Desde o início da guerra na Ucrânia, o discurso de alguns por cá passou sempre por um esforçado otimismo, quase mimético do de Moscovo: desde 2022, a Rússia terá estado sempre numa posição relativamente confortável, as suas forças armadas terão conseguido grandes sucessos no terreno, a sua economia manteve-se sólida, contra todas as expetativas, não obstante as sanções e as tentativas de isolamento que o mundo ocidental procurou promover.
Fui acompanhando com curiosidade este discurso que, deliberadamente, pareceu esquecer que a "performance" militar russa esteve muito longe daquilo que era expectável de uma potência que, ao que se dizia, tinha passado por um processo profundo de investimento em modernização militar, durante mais uma década. Era assim estranho que o poder efetivo das forças de Moscovo tivesse estado bem distante daquilo que seria de aguardar. As centenas de milhares de baixas em combate, as destruições maciças de material militar que veio a registar, a limitação dos ganhos territoriais no espaço ucraniano - tudo isto prova que alguma coisa correu muito mal no planeamento russo.
Desde logo, e para começar, a possível ilusão de que o regime de Kiev iria colapsar em escasso tempo, somada ao óbvio erro de que a Europa, porque dependente energeticamente da Rússia e seguramente pouco motivada para alimentar uma guerra em terra alheia, acabaria por se dividir a prazo. Finalmente, a ideia de que os EUA, humilhados no Afeganistão, não quereriam comprar tão cedo outras guerras, mesmo feitas por "proxies". As coisas não só não correram bem assim, como não correram mesmo nada bem.
Esses tais otimistas caseiros, sem surpresas, foram acompanhando a narrativa de Moscovo: perante as evidências, reciclaram os seus argumentos, justificaram os desaires da Rússia com o poderio da frente ocidental que passou a apoiar desmesuradamente a Ucrânia em termos militares. Se, ao fim de três anos de guerra intensa, ainda não tinham sequer conseguido dominar todo o Donbass, isso era um detalhe. E se as "nacionalizadas" Kherson e Zaporíjia estavam longe de estar totalmente ocupadas, e Odessa era vista apenas por um canudo, nada disso era decisivo. Tinham tempo e gente para morrer. E rezavam pelo regresso de Trump.
Quando Trump chegou, sem surpresas, deixou claro que a Rússia não estava no topo das suas preocupações estratégicas, que não queria arriscar com o caso ucraniano um conflito que poderia vir a ter um preço nuclear. Na Ucrânia, queria apenas recuperar o "investimento". A China e o Irão (por causa de Israel) estavam no radar prioritário de Washington. O novo dono da Casa Branca tornou muito evidente que não estava disponível para partilhar a obsessão securitária que atravessava a Europa e, em especial - e isto continua cada vez mais evidente -, que não contassem com ele para proteger qualquer aventureirismo europeu face à Rússia, a promover na Ucrânia. Em outras palavras: o Artigo 5° da NATO deixava de se aplicar se os europeus atravessassem as linhas vermelhas de Moscovo. Ficavam por sua conta, risco e armas.
Marco Rubio terá vindo à Europa dizer mais ou menos isto, com Trump irritado por ver o velho continente a estimular a resistência de Zelensky à entrega dos pontos. E prestes a perder a paciência, tanto mais que ia perdendo a face - afinal, iam ser necessários mais do que dois dias para "fechar" a guerra na Ucrânia. Ou não.
A meu ver, entramos agora no tempo mais perigoso: aquele em que os europeus, em desespero estratégico e órfãos da América, acham que podem fazer das suas fraquezas forças. O discurso jingoísta de Bruxelas ecoa o temor dos Bálticos, pela voz de Kaja Kallas. Afinal, e de outra forma, a Europa também não quer perder o "investimento" que fez na Ucrânia. E em Zelensky.
Nestas condições de pressão e temperatura, não me admiraria se a Rússia pudesse achar que, sem os americanos por detrás da Europa, e com esta ainda indecisa nas suas eternas cimeiras, se pode dar ao luxo de voltar a pisar algum risco. Com Biden ou Trump, os EUA eram, de qualquer forma, os adultos na sala da Europa. Agora, com a nossa senhora de Bruxelas a soltar os cordões militares aos orçamentos nacionais, com dois mini-poderes globais entretidos a contar ogivas, com um terceiro a aproveitar a novidade da sua nova cara para se auto-absolver da eterna vergonha histórica (mas não em Gaza) e com três outros a porem-se já em bicos de pés, um deles mesmo aqui ao lado, temo francamente o pior. "And I mean it".
