quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Vieira

Às vezes, aproximamo-nos tarde de certas referências culturais. Foi o que me aconteceu com o padre António Vieira.

Alguns textos de Vieira faziam parte das "seletas" literárias através das quais, ao tempo do liceu, nos chegavam os "maiores" da nossa literatura. A forma pouco apelativa como esses extratos nos eram apresentados, a amálgama feita de autores de épocas e estilos muito diferentes e a obrigação de decorar parte dessas referências acabavam por provocar em nós uma rejeição quase automática a escritores que, se bem explicados e promovidos, poderiam facilmente suscitar o nosso jovem interesse. Com António Vieira aconteceu-me isso.

Só voltei a encontrar Vieira já na faculdade, mas apenas para uma desnecessária provocação: decidi citá-lo, para grande desagrado do professor Silva Rego, de um livro de Charles Boxer intitulado "Race relations in the Portuguese colonial empire". Chegar a Vieira através de um texto em inglês foi uma "sofisticação" ridícula. A qual, aliás, me saiu cara, porque obtive uma nota de exame bem baixa...

Em 2005, chegado ao Brasil, e aproximando-se o "ano vieirino", em que se comemorava o 4º centenário do seu nascimento, decidi ler Vieira "a sério", pela primeira vez. E tive então uma fantástica revelação. Deliciado, devorei a "História do Futuro" e outros seus textos magníficos, para além de me ter familiarizado com a vida de uma figura ímpar, que chegou a ter incursões heterodoxas pela diplomacia. Com o meu amigo padre Brandi Aleixo, um dos grandes especialistas brasileiros em Vieira, organizei algumas iniciativas sobre António Vieira ao longo desse ano de 2008, tendo lançado, através da embaixada em Brasília, um blogue sobre o "ano vieirino" que chegiou a ter apreciável sucesso.

O Brasil trata muito melhor a memória de Vieira do que nós. Por isso, agradou-me muito ter conhecimento que o Círculo de Leitores vai agora editar a obra completa de Vieira. É tempo de Portugal poder ter um completo acesso a um autor e a uma personalidade que, em si mesma, representa muito da identidade luso-brasileira.  

8 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Estou inteiramente de acordo consigo. Mas Vieira só se aprecia bem quando já se é adulto.
Há dias hesitei em da-lo a ler ao meu neto mais velho, porque quando meu Pai mo aconselhou, na mesma idade, não lhe dei o devido valor. Uma década depois havia de devora-lo!

patricio branco disse...

é de facto um gigante da nossa cultura e história, missionário, pregador, teologo, politico, historiador, diplomata, é uma riqueza termos essa grande figura. Fazia falta uma nova edição das obras completas incluindo as cartas. as da sá da costa devem estar esgotadas e não sei se são completas.
que sejam organizadas por especialistas ao nivel que ele merece e se exige.

Angie disse...

Também fico feliz por ler a noticia dessa publicação

Conheci melhor o P. António Vieira já "tarde" e os seus textos são uma delicia de coragem humana.

Angela

Rubi disse...

Uma boa notícia. Vou comprá-lo certamente!

Helena Oneto disse...

Também redescobri o Padre Antonio Vieira tarde precisamente em 2005 ano da comemoraçã do 4º centenário do seu nascimento.
A edição da sua obra completa é uma das poucas boas noticias que me chegam dai!

Anónimo disse...

deus escreve direito por linhas tortas senhor embaixador...

Isabel Seixas disse...

Boa Sugestão para leituras...
Ora então vou compilar todas as boas notícias daqui, para enviar à querida Helena.

Plural 7 disse...

É com agrado que vejo a boa receção que esta notícia está a ter. Enquanto responsável direto pela organização das cartas, posso adiantar que está tudo praticamente pronto e que são poucos os textos que não sofreram alterações em relação ao que está publicado. Aponta-se para cerca de 760 cartas, desde inéditas, a textos repostos a partir de originais e manuscritos, cartas que haviam sido censuradas na 1ª edição e alguns textos apócrifos. Não se trata duma reimpressão, como já correu aqui pela Net, mas dum trabalho que tenho vindo a realizar ao longo de mais de 10 anos.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...