Em termos de "jogo jogado" (adoro futebolês saloio, saído da "cultura de balneário"), o (meu) Sporting está longe de convencer. Mas, vá lá!, o novo "mister" conseguiu inverter um pouco as coisas. E há uma rapaziada que, em outras bandas, tem dado um simpático contributo relativo.
sábado, janeiro 25, 2025
Dar a cara
O PM espanhol vai propor o fim do anonimato nas redes sociais. Há anos que defendo o mesmo. Os riscos decorrentes do uso dos pseudónimos ultrapassam, em muito, a sua suposta "graça", favorecendo os cobardes que não têm coragem de assumir o que dizem com o seu verdadeiro nome.
... e ainda não chegámos à Madeira
O PS deveria estabelecer uma regra de prescrição sobre o número de vezes que está disposto a perder as eleições na Madeira mantendo o mesmo candidato. É que já vai em nove derrotas consecutivas...
Trump e Montenegro
Trump aprendeu bem as lições do caos que foi o início da sua anterior administração. Desta vez, parece estar tudo muito mais oleado, seja em decisões legislativas, seja em nomeações. E, claro, nas demissões de quem estava lá antes. Terá pedido assessoria a Montenegro?
A esfinge do Cairo
Os dois únicos países do mundo que escaparam à suspensão temporária da ajuda americana ontem decidida por Trump foram Israel e ... o Egito. "O Egito?" reagirão alguns. Isso acontece em todos os tempos políticos americanos e nos vários ciclos ditatoriais egípcios. Realpolitik...
Artista
O Brasil está a alimentar uma esperança tal de que Fernanda Torres obtenha um Óscar que, no caso de isso não vir a acontecer, pode converter-se numa tragédia nacional.
Nada mais, nada menos
Por muito que isso custe aos preconceituosos, é preciso afirmar, alto e bom som, que, aos imigrantes, se deve exigir exatamente o que se exige aos cidadãos nacionais: que cumpram as leis do nosso país. Nada mais, nada menos. Tenham eles a cultura, a língua e religião que tiverem.
sexta-feira, janeiro 24, 2025
Afinal...
Fico com a impressão de alguns que, desde há vários meses, estavam convencidos de que a chegada de Trump à Casa Branca significaria a imediata cessação do apoio militar americano à Ucrânia andam já um pouco nervosos com alguma ambiguidade discursiva que agora chega de Washington.
Se eu fosse...
Se eu fosse militante do Partido Socialista, seria obrigado a afirmar, no dia de hoje, o meu desacordo com a forma e, em especial, com a oportunidade das palavras do seu secretário-geral sobre a questão imigratória, na sua entrevista ao "Expresso". Como não sou...
Será respeitinho?
Apelidam-se de extrema-direita as figuras europeias que têm esse iniludível recorte ideológico. Mas por que será que não se usa o mesmo qualificativo para Trump, o qual, aliás, não hesitou em convidar a fina flor extrema-direita para a sua posse? Será que é respeitinho à América?
A sério?
Um país em que os jornaleiros para quem o crime compensa abrem noticiários com um político pilha-malas, um país que está prestes a entregar a chefia do Estado a um fulano que ganhou fama por ter feito uma eficaz distribuição de vacinas, é um país que não pode ser levado a sério.
"Forum Demos"
"Viver com Trump"
Trump tem fortes razões para estar orgulhoso. E isso ficou claro no seu discurso de posse. Regressar ao poder, com a forte legitimidade eleitoral que conseguiu arregimentar, com confortável base legislativa e judicial, deve dar uma muito agradável sensação de poder. Um poder que recuperou depois de ter descido aos infernos, com uma derrota eleitoral sofrida mas nunca aceite, com processos judiciais cumulativos e humilhantes, depois de ter sido exposto como cúmplice de uma agressão constitucional sem precedentes ao Capitólio. Capitólio esse onde agora reentra pela porta principal, sob o olhar impotente dos seus inimigos, com esse passado conflitual recente colocado entre parêntesis. Como vingança, reconheça-se, Trump não poderia ter desejado mais e melhor.
