sábado, fevereiro 23, 2013

Armas da crítica

Descontentes com as políticas que hoje afetam as Forças armadas, que sentem já não serem forças amadas pelos atuais poderes, militares de antigas hierarquias reuniram-se em jantares por onde perpassaram as suas aspirações corporativas.

Vão muito longe os tempos em que o tilintar dos sabres prenunciava borrasca político-militar, intentonas ou pronunciamentos que colocavam a vida quotidiana dos portugueses à mercê da conjugação sediciosa dos humores castrenses. Hoje, com a democracia, nas mãos dos militares apenas tilintam os talheres. Decididamente, invertendo Marx, os nossos militares optaram pelas armas da crítica em saudável detrimento da crítica pelas armas.

Contudo, talvez seja oportuno lembrar que o ambiente de liberdade que hoje vivemos se deve precisamente ao movimento protagonizado pelas nossas Forças Armadas, "coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos profundos", como reza o preâmbulo da Constituição da nossa República. 

18 comentários:

Helena Oneto disse...

Excelente:)!

Helena Sacadura Cabral disse...

O braço armado da política perdeu poder quando as guerras, no mundo dito civilizado, são económicas e financeiras. E contra estas... só mesmo o garfo e a faca. Ou, de quando em vez, a forquilha!

Anónimo disse...

O 25 de Abril não foi feito por e para generais,a mais!

Defreitas disse...

Agora que a democracia e a liberdade foram conquistadas, o papel das Forças Armadas resume-se à garantia da sua preservação. Quanto a um eventual inimigo exterior (qual?) a cobertura da NATO é suficiente.

Mas ao ler as palavras citadas mais abaixo, do antigo Presidente Jorge Sampaio, creio que é necessário não esquecer que a democracia pode não ser eterna. O Povo pode ter ainda necessidade das Forças Armadas se a conjuntura atual não toma outro rumo.

Pergunto a mim mesmo se as forças conservadoras atuais não são mais ferozes, cínicas e destruidoras que aquelas que foi preciso combater em 1975. Destruidoras para a economia da Nação, para a família, para a coesão nacional, para o conceito mesmo de Nação Portuguesa, milenária, para o futuro da nossa juventude, desamparada e desiludida como nunca esteve. E tudo isto numa sociedade libre , onde, sob cobertura da democracia se infligem as maiores injustiças, numa sociedade corrompida pelo dinheiro-rei.

Citação:

"Excellente question pour un ancien président de la République d'un pays du sud de l'Europe. C'est évident, je vois ce qui se passe dans d'autres pays du sud. Pendant des décennies, on parlait de l'Europe, maintenant on parle d'Europe du Nord et d'Europe du Sud, et je déteste ça, car cela signifie la fin d'une solidarité nécessaire. Mais je dois dire que l'austérité pour l'austérité, l'austérité à outrance peut nuire terriblement à la démocratie.
Pourquoi ? Parce que la démocratie nécessite de l'espoir. Et si on ne voit pas la fin du tunnel, l'espoir s'en va, il y a des gens prêts à croire à n'importe quoi, et c'est ainsi que les extrémismes sont en train de fleurir."

J; de Freitas

margarida disse...

A Constituição precisa de ser actualizada, o tempo passa e as emoções diluem-se; a realidade impera e é um novo século que agora descose as linhas do antigo.
Os militares mexeram-se pelo seu interesse. Como agora se agitam pelo mesmo incómodo corporativo.
E depois sou eu a romântica...

Anónimo disse...

Militares para quê?

Anónimo disse...

Ter em atenção a lúcida entrevista de Loureiro dos Santos.

O passado já era !



Alexandre

ARD disse...

É, sem dúvida, reconfortante.
Em vez de contar espingardas, contam-se os couverts .

patricio branco disse...

as ffaa têm hoje uma importancia e função diferente da de há décadas atrás, a sua principal função não
é a guerra militar contra o inimigo, digamos, mas o combate a vários inimigos sofisticados que entretanto surgiram, como o tráfico de droga, vigilancia de águas e fronteiras maritimas, pesca ilegal, contrabandos, imigração ilegal, salvamentos e socorros, catastrofes, sei lá que mais, tambem participação em missões internacionais de paz e na otan.
a destruição das ffaa cortando à bruta e a direito por razões economicas, de poupanças, será util?

Defreitas disse...

A Sra. Helena Sacadura Cabral tem razao: A Revolução de Abril foi um "assunto" de família, tratado em família, à portuguesa, com poucos estragos , e ainda bem!!!

As forças ou potências "exteriores" observavam "com interesse" mas sem intervir "diretamente" ! Tanto mais que a aliança militar atlântica ninguém ousou pô-la em causa, o que o "olho" de Moscovo "compreendeu" perfeitamente.

Se a situação desastrosa dum fim de regime , encharcado numa guerra colonial, facilitou , finalmente, a mudança e permitiu "arrumar" a casa, o atraso acumulado em todos os setores pelos 50 anos de letargia ainda continua a pagar-se hoje.
E o que é grave, é que os tempos presentes são pouco ou nada propícios para se pagarem dividas, quando a atividade é nula. Só se pode pagar dividas quando se trabalha.