29 comentários:
Ainda bem que a Russia não bombardeou Kiev como a NATO bombardeou Belgrado ou os US vaporizaram países como o Iraque e a Libia. Mas talvez mais importante que a estratégia ou o desempenho das Forças Russas fosse abordar mais um golpe de estado da CIA em Kiev, com o empoderamento dos nacionalistas ucranianos e o apoio de Bruxelas, que desencadeou uma guerra civil muito previsivel.
E o subsequente despejar de bilhões em armas por parte de Washington e Londres na Ucrania, a par da implantação dos misseis dos US na Polonia e na Romenia, depois dos US rasgarem um dos Tratados de Segurança mais importantes para a Europa e para o mundo. Misseis, que como é óbvio, os US nunca aceitariam à sua porta como prova a crise dos misseis de 1962. Como nunca aceitariam uma Força militar da Russia ou da China equivalente à NATO, que começou prontamente a treinar o Exército Ucraniano depois do golpe de Estado da Sra. F... UE.
Alargamento da NATO que provocou sem margem para duvidas o conflito actual, que por várias vezes já esteve perto de um confronto nuclear. Como é alias normal numa guerra totalmente inimaginável, pelo menos até há pouco tempo, entre as duas maiores potências nucleares. Alargamento da NATO que violou o Tratado de Budapeste que obrigava à neutralidade da Ucrânia e que ao contrário que os muitos milhões em propaganda disseminam sobretudo no Ocidente e segundo documentos da própria NATO, 80% da população ucraniana nunca apoiou sequer a adesão à NATO antes do golpe de estado em 2014.
O que só por si justificou mais uma operação de mudança de regime da CIA. A par com o que todas as tentativas de tomar e desta vez dividir a Russia, segundo o próprio Biden, sempre procuraram – os recursos naturais de uma enorme massa de terra continental. O que enfraqueceria a China e fortaleceria a hegemonia dos US. Infelizmente só conseguiram destruir uma nação com 40 Milhões de habitantes como a Ucrania. Mas o que são 40 Milhões de seres humanos para o currículo dos US nos últimos 30 anos? Estimado em mais de 5 Milhões de mortos directos e 80 Milhões de refugiados.
Ponto 32: https://www.nato-pa.int/document/2011-172-cdsdg-11-e-rev1-ukraine-malan-report
Bom dia
No me entendimento este texto enferma de uma séria de falácias que mais uma vez me parece relevante desmontar. A primeira é a do alegado mimetismo de alguns com Moscovo. Isso é absolutamente falso. O que alguns, entre os quais me cont,o previram, é que esta aventura tinha todos os ingredientes para terminar mal, não só para a Ucrânia mas também para a Europa no seu todo. E assim, ao fim de tês anos, assim está a suceder. No decorrer desses três anos, face à gigantesca operação de propaganda e desinformação levada à cabo no Ocidente, esses “miméticos” foram acusados de tudo: putinistas, pzepistas, chamberlanistas. Etc. Nunca o foram, quando muito o que foram e são é realistas.
Passemos agora para Operação Militar Especial (OME) e para a alegada falta de eficácia das Forças Armadas Russas, visto os “escassos” avanços no terreno e as “gigantescas” baixas em homens e material. Mais uma vez, falso. Em primeiro lugar, a OME nunca teve por objectivo invadir a Ucrânia, mas sim forçar a Ucrânia ao acordo que para eles era muito favorável gizado em Istambul. Ou alguém acredita que 140 mil russos iam ocupar um país que à época tinha mais de 40 milhões de habitantes? As contas saíram goradas e por uma única razão: um indivíduo execrável, um autêntico criminoso de guerra, chamado Boris Johnson, foi a Kiev a mando de um lunático americano dizer a Zelensky para recusar o acordo de Istambul, porque o Ocidente, “for as long as it takes”, iria fornecer todas as armas, todos os sistemas de vigilância espacial, toda a coordenação militar necessária para infligir uma derrota á Rússia e desmembrar o país com vista a facilmente roubar os recursos naturais dos Russos. Em simultâneo, o lunático de Washington, empregando uma linguagem digna de Hitler, aplicou à Rússia, seguida pelos vassalos Europeus, sanções que iram de forma decisiva levar a um “regime change” em Moscovo
Assim sucedeu. Sabemos hoje, via imprensa de referência norte-americana, que tudo, ainda antes de 2022, foi coordenado a partir de bases americanas na Alemanha. O processo era simples: Zelensky fornecia a carne para canhão, o Ocidente uma enorme panóplia de armas e os sistemas de satélite e a mais moderna componente de guerra electrónica. Face a isso, os Russos, sabiamente, recuaram a princípio e depois, partiram para uma guerra de atrição.
