quarta-feira, abril 16, 2025

Às vezes, chovia


(Texto aqui publicado em outubro de 2016, quando passaram alguns meses sem que chovesse ou ventasse em Lisboa. Mas já ninguém se lembra disso!)

As novas gerações, que nos dias de hoje vivem aqui em Lisboa, podem não saber, mas, no passado, às vezes, chovia. É verdade! 

Pequenas gotas de água, aos milhões, frequentemente sob pressão de um ar em movimento a que se chamava vento, desabavam do alto sobre a cidade e molhavam-nos a todos. Para nos protegermos, usávamos uma daquelas sombrinhas com que as senhoras se abrigam dos raios do sol, mas impermeabilizada, chamada guarda-chuva, e vestíamos uns balandraus longos, às vezes impermeáveis, que designávamos por gabardines. Os limpa-párabrisas que se vêm nos carros não existiam então apenas para limpar os vidros, eram utilizados também para afastar as gotas de água com que essa tal chuva enchia a cidade e nos dificultava a visibilidade. É que, nesse tempo, havia inundações que caiam do céu, não apenas as que agora se produzem quando se rompem os canos. Datam, aliás, também desse tempo os telhados inclinados que as casas ainda hoje têm, por onde descia a água provinda da chuva. Ah! E nos dias em que chovia, o sol, que agora brilha em permanência até ser noite, não se via, ficando tapado por um céu cinzento, coberto pelas nuvens, que eram umas espessas formações escurecidas de onde caía a chuva. Era giro!

Vale a pena ter memória, e até alguma nostalgia, desses tempos a que chamávamos "dias de chuva", que às vezes entristeciam as pessoas, mas a que felizmente se deve tanta poesia. Por vezes, confesso que já tenho saudades desses tempos bem longínquos, em que acordávamos e vivíamos, por horas e dias, com a tal chuva a cair sobre nós. Deixo-lhes aqui uma imagem antiga, de arquivo, desses tempos e o link de uma canção que, no Brasil, fizeram mesmo para comemorar tais dias.

1 comentário:

João Cabral disse...

É curioso que relembre esse texto, senhor embaixador, numa altura em que parece que nunca choveu tanto no nosso país. Para se ter uma ideia, as barragens estão a 92 % a nível nacional, e mesmo no Algarve, na ponta de Sagres, já não há barragens a vermelho. Há água que nunca mais acaba. E há dias andou a circular uma notícia do "CM" datada de 2008, em que as previsões dos sábios do tempo era que em 2025 não haveria água potável na Península Ibérica. Viu-se.

Fogo