Fazia um certo género aquele embaixador. Nunca pedia nada diretamente, deixava no ar ideias que desejava que fossem levadas a cabo, obrigando os colaboradores a deduzirem o que realmente pretendia. Era muito raro vê-lo dar uma ordem imperativa. Se dissesse "era capaz de ser interessante mandar-se qualquer coisa a Lisboa sobre as taxas de juro", isso significava que se devia fazer, de imediato, um telegrama sobre a decisão do banco central sobre o custo do dinheiro. Se acaso os seus colaboradores não fossem suficientemente perspicazes para interpretarem estas suas ordens subliminares, o respetivo destino estava traçado. Tudo isso fazia parte da sua forma de exercer a autoridade.
Um dia, um funcionário administrativo foi chamado ao gabinete do embaixador, para tratar de uma qualquer questão. Durante esse despacho, na forma oblíqua tradicional, o embaixador comentou: "Está a começar a ficar um pouco de frio". O homem não reagiu, pelo que o diplomata foi um pouco mais explícito: "Será que os aquecimentos estão ligados?". O administrativo disse que não, que ainda não tinha chegado a "época", referindo-se à data em que, por regra, o sistema era posto em marcha. Chegado a este ponto, o embaixador, que claramente pretendia ver a sua sala aquecida, não resistiu e, já com má cara, foi explícito: "Olhe! Vá ligar o aquecimento".
Um dia, um funcionário administrativo foi chamado ao gabinete do embaixador, para tratar de uma qualquer questão. Durante esse despacho, na forma oblíqua tradicional, o embaixador comentou: "Está a começar a ficar um pouco de frio". O homem não reagiu, pelo que o diplomata foi um pouco mais explícito: "Será que os aquecimentos estão ligados?". O administrativo disse que não, que ainda não tinha chegado a "época", referindo-se à data em que, por regra, o sistema era posto em marcha. Chegado a este ponto, o embaixador, que claramente pretendia ver a sua sala aquecida, não resistiu e, já com má cara, foi explícito: "Olhe! Vá ligar o aquecimento".
O administrativo era um homem de hierarquias. Na sua perspetiva, testada ao longo de muitos anos, a pessoa que, dentro da embaixada, tinha poder para ligar o aquecimento era o chanceler, o senhor Mendes, a quem ele devia obediência direta, que se prolongava muito para além do período de funções dops embaixadores e de quem ele, desde sempre, recebia as ordens. E se essa suprema autoridade na gestão logística da embaixada não dera essa ordem, que podia ele fazer? Pelo que lhe saiu esta "pérola", para o todo poderoso embaixador, um dos homens que, na história das Necessidades, mais autoridade e influência alguma vez teve:
- Ai! isso é que não faço, senhor embaixador! Quem manda nessas coisas é o senhor Mendes. Tem de lhe pedir a ele...
9 comentários:
perfeita a resposta, há que levar em conta a rede de hierarquias, na verdade o embaixador não deu a ordem de aquecimento homem certo.
sobre esta exemplar e gostosa historia podiam se fazer várias reflexões a propósito de mandos e formas de mandar, hierarquias e escalas de autoridade,obediencias cegas ou selectivas e racionais, etc. 3 personalidades e respectivas atitudes frente aos deveres e obrigações ficaram aqui bem definidas, incluo o sr mendes
diverti-me com o episódio
O embaixador pecou por orgulho. E quando o orgulho caminha à frente, os estragos seguem logo atrás.
Quanto ao administrativo corajoso, que bela harmonia, quando o fazer e o dizer vão em conjunto.
J. de Freitas
Muito bem respondido!
Que belo episódio! Na verdade, para mandar, isto é, dar ordens ou organizar qualquer grupo, é necessário ser sensato, saber bem o que se pretende e,já agora, ser correcto. A resposta do Senhor Mendes é uma pérola de ironia. Sempre fui adepto de alguma arte na coordenação de equipas e consegui chegar ao fim da vida profissional sem conflitos significativos. Continuo a acreditar ser esse o melhor método.
José Honorato Ferreira
Houve um tempo em que apareciam umas “pérolas” naquela Casa (MNE) que cultivavam esse “estilo”, como diz, “oblíquo”, de que muito se orgulhavam, uma espécie de “imagem de marca”.
Nunca apreciei o estilo, presunçoso e presumido.
Tempos que já lá vão.
Como a de um Chefe de Missão (CM) que dava despacho aos seus funcionários (colegas) sem sequer se dignar olhar para eles, de pé, ele sentado à ampla secretária, enquanto rabiscava as instruções que, uma vez ditadas, as entregava, com um gesto de desprezo, olhando de lado, meio enjoado, ao tal funcionário.
Rilvas
Mais nada !
Bem, já vi funcionários levarem os termoventiladores de casa.
Também achei o Sr. funcionário administrativo(agora assistente técnico) bem consciente das suas atribuições e conteúdo funcional.
Que frio!..
Qum fala assim não é gago!!! :)
Isabel BP
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