sexta-feira, julho 25, 2025

"Janela Global"


Hoje, sexta-feira, 25 de julho, às 23.30, na RTP 3, converso com Márcia Rodrigues, no "Janela Global".

Falamos de Gaza e da sua tragédia, do anúncio de Macron face à Palestina, da Europa e da sua cacofonia, dos Estados Unidos com as atribulações de Trump, mas também de Lula da Silva e do estado da arte na CPLP. Além de algumas outras coisas.

Um adeus

Fomos hoje dizer adeus a uma amiga. Não era uma amiga antiga. Há uma década, mal tínhamos falado. Depois, o tempo e a vida fizeram o resto - a simpatia, a proximidade, a afetividade. Uma vez mais confirmei que há amizades tardias tão boas como as mais antigas.

quinta-feira, julho 24, 2025

Carlos Branco

A minha leitura do mundo não coincide, em alguns aspetos, com a do general Carlos Branco. Conheço-o há muitos anos, prefaciei-lhe um livro e com ele colaborei em duas obras coletivas. Não sei o que se passou na CNN. Sei que o canal perde em pluralidade com a sua decisão de sair.

No banco

Como português, desejo sinceramente que o novo governador do Banco de Portugal tenha sucesso e um mandato à altura do prestígio do seu antecessor. Contudo, quanto à sua independência política, estamos conversados: integrou o governo mais à direita desde o derrube da ditadura.

Conselho Estratégico

Aceitei com gosto o convite que me foi pessoalmente formulado pelo Secretário-Geral do Partido Socialista, José Luís Carneiro, para integrar o Conselho Estratégico que criou, para refletir sobre o futuro do país e a contribuição que os socialistas podem dar para desenhar uma alternativa à atual governação.

Nunca na vida tive a menor dúvida de que é na esquerda e no socialismo, que aliás não se esgotam no PS, que continua a estar aquela que sempre foi a "minha gente". 

Por isso, apetece-me repetir aqui este lapidar texto de Nuno Brederode Santos




... a nossa (salvo seja) e algum PS

Em Portugal, com uma extrema-direita cavernícola, a atual direita repete-lhe o essencial do discurso, embora lhe retire os adjetivos mais alarves. Algum PS também acha que democracia equivale a representar preconceitos e esquece as lições de Soares, Sampaio e Guterres.

A direita francesa...

Desde Sarkozy, a direita francesa (arrumado que foi o "détaille" do pai Le Pen) vive na ânsia de mimetizar a extrema-direita no dossiê migração-segurança, sem lhe herdar o rótulo. Por isso, ocupar o Ministério do Interior é uma velha obsessão para os que tentam chegar ao Eliseu.

RTP

O desconhecimento é parceiro da má fé. Quando se fala da privatização da RTP, ninguém diz que são 19 serviços de televisão, rádio e streaming, único meio de difusão onde intérpretes de música clássica podem ser ouvidos, onde passam séries excelentes que nenhuma privada exibe, etc

quarta-feira, julho 23, 2025

... e assim acontece!


Foi perto do Arco do Carvalhão, num acesso esconso à A5, há minutos. Há por ali uma caixa de eletricidade. Sobre ela, estavam quatro volumes da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. 

Eu ia a guiar, vi a cena em segundos. E pensei: o que terá levado alguém a desfazer-se assim da obra? Estaria completa? Teriam lá estado os outros 36 volumes? E as atualizações? Quem levou os restantes volumes (se é que lá estiveram), que critério usou na sua escolha? Começou pelo A? E, a bem dizer, o que é que isto interessa? 

Chegado a casa, olhei a minha enciclopédia na estante e não tive coragem de lhe contar o que vira.

terça-feira, julho 22, 2025

Centeno


Um forte abraço a Mário Centeno. 

Não consegui, até ao momento, encontrar uma fotografia do cidadão português que, no futuro, irá ser eleito pelos ministros das Finanças do Eurogrupo para seu presidente.

segunda-feira, julho 21, 2025

Sexualidade fora da cidadania


O luso-trumpismo tem a graça de ser saloiamente cavernícola.

Náufragos em terra


Agora mesmo, parado há horas num Alfa Pendular, "in the middle of nowhere", a caminho de Lisboa, lembrei-me da saga de Steinbeck no "Náufragos do autocarro", mas a verdade é que não vislumbrei a saliência artística de Jayne Mainsfield em nenhuma das carruagens, pelo que talvez esta cena de espera nervosa acabe por ficar mais próxima do "Autoestrada do Sul", de Cortázar, no "Todos os Fogos o Fogo", adequada a quando andamos em tempo de férias e se diz ser um incêndio a causa desta infindável seca, pelo que logo me fui precavendo no bar, com sanduiches e uma Superbock, assim acabando por não passar nada mal o tempo, muito também graças ao ar condicionado e à Netflix que trago no "tablet" e que já me deu mais de duas horas de diversão, só perturbada por ter tido de mandar um "pouco barulho!" a uma fulana que andava a anunciar alto, pelo corredor, que já tinha tentado queixar-se junto de um ministro amigo, o qual não lhe terá atendido o telefonema, como confessou em tom mais baixo, o que só prova que este governo, embora não pareça, ainda pode ter por lá alguma gente sensata.

Expo


Estava assim em junho de 1996. Dois anos depois, inaugurávamos a Expo 98. Ah! Pois é!

Dúvida

Uma dúvida é legítima: a hesitação europeia em retaliar à altura da provocação tarifária de Trump deve-se apenas à cumulação de objeções nacionais que impedem uma decisão ou (é ainda) à chantagem sobre o apoio militar à Ucrânia?

Coimbra B

Se já não existe outra estação, por que diabo a CP teima em chamar "Coimbra B" à única estação existente em Coimbra?

domingo, julho 20, 2025

Tremores e temores


Um dia, há mais de 30 anos, cruzei-me num corredor da OCDE, em Paris, com um diplomata islandês com quem, em outras reuniões, tinha estabelecido uma boa relação. Não guardei o seu nome, mas tenho ideia de ser uma das figuras mais prestigiadas da diplomacia do seu país. Era embaixador em Paris e fora secretário-geral do seu ministério dos Estrangeiros - lugar de topo da respetiva carreira diplomática. Com uma estrutura pequena em termos de relações externas, a Islândia apostava em profissionais muito qualificados. Esse era claramente um dos casos.

Na conversa, o homem inquiriu: "Então o meu amigo recusou o convite que eu lhe tinha feito para ir a Reikjavik, para consultas sobre temas europeus?! Lembra-se que, há uns meses, em Estrasburgo, à margem de uma reunião do Conselho da Europa, tinha acedido a ir?" Lembrava-me do convite, mas não recordava ter recusado. Ao que parece, haveria uma carta do meu gabinete nesse sentido.

Chegado a Lisboa, fui ver o que se tinha passado. Lá estava a cópia da carta e a minha resposta negativa, através de uma comunicação do meu chefe de gabinete. 

O Miguel Almeida e Sousa, um excelente diplomata que tinha servido no gabinete de Cavaco Silva e que, para surpresa (e até escândalo) de muita gente, convidei para meu chefe de gabinete no primeiro governo de António Guterres, explicou: "A sua agenda estava muito cheia, a Islândia é longe, implica perder quase quatro dias e havia outras coisas prioritárias. Disse-lhes que, para o ano, pensaríamos na viagem". 