quinta-feira, janeiro 23, 2025
quarta-feira, janeiro 22, 2025
Trumpe
Tenho sincera inveja do modo como Nicolás Maduro pronuncia o nome de Trump. Em vez de se subordinar, como todos disciplinadamente fazemos, à forma anglo-saxónica de dizer a palavra ("trâmpe"), o patusco ditador dos fatos de treino coloridos fala de "trumpe" sem se rir. Valente!
terça-feira, janeiro 21, 2025
Davos
Deve ter graça estar em Davos, por estes dias. Os maluquinhos das teorias da conspiração, os mesmo que acham que Bilderberg tem qualquer importância, devem estar rapidamente a perceber que quem de facto manda não anda por ali.
segunda-feira, janeiro 20, 2025
Pensem nisto
Trump talvez conseguisse assegurar um lugar na História se, do alto da posição de força de que agora dispõe, levasse a Rússia a envolver-se numa nova arquitetura de segurança, da qual a NATO europeia fizesse parte. Mas não estamos com gente disso, como se diz na minha terra.
domingo, janeiro 19, 2025
Uma descoberta e um agradecimento
Pessoa amiga chamou a minha atenção para esta lista, datada do início de dezembro de 2024, que me tinha escapado.
Fico muito grato pela simpatia do blogue de João Eduardo Severino, "Pau para toda a obra".
Palestina e Israel
"Fago" (Marvão)
Se estiverem interessados, pode ler aqui a minha apreciação sobre uma visita ao restaurante "Fago", em Marvão
sábado, janeiro 18, 2025
Lynch
Na morte de David Lynch, espero não ser "linchado" se revelar que não vi nenhum episódio do Twin Peaks e que não faço a menor ideia de quem era a tal de Laura Palmer que parece que morreu. Mas nunca lhe agradecerei suficientemente o Blue Velvet.
Trump - the movie...
Serei só eu que, no "remake" de Trump, sinto ainda e já saudades dos cromos da sua anterior presidência - do Sean Spicer que divertia os jornalistas, dos "factos alternativos" de Kellyanne Conway, do patético e breve Anthony Scaramucci e do "strangelove" de comédia Michael Flynn?
Marvão
sexta-feira, janeiro 17, 2025
Vítimas da estatística
A propósito da demissão do diretor do SNS, temos de ser justos: com tanta gente que tem vindo a ser saneada pelo governo PSD, torna-se estatisticamente mais provável que apareçam cada vez mais falcatruas. Este governo, no fim de contas, é apenas uma pobre vítima da estatística.
PSF bem
A partilha pela esquerda francesa da obsessão presidencial de Jean-Luc Mélenchon começava a ser um tapete vermelho para Marine Le Pen entrar no Eliseu. Em nenhuma circunstância Mélenchon teria o voto de 51% dos franceses. Mesmo para derrotar Le Pen. O PSF fez bem em afastar-se.
Biden
Não é muito popular lembrar que Barack Obama deixou uma herança desastrosa em matéria de política externa. Contudo, isso não nos deve coibir de dizer que Joe Biden disputa fortemente aquele "benchmark" negativo. Salva-se a sua prudência ao ter procurado evitar um conflito global.
A solidão socialista
Ontem, o PS francês decidiu arriscar. Viabilizando o governo Bayrou, rompeu a aliança à esquerda, ficando numa "terra de ninguém". Ganharam em credibilidade, mas, se houver novas eleições, Mélenchon colocará candidatos contra eles e podem voltar a desaparecer.
quinta-feira, janeiro 16, 2025
Estudem!
Repita-se, para que não fiquem dúvidas: Portugal fez muito bem em não estar representado na transição presidencial em Moçambique pelo presidente da República e fez igualmente muito bem em fazê-lo através do ministro dos Negócios Estrangeiros. Quem não percebeu, estudasse!