Aos poucos, foram destruindo as Forças Armadas da Ucrânia, com baixas muito menores que as suas. Essa é outra falácia deste texto: a de que os Russos perderam centenas de milhares de homens e toneladas de material, as “famosas vagas humanas”, que Milhazes rogueiros tanto glosavam. Pelo contrário, à excepção de Bakhmut, onde aproveitaram para limpar as cadeias, as perdas Russas são muito menores do que as da Ucrânia, o rácio andará em 1:4. Tal sucede, essencialmente, porque os Russos têm sido muito prudentes no avanço, por isso progridem tão lentamente; um dos factores essenciais é o de minimizar as baixas. Dou só um exemplo, actual (2025): Enquanto na Rússia continuam a existir dezenas de milhares de voluntários todos os meses, na Ucrânia os que não fugiram ou se escondem ou são caços impiedosamente pelos esbirros da SBU.
(cont) Resultados de tudo isto: o primeiro é que os paióis americanos e europeus estão muito depauperados. O segundo é o de que o exército Ucraniano encolhe todos os dias e o Russo aumenta. O terceiro é o de que a Ucrânia é um Estado falhado governado por um ditador de pacotilha que não pode aceitar a paz porque sabe que no dia seguinte lhe fazem a folha. O quarto é o de que as populações da UE viram as suas vidas e o seu bem-estar drasticamente condicionados, os serviços sociais, escolas, hospitais, reduzidos. O quinto é que agora, quem está isolado, não é a Rússia, é a União Europeia. O sexto é o de que o Ocidente vai ter de amochar, se não for este ano, no próximo. O sétimo é o de que classe política mais incompetente que a Europa vê deste a segunda guerra mundial vê-se a braços com o facto de ter de perder a face e, por isso, estão dispostos a embarcar em aventureirismos bacocos. O oitavo é o de que a Rússia nunca virá por abaixo até ao cabo da Roca, nunca isso sucederá quanto mais não seja porque não têm recursos humanos para controlar populações que seriam sempre hostis. O nono é o de que a Democracia e os “valores Europeus” se alteram radicalmente nos últimos três anos. Desde logo a censura aos tais “mimetistas”, passando pelas manobras para meter países na linha, como aconteceu na Roménia (escândalo), na Geórgia (falhado) e em França (palhaçada) e se pretendia agora fazer com quem ousasse ir às celebrações de 9 de Maio em Moscovo, ou como a Moldava vez com Bispo Ortodoxo a quem impediu de ir a Iarael buscar a chama sagrada. Nada disto passa na propaganda veiculada 24 sob 24. Pelo contrário, parece ser crime ser-se realista, ou melhor “mimetista” ou ainda em última análise “putinista”. Bem para mim, antes isso do que tolo. É que a guerra está perdida, estava perdida desde o primeiro dia. Espere pela ofensiva de verão. Se, como parece ser o caso, os EUA tirarem o seu time de campo, o colapso vai ser muito rápido.
Tudo isto dito, concordo inteiramente com o último parágrafo do texto: este é o tempo mais perigoso, Londres, Paris e Bruxelas são, como já disse, governados por incompetentes, vivem numa bolha e para não perderem a face estão dispostos a tudo, até ao desastre final.
Post-scriptum: quem pisou o risco foi quem promoveu Maidan, quem instalou pelo menos 12 centros de CIA na Ucrânia, quem treinou e armou desde 2014 o exército Ucrâniano, quem renegou Minsk 1 e 2 (Merkel e Hollande dixit) e quem , às vésperas da OME, enchia a boca a dizer que a Ucrânia tinha todo o direito de entrar na OTAN e mesmo de ter armas nucleares. Recorda-se?