A justificação tinha alguma lógica, porque, de facto, a minha vida, em termos de compromissos externos, era, por esse tempo, muitíssimo complicada. E o Miguel, que muitas vezes me acompanhava nas viagens, tinha essa cuidada gestão a seu cargo. E eu dava-lhe imensa liberdade para decidir. 

Mas um ligeiro sorriso na sua cara fez-me pressentir que haveria por ali algo mais. "Foi só por isso que recusou a viagem?" A cara do Miguel abriu-se: "Foi também pelos tremores de terra! Parece que aquilo treme a toda a hora. E os vulcões estão sempre a rebentar!". Vim a constatar, nesse instante, que ele era um "empanicado" com esse tipo de eventos naturais e que, por tabela, me tinha querido "proteger". E acabei por nunca ir à Islândia como secretário de Estado.

Fui lá esta semana, agora como turista. Não senti nenhum tremor de terra mas, de facto, vi ao longe este vulcão em atividade (a fotografia não é minha). Coisa que, creio, o Miguel nunca viu em parte alguma. E imagino que não deva ter pena.

José Blanco


Morreu José Blanco. Era uma figura amável, um homem de cultura, sendo por muito tempo administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, com ação relevante no Grémio Literário. 

Alguns talvez desconheçam a grande influência que teve na feitura do "Portugal e o Futuro", de António de Spínola, ao tempo em que, como militar, trabalhou na Guiné com o general de monóculo.

Os meus sentimentos à sua família.

CPL quê?


A CPLP existe pelo "P" final - a língua do colonizador, que os ex-colonizados entenderam útil usar como potenciador da sua expressão internacional, como sinergia de alguns interesses identificados como comuns. 

A CPLP tem, como cimento e pano de fundo, uma afetividade humana que o tempo e a diluição de alguns agravos históricos foi consagrando, no seio de um grupo em que o ex-colonizador não era excessivamente forte e impositivo. 

A organização baseou-se num conjunto de princípios que, na sua fundação, foram aceite por todos com leituras intimamente diferenciadas, mas que eram promovidos pelo politicamente correto internacional que, à época, fazia escola e parecia ir permanecer no "ar do tempo", do qual ninguém formalmente ousava afastar-se.

Agora, num tempo de nova Guerra Fria, é da mais elementar prudência não testar excessivamente os limites do consenso dentro da organização e procurar deixá-la sobreviver num registo de mínimos, à espera de melhores dias.

Uma nota: isto não é um recado apenas para o governo português.

sábado, julho 19, 2025

O papagaio-do-mar e eu


Em regra, o papagaio-do-mar é dificil de observar de perto. Aparece em lugares remotos em alguns escassos meses do ano. Ontem vi e fotografei um. Olhou-me de lado, o magano! E, embora não sendo um fatalista, concluí: foi esta a última vez que vi o papagaio-do-mar. De facto, sendo eu muito pouco dado a viagens por sítios bizarros (às vezes, acontece-me, como agora) a probabilidade de voltar a ver aquela ave é nula. É triste concluir isto? Nada. Há muito mais vida para além do papagaio-do-mar!

sexta-feira, julho 18, 2025

quinta-feira, julho 17, 2025

Centenário



A minha terra, Vila Real, deixou de ser vila há precisamente 100 anos. Em 1925, passou a ter estatuto de cidade. 

Para comemorar essa efeméride, foram distinguidas com a Medalha do Centenário algumas entidades coletivas representativas da cidade, bem com cerca de três dezenas personalidades locais que se terão destacado ao longo dos últimos 100 anos.

Fico muito honrado pelo facto de ter sido escolhido para integrar os galardoados, gesto que muito agradeço ao Município de Vila Real, na pessoa do seu presidente, Dr. Alexandre Favaios.

A circunstância de estar fora do país impediu-me de estar presente no ato de entrega do galardão, que hoje teve lugar no Palácio de Mateus.

Sempre os mesmos

Há cerca de três anos, ouvia-se: "Há o risco do PS 'mexicanizar' o regime, ficando no poder eternamente". Agora, ouve-se: "O PS está numa crise existencial. Pode mesmo acabar". A voz é sempre a mesma: a direita, velha e relha. Ah! E a História do "fim do socialismo" já tem barbas...

Ver e o resto


Há quem goste de ver géiseres ou de ver passar os ciclistas e há quem viva para fotografar as coisas. Estamos assim.

quarta-feira, julho 16, 2025

Ser socialista

O Partido Socialista tem de saber dizer, alto e bom som, ao autarca que o representa em Loures que dizer-se socialista não é um rótulo de oportunidade, é a responsabilidade de sempre assumir um comportamento humanista, sem deixar que a ânsia da vitória o arraste na demagogia populista.

É feriar, minha gente!

O julgamento de José Sócrates foi interrompido pelas férias judiciais de Verão (é que há outras): de 15 de julho a 31 de agosto. É verdade! Mês e meio! E, no passado, já foram dois meses! 

Dou um doce virtual a quem se lembrar do nome de quem decidiu reduzir aquelas férias, concitando a ira dos magistrados.

O Doutor Homem



Hoje à tarde, António Sousa Homem lança um novo livro. Dizem-me que não tenciona sair do seu eremitério do Moledo para estar na apresentação. Se mesmo uma visita a Viana há muito o não tenta, muito menos se disporá a ir a Lisboa! É pena, tenho uma amiga que há muito gostaria de conhecê-lo.

Francisco José Viegas, acompanhado por dois distintos comparsas, fará a honra das novas páginas. Não podendo estar presente, só posso desejar uma boa sessão.

Há pouco, aqui na Islândia, estava a comentar o evento com quem me acompanha quando alguém, da mesa ao lado, se saiu com isto: "Verður til útgáfa á okkar tungumáli?". Esclareci que não, que não haverá tradução em islandês. Mas posso estar enganado.

A "Salvação" do Álvaro


Já um dia contei por aqui esta história, mas vou repeti-la hoje, sintetizada. Logo verão a razão por que o faço.

Tive um grande amigo, bastante mais velho do que eu, chamado Álvaro, que já se foi desta vida há muitos anos. Foi uma das pessoas mais forretas que conheci - e já conheci várias, algumas refinadas. Conheço-lhe histórias deliciosas, fruto desse seu vício temperamental.

Um dia, o Álvaro telefonou-me a perguntar se eu conhecia alguém na Islândia. Ele sabia que, quando eu vivia em Oslo, tinha estado acreditado junto daquele país.

De facto, eu tinha tido contactos com o cônsul honorário português em Reykjavik e disse-lho. Ficou imensamente satisfeito e passou a relatar-me o que pretendia. Ia à Islândia, numa viagem que lhe fora oferecida por um jornal com o qual colaborava, mas estava a ter dificuldade em reservar o alojamento que pretendia. Será que o nosso cônsul podia ajudá-lo?

Para evitar ter de incomodar o nosso cônsul honorário, por um assunto tão fútil, disse-lhe que tinha um conhecimento numa agência de viagens, que seguramente lhe trataria da reserva. O Álvaro reagiu: “Isso também eu tenho! Mas nenhuma agência consegue marcar aquilo que eu quero”. 

Que diabo de alojamento tão especial era impossível de marcar, a partir de Lisboa, num mundo onde essas coisas já se faziam, à distância, com toda a facilidade? 

O Álvaro pareceu-me um pouco embaraçado: “Bom, é que eu soube que as instalações do “Exército de Salvação” têm umas camaratas coletivas muito boas, com um preço que me ficava muito em conta. Se o nosso cônsul pudesse fazer um telefonemazito para lá..."