Radicais à solta
Já se percebeu que a linha argumentativa do PSD para combater a liderança do PS, com a luta pela câmara de Lisboa como passo intermédio, é vir acusá-la de radicalismo.
Para um partido que anda a mimetizar o Chega em matéria de segurança, isto não deixa de ter alguma graça.
Mistério
Alguém me há-de um dia explicar a razão pela qual este blogue, depois de ter suspendido a publicação de comentários, ter passado a ter mais visitantes: estamos numa média de três mil / dia.
quarta-feira, janeiro 15, 2025
Diplomacia
terça-feira, janeiro 14, 2025
A segurança da Europa
O novo secretário-geral da NATO disse no PE que, para se poder substituir militarmente aos EUA, a Europa precisaria de gastar 10% do seu orçamento em defesa. Por muito grande que possa ser o susto europeu, depois da Ucrânia, não há a mais longínqua hipósese de isso vir a suceder.
A União Europeia não é um país, são 27 opiniões públicas com agendas de interesses e perceções de risco diferentes, que jamais conseguiriam acordar simultaneamente numa medida dessa dimensão - nem sequer metade disso.
Porque nunca poderá ter uma defesa autónoma, a União Europeia vai continuar a "comprar" segurança aos Estados Unidos. O preço que Trump vai exigir vai ser elevado, em termos comerciais, de venda de armamento, de gás e outras concessões. A Europa vai esbracejar, mas vai ceder.
Trump, tal como fez no passado, vai desprezar a União Europeia como um todo e vai "pescar à linha" no seu diálogo com os Estados europeus que lhe convenham. Estes, como se viu já com Meloni, irão, um por um, comer à mão de Washington e, com isso, enfraquecerão a capacidade da UE.
E cá?
"Público"
Tenho pena de ver José Alberto Lemos sair do cargo de Provedor de Leitor do Público. Acompanhei a sua tarefa com admiração. Essa admiração foi aumentando à medida que constatei que o seu trabalho se foi tornando mais difícil, perante a crescente resistência de setores da redação.
Alexandra Leitão
Dificilmente o Partido Socialista poderia ter encontrado um melhor nome do que Alexandra Leitão para candidata a presidente da Câmara de Lisboa. A atual líder parlamentar, que foi ministra no primeiro governo de António Costa, é um dos quadros mais qualificados do partido.
segunda-feira, janeiro 13, 2025
Fernanda Maria
Com 87 anos, morreu hoje Fernanda Maria, um imenso nome de um fado de que eu gosto.
Assim tem de ser
Atendendo seguramente a uma avaliação prudente da atual conjuntura política no país, acho de muito bom senso que Portugal se faça representar na tomada de posse do novo presidente de Moçambique apenas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros.
Europa, querida Europa
Xenofobia
Devemos ser o único país do mundo em que um conflito de rua que provoca sete feridos mobiliza todas as televisões. A menos que achemos natural que essa atenção se deva ao facto dessas pessoas serem estrangeiros. Ao atuarem como atuam, as nossas televisões ajudam à agenda xenófoba.
domingo, janeiro 12, 2025
Pensem bem!
Salvo para os "maduros" que apostam na China ou mesmo na Rússia, e partindo do princípio óbvio de que a Europa e o resto do mundo afim serão incapazes de travar as loucuras que Trump venha a tentar, já pensaram bem que só há uma entidade que o pode vir a suster? O povo americano.
Ofensa
Com o respeito institucional que qualquer primeiro-ministro do meu país me merece, por estar lá pelo voto popular, gostava que o Dr. Luis Montenegro soubesse que, como cidadão e como democrata, me sinto insultado ao ouvir-lhe a barbaridade de chamar extremistas quantos, no sábado, saíram à rua a condenar o racismo e a xanofobia.
