
Numa tarde chuvosa e espessa, como sempre achei que devem ser os dias dos enterros, deixámo-la lá, no jazigo que havia sido feito expressamente para o primo com quem nunca casaria. Ali mesmo já estavam, desde há muito, os seus sogros, os quais, aliás, nunca chegaram a sê-lo. E também o marido, o primo com quem casou. Esta acabará por ser a primeira noite em que toda a família, finalmente, se reúne. Em paz.
8 comentários:
E insiste vexa em não escrever o prometido livro!...
é um desmancha prazeres, parece o seu sporting...
deixe-la de chutar para o lado, homem! escreva o seu livro!
(o nosso!, que bem vistas as coisas imagino que sejamos varios a querê-lo, eventualmente mais que vexa !...)
Uma história duplamente triste:
- Uma mãe que dá preferência, prioridade e vantagem a um dos filhos em detrimento do outro;
- Uma mãe que proíbe o seu filho de casar com quem bem entende.
Triste país este.
Uma história muito bonita!
Belo texto, Francisco!
P.
Ao Seixas da Costa:
https://www.publico.pt/2019/03/08/culturaipsilon/opiniao/pobres-1864312
Cump.
MRocha
Autêntica novela camiliana fazendo juz aos locais da infância e juventude por onde andou Camilo, aparentado com os Brocas de Vila Real.
E ainda dizem que as mulheres não mandam
Fernando Neves
O Luís Lavoura conclui a sua "análise" com um "triste país este". Vou partir do princípio de que o Lavoura lutou contra a ortografia e perdeu, para não ter de imaginar que a luta dele é com o bom senso. Certamente que, querendo escrever "que tristes pais estes", a coisa saiu-lhe mal. É que de outra forma não podia ser: mas que porra teria o País, a Nação, a Pátria a ver com as birras de uma família?!
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