Nem queria acreditar! Ficar numa camarata do "Exército de Salvação”! O Álvaro era um quadro superior. E já não tinha idade nem estatuto para aquilo. Mas ele não se importava: sabia que preço da dormida era muito “jeitoso”. “Eh, pá! Não sejas chato! Pede lá isso ao homem, não te custa nada”. Não pedi, claro. E, ao que soube, o Álvaro acabou por nunca dormir nas tais camaratas. 

Hoje à noite, estando eu esta noite alojado num hotel em Reykjavik, tive uma ideia: se tiver oportunidade, vou tentar dar uma saltada à “Salvation Army Guesthouse” da cidade. Só por curiosidade. Mas já não vou a tempo de dar ao Álvaro a minha opinião.

terça-feira, julho 15, 2025

Sócrates

Alguma comunicação social começa a perceber que dar palco ao laborioso argumentário de Sócrates poderá vir a pôr em cheque o Ministério Público, entidade que, durante anos, a municiou com fugas do segredo de justiça, que ajudaram à criação do juízo prévio de culpabilidade instalado.

Um ZBB é que era!

Há um imaginativo debate orçamental em França. São apresentadas propostas de redução das despesas, não face às despesas reais anteriores mas face às despesas previsíveis se o deslizar dos gastos continuasse com a anterior tendência crescente. Estão é a precisar de um ZBB! 

A ética por um canudo

Com a inovadora escolha do seu candidato autárquico para Oeiras, o PSD de Luís Montenegro dá uma bofetada de luva laranja no seu candidato presidencial. Não deixa de ter graça.

Santa Luzia


Dormi na então Pousada de Santa Luzia, em Elvas, bastantes anos antes do seu encerramento, em 2012. Regressei lá, já como Hotel Santa Luzia, em 2015. Por coincidência, voltei a dormir lá há poucos dias, precisamente nas vésperas do seu encerramento. É a vida.

Ardisson


As figuras públicas televisivas acabam por fazer parte do nosso universo pessoal, embora não necessariamente de um modo positivo, em termos de afetividade. Thierry Ardisson, que me habituei a ver, durante anos, nos écrans televisivos franceses, nunca foi, para mim, uma figura simpática. Havia uma agressividade, por vezes desrespeitosa, na forma como aquele homem sempre de preto entrevistava e contraditava os convidados. Era, contudo, um "performer" de qualidade. E, também por isso, desgosta-me saber da sua morte.

segunda-feira, julho 14, 2025

O dia das cambalhotas

Em face da decisão de Trump de apoiar militarmente a Ucrânia, vamos ver por cá umas belas cambalhotas: os ucranófilos, aliviados, vão dizer que Trump, afinal, não é tão mau como se pensava; os russófilos, desencantados, vão poder voltar a dizer mal da América, como sempre gostaram de fazer.

"La France va-t-en-guerre"

Vale a pena estar atento ao que se vai passar em França nos próximos dias. Ontem, Macron anunciou um aumento brutal nas despesas militares, nos próximos dois orçamentos, precisamente aqueles que terão de ser aprovados até ao final do seu mandato.

O PM Bayrou tinha anunciado para o dia 15 as bases de um orçamento de extremo rigor, por forma a colocar a França - o país mais endividado da zona euro e com maior défice - numa trajetória de correção das suas mais do que degradadas contas públicas. E sem alta de impostos.

Como a quadratura do círculo não é coisa fácil, estou curioso para perceber como será possível o impossível. Desde logo, aprovar um orçamento "de rigueur" num país que salta para a rua sob qualquer pretexto social, com um parlamento em que o executivo governa em minoria.

Macron, que está com uma taxa de aceitação baixíssima, salvo nas redações de alguns jornais portugueses, adotou um estilo "va-t-en-guerre" que deve agradar imenso à indústria bélica mas é capaz de soar a novas ajudas de Estado para as bandas de Bruxelas.

E, para fechar tudo isto com chave de ouro, a França, que, em dias de "Tour de France", lidera destacadíssima o pelotão dos países com mais elevado rácio despesa pública versus PIB na Europa, irá agora isolar-se, numa fuga em frente, neste domínio.

Bayrou, cujas divergências com Macron se têm acentuado, poderá acabar por não ser o homem para esta hercúlea tarefa. Um nome que se diz que Macron poderia escolher seria Sébastien Lecornu, que é, nem mais nem menos, o ministro da Defesa. "Et pour cause..."

Gastos com Defesa


Fala-se muito do compromisso assumido pelos países da NATO de atingirem, em 2035, um gasto em matéria de defesa correspondente a 5% da riqueza (PIB) de cada Estado membro.

Se essa meta fosse aplicada hoje, isso corresponderia a 12% do Orçamento Geral do Estado.

Veja aqui a conversa que tive com Maria João Babo, Gonçalo Moura Martins e António Ramalho no Negócios online.

Bolas

E lá vi, ao fim de tarde de ontem, a abada que o Chelsea deu ao PSG! Por uma qualquer razão, salvo este jogo final, não perdi tempo com qualquer outro jogo deste torneio de verão. Achei aquilo uma organização algo artificial, feira para empochar dinheiro.

" A Arte da Guerra"


O podcast "A Arte da Guerra", emitido semanalmente pelo Jornal Económico desde o início de 2021, uma conversa de cerca de meia hora, sobre três temas internacionais, entre o jornalista António Freitas de Sousa e eu, vai agora "de merecida vilegiatura", como dizia o velho e já desaparecido jornal da minha terra, "O Vilarealense", quando anunciava a ida a banhos dos seus assinantes mais notáveis. 

Assim, pelo menos até metade de agosto, vamos deixar os nossos ouvintes em paz, isto é, deixamo-los com as guerra que por aí andam. 

sábado, julho 12, 2025

Falemos então da velhice, através de Philippe Noiret


"Il me semble qu'ils fabriquent des escaliers plus durs qu'autrefois. Les marches sont plus hautes, il y en a davantage. En tout cas, il est plus difficile de monter deux marches à la fois. Aujourd'hui, je ne peux en prendre qu'une seule.

A noter aussi les petits caractères d'imprimerie qu'ils utilisent maintenant. Les journaux s'éloignent de plus en plus de moi quand je les lis : je dois loucher pour y parvenir. L'autre jour, il m'a presque fallu sortir de la cabine téléphonique pour lire les chiffres inscrits sur les fentes à sous.

Il est ridicule de suggérer qu'une personne de mon âge ait besoin de lunettes, mais la seule autre façon pour moi de savoir les nouvelles est de me les faire lire à haute voix - ce qui ne me satisfait guère, car de nos jours les gens parlent si bas que je ne les entends pas très bien.

Tout est plus éloigné. La distance de ma maison à la gare a doublé, et ils ont ajouté une colline que je n'avais jamais remarquée avant.

En outre, les trains partent plus tôt. J'ai perdu l'habitude de courir pour les attraper, étant donné qu'ils démarrent un peu plus tôt, quand j'arrive.

Ils ne prennent pas non plus la même étoffe pour les costumes. Tous mes costumes ont tendance à rétrécir, surtout à la taille.

Leurs lacets de chaussures aussi sont plus difficiles à atteindre.

Le temps lui-même, change. Il fait froid l'hiver, les étés sont plus chauds. Je voyagerais, si cela n'était pas aussi loin. La neige est plus lourde quand j'essaie de la déblayer. Les courants d'air sont plus forts. Cela doit venir de la façon dont ils fabriquent les fenêtres aujourd'hui.