Os presidentes da Junta
Em 2011, a "troika" mandou reduzir o número de freguesias. O país obedeceu. Passados todos estes anos, o bloco de interesses partidário resolveu retalhar de novo a geografia administrativa. Quantos mais vão agora poder dizer "eu é que sou o presidente da Junta" ? Que país este!
Ditadores e ditadores?
O mundo indigna-se com a posse do ditador Maduro, depois de eleições que quase todos concluíram terem sido fraudulentas. Mas por que será que ninguém mexe uma palha, por exemplo, face à Arábia Saudita, outra ditadura. Quando serão as eleições por lá? Há ditaduras boas?
Daniel Ribeiro
sábado, janeiro 11, 2025
Simplesmente Coimbra
Na rua
Nunca fui muito dado a participar em mobilizações de rua, mas, se pudesse estar hoje em Lisboa, iria com muito gosto e convicção a esta manifestação. As coisas estão a chegar a um ponto em que a indiferença e a neutralidade acabam por ajudar à festa dos outros. E eu não gosto, mesmo nada, da festa dos outros.
sexta-feira, janeiro 10, 2025
Coisas à letra
Mas calei-me, para evitar confusões, porque o mundo anda perigoso e nem tudo o que, no passado, parecia óbvio e natural, é hoje tomado de forma benévola.
Schutt...!
Não poderia a CP lançar uma campanha de educação comportamental básica, com vista a fazer perceber aos passageiros dos seus comboios que é de uma extrema falta de respeito falarem alto ao telefone durante as viagens? Ninguém pode ser obrigado a ouvir as conversas dos outros.
E se...?
Na imprensa francesa, perante a ausência, por doença, da presidente da Comissão Europeia, fala-se que a Europa está "aux abonnés absents", a clássica expressão para significar incontactável. Mesmo sem forçar cizânias, não quererá o Conselho Europeu ir a jogo?
Não sou de cá
Havia uma expressão, muito usada em outros tempos, que transpirava uma atitude de desinteresse: “Não sou de cá, eu só vim à bola!”. Era assim a modos de um “não tenho nada a ver com isto!” A frase renasceu-me, na cabeça, a propósito de Lisboa e da rua onde vivo. Para concluir, precisamente, o seu contrário.
Ora Eça!
Foi comovedor ver a imensidão de exegetas da presumível opinião de Eça de Queiroz sobre a decisão de colocar os seus restos mortais no Panteão. O que por aí vai de "achismo" queirosiano...
Não, Eduardo
Discordo tão poucas vezes do meu querido amigo Eduardo Ferro Rodrigues que não quero perder esta rara oportunidade de dizer que não concordo com a sua ideia de "primárias" presidenciais no PS, embora perceba a racionalidade da ideia. A nossa Constituição não é presidencialista.
Embaraço
PS e PSD estão num imenso embaraço, em face das eleições presidenciais. Ambos já perceberam que dificilmente conseguirão segurar os seus eleitorados. Não fosse dar-se o caso de estar em causa a dignidade do país, isto poderia ter alguma graça. Mas não tem nenhuma.
Por tabela
Nunca entendi a naturalidade com que, um pouco por todo o mundo, se aceita escutar as opiniões de alguém, só pela circunstância dessa pessoa ser cônjuge, filho ou parente de qualquer outra natureza, de uma pessoa que exerce um cargo público, em especial eleito. Mas já percebi que estou sozinho.
quinta-feira, janeiro 09, 2025
Uma ideia sem sentido
A ideia de António José Seguro de isentar o OGE de voto parlamentar não tem o menor sentido. Lamento ver uma pessoa por quem tenho grande consideração pessoal, antigo líder do PS num período muito difícil, que saiu com grande dignidade do lugar, cometer este imenso erro político.
"A Arte da Guerra"
São programas de cerca de 30 minutos, divididos em três partes, cada uma delas abordando temas diferentes.
