Chama-se João Fernando Ramos. Não o conheço pessoalmente, creio. Surge à frente de um jornal informativo na RTP2, às 21.30. Apresenta-nos, em apenas meia-hora (como em todos os países civilizados), um telejornal com equilíbrio, sem "gorduras", sem "Sónias Cristinas" em diretos inúteis, com entrevistas dinâmicas, convidados variados. No final, ficamos a saber tanto como com aqueles pastelões de mais de hora e meia que os três canais principais nos impingem. Ainda há notícias a sério.
quarta-feira, dezembro 21, 2016
Notícias a sério
Chama-se João Fernando Ramos. Não o conheço pessoalmente, creio. Surge à frente de um jornal informativo na RTP2, às 21.30. Apresenta-nos, em apenas meia-hora (como em todos os países civilizados), um telejornal com equilíbrio, sem "gorduras", sem "Sónias Cristinas" em diretos inúteis, com entrevistas dinâmicas, convidados variados. No final, ficamos a saber tanto como com aqueles pastelões de mais de hora e meia que os três canais principais nos impingem. Ainda há notícias a sério.
terça-feira, dezembro 20, 2016
Suplementos
Volta e meia, com os jornais diários, surgem uns suplementos que, quase num gesto automático, seguem logo para o lixo. Ninguém lê aquelas estopadas, escritas num "jornalismo" oficioso e de publicidade disfarçada.
Que empresas privadas publiquem coisas dessas, tudo bem! O negócio é isso mesmo.
O que ultrapassa a minha compreensão é o facto de entidades públicas gastarem do dinheiro dos nossos impostos para promoverem serviços públicos.
Hoje, com o "Público", o Centro Hospitalar do Porto edita um suplemento com 40 páginas (!) de autopromoção.
Há dinheiro a mais na área da saúde? Não sabia.
segunda-feira, dezembro 19, 2016
O presidente e o país
O país divide-se na sua apreciação sobre as movimentações do presidente da República.
Uma parte acha que a sua "agitação" é positiva, que está criado um ambiente favorável à sua presença constante um pouco por todo o lado, que esse é o segredo da real descrispação que o país hoje vive. Outra parte - e sente-se que essa parte cresce, dia-após-dia - acha que o presidente está a ir longe demais naquilo que pode funcionar como uma certa banalização da sua figura, e teme por isso. Outros ainda começam a achar que o chefe do Estado entrou numa deriva presidencialista que coloca em causa os equilíbrios de poder com o governo.
A estes três grupos soma-se um outro, o que já "perdeu a paciência para o Marcelo": são as "viúvas" e os "viúvos" de Cavaco, os que, com raiva, o viram um dia entrar de rompante num congresso do PSD e "roubar o show" a Passos Coelho, os que não tiveram outra solução senão votar nele, os que cedo acordaram do sonho frustrado de o ver desmantelar a geringonça, os que acham que já chegou o tempo de denunciar o que lhes parece ser um "fazer da cama" de Passos Coelho, a partir de Belém.
O "Observador" é o órgão oficioso deste último grupo, desde as insídias nas "newsletters" aos (principalmente às) colunistas descabelado/as. Durante meses foram afinando a pontaria, das pequenas graçolas às bicadas mais ou menos subtis. Agora, já se soltaram e à vista da consoada, vendo-se sem prenda no par de botas em que se meteram, perderam as estribeiras. Já perceberam que este ano não vão ter Boas Festas e de que estão muito longe de poderem vir a ter um Feliz Ano Novo. A eles, apetece-me dizer a palavra que, lá por Vila Real, lançamos àqueles com quem nos cruzamos na rua, depois da missa do galo e até aos Reis: "Continuação", é o que sinceramente lhes desejo...
Uma parte acha que a sua "agitação" é positiva, que está criado um ambiente favorável à sua presença constante um pouco por todo o lado, que esse é o segredo da real descrispação que o país hoje vive. Outra parte - e sente-se que essa parte cresce, dia-após-dia - acha que o presidente está a ir longe demais naquilo que pode funcionar como uma certa banalização da sua figura, e teme por isso. Outros ainda começam a achar que o chefe do Estado entrou numa deriva presidencialista que coloca em causa os equilíbrios de poder com o governo.