Les gens sont plus jeunes qu'ils n'étaient quand j'avais leur âge.

Je suis allé récemment à une réunion d'anciens de mon université, et j'ai été choqué de voir quels bébés ils admettent comme étudiants. Il faut reconnaître qu'ils ont l'air plus poli que nous ne l'étions ; plusieurs d'entre eux m'ont appelé monsieur ; il y en a un qui s'est offert à m'aider pour traverser la rue.

Phénomène parallèle : les gens de mon âge sont plus vieux que moi. Je me rends bien compte que ma génération approche de ce que l'on est convenu d'appeler un certain âge, mais est-ce une raison pour que mes camarades de classe avancent en trébuchant dans un état de sénilité avancée ?

Au bar de l'université, ce soir-là, j'ai rencontré un camarade. Il avait tellement changé qu'il ne m'a pas reconnu."

O Nobel do ridículo


Ver aqui.

sexta-feira, julho 11, 2025

A festa pouco alegre dos BRICS


Ver aqui.

Os parvos e os outros

Ao ver a imensidão de baixas médicas dos guardas prisionais, que hoje emulam com garbo as de muitos outros setores da função pública, lembrei-me que, em 42 anos de funcionário do Estado, devo ter "metido baixa" menos de uma dúzia de vezes. "Não tivesses sido parvo", imagino alguns a pensar.

Esquerda e direita

Não há grandes diferenças entre a esquerda e a direita? Há um século, um filósofo francês escrevia: "l’homme qui pose cette question n’est certainement pas un homme de gauche". Olhe-se a questão da privatização total da TAP é aí têm a prova provada da falsidade da ideia.

A lata

A carta de Trump a Lula, anunciando direitos aduaneiros sobre os produtos brasileiros, pelo facto da democracia brasileira estar prestes a condenar um ex-presidente golpista, vai ficar na história da infâmia diplomática. Trump tem uma imensa "vantagem": tem uma lata estanhada.

Denunciar

Há por aí quem procure aterrorizar os incautos, espalhando a ideia de que criticar as ações de Israel e defender abertamente os direitos dos palestinos equivale a ser anti-semita e até pró-terrorista. É preciso denunciar abertamente esta miserável falcatrua argumentativa. 

Desaguisado

Trump parece ter perdido a paciência com Putin. Putin terá alienado a boa vontade que Trump sempre lhe tinha dedicado. Há histórias de amizades rompidas bem mais interessantes, mas poucas com tantas consequências geopolíticas como esta. Os próximos capítulos vão ter graça.

O "espião" saído do quente


Há tempos, numa visita de trabalho a Luanda, ao olhar a baía do quarto do hotel onde estava hospedado, o meu olhar cruzou-se com aquela varanda. Era no andar de topo de um prédio não muito alto, que hoje se vê bastante degradado, num largo que dava para a 4 de fevereiro, a avenida marginal.

Nos anos 80, ali moravam uns amigos que, por vezes, nos convidavam. O dono da casa era português, a sua mulher era de uma das famílias mais conhecidas de Angola. Eram sempre ocasiões divertidas, no calor da noite, com música, grandes conversas, a comida e a bebida que podia haver, com a fantástica generosidade dos angolanos como pano de fundo.

Os tempos não iam fáceis para as relações políticas entre Portugal e Angola, mas tenho a sensação, vistas as coisas à distância, que a nossa qualidade de diplomatas portugueses nunca foi minimamente inibitória a que circulássemos pelas casas dos muitos angolanos que íamos conhecendo. Criámos nesses anos excelentes amizades, algumas que ainda perduram bem sólidas, mais de quatro décadas passadas. Como é aliás o caso das pessoas que então habitavam naquela casa.

Nesse tempo de guerra civil em Angola, cabiam-me, na nossa embaixada em Luanda, entre outras, tarefas de informação político-militar. Perceber as relações de poder no seio da classe dirigente angolana, tentar identificar e avaliar a força relativa das várias personalidades e das principais alas políticas, acompanhar a evolução do conflito então em curso - tudo isso fazia parte das minhas tarefas. E era um trabalho fascinante.

Um diplomata não é um espião, no sentido técnico do termo. Não usa fontes clandestinas, não paga informação, não anda atrás de segredos de Estado. Eu não cometia a menor ilegalidade e comportava-me sempre na escrupulosa observância dos limites impostos pela Convenção de Viena, essa "magna carta" a que a diplomacia tem de se subordinar. Conversava com muita gente, lia toda a informação "aberta" disponível, ouvia e tentava interpretar o que me chegava, por forma a procurar informar o meu governo, independentemente da cor política que prevalecesse em Lisboa, que vai variando com os humores do voto.

Na Luanda de então, quem comigo falava, tal como com os restantes colegas da embaixada, sabia do nosso interesse em andar bem informados. As outras embaixadas, em especial ocidentais, alimentavam o mito de que nós, portugueses, "sabíamos tudo". Não sabíamos, embora, em regra, soubéssemos bastante mais do que eles e, em especial, tivéssemos um quadro interpretativo dos factos que sempre me pareceu bastante mais eficaz do que o seu.

Contudo, muitas das vezes, ao falar com os meus interlocutores locais, dava-me conta de estar a receber informação errada, quer isso fosse feito deliberadamente para nos confundir, quer pelo interesse de alguns de se vangloriarem de conhecimentos que, afinal, não tinham. É da vida dos círculos diplomáticos, em toda a parte do mundo, que as coisas assim sejam. É sempre necessário contar com isso, no esforço para decantar a verdade.

No fundo, acabava por ser um jogo amigável, tanto mais que, estando Portugal e Angola, à época, um pouco "de candeias às avessas", pela liberdade de que a Unita então usufruía em Portugal e que desagradava muito ao governo angolano, isso não significava que, a prazo, estivéssemos necessariamente em rota de séria colisão. Como o tempo, aliás, veio a provar à saciedade.

Numa das noites passadas naquela varanda, num fim de semana, calhou na minha mesa um militar angolano muito bem colocado na máquina de guerra. Mesmo sem ser estimulado a revelações, foi-se abrindo sobre a evolução do conflito. Parecia estar propositadamente a ser loquaz. Ele sabia perfeitamente quem eu era e que o que me dissesse iria chegar às autoridades portuguesas. Eu ia colocando algumas questões e ele ia respondendo à minha curiosidade. Não eram segredos de Estado, mas o que ele dizia era muito mais significativo do que o que ouvíamos no discurso oficial. Eu estava muito atento e interessado naquela conversa.

Em Luanda, por esse tempo, em especial nos fins de semana, bebia-se bastante. Nessa noite, eu não estava a ser uma exceção. Por isso, tinha a noção de que as preciosidades informativas a que estava a ter um casual acesso não se estavam a fixar na minha cabeça com o rigor necessário.

Chegado a casa, no início da madrugada, procurei colocar no papel aquilo que de relevante recordava da conversa com o importante militar - dados que, pela fonte de onde provinham, tinham mais credibilidade e, daí, maior interesse para Lisboa. Rabisquei umas folhas de papel, na expetativa de poder delas vir depois a extrair um belo "telegrama", como a linguagem diplomática chama à correspondência entre os postos no exterior e as capitais. E fui-me deitar.

No dia seguinte, já sóbrio para trabalhar, olhei o que tinha escrito na véspera e constatei que percebia muito pouco do que tinha registado, sob alguma influência do álcool. Até eu tinha dificuldade de entender a minha letra, além de que algumas coisas não jogavam bem com as outras. Fiquei furioso comigo mesmo. Ainda repesquei algumas frases, mas tudo ficou muito distante da riqueza da conversa da noite anterior. O tal telegrama não ficou a obra-prima que eu pensara.

