quarta-feira, abril 09, 2025

Trump

Trump baixou a bolinha. As fortes reações dentro dos EUA às insanas medidas aduaneiras obrigaram-no a recuar, salvo quanto à China, conhecida "bête noire" da América de todas as cores. Os trumpófilos, tomando-nos por parvos, vão dizer que foi "recuo programado". Pois, pois...

8 comentários:

Lúcio Ferro disse...

Hum. Continuo a pensar que o erro da maioria das pessoas que se pronuncia sobre assuntos de geo-política, sobretudo na Europa, de governantes a comentadores, é o de lerem a realidade muito mais com os olhos da emoção do que com os da razão.
Isto sucede para uma variadade de assuntos, desde a forma como se "pondera" o conflito na Ucrânia, à forma como se "considera" a Hungria e agora ao modo como se "estigmatiza" a América de Trump.
Não há qualquer preocupação em entender o racional do outro e o pior é que quem o pretenda fazer é de imediato apelidado de "putinista", "orbanista", "trumpista" ou trumpotimista", como por aqui já li.
Tomemos este último caso, o das sanções.
Para mim, que vou lendo a Foreign Affairs, a Business Insider, o Wall Street Journal — always with an immense pinch of salt" —, ficou cedo evidente que, à semelhança de muitos outros casos, a estratégia norte-americana era maximalista; exigir tudo e mais alguma coisa, para depois obter aquilo que realmente se deseja. Independentemente do estilo do líder, que na Europa choca muitas almas gentis, o "negócio" funciona da seguinte forma: quer-se 20, mas não se fala emn 20, porque se se falasse em 20 apenas se obteria 10. Não, fala-se em 100 e com sorte obtem-se 30, ainda assim, até acima dos 20 inicialmente ponderados.
Aliás, mal se lançou esta história das sanções, pensei para com os meus botões que muito em breve íriamos assistir a uma romaria de líderes e de delegações a Washington (que já está em curso).
Ou seja, a nova liderança está disposta a exigir o impossível, sabendo que obterá o possível ou até mais do que isso, sendo que, a nível tático, tem sempre margem para dar passos atrás, se necessário.
Repara-se, por exemplo, no 1º mandato de Trump e a sua relação com a Coreia do Norte: começou com Trump a ameaçar com o fogo do Inferno e a terminar com a normalização das relações.
Noutro caso, há quem diga que Trump está nas mãos do Kremlin, porque não lhes impôs tarifas. Esses esquecem a barbaridade das sanções de Biden. Esquecem também que o que restará sancionar/tarifar, é das poucas cartas que os EUA ainda têm para influenciar a Rússia, e que não era avisado estar já a fazer uso dessa carta.
Enfim, parece-me que uma abordagem mais racional aos fenómenos, que pode naturamente ser contra-argumentada — racionalmente —, é muito mais profícua do que uma abordagem emocional, do género o homem é louco, ou o homem "abaixou a bolinha". Será que abaixou mesmo? Ou será que a Adminsitração já saberia que após dar três passos em frente teria de dar um atrás? Um bom dia.

João Cabral disse...

É óbvio que não foi programado, nem vi até agora alguém a afirmar semelhante disparate. Trump parece atarantado e sem um rumo concreto, o que não deve surpreender, embora esteja a levar isso ao extremo desta vez. Dá a ideia de que não sabe bem o que fazer ou está a ser mal aconselhado (qualquer das hipóteses é plausível).

caramelo disse...

Lúcio Ferro, os exercícios de hermenêutica e psicologia do que diz e fala o Trump estão em alta. Essa do “foi tudo pensado, não se preocupem” é dele. Os ajudantes responderam: “o chefe pensou tudo, não se preocupem”. Incluindo as quedas hoje nas bolsas nos US, depois da euforia de ontem. O resto do mundo, sem o músculo da China, vai negociando à pressa antes que o homem decida pensar outra coisa muito racional. Tudo pensado. As queixas de muitas pequenas e médias empresas nos US (fora da lotaria da bolsa)? Tudo pensado. Inclusive faz parte da estratégia a gradual perda de confiança nos US. Ninguém sabe porquê, mas o Trump escreve direito por linhas tortas. É ter fé.

Anónimo disse...

vamos ver se será assim... o homem é imprevisível.

Carlos Antunes disse...

A China avançou com a “bomba atómica financeira” e vendeu 50 mil milhões de USD de dívida dos EUA (ficando agora com cerca de 650 mil milhões), o que fez disparar de imediato os juros pagos do Tesouro americano.
E se o Japão (o maior detentor da dívida americana, cerca de um bilião ou mil milhares de milhões de USD) fizer o mesmo, da próxima vez que os Estados Unidos tiverem de ir aos mercados, e vai ter que o fazer mais cedo ou mais tarde, se calhar é Trump que com as suas loucuras tarifárias, vai ter de “lamber as botas” (como ele afirmou que lhe estavam a fazer vários líderes mundiais para chegarem a acordo sobre as tarifas) aos chineses e japoneses!
Trump vai mesmo ter de baixar a bolinha com os países dos “olhos em bico”!

sts disse...

Entretanto deu milhões a ganhar aos amigos milionários no casino da bolsa.

Anónimo disse...

Trump tem como regra de jogo uma espécie de "Calvinball"; muda as regras a cada momento, logo que pressente que as coisas não lhe estão a correr bem...
MB

Lúcio Ferro disse...

Carlos Antunes, aí tem toda a razão. Um dos objectivos da manobra era a descida das taxas de juro da dívida. A resposta Chinesa, de despejar no mercado tantos títulos, mais do que qualquer outra coisa, levou ao recuo das medidas para o resto do Mundo. Por essa a Administração não estaria à espera, até porque foi uma resposta assimétrica (não relacionada com as sanções) mas foi isso que levou ao congelamento das medidas para o resto do mundo. E sim, a Administração Trump que se cuide, os Chineses têm tanta dívida dos EUA que dava para fazer milhares de rolos de papel higiénico.

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