A estes três grupos soma-se um outro, o que já "perdeu a paciência para o Marcelo": são as "viúvas" e os "viúvos" de Cavaco, os que, com raiva, o viram um dia entrar de rompante num congresso do PSD e "roubar o show" a Passos Coelho, os que não tiveram outra solução senão votar nele, os que cedo acordaram do sonho frustrado de o ver desmantelar a geringonça, os que acham que já chegou o tempo de denunciar o que lhes parece ser um "fazer da cama" de Passos Coelho, a partir de Belém.
O "Observador" é o órgão oficioso deste último grupo, desde as insídias nas "newsletters" aos (principalmente às) colunistas descabelado/as. Durante meses foram afinando a pontaria, das pequenas graçolas às bicadas mais ou menos subtis. Agora, já se soltaram e à vista da consoada, vendo-se sem prenda no par de botas em que se meteram, perderam as estribeiras. Já perceberam que este ano não vão ter Boas Festas e de que estão muito longe de poderem vir a ter um Feliz Ano Novo. A eles, apetece-me dizer a palavra que, lá por Vila Real, lançamos àqueles com quem nos cruzamos na rua, depois da missa do galo e até aos Reis: "Continuação", é o que sinceramente lhes desejo...
domingo, dezembro 18, 2016
Vinhos & Cia
Nunca percebi se o Bill Stevens era ou não da CIA. O rumor de que era corria no corpo diplomático em Oslo, mas isso nunca impediu que ele e a Judy se contassem entre os nossos melhores amigos. Em casa deles - uma moradia de madeira e vidro, na bela encosta de Holmenkollen - comemos o perú no Thanksgiving (festa em que os americanos só juntam a família e os muito próximos), eram visitas regulares lá de casa e fizemos divertidas excursões de fim-de-semana. Que será feito deles?
Um dia, o Bill teve a ideia de organizarmos um jantar comemorativo de qualquer coisa, num determinado restaurante de Oslo. A capital norueguesa, nesse início dos anos 80, não tinha muitos restaurantes. Os "de topo" eram uma meia dúzia, e extraordinariamente caros. O meu "subsídio de representação" - o acréscimo que é pago aos diplomatas, a somar ao salário-base recebido no país, para alugar casa, fazer "representação social", compensar o diferencial do custo de vida no exterior e o atenuar o facto do cônjuge ter de abandonar o emprego para nos acompanhar - era muito baixo para os preços praticados na Noruega, pelo que eu vivia os meses "a contar os tostões". As extravagâncias eram assim limitadas, com as idas aos restaurantes confinadas a umas pizzarias e coisas desse nível.
Mas não resisti à ideia do Bill, que, esclareça-se, não era um convite, era um jantar "a meias", que ele reservaria. Avisou que teríamos uma surpresa. O repasto era num primeiro andar frente ao Studenterlunden (não, não era o Annenetagen ou o Theatercaféen - para os conhecedores de Oslo). Sentámo-nos e ele revelou-nos a surpresa: tinha decidido pedir um "vinho português". Fiquei siderado! De facto, ao tempo, nunca havia visto qualquer vinho português nas cartas dos restaurantes norugueses, se bem que três ou quatro marcas estivessem à venda no Vinmonopolet - para quem não saiba, na Noruega, tal como na Suécia, as bebidas alcoólicas com graduação acima da cerveja são vendidas exclusivamente em lojas de um monopólio do Estado, a preços altamente marcados pelos impostos.