O militar que foi meu interlocutor nessa noite veio a ter uma carreira de enorme relevo. Nunca mais nos cruzámos. Já várias vezes pensei que, se acaso isso tivesse acontecido, teria coragem para lhe contar o que agora aqui revelo. Mas também pensei que ele me poderia vir a responder que, naquela noite, tinha tido o cuidado de me passar informação falsa ou orientada, aquilo a que, na linguagem desse mundo de sombras da "intelligence", na expressão clássica russa, se chama "dezinformatsyia". E ficávamos quites.

quinta-feira, julho 10, 2025

Embaixadores & políticos

Historicamente, a representação externa dos Estados começou por ser provida por personalidades da confiança do soberano, oriundas da aristocracia. Com os novos tempos e a multiplicação das embaixadas, o serviço diplomático profissionalizou-se. Foram progressivamente criados, em todo o mundo, quadros especializados de serviço público, para assegurar a continuidade da representação do Estado, independentemente dos ciclos políticos. Os embaixadores passaram, em regra, a ser escolhidos dentre os diplomatas profissionais mais qualificados. 

Alguns países, porém, continuaram a manter a prática de designar, para a chefia de certos postos, figuras exteriores às respetivas carreiras diplomáticas. Em geral, as ditaduras e regimes mais ou menos autoritários abusam desta prática, que também foi corrente em regimes presidencialistas (mas, por exemplo, quase já deixou de o ser no Brasil ou em França, nos dias de hoje). Um país como os EUA persiste e coloca, com regularidade, na chefia de muitas das suas embaixadas, figuras ligadas ao financiamento das campanhas que estiveram na base da eleição do presidente. Bem assessoradas, claro está, por competentes profissionais da diplomacia, porque se não dispensa quem "sabe da poda"...

Em Portugal, a Primeira República e o Estado Novo escolheram várias personalidades políticas e sociais para a chefia das principais missões diplomáticas, as quais, aliás, eram então muito poucas. Esta prática não viria a desaparecer por completo com o 25 de abril. Com vários pretextos, diversos governos colocaram figuras que lhes eram afetas em algumas embaixadas. Desde a Revolução, nos últimos 44 anos, com justificações de oportunidade, inicialmente ligadas à consolidação dos novos tempos políticos (que já lá vão!), a diplomacia portuguesa veio a albergar uma trintena de "embaixadores políticos", mais notoriamente em postos multilaterais. Os parisienses OCDE e UNESCO foram os mais escolhidos.

Na nossa história democrática recente, alguns desses "embaixadores” serviram num posto e, depois, saíram – quase sempre, após uma rotação governativa, como está na natureza precária da sua nomeação, feita por confiança política. Outros acabaram por rodar entre vários postos, usufruindo de uma legislação que lhes permitiu passar a integrar o quadro dos embaixadores profissionais de carreira. Desde há uns anos, vive-se um tempo diferente: não existe nenhum "embaixador político" na diplomacia portuguesa. 

O concurso de acesso à carreira diplomática é o mais exigente de toda a Administração Pública portuguesa. Os funcionários que integram essa carreira fazem um percurso variado, em Portugal e em postos no estrangeiro. As tarefas diplomáticas aprendem-se com tempo e maturação, os comportamentos apuram-se, as pessoas são testadas em diversos cenários geográficos e perante situações muito diversas. Ao final de cerca de duas dezenas de anos, a alguns, mas não a todos, é dada a possibilidade de chefiarem, primeiro missões mais pequenas e menos relevantes e, se nelas derem as devidas provas, seguem-se postos mais importantes. A diplomacia profissional portuguesa é regular objeto de reconhecimento público, quase generalizado, pelo muito que faz pelo país e pelo seu prestígio. Mas, afinal, será que ela não serve para representar Portugal em todos os postos diplomáticos? 

Será assim compreensível que, dentro da carreira diplomática, subsista um permanente sentimento contra a indigitação de figuras que, não tendo feito a tarimba da vida diplomática, não tendo nela subido, ao longo dos anos, os seus diversos escalões, surjam um dia, de "pára-quedas", num determinado posto, qualificados como "embaixadores", por uma simples decisão política. 

Dir-me-ão: mas não houve embaixadores políticos que, no passado, fizeram bom trabalho, que acabaram por ser um valor acrescentado para o serviço diplomático? Claro que sim, embora em poucos casos. Tal como eu talvez fosse capaz, com algum jeito, de não ser um mau Comandante da Região Militar Norte... Mas, como diz o povo, “cada macaco no seu galho”.

post scriptum - em breve perceberão por que republico aqui isto

quarta-feira, julho 09, 2025

Paz


Se o Comité Nobel tivesse coragem e dignidade, esta senhora, que não fechou os olhos à chacina em Gaza, era nomeada Prémio Nobel da Paz.

"Voyeurisme"

Nos últimos dias, dou comigo a acompanhar as audiências do processo Marquês com a mesma curiosidade com que, às vezes, sigo algums séries televisivas. O que virá a seguir? Ah! E então o que é que contavam Soares e Almeida Santos sobre a Dona Maria e o homem de Santa Comba? Digam lá! 

Do tempo


Há muitos anos, o ministro dos Negócios Estrangeiros João de Deus Pinheiro organizou em Lisboa uma reunião com cerca de duas dezenas de embaixadores portugueses, para abordar um qualquer tema da nossa política externa. Abriu a reunião e fez um "tour de table", pedindo muita concisão a cada um dos presentes. Um deles, um homem inteligente mas com uma expressão sincopada e quase gaguejante, com um discurso sem linearidade e com frequentes observações à margem, não conseguiu sequer terminar os prolegómenos daquilo que ia começar a dizer. A certa altura, o ministro interrompeu-o e passou ao colega seguinte. Algumas das pessoas presentes na reunião ficaram chocadas. Mas o ministro tinha razão: em Portugal, quando se diz a alguém que tem cinco minutos para expor uma ideia, é muito raro que essa limitação temporal seja observada. Pelo contrário, as pessoas chegam a ficar ofendidas pelo facto de os organizadores de um qualquer evento não mostrarem flexibilidade para se adaptarem ao seu ritmo pessoal de exposição. Em regra, por cá, ninguém respeita as regras do jogo definidas e as reuniões prolongam-se, quase sempre depois de já terem começado com atraso, como se tornou hábito.

Vem isto a propósito de uma reunião, por via digital, de que acabo de sair. Tratava-se de um grupo de "advisers" (talvez devesse dizer "advisors", porque a sede da empresa é nos EUA) de uma multinacional de um determinado setor. A reunião começou impreterivelmente às 14 horas. No início, na tela, ficou claro o tempo que cada intervenção iria ter - e começaram por falar os "big bosses", que acompanharam o que diziam com "power points" sintéticos. No final, no período de perguntas e respostas, nenhum dos intervenientes gastou mais de um minuto. O encerramento demorou cinco minutos. Às 14.57, com tudo dito e bem explicado, fechámos esta reunião quadrimestral. Muito informativa e extremamente útil. 

Quando se constata que, em Portugal, se trabalha muito mas que a produtividade é escassa, algumas razões haverá. E a má utilização do tempo é, com certeza, é uma delas.