É só fumaça... a Europa não se atreverá a fazer nada. Se não os seus dirigentes políticos, os dirigentes militares conhecem perfeitamente a sua situação de impotência. Não tema o Francisco, não haverá qualquer grande confrontação militar entre a Rússia e a Europa.
E quanto ao papel de António Costa,nada a dizer?
No final das contas, continua-se a morrer em quantidade, esse é que é o problema central.
Aqui está um belo diplomático texto sobre a guerra da Ucrânia.
Todos, no fundo, se identificam e até podem aderir: os russos, os ucranianos, os europeus, os americanos, os chineses, os nossos queridos comentadores, o António Costa, etc
A doutrina militar da Russia nunca olhou para o território como as doutrinas militares ocidentais e costumava bastar estudar história. A Russia procura sempre destruir o inimigo porque o território não combate, como as várias trocas de cadaveres entre os dois contendores no último ano atestam. Aliás, as primeiras imagens deste conflito chegaram com vários ucranianos amarrados a arvores em kiev e está a acabar com o rapto literal dos ucranianos para serem enviados para a linha da frente ao longo de toda a Ucrania. Nada que incomode muito uma certa safra de democratas ocidentais. Como aliás o genocídio em Gaza.
Uma coisa era ouvir a fanática da Helena Ferro Gouveia na CNN em 2022 garantir que os US nem sabiam onde era a Ucrania, outra totalmente diferente é continuar a mimetizar a narrativa da CIA sobre o conflito na Ucrania em 2025. O que já nem os media ocidentais, publicos e privados, fazem na sua totalidade. Como desde o golpe de estado em Kiev. E não se enganem, foi do coma induzido da comunicação social livre que veio o maior perigo para as Democracias.
Porque os politicos sempre foram eleitos porque sim e porque não ao longo da história. Como prova o crescimento dos movimentos nacionalistas e da extrema direita em todo o Ocidente. Mas carago até as autoridades dos US, que também continuam a apoiar o genocidio em Gaza, já admitem a "proxy war" na Ucrania. Como felizmente muitos ex-diplomatas dos US mais ilustres, felizmente desde 2014. Até o NYT, um dos carros chefe da propaganda de Biden, acaba de publicar um suplemento com dezenas de páginas sobre o Comando operacional do conflito, imagine-se na Alemanha. Já para não falar de como até a britanica Economist começou a chamar tiranete ao Churchill de Kiev aka fantoche corrupto de Kiev.
Hoje já parece aliás quase uma loucura lembrar aquele que ficou mundialmente conhecido como o "Chicken Kiev speech", um discurso com os alertas e os conselhos do Presidente dos US à Ucrania na dia da sua independencia. Bush Sr., um ex-director da CIA que nunca foi propriamente uma pomba: - "Cuidado com os nacionalistas e a Ucrania talvez devesse pensar em integrar a Federação Russa".
Quanto à UE actual, que parece mais uma ditadura e eu sou dos que acham que a Democracia deve-se defender a qualquer custo mas nunca anulando resultados eleitorais que não gostamos. Mas a própria UE foi totalmente tomada pela oligarquia financeira neoliberal no crash de 2008. E todos os que ainda hoje não perceberam porque a Russia interveio na Ucrania para defender a sua soberania e a etnia russa nas terras em que sempre viveu, independentemente do seu soberano, dêem-se por felizes pelo novo keinesianismo militar europeu não passar de mais uma alucinação de Bruxelas.
Porque rapidamente assistiríamos ao regresso das disputas territoriais que sempre caracterizaram a Europa. Até provocarem as duas guerras mais mortiferas para a humanidade já no seculo XX. E não importa se hoje a NATO e a UE já não têm qualquer hipótese de sobreviver ao conflito na Ucrania. A Europa precisa de construir rapidamente uma nova arquitectura de segurança. E digam o que disserem, o ultimatum russo de 2021 era um óptimo ponto de partida. Aliás não reclamava nada que não tivesse sido garantido para pôr um fim à guerra fria - fruto de Churchill também não ter gostado de ser expulso do poder em Inglaterra. Como até George Keennan aconselharia. E só a resolução das causas da guerra e não o desempenho militar dos contendores podem devolver a paz à Europa o mais depressa possível.
Não percebo o que é que a nossa senhora de Bruxelas deve fazer senão soltar os cordões militares aos orçamentos nacionais. É mau? E a Alemanha deve atar