Há cerca de dois anos, uma organização de alunos da Universidade Nova de Lisboa convidou-me para um debate sobre os novos desafios da Europa. Teria como parceiro de mesa Mário Centeno. O nome dizia-me alguma coisa, mas pouco. Fiz uma pequena pesquisa e ela fez-me lembrar que ouvira Mário Centeno na conferência anual da Fundação Francisco Manuel dos Santos, onde se pronunciara sobre Economia do trabalho. Ficara então muito bem impressionado com a apresentação feita, muito estruturada e com perspetivas que não conhecia.
O nosso debate na Nova correu muito bem. Voltámos, depois disso, a cruzar-nos algumas vezes, em reuniões, e, com naturalidade, vi-o surgir à frente da pasta das Finanças no governo de António Costa, de quem havia sido o "guru" na área económico-financeira. Todos nos recordaremos que havia então em Centeno uma jovialidade que se espelhava num sorriso franco, quase adolescente, que se manteve em muitas aparições públicas, em que foi sendo conhecido pelos portugueses.
Esse sorriso tem esmorecido nos últimos tempos. Julgo que nenhum de nós, de fora, poderá sequer imaginar o que deve ser o peso de um lugar como aquele que Mário Centeno ocupa, sujeito às pressões de uma conjuntura internacional que não controla, à necessidade de dar resposta positiva aos compromissos internos que tornam viável a existência do executivo de que faz parte e, no topo de tudo isso, tendo que lidar com as "bombas ao retardador" deixadas pelo anterior governo, como foi o caso do Banif e se constata agora ter sido a linguagem dupla (para as instituições europeias e para a opinião pública interna) usada por Passos Coelho e pela sua equipa para qualificar determinados cortes feitos no quadriénio que cessou.
Gostava de voltar a ver Mário Centeno sorrir. Será sinal de que poderemos fazer o mesmo.