Justiça

O caso Marquês marcará os meses que aí vêm. A justiça tem um desafio importante: para condenar Sócrates, terá de identificar, para além das idas e vindas de dinheiro, que decisões por ele tomadas ou influenciadas resultaram em vantagens que justificaram pagar tantos milhões.

terça-feira, julho 08, 2025

Nobel

É de facto uma imensa honra para Trump ser proposto para Prémio Nobel da Paz por iniciativa de alguém que é acusado de crimes de guerra e contra a humanidade.

Justiça

O caso da mulher grávida que desapareceu e que a voz pública acha que foi assassinada por um homem com quem teve uma relação, que o tribunal acaba de absolver por falta de provas, é um "case study" sobre o próprio conceito de justiça, em que o "in dubio pro reo" é regra de ouro.

segunda-feira, julho 07, 2025

A (não) fazer


Ontem, a meio da tarde, tive uma sensação estranha: ou era eu quem me estava a esquecer de alguma coisa ou, de facto, não tinha rigorosamente nenhum compromisso de escrita pendente. Era a primeira vez, desde há bastante tempo, que tinha essa sensação.

Passo a explicar. Na minha vida na última dúzia de anos, houve sempre textos que me tinha comprometido a escrever: artigos, intervenções, pareceres profissionais, palestras, prefácios ou coisas similares. Sempre que me libertava de algo que tinha acabado de completar, consultava uma temível e sempre mutante lista que trago no telemóvel, que tem por título imperativo "A fazer", em cujo topo estão os textos que tenho de escrever.

(Esclareço que tenho também no telemóvel listas bem mais agradáveis, como "Restaurantes a visitar", "Livros a considerar comprar" e "Ideias para fins de semana e férias"). 

Contudo, na tal lista de coisas "A fazer", lá estavam sempre: uma aula a preparar, um texto para um livro que prometera ("Escreva quando lhe der mais jeito! Não tem a menor pressa!"), uma croniqueta que ficara de enviar para uma publicação e outras coisas assim. Quem me manda a mim aceitar essas coisas?!

Durante anos, em especial quando mantinha colunas regulares em jornais, tornou-se quase angustiante, Depois, quando decidi acabar com esse tormento datado, sentava-me algumas vezes num sofá e exultava intimamente: "Magnífico! Até ver, não tenho mais nada que me tenha comprometido a escrever". Para, logo no segundo seguinte, sentir que tinha alguma coisa que estava, "on the back of my mind", a atazanar-me o pretendido sossego. E ia ao "A fazer". E, claro!, ainda faltava "aquele" texto!

Ontem, vi e revi a temível lista e concluí, com uma genuína embora efémera felicidade: "Não tenho nenhum compromisso pendente, em matéria de escrita". Desde há muito, é esta, verdadeiramente, a primeira vez que isto me acontece. Vou para férias de verão liberto de qualquer preocupação desse género. Mas outras tenho, claro, porque a vida não brinca em serviço.

Espanha (4)

Há um estranho "iberismo" nas redes sociais: gente da direita lusa desfaz-se em insultos contra Sánchez e exulta, de forma quase doentia, com os seus desaires; alguma esquerda exalta como pode o PSOE e chama "facho" a tudo quanto estiver à direita dos socialistas. Que coisa!

Espanha (3)

Não correu bem a Sánchez a reunião do PSOE do passado fim de semana. Mais trapalhadas e revelações comprometedoras para figuras próximas da liderança vieram a lume. As vozes críticas foram poucas, mas o mal-estar no partido é evidente. Que coelho ainda terá Sánchez na cartola?

Espanha (2)

A vedeta liberal do PP de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, pouco discreta candidata potencial à liderança da direita espanhola, viu-se obrigada a refrear as suas ambições, em face do quase unanimismo em torno de Feijóo. O seu tempo, claramente, não é este.

Espanha (1)

A direita espanhola, pressentindo o vento a soprar contra o PSOE, reentronizou Feijó com grande estadão. O "não é não" face ao Vox começou já a cair, embora com recusa de coligação. Salvo por uma improvável onde de fundo, não se percebe como um PP "só" conseguirá chegar a Moncloa.

América

É cedo para contar votos no Congresso americano, depois das eleições intercalares de 2026. Em regra, nada é garantido para qualquer dos lados. Talvez isso explique algum nervosismo - mas pode ser só irritação - no modo como Trump reagiu à criação do partido de Musk.

Médio Oriente


Na Antena 1, no programa Tik Tak, com Eduarda Maio, a abordar a situação na Palestina.

Ouvir aqui.

domingo, julho 06, 2025

Este blogue é o que é

Nos últimos dias, ouvi dois comentários sobre este blogue. 

O primeiro, estranhando que eu não tivesse falado sobre a morte de Diogo J. Para essa pessoa, era algo insólito que um acontecimento que mobilizou emocionalmente o país tivesse passado completamente desapercebido por aqui. 

O segundo, sublinhando que o blogue acabava por ser demasiado pessoal, com historietas minhas sobre assuntos irrelevantes para a maioria das pessoas, o que não facilitava a sua estabilização como algo que poderia facilmente ser: uma plataforma de debate sobre alguns temas de atualidade, no plano nacional ou global. E essa outra pessoa foi acrescentando o seguinte comentário: "Abre-se o blogue e nunca se sabe se vai surgir uma reflexão sobre um tema sério ou se optaste por publicar uma graçola, às vezes sem a menor graça, ou a que só tu achaste graça. Tenho que confessar: em muitos dias, esperava muito melhor de ti."

Ambos os comentários se interligam. Não comentei a morte de Diogo J mas coloquei a fotografia de um azulejo humorístico numa tasca. É ou não uma falta de sentido das proporções? Comentei uma dormida num hotel quando seria muito mais "útil" denunciar a vergonhosa deriva direitista do governo em matéria securitária e migratória? Como é que eu tenho o desplante de analisar a ementa de um restaurante de luxo onde fui jantar quando crianças morrem de fome em Gaza? 

Entendamo-nos de uma vez por todas: este não é um espaço de comunicação social. É um bloco-notas pessoal, repito, estritamente pessoal, às vezes de memórias, outras de comentários (cada vez mais) breves e às vezes caricaturais (passei a utilizar a cómoda brevidade do Twitter), de instantâneos apanhados ao acaso - na net, na rua, nos jornais que cada vez menos leio. O "Duas ou Três Coisas" é só isso e não tem a menor pretensão de ser mais do que é. Não quer ser doutrinário, não quer "ir a todas", ou sequer pretende ser coerente no equilíbrio global daquilo que publica. Este blogue, repito, é o que é, é um pouco o que sou. Gostam dele assim? Leiam-no. Não gostam? Passem à frente. Amigos como dantes!

Grande Portugal!


 

sábado, julho 05, 2025

Avignon


Um extraordinário espectáculo no Festival de Avignon, agora na RTP 2.  Sabem quem é o diretor deste que é o mais importante festival de teatro de França? O português Tiago Rodrigues. Ah! Pois é!

Espanha

Pedro Sánchez tenta evitar ser tingido pelas escandaleiras que saem de todo o lado no partido, desde a corrupção pura e crua até ao machismo ostensivo. A direita está à espreita e agita ruas e discursos. Numa Espanha economicamente sã e com voz externa, Sánchez vai sobrevivendo.

Tour

Começa hoje a Volta à França 2025 em bicicleta. Desde há 40 anos, com Bernard Hinault, que um francês não ganha a prova maior do ciclismo mundial.