Ora o trabalho desapareceu para outras paragens, mais lucrativas, graças à escravatura moderna.

Porque assim o quiseram aquelas forças "exteriores" que dominam o planeta. Essas forças exteriores que decidiram que as atividades que lhes interessam, são aquelas que produzem lucros exponenciais e permitem a acumulação de capital.

Ora, aqueles valores defendidos pela revolução de Abril :a simples liberdade, os direitos do homem, as conquistas sociais, o direito à saúde, ao trabalho, à educação, aos lazeres, mesmo à cultura, não são valores que interessam ao império internacional do capital, que, através dos bancos gênero Goldman Sachs, das seguradoras, dos fundos de pensão anglo-saxãos, dos fundos de investimento escondidos nos paraísos fiscais, decidem onde, como e quando se investe .Isto é, onde e quem terá o direito de trabalhar para viver. Eles são os inimigos dos valores conquistados em Abril 1975.

E como estas "potências" exteriores encontraram nos países democráticos os esbirros de que necessitavam para aplicar as políticas que lhes convinham, só uma nova revolução à escala das nações, não necessariamente pacífica, poderá repor a humanidade no bom caminho.

Não serão as Forças Armadas, que poderão, desta vez, conduzir o Povo nesta revolução.
Mas é do Povo ele mesmo que deve sair o surto regenerador , contrariamente à Revolução Francesa, onde a burguesia liderou a revolução.

J. de Freitas

Anónimo disse...

Os regimes terminam sempre pela decadência das suas ideias. Este regime actual em Portugal também terminará como o outro: pela sua decadência das suas ideias no tempo. Será assim que não haverá diferença entre ambos por muito que se invoque uma Constituição.

Isabel Seixas disse...

Já tinha tantas saudades de encontrar por aqui a minha querida Maggie.

"As batalhas navais estão a dar lugar às batalhas verbais"...

A meu ver bem melhor.
Além de que as mulheres ultrapassados os seus insondáveis bloqueios, dão cartas, são exímias e estão à mesma altura...
Daí que preparem-se os ditadores(Só esses claro) da última palavra, não vão longe...

Anónimo disse...

Muitos portugueses são sui generis em tudo, até na convicção de que as FAs não servem para nada. Estas poderão ser desmanteladas pelo poder político em dois ou três anos, mas depois levam uma década a serem criadas. Olhemos, por exemplo, para o Magreb árabe e pensemos um pouco. Será que a NATO asseguraria exclusivamente a nossa segurança colectiva? Penso que não. Quantos países modernos decidiram abdicar de ter FAs? Nenhum! O que nós precisamos é de FAs diferentes: com uma reduzida componente territorial e com uma razoavel capacidade de projecção de forças (produto operacional). E isto sim, nenhum CEMGFA ou CEM de ramo tentou sequer fazer. Por causa dos vários lobbies envolvidos, v.g. no Exército as direcções das Armas. Etc..

Anónimo disse...

Oiço sempre fragmentos de noticiário entre duas pasasdeiras no Fitness. E lá vi vários notáveis num jantar onde se assume a senioridade e a solidariedade. Sem som, fica-me sempre a dúvida entre saber quel é o ponto de encontro entre o interesse das corporações e aquele que reside em a Nação.

Anónimo disse...


Pelos vistos ainda há quem ache que existe um regime em Portugal diferente da grande maioria dos outros regimes todos que por esse mundo grassam .
E que se pode pôr um fim a esse regime aqui , deixando o resto do mundo de fora ou , dito de outro modo , sem que o resto do mundo se queira meter no assunto.
Como conceito teórico acho bom mas só lembro que "a teoria , na prática , é outra" .

RuiMG

Anónimo disse...

É irritante esta insistência no "perigo do Magreb". A última vez que o Magreb nos deu problemas (aqui, em nossa casa) foi na Idade Média.

Temos os espanhóis a sobrevoarem as Selvagens e a passarem a ideia de que é uma área em disputa e o pessoal anda é preocupado com o Magreb...

Em 74/75 estavam os espanhóis prontos para nos invadirem e o pessoal acha que o perigo é o Magreb...

Na 2GM, grande parte do nosso tempo foi passado a rezar para que o assassino do Franco não nos invadisse (mas o perigo é o Magreb).

Após a implantação da República, andava o Afonso XIII de Espanha a preparar-se para invadir aqui o burgo mas... o perigo é o Magreb.

Mas qual perigo do Magreb? Têm medo de que os marroquinos invadam a península, em pleno Séc. XXI, sem serem notados e perante a apatia do mundo? Têm medo de que os mouros desembarquem na Quarteira uns milhões de soldados para conquistar isto, é?

Quando a água faltar a sério e os nossos rios secarem porque aqui ao lado são represados, a culpa vai ser do Magreb, aposto...

Raios partam os lugares comuns...

Anónimo disse...

O sound bite hoje mandado ca para fora /nenhum cenario esta fora da mesa. Poupa se assim Otelo a uma nova boutade.

Unknown disse...

Muita boa gente não tem a percepção de que as Forças Armadas portuguesas têm um papel fundamental e uma responsabilidade acrescida no espaço geopolítico actual...

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