Esta semana, depois das férias natalícias, o "A Arte da Guerra" tem, excecionalmente, cerca de 50 minutos.
Se tiver curiosidade e paciência para nos ver e escutar, clique aqui.
Gentileza
Este ano, vou confessar, a não chegada do calendário tinha-me levado a comentar, em família, que talvez a representação diplomática japonesa tivesse decidido optar por cessar a distribuição do ritual calendário. Senti alguma pena, mas dei comigo a aceitar que tudo na vida tem um termo.
Há minutos, chegou-me a casa o calendário do Japão! Fiquei satisfeito, confesso.
Dâmaso
Resta esperar pela América?
O sentimento internacional que prevalece, em face da arrogância quase sem limites de Trump, é de impotência e de atarantado atentismo. Fica a ideia de que apenas nos resta esperar por aquilo que vier a ser o futuro de Trump no seio dos próprios EUA. Triste destino do mundo!
Agora muito a sério
Ouvir o antigo e futuro líder da maior potência do mundo dizer as barbaridades que tem dito sobre outros países, numa atitude de "bullying" político assente no abuso da força, demonstrando um total desrespeito pelo Direito Internacional, não os assusta?
quarta-feira, janeiro 08, 2025
Steinbroken
terça-feira, janeiro 07, 2025
O Ferrari dos bombeiros
No dia seguinte à minha chegada a Oslo, fui levantar o automóvel. Era de um vermelho berrante, como se fosse um Ferrari! Parecia uma ambulância! Detesto carros "vistosos"! Fiquei furibundo, mas foi-me explicado que era o único carro disponível, a menos que estivesse disposto a esperar várias semanas por outra cor. Não estava. E como, para mim, um carro é apenas um carro, como nada sei nem me interesso por automóveis e o que me importa é ter sempre um veículo cómodo e potente para me deslocar, quase esqueci a "ambulância" em que passaria a andar nos próximos anos.
Tempos mais tarde, a minha mulher foi juntar-se-me em Oslo. Ao ver o nosso novo carro, exclamou: "Que diabo de cor! Parece um carro de bombeiros! Isto não é um Ferrari!". Lá vinha outra vez a síndrome da "ambulância"!
Passaram uns meses. Foi-nos visitar à Noruega Álvaro Magalhães dos Santos, um vila-realense, há muito residente em Lisboa, com afiado humor na ponta da língua e da escrita - ele que foi o "Vicente Gil" de "A Capital" e fazia páginas satíricas para "O Diabo" e para o "Correio da Manhã". O Álvaro, que já se foi desta para pior há muito, ao chegar junto do meu carro, no aeroporto de Fornebu, logo disse: "Olha! Tens um carro igual ao do Neto. A fingir de Ferrari!"
Quem era o Neto? Foi um antigo comandante de uma das corporações de bombeiros de Vila Real e que era conhecido por ter o seu carro privado, creio que um pequeno Austin, precisamente com o vermelho berrante com que eram pintados os veículos da corporação que chefiava. Também o Álvaro Magalhães Santos, autor do livro "Rua Direita - uma janela sobre Vila Real", um repositório de saudades irónicas sobre a artéria onde vivera a juventude, numa casa vizinha dos bombeiros do Neto, não se privara de sublinhar o vermelho-ambulância-Ferrari do meu Golf.
Ontem, de Lisboa, por zoom, intervim numa sessão comemorativa da vetusta corporacão de bombeiros de Vila Real de que o Neto foi comandante e que é atualmente dirigida pelo Álvaro Ribeiro, que me fez o convite. Fiquei com uma curiosidade: qual será a cor do carro do Álvaro Ribeiro?
No dia da morte de Jean-Marie Le Pen
À primeira não percebi, à segunda lá entendi que se tratava de Jean-Marie Le Pen, o líder da extrema-direita, antigo candidato à presidência da República francesa, à época ainda presidente do Front National. Tratava-se de uma personalidade que, pelos seus propósitos negacionistas e outras tomadas de posição conexas, fazia claramente parte das figuras "non fréquentables" para um grande número de franceses.