Fiquei satisfeito pelo gesto do Bill, claro. Um jantar com vinho do meu país! E estava curioso em saber o que aí viria. Não demorou muito: chegaram garrafas de... Mateus Rosé! Na realidade, era um produto nacional, mas eu nunca o "vira" como um vinho português. Com um sorriso que imagino amarelo, agradeci o gesto e lá acompanhámos a refeição, uma carne de rena, que era o "pão-nosso-de-cada-dia" da gastronomia local, com aquele produto. É que, para além de eu não apreciar "Mateus Rosé" (estou no meu direito, não estou?), de entender ser uma bebida pouco adequada para acompanhar uma refeição, o preço de cada garrafa era estratosférico, para a minha bolsa. Ah! Só que, sendo um produto português, eu tinha de dizer bem dele, claro.
Anos mais tarde, ouvi um colega espanhol numa diatribe contra a música de Julio Iglésias, que achava delicodice e para gostos parolos. Alguém, no grupo em que estávamos, lhe fez notar que era um pouco chocante ouvir de um diplomata espanhol propósitos de denegrimento de um dos mais bem sucedidos "produtos de exportação" do seu país. Eu concordei e disse-lhe: "Faz como eu faço com o Mateus Rosé: promovo e até sirvo em casa, mas não consumo..."
sábado, dezembro 17, 2016
Encontro de culturas
Anuncia-se o fecho da "Cornucópia" e logo acorrem as hostes dos poderes, do presidente da República ao ministro da Cultura, a dar notas de pena e acenar com notas de subsídio, para não deixar cair os atores que tantas alegrias proporcionavam a quem por ali ia.
Concretiza-se o fecho do "Elefante Branco" e nem um diretor-geral ou um secretário de Estado se fizeram presentes, a dar uma mão cheia de notas de carinho às dotadas jovens que, com paralela dedicação, tantas noites boas prodigalizaram a quem ali as procurava.
São públicos diferentes? Talvez. Mas quantas "Cornucópias" familiares não terá provocado o "Elefante Branco"?
sexta-feira, dezembro 16, 2016
Brasil, Brasil
O Brasil atravessa um
momento único, regenerador mas perigoso.
Uma tensão política
potenciada por um mau momento da economia e por um sentimento popular de
revolta contra iniquidades do sistema, desencadeou uma crise institucional de
inimagináveis proporções, que levou ao afastamento da principal figura do
Estado.
Três constatações,
entretanto, se impuseram: as liberdades públicas nunca estiveram em risco, a
arquitetura institucional foi preservada e os mecanismos de justiça, que
ganharam força quando os outros poderes se fragilizaram, acabaram por se
autonomizar. Este último facto, contudo, pode revelar-se de certo modo inconforme
com o próprio sistema político.
Porquê? Porque era, e
é, um segredo de Polichinelo que a máquina política brasileira, do nível local
ao federal, vive marcada por uma cultura comportamental à margem da letra das
leis, no tocante ao financiamento da atividade dos agentes políticos.
Num primeiro tempo, a
luta contra a corrupção, levada a cabo pelo aparelho de justiça e que havia
ganho forte legitimidade popular para agir, pareceu relativamente compatível
com o interesse imediato de quem tinha como estratégia a reversão dos
equilíbrios políticos prevalecentes, em sintonia com um sentimento popular que
um sufrágio posterior confortou.
Num segundo tempo,
porém, ao partir da ação anti-corrupção para o terreno do financiamento dos
agentes políticos e das suas atividades, que indubitavelmente se constata
estar-lhe ligado, a mão da justiça passa a confrontar-se com a essência do
próprio sistema. Mais: a sensação que fica é de que, se essa ação se aprofundar
muito por essa mesma pista, o universo dos agentes políticos é de tal modo
atingido que é a sobrevivência do próprio sistema que começa a ser questionada.
A onda salvífica da
democracia potenciada pelo exercício de liberdade da justiça pode, assim, vir a
redundar em impactos que se situam muito para além da capacidade de auto-regeneração
do sistema.
Um conluio político-partidário, para uma operação de obstrução ou definição
de uma « linha vermelha » limite para a ação judicial, não é de
excluir, dado o caráter devastador, em matéria de efeitos, a que o atual
processo de « delação premiada » pode conduzir. Resta saber se isso será
compatível com a atenção escandalizada das ruas.