França

François Bayrou, desistente do sonho presidencial em França, forçou Macron a nomeá-lo primeiro-ministro. Para surpresa de alguns e conforto do preconceito de outros, revelou-se um fraco líder do governo, onde se afronta a direita tradicional e o extertor ruidoso do macronismo.

sexta-feira, julho 04, 2025

Ai se fosse hoje...

Os Estados Unidos estão a dever um forte pedido de desculpas a Richard Nixon. Se o Watergate tivesse ocorrido neste "big, beautiful" mundo de Trump, nem uma agulha teria bulido do lado da agora "so-called" justiça americana para incomodar o presidente.

quinta-feira, julho 03, 2025

Pousadas de Portugal


A pretexto de ter dormido, há dias, no edifício daquela que foi a primeira Pousada portuguesa, evoquei aqui as Pousadas de Portugal, um interessante projeto de construção hoteleira estatal iniciado em 1942 e que ainda hoje se mantém, embora num outro registo funcional. 

As Pousadas foram inspiradas no modelo dos Paradores espanhóis. A ideia inicial era construir pequenas unidades hoteleiras em regiões para onde se queria promover o turismo. As Pousadas eram geridas por entidades privadas que se comprometiam a respeitar um certo padrão cultural regional, na decoração e na gastronomia. 

As primeiras unidades dispunham de muitos poucos quartos, havendo mesmo uma limitação temporal à sua ocupação, a fim de assegurar rotatividade.

No início dos anos 50, foi iniciada a conversão de alguns edifícios históricos em Pousadas, sendo a primeira a Pousada do Castelo, em Óbidos. 

Após o 25 de Abril, o Estado passou a assegurar a gestão da rede de Pousadas, através da empresa pública Enatur. 

Em 2003, o grupo hoteleiro Pestana entrou no capital da Enatur, passando a deter cerca de 49% do capital. 

Muitas Pousadas, em especial de pequena dimensão, foram encerradas a partir de então (outras já tinham fechado no passado) e foi reforçada a transformação de monumentos em Pousadas Históricas.

Algumas pessoas perguntam: desde 1942, ano da criação da primeira unidade, a Pousada de Santa Luzia, em Elvas, quantas Pousadas houve? E quantas efetivamente existem, nos dias de hoje? Em que ano foi criada cada uma das Pousadas? E qual foi o ano em que as que encerraram deixaram de funcionar?

Por estranho que pareça, não há nenhum registo centralizado desta informação. Por isso, deitei mãos à obra e decidi coletar esses dados. Deu algum trabalho! Quem sabe se estes dados não serão úteis para as Pousadas de Portugal...

Aqui fica o básico: 

  • Desde 1942, foram criadas 70 Pousadas. 
  • Atualmente (julho de 2025), existem 38 Pousadas. 
  • Ao todo, foram encerradas 32 unidades - 8 antes da chegada do Grupo Pestana (1942-2003) e 24 sob gestão Pestana (2003-2025).
  • Após a chegada do Grupo Pestana foram construídas 16 novas unidades. 

Façamos agora, em detalhe, a listagem de tudo isto.

Utilizarei, depois das localidades, os nomes originais das Pousadas. Na muitos casos, tinham designações de santos. Por qualquer razão, que imagino possa ter-se ficado a dever a motivos de promoção turística, muitas Pousadas perderam esses nomes católicos. 

Aqui fica a lista das 31 Pousadas encerradas, por ordem do ano de abertura:
  1. Elvas. Santa Luzia (1942-2012)*
  2. Marão. São Gonçalo (1942-2007)*
  3. Macinhata do Vouga. Santo António de Serem (1942-2002)
  4. Covão da Ametade, Santo António (1942-1967)
  5. Alfeizerão. São Martinho (1943-1967)
  6. São Brás de Alportel. São Brás (1944-2010)*
  7. Alijó. Barão de Forrester (1944-2013)*
  8. Santiago do Cacém. S. Tiago (1945-2001)
  9. Manteigas. São Lourenço (1948-2005)*
  10. Madeira, Pousada dos Vinháticos (1949-1967)
  11. Berlengas. Forte de São João Baptista (1953-1971)
  12. Tomar. São Pedro. Castelo do Bode (1954-2003)*
  13. Serpa. São Gens (1960-2003)*
  14. Miranda do Douro. Santa Catarina (1962-2002)
  15. Caramulo. São Jerónimo (1963-2005)*
  16. Setúbal. São Filipe (1965-2014)*
  17. Santa Clara a Velha (1969-2006)*
  18. Póvoa das Quartas. Santa Bárbara (1971-2003)*
  19. Torrão. Vale do Gaio (1977-2007)*
  20. Guimarães. Senhora da Oliveira (1980-2013)*
  21. Cerveira. Dom Dinis (1982-2008)*
  22. Sagres. Forte do Beliche (1982-1989)
  23. Batalha. Mestre Afonso Domingues (1985-2007)*
  24. Almeida. Nossa Senhora das Neves (1987-2005)*
  25. Santiago do Cacém. Quinta da Ortiga (1991-2008)*
  26. Sousel. São Miguel (1992-2010)*
  27. Condeixa. Santa Cristina (1993-2019)*
  28. Monsanto (1993-2011)*
  29. Mesão Frio. Solar da Rede (1998-2012)*
  30. Vila Pouca da Beira. Convento do Desagravo (2003-2017)*
  31. Proença a Nova. Amoras (2006-2011)*
  32. Braga. São Vicente (2007-2012)*
Com (*) assinalam-se as unidades encerradas sob gestão do grupo Pestana.

Atualmente (julho de 2025), há 38 Pousadas. Aqui ficam, por ordem de abertura:
  1. Óbidos. Castelo. (1951)
  2. Marvão. Santa Maria (1956)
  3. Bragança. São Bartolomeu (1959)
  4. Sagres. Infante (1960)
  5. Murtosa. Pousada da Ria, Santa Joana Princesa(1962)
  6. Valença. São Teotónio (1962)
  7. Évora. Loios (1963)
  8. Caniçada. São Bento (1968)
  9. Estremoz. Rainha Santa Isabel (1970)
  10. Viana do Castelo. Santa Luzia (1979)
  11. Palmela. Santiago (1979)
  12. Guimarães. Santa Marinha da Costa (1985)
  13. Alvito (1993)
  14. Beja. São Francisco (1994)
  15. Queluz. Dona Maria I (1995)
  16. Arraiolos. Nossa Senhora da Assunção (1995)
  17. Crato. Flor da Rosa (1995)
  18. Vila Viçosa. Dom João IV (1996)
  19. Amares. Santa Maria do Bouro (1997)
  20. Alcácer do Sal. Afonso II (1998)
  21. Belmonte. Convento de Belmonte (1999)
  22. Ourém. Conde de Ourem (2000)
  23. Horta . Forte de Santa Cruz (2004)#
  24. Lisboa. Praça do Comércio (2005)#
  25. Bahia, Brasil, Convento do Carmo (2005)#
  26. Tavira. Convento da Graça (2006)#
  27. Angra do Heroísmo. Forte de São Sebastião (2006) #
  28. Estoi. Palácio de Estoi (2009)#
  29. Porto. Palácio do Freixo (2009)#
  30. Viseu (2009)#
  31. Cascais. Cidadela (2012)#
  32. Covilhã. Serra da Estrela. (2014)#
  33. Obidos. Vila de Óbidos (2018)#
  34. Óbidos Lidador (2019)#
  35. Câmara de Lobos. Churchill Bay (2019)#
  36. Vila Real de Santo António (2020)#
  37. Porto - Rua das Flores (2021)#
  38. Lisboa. Alfama (2023)#

No site do Grupo Pestana, não constam o Convento do Carmo, na Bahia, nem a Cidadela, em Cascais, este com um estatuto de hotel, para efeito de reservas.