Estávamos em 2010. Le Pen continuava a ser, a grande distância, dentre as personalidades do espetro político francês, a mais polémica. A sua filha estava então prestes a assumir a presidência do seu partido, o "Front National" (hoje ""Rassemblement National").
Confesso que tinha alguma curiosidade em conhecer, ao vivo, essa figura, com a qual eu próprio tivera uma "accrochage" no Parlamento Europeu, uma década antes, a propósito da chegada ao poder da extrema-direita austríaca (curiosamente, por estes dias, um quarto de século depois, o cenário volta a repetir-se). E, ultrapassando algumas hesitações íntimas, decidi aceitar o tal convite para jantar.
Há figuras que são exatamente aquilo que é a sua caricatura. Le Pen é uma delas. As suas reações em privado, a sua forma de estar e de interagir, reproduziam precisamente a imagem que eu tinha dele, recolhida das muitas aparições que lhe vira na televisão.
Foi cordial para com o embaixador de um país que conhecia bem e sobre cujos nacionais, sem ser entusiático, disse as coisas óbvias do "politicamente correto" francês. Contou-me das suas viagens ao Porto, como velejador, onde conheceu o "Duque" da Ribeira, de quem se teria tornado amigo. Elogiou as qualidades gastronómicas de um restaurante português da periferia de Paris, que era então uma espécie de cantina informal do "Front National", por se situar ao lado da respetiva sede. Não me disse, mas isso eu sabia, que havia uma presença de portugueses e luso-descendentes nos apoiantes do partido.
À mesa, fiquei à sua direita (tem alguma graça, ficar "à direita" de Le Pen). Dominou a conversa, com um discurso bastante crítico do então presidente Sarkozy, muito centrado na necessidade de reforço das políticas securitárias e no combate ao que considerou ser a "permissividade" na gestão dos fluxos migratórios.
Os circunstantes, gente claramente conservadora, mostravam-se simpáticos perante o que ouviam. Um, dentre eles, chegou mesmo a afirmar que, pela primeira vez, encarava votar "Front National" nas próximas eleições. O ambiente estava longe de ser desfavorável a Le Pen, bem pelo contrário.
Durante muito tempo, mantive-me bastante discreto na conversa, interessado que estava em olhar a personagem. "Entre la poire et le fromage", como se diz na linguagem social francesa, decidi intervir.
Disse que o fazia como observador estrangeiro, não comprometido com a vida política francesa. Mas que não resistia a expressar uma curiosidade. Como ele bem constatara, algumas das suas propostas políticas até eram relativamente bem aceites, porque, aparentemente, iam ao encontro das preocupações, em matéria de segurança, que uma certa França alimentava. Por essa razão - perguntei eu a Le Pen - por que razão persistia em manter, no seu discurso político, uma outra dimensão, assente em pressupostos como a desvalorização da barbárie nazi nos campos de concentração, temática com óbvias conotações antijudaicas, que acabava por radicalizar a postura do "Front National" e dele afastar potenciais simpatizantes?
Le Pen olhou-me, talvez surpreendido pela frontalidade da questão. Mas reagiu bem. Sem hesitações, perguntou-me: "Está a referir-se ao 'detalhe'? ". Estava. Como disse, ficou famosa a frase em que Le Pen, a propósito da quantificação do número de assassinatos nazis nos campos de concentração, disse que isso não passava de um "detalhe" no contexto das mortes do segundo conflito mundial. E, nesse jantar, voltou a repetir isto. E acrescentou, por exemplo, que era muito estranho que nunca se falasse no facto das linhas de caminhos de ferro que levavam aos campos de concentração alemães nunca tivessem sido bombardeadas pela aviação aliada (confesso que até então nunca ouvira falar do assunto!).
Tudo isto acabou por dar, por completo, e em escassos minutos, a volta ao ambiente. As mostras de simpatia pelas políticas securitárias ou de controlo da imigração preconizadas por Le Pen dissolveram-se no ar, que se tornou pesado. O jantar terminou de forma um tanto apressada.
À saída, o convidado que havia dado mostras de poder vir a votar "Front National" aproximou-se de nós e, em voz baixa, pediu desculpa por termos sido testemunhas de "algumas tomadas de posição que envergonham a França". Vim a saber depois que era uma figura da comunidade judaica.
Jean-Marie Le Pen, indiscutivelmente a grande personalidade da extrema-direita francesa no pós-guerra, morreu hoje.
No debate no Parlamento Europeu, em janeiro de 2000, em que fui por ele zurzido, a propósito da questão austríaca, houve uma figura francesa que saiu em minha defesa - e a quem, anos mais tarde, tive o ensejo de agradecer pessoalmente a sua atitude. Foi François Bayrou. É hoje primeiro-ministro do seu país.
(Estes episódios já foram por aqui contados no passado. Achei interessante relembrá-los no dia da morte de Jean-Marie Le Pen.)
segunda-feira, janeiro 06, 2025
Fernanda de Castro
Com os anos e com a vida, fui aprendendo a saber desligar os meus preconceitos ideológicos da avaliação do perfil público das pessoas. Tudo, na política, me afasta de Fernanda de Castro e de António Ferro. E, no entanto, é fascinante acompanhar o percurso daquele casal no Portugal da ditadura.
Há já bastantes anos, li, com muito agrado, os dois volumes das memórias de Fernanda de Castro. É o tipo de livro que nos ajuda a perceber a intimidade de alguns setores do regime, a sociologia de uma certa Lisboa, vista pelos olhos de uma pessoa comprometida com esse tempo. Não é necessário estar de acordo com a interpretação que a autora faz das situações que atravessa para apreciar o modo, literariamente límpido, como as aborda e descreve. Vejo agora que essa obra foi reeditada, num único volume. Quem se interessa por perceber melhor o país que herdámos ganhará em lê-la.
Houbigant
Desde criança que ouvia o meu pai referir, como sendo uma espécie de "benchmark" dos odores, o nome de um perfume para mulher com o nome de Houbigant. Nunca vi lá por casa aquela marca. Imagino assim que ele tivesse preservado essa referência cimeira, sabida algures, sem, contudo, alguma vez ter testado o verdadeiro cheiro de Houbigant.
domingo, janeiro 05, 2025
sábado, janeiro 04, 2025
Seminário diplomático
Além de intervenções de membros do governo da área diplomática, a começar pelo ministro Paulo Rangel, e do primeiro-ministro, Luís Montenegro, terá lugar a tradicional reunião com o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Os diplomatas encontrarão também por ali quantos foram convidados a intervir na ocasião. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, que estava prevista como tal, não vai poder participar, por motivos de saúde. Foi anunciado que Durão Barroso irá saltar do banco de suplentes para o palco. E lá estará também, com toda a naturalidade, a nova comissária europeia portuguesa, Maria Luís Albuquerque. A participação da equipa política de turno no evento será completada com a intervenção do ministro da Economia, Pedro Reis.
Recupero aqui um desenho recente do Financial Times, sem que, com isso, me atreva a sugerir que talvez pudesse ter sido convidado a intervir, na ocasião, o novo presidente do Conselho Europeu, pessoa que, por coincidência, é de nacionalidade portuguesa. Mas sou obrigado reconhecer que isso estragaria a impecável, e pelos vistos implacável, uniformidade partidária de todos os tenores políticos chamados a terreiro. Assim, só posso deixar os meus votos de que, como quase sempre aconteceu no passado, o Seminário Diplomático venha a correr a preceito.
Ad hominem
Parece claro que a tática de Luís Montenegro para as semanas que aí vêm, além de apresentar o saldo da sua ação governativa, é tentar criar ...