Para alguns, só uma
relegitimação eleitoral surge como solução. Subsiste, contudo,
uma imensa contradição: para tal, seria necessária a mobilização de
quantos veriam o seu modelo de existência política posto em causa, ou em dúvida,
por esse mesmo exercício. E não é evidente que o masoquismo ou o suicídio venham
a prevalecer.
Não está fácil o Brasil, nos dias que correm.
Soares
Por muitos anos, Mário Soares era um nome que surgia nas referências da oposição democrática à ditadura. Vi-o fisicamente, creio que pela primeira vez, em 1969, à porta da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, numa noite em que o então líder da oposição socialista pretendia aí fazer uma "sessão de esclarecimento". A polícia proibiu o "ajuntamento" e ouvi Soares, com voz forte e indignada, a contestar a decisão diante do famigerado capitão Maltez, antes deste ter ordenado a dispersão daquelas dezenas de pessoas, "por ordem do governo". Lembro-me bem de Soares perguntar, jocoso: "E que ministro é que deu a ordem? O da Agricultura?". Um grande jarrão à entrada de um vizinho restaurante chinês, atrás do qual me refugiei com uma amiga, ia sendo a vítima colateral da subsequente fuga dos circunstantes.
Ainda iria cruzar Soares, nesse ano, em duas outras reuniões da oposição. Eu estava então noutra onda, longe das suas ideias, mas apreciava-lhe a coragem e a determinação políticas. Depois das "eleições" de outubro desse mesmo ano, em que Soares e os seus amigos socialistas tiveram um resultado bastante fraco, ele saiu do país e iria ser obrigado a permanecer no estrangeiro, sob pena de ser preso, se regressasse. Só cá chegaria em 29 de abril de 1974.
Nunca falei com o ministro ou o primeiro-ministro Mário Soares. Mas recebi-o na Noruega, como líder da oposição, em 1980. Passariam 13 anos até voltar a encontrá-lo. Foi em 1993, em Londres, na nossa embaixada, aquando da sua visita de Estado, como presidente da República. Falámos então bastante de episódios da luta contra a ditadura e dos muitos amigos comuns. Criámos, a partir daí, uma relação de simpatia, que nunca mais se perdeu.
Em outubro de 1995, Mário Soares empossou-me como membro do governo e, poucos dias depois, acompanhei-o a Israel e à Palestina, escassas semanas antes dele abandonar Belém. Lembro-me de uma frase que então me disse: "Sabe que, em 10 anos como presidente, esta é a primeira e a última vez vez que sou acompanhado, numa visita oficial ao estrangeiro, por um membro de um governo da minha família política?" Era verdade. Estávamos ambos com Arafat quando o primeiro-ministro Rabin, com quem tínhamos almoçado horas antes, foi assassinado. E fomos ambos representar Portugal no seu funeral.
Convivi depois bastante com Mário Soares. Prefaciou e apresentou um livro meu. Tive a sua solidariedade em horas difíceis. Integrei a "comissão de honra" da sua frustrada terceira candidatura à Presidência da República, em 2006, que achei inconveniente mas que entendi ter o dever moral de acompanhar. Andei com ele pelo mundo, de Oslo a Gaza, de Estrasburgo a Roma, de Londres ao Cairo, de Brasília a Paris. Tivemos muitas e longas horas de conversa - sobre pessoas, factos e ideias. Nem sempre concordei com Mário Soares, mas não me custa admitir que ele teve razão muitas mais vezes do que eu.
Gres
É uma estrutura, dirigida pelo professor Nelson Lourenço, que trabalha no âmbito da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. O logo explica o essencial do que ela é.
Não somos muitos, mas julgo que somos suficientes para levar a cabo um trabalho a que, desde há alguns meses, lançámos mãos e em que temos perdido/ganho bastantes horas. Algo que pode ser relevante para o interesse nacional, única motivação que nos junta - académicos, militares, diplomatas e outras valências especializadas.
Quando houver mais novidades, direi.
Não somos muitos, mas julgo que somos suficientes para levar a cabo um trabalho a que, desde há alguns meses, lançámos mãos e em que temos perdido/ganho bastantes horas. Algo que pode ser relevante para o interesse nacional, única motivação que nos junta - académicos, militares, diplomatas e outras valências especializadas.
Quando houver mais novidades, direi.
quinta-feira, dezembro 15, 2016
Uma história com Mário Soares
Foi no Brasil. Mário Soares tinha sido convidado para fazer uma palestra, num determinado contexto. Quando fui buscá-lo ao aeroporto, e tendo-me ele perguntado o que é que eu pensava da entidade que o convidara, coloquei sobre ela algumas reticências e, com franqueza, disse-lhe que, se acaso me tivesse perguntado antecipadamente, eu tê-lo-ia aconselhado a não ter aceitado tê-la como anfitrião.
"Ó diabo! Se o meu amigo me diz isso, fico preocupado!". Disse-lhe que, agora, nada havia a fazer. Tinha de gerir-se, com cuidado, a sua participação no evento e procurar controlar o aproveitamento que pudesse vir a ser feito da sua presença, em especial evitar fotografias com algumas pessoas eventualmente pouco recomendáveis.
Contrariamente ao que era seu hábito - Mário Soares, quando viajava, não gostava de ficar em embaixadas -, tive o gosto de, nessa vez, poder alojá-lo na residência oficial portuguesa. Conversámos longamente pela noite dentro, como sempre fazíamos, comigo a beneficiar da sua prodigiosa memória e perspicácia analítica, das pessoas e dos factos.
No dia seguinte, acompanhei-o ao evento. À porta, a recebê-lo, estava uma delegação que, para minha surpresa, incluía um cidadão que se apresentou como português. Mário Soares deu mostras de o conhecer, mas pareceu-me também surpreendido com a sua presença. Eu é que não sabia quem ele era, embora a fisionomia me dissesse vagamente algo. A ocasião não se proporcionou para eu perguntar a Soares sobre a personagem, cujo nome, contudo, nada me dizia.
Acabado o evento, o tal português "colou-se" a nós. Ao perguntar-me onde Soares jantava nessa noite, respondi-lhe que seria na embaixada, com outras pessoas, e fiz uma leve menção de saber se ele estaria disponível para se nos juntar. Foi nessa altura que senti o meu casaco a ser puxado para baixo. Era Mário Soares, a dar-me um sinal, claramente para evitar que eu concluísse o convite ao homem. Rodeei o assunto e entrámos os dois no carro.
"Sabe quem é este tipo, não sabe?", perguntou-me Soares. Disse-lhe que o nome e a cara me não diziam nada. "Pois não! Ele cortou a barba e passou a utilizar outro nome!". Tratava-se de uma figura envolvida num escândalo de corrupção ou coisa similar, com bastante exposição mediática em Portugal, que optara por ir viver para o Brasil. Embora sobre ele, como vim a saber depois, não impendessem aparentemente questões judiciais, poderia ser algo incómodo tê-lo num jantar na embaixada, onde eu iria nessa noite homenagear Soares. Este, prudente, fora mais "rápido" do que eu a reagir ao imprevisto...
quarta-feira, dezembro 14, 2016
Petróleo & etc
O governo cancelou duas concessões de prospeção e exploração costeira de petróleo, alegando razões diversas. Manteve outras duas, mas fica no ar a ideia de que não tem, pelo tema, um apreço por aí além.
Sem prejuízo da necessidade de se preservar uma forte exigência no tocante aos critérios ambientais, espero que o Estado assuma que, no tocante aos recursos necessários para sustentar, no futuro, a nossa dependência energética, vivemos numa permanente navegação à vista, pelo que nenhuma opção é de excluir, em definitivo. Repito, nenhuma.
É muito fácil e popular sustentar opções demagógicas neste domínio, baseadas no clássico "nimby" ("not in my backyard"). Mais difícil, contudo, é ter soluções realistas, suscetíveis de apoiarem o crescimento do país, produzindo riqueza e bem estar.