Ficarei grato por quaisquer informações que permitam completar dados em falta, dúvidas ou a correção de eventuais erros detetados pelos leitores.

(Por curiosidade, deixo uma última nota, neste caso pessoal. Dormi em 58 das 69 Pousadas que foram criadas. Das 12 em que não me alojei, 6 já desapareceram (Vinháticos, Alfeizerão, Berlengas, Beliche, Setúbal e Alijó) e 6 estão abertas (Lidador, Câmara de Lobos, Rua das Flores, Horta, Angra do Heroísmo e Alfama) ).

A primeira Pousada


Há dias, alojei-me em Elvas no edifício que, em 19 de abril de 1942, foi inaugurado como a primeira Pousada portuguesa. A imagem é desse tempo. A arquitetura é de Miguel Simões Jacobetty Rosa. 

Desde 2013 e até aos dias de hoje, a antiga Pousada foi transformada no Hotel Santa Luzia. Por saudável empenhamento de quem o tem dirigido, João Simões, um homem com uma bela história pessoal ligada à hotelaria e restauração, tem sido ali cultivada a memória desse que foi o início da grande aventura das Pousadas, uma iniciativa de António Ferro que veio a marcar o turismo e a hotelaria portugueses nos últimos 80 anos.

A antiga Pousada de Santa Luzia tinha uma oferta de restauração que fez história. O seu bacalhau dourado, que ainda hoje por lá de serve, convocava gente ida de muito longe. Ainda hoje, o restaurante Cadeia Quinhentista, em Estremoz, do mesmo proprietário do hotel, continua a oferecer este prato na sua lista.

Com o 25 de Abril, a receita tinha já emigrado para o Brasil, novo destino de vida quem então dirigia a Pousada. Aí se fixou no mítico restaurante Antiquarius, no Rio de Janeiro, que encerrou há poucos anos.

Há 2023, vim a redescobrir esse prato, e constatei que mantinha grande qualidade, no restaurante "Entre Amigos', em Botafogo, dirigido por uma pessoa que tinha trabalhado no Antiquarius. 

A vida é assim mesmo.

quarta-feira, julho 02, 2025

Seguro

António Vitorino e Augusto Santos Silva, o primeiro há dias, o segundo hoje, anunciaram não irem avançar com uma candidatura presidencial. Se acaso o tivessem feito, seriam acusados de se terem colocado no "mercado" político de António José Seguro, que tem no terreno, desde há já algum tempo, uma candidatura própria. A desistência de ambos revelou um grande sentido de responsabilidade, procurando evitar a divisão da esquerda e do centro-esquerda. 

À direita, "les jeux sont faits". Gouveia e Melo arrebanhará, com naturalidade, todo o eleitorado populista e de direita, moderada e extrema, ficando por definir o momento em que o voto do Chega se lhe colará. A vítima direta será o candidado oficial do PSD, Luís Marques Mendes, cujos votantes também parecem seduzidos, cada vez mais, a vogarem pelas águas do almirante.

À esquerda, não obstante toda a consideração pessoal e política que merece a figura de António Filipe, ficou hoje claro que o único candidato que se apresenta como um claro contraponto a Gouveia e Melo é António José Seguro. 

Conheço António José Seguro há bastantes anos. Fomos colegas de governo, onde ele foi secretário de Estado e ministro, trabalhámos de perto quando liderou os socialistas no Parlamento Europeu, a seu convite colaborei na iniciativa "Novo Rumo", com a qual o Partido Socialista procurou desenhar, em tempos difíceis do governo de "coligação" PSD-Troika, uma alternativa ao "passismo". 

Em 2011, Seguro foi herdeiro de um partido que fora copiosamente derrotado nas eleições, depois de ter assinado o "memorando de entendimento" a que o colapso financeiro tinha forçado a gestão de José Sócrates. Ao seu lado, se a expressão se deve aqui utilizar sem ironia, Seguro teve um grupo parlamentar desenhado pelo seu derrotado antecessor, e que nunca lhe facilitou a vida. 

Com a passagem do tempo e com o surgimento de resultados políticos tidos por insuficientes, o seu difícil papel começou a ser contestado dentro do PS. Uma pulsão em favor de António Costa foi crescentemente tomando conta do partido. Em face dessa pressão e do desafio de Costa, António José Seguro tomou a corajosa decisão de organizar uma votação, aberta a simpatizantes, para um tira-teimas em termos do nome do futuro líder. 

A resposta dos votantes foi a escolha de António Costa. Seguro abandonou, com dignidade, a liderança, remetendo-se ao silêncio a partir de então. Antes disso, porém, cometeu, a meu ver, um erro grave: nos debates públicos com António Costa utilizou uma linguagem confrontacional que se afastou radicalmente da serenidade da imagem que era a sua. Não havia necessidade - e muitos de nós dissemos-lhe então isso, com a frontalidade que se deve aos próximos. A meu ver, esse foi o seu único mas grande erro.

António José Seguro esteve por uma década num quase silêncio. Afastou-se da política ativa e dedicou- se so ensino. Aos 63 anos, ao aproximar-se a mudança de ciclo em Belém, decidiu, com toda a legitimidade, ensaiar um regresso à vida pública, apresentando-se como candidato presidencial. 

Não começou por assegurar a unanimidade dentro do Partido Socialista, bem como de pessoas próximas do partido, como foi o meu caso. Há meses, deixei aqui claro que a minha primeira opção ia, preferencialmente, para outras hipóteses. Contudo, não se tendo qualquer dessas candidaturas concretizado, não tenho hoje a menor dúvida em afirmar que o meu voto, em janeiro de 2026, irá para António José Seguro. E, com toda a liberdade de quem já não é militante, ouso esperar que o Partido Socialista se una em torno da sua candidatura. Vir a ter um Belém um comprovado democrata, uma personalidade equilibrada, íntegra, com forte e comprovada experiência, nacional e europeia, com uma incontestada capacidade de diálogo e bom conhecimento dos mecanismos políticos do Estado, é algo em que vale a pena apostar. 

terça-feira, julho 01, 2025

Elvas


Foi há 13 anos que a cidade de Elvas passou a ter o título de Património Mundial da Humanidade, atribuído pela Unesco. 

Na minha qualidade de embaixador junto da Unesco, que acumulei nesse ano com o cargo de embaixador em França, tive o grato prazer de titular a representação portuguesa na reunião do Comité do Património Mundial, em São Petersburgo, na Rússia, que conseguiu reverter a proposta da organização para que o assunto fosse adiado para anos futuros. 

Elvas ficou-me grata e eu fico muito grato pelo facto de, além de me ter sido atribuída a Medalha de Ouro da cidade, Elvas me ter honrado com o título de cidadão honorário. Foram gestos muito generosos, para quem apenas cumpriu a tarefa de que havia sido incumbido.

No passado sábado, fui um dos convidados para a sessão de comemoração do 13° aniversário do titulo dado pela Unesco àquela que é uma joia da arquitetura militar em Portugal. Foi muito bonita a festa, pá! 

Visitem Elvas! Verão que não se arrependem.

"Janela Global"

Hoje, sexta-feira, 25 de julho, às 23.30, na RTP 3, converso com Márcia Rodrigues, no "Janela Global". Falamos de Gaza e da sua tr...