Mudar de vida ou a Economia portuguesa na Globalização (II)
O segundo artigo coletivo sob o tema em epígrafe, hoje publicado pelo "Jornal de Negócios", pode ser lido aqui.
terça-feira, dezembro 13, 2016
Ai a gravata!
Ontem. Jantar no Cimas/English Bar. Aniversário de uma amiga, entre amigos. Levo gravata? "Vais ver que os homens vão de gravata!" Fui ver. Todos os homens iam de gravata? Não. Eu não ia.
Hoje. Almoço no Pabe. De trabalho. De gravata, claro. Entrei. O meu elegante interlocutor estava sem gravata.
Já não percebo nada...
Paraquerdismo autárquico
Devo ser eu quem não está com o "ar do tempo", mas devo dizer que tenho alguma dificuldade em aceitar a prática, que está a começar a tornar-se partidariamente endémica, de figuras políticas saltitarem entre municípios, para tentarem potenciar as hipóteses do seu partido ganhar mais Câmaras.
O poder local não é isto, é para ser exercido por quem está no dia a dia nas terras a que concorre, quem lhes conhece bem os problemas e as gentes. E é ridículo - e denota oportunismo - andar a saltitar de um lado para o outro. A resposta devia ser dada pelos eleitores, mas a cegueira, somada ao carneirismo político, é muita.
(Sei que alguns amigos não vão gostar do que acabo de escrever, mas é vida!, como costumava dizer um outro amigo que ontem mudou a sua)
Olhar o Mundo
Já pode ser visto no RTP Play o último programa "Olhar o Mundo" onde, com António Mateus, converso sobre o momento da Europa, para além de notas sobre a sucessão política em Angola, a surpresa da demissão do primeiro-ministro neo-zelandês, a crise político-institucional que se vive no Brasil, a atribuição do Prémio Nobel da Paz ao presidente colombiano José Manuel Santos, a demissão da presidente da Coreia do Sul, a tomada de posse de António Guterres como secretário-geral da ONU, o reacender da conflitualidade na República Popular do Congo, as surpresas de Trump em matéria de política externa, o caminho autoritário da Turquia e, finalmente, o problema do pedido de levantamento da imunidade diplomática aos filhos do embaixador do Iraque.
Pensar Portugal
Ao tempo em que ainda vivia em Paris, fui convidado por Miguel Lobo Antunes, diretor da Culturgest, a integrar, quando regressasse definitivamente a Portugal, um grupo que se dedicava a refletir sobre a sociedade portuguesa e o seu futuro. O objetivo do grupo era exclusivamente esse: pensar de forma aberta, sem qualquer espartilho político-partidário, alguns problemas centrais do país, dando especial atenção aos constrangimentos ao seu crescimento, quer na área económica quer na estrutura do Estado, agregando para tal as contribuiçōes externas tidas por interessantes.
À época, para além do próprio Miguel Lobo Antunes, compunham o grupo Fernando Bello, João Ferreira do Amaral, João Salgueiro e José Manuel Felix-Ribeiro. Com o tempo, juntaram-se-nos João Costa Pinto, Lino Fernandes e Júlio Castro Caldas.
Para além de vários debates organizados na Culturgest, abertos ao público, onde intervieram deputados europeus e muitas outras personalidades, o grupo produziu documentos, que vieram a ser publicados na imprensa, com contributos que, frequentemente, refletiram o saldo de audições feitas a diversos especialistas, num espetro de opiniões sempre muito alargado. Todos os documentos produzidos pelo grupo podem ser consultados no blogue Pensar Portugal (www.pensarportugal2016.blogspot.com).
Hoje, o "Jornal de Negócios" publica o primeiro de dois novos textos do grupo, subordinados ao tema "Mudar de Vida ou a Economia portuguesa na Globalização". Esse primeiro texto pode ser consultado aqui.
E agora, António?
António Guterres foi ontem entronizado como novo secretário-geral das Nações Unidas, cargo em que assumirá funções no primeiro dia de 2017. É o cume da carreira extraordinária deste engenheiro eletrotécnico que, sem nunca ter sido secretário de Estado ou ministro, chegou um dia à chefia do governo em Portugal, onde ficou por mais de seis anos.
Oriundo de famílias de meios limitados, estudante sem mácula, profissional de excelência no Gabinete da Área de Sines, Guterres é talvez a prova de que a meritocracia funciona, em Portugal, mais vezes do que se pensa. Militante católico fervoroso, humanista por vocação, dialogante por convicção, procurou transmitir na sua governação um choque de modernidade à sociedade portuguesa, conduzindo habilmente o país no plano europeu e internacional. Um dia, sob o cansaço do impasse político, cumulado por questões familiares, pôs fim definitivo à experiência política nacional, a que se dedicara por décadas.
Remeteu-se a partir de então à dignidade de um quase inquebrantável silêncio e, com o empenhamento total que está nos seus genes, enveredou por uma desafiante experiência internacional, numa área que casava bem com as suas preocupações sociais. Teve sucesso, ganhou prestígio e, aproveitando muito bem uma conjuntura que acabou por sorrir-lhe, viu as suas raras qualidades reconhecidas, na escolha para o lugar mais relevante na maquinaria internacional para a defesa da paz e da segurança.
Guterres chega à ONU num momento muito complexo. A potência que um dia estimulou o desenho da ordem internacional que tem as Nações Unidas no seu centro acaba de eleger, para a chefiar, a pessoa menos propensa a aceitar uma ordem global equilibrada e solidária. Ao "America first" somam-se uma Rússia em pleno curso de recuperação estratégica da humilhação da Guerra Fria, uma China que vive um tempo de afirmação política para sustentar o seu crescente peso económico, um projeto europeu declinante, dividido e sem entusiasmo, que vive um dia-a-dia de mera sobrevivência, com o risco de crise ao virar da esquina. O Médio Oriente está inflamado como nunca nas suas tensões, com efeitos colaterais que desestabilizam largos espaços geopolíticos. A pobreza e a desigualdade continuam a marcar várias regiões do mundo e a liberalização comercial global está em claro refluxo, com o nacionalismo protecionista a ganhar um novo ciclo de popularidade. O mundo está perigoso.
A fé move montanhas, diz-se. Não será por falta dela que esta nova montanha em frente de António Guterres se não moverá.
segunda-feira, dezembro 12, 2016
Camisola
Não consegui, até hoje, convencer a família de que, a minha prenda de Natal ideal seria uma destas camisolas brancas de alças, sem mangas, que, em matéria de elegância e distinção, disputam com os fatos-de-treino com que alguns se passeiam pelos centros comerciais. A dúvida sobre se isso terá de ser complementado por um cordão de ouro e por uma discreta tatuagem permanece, contudo.
Benfica - Sporting
O Benfica ganhou ao Sporting. Parabéns aos benfiquistas. Não escandaliza a vitória do Benfica, embora o Sporting tivesse, a meu ver, jogado de uma forma em que a sua vitória não seria um resultado injusto. Serve isto para dizer que entendo que o empate teria sido o desfecho mais natural. Não foi assim, o Benfica foi mais eficaz, mais oportuno e, por isso, um vencedor sem contestação. Ponto.
domingo, dezembro 11, 2016
Blogues
Eu que escrevo este blogue com teimosa regularidade diária, desde há quase oito anos, e que não me posso queixar de falta de leitores, estou contudo a criar a ideia de que o tempo dos blogues "já era", que o Twitter, o Instagram e o Facebook, pela sua instantaneidade, prevalecem hoje no "mercado" informático.
Talvez esta minha perceção derive do facto de, enquanto leitor, ter praticamente deixado de visitar blogues, ao contrário do que fazia no passado - em que "corria" uma dezenas desses "sites", logo ao abrir o dia. Nos dias que correm, se passo por uma meia dúzia de blogues por semana, já será muito.
Será assim? Os blogues estão a passar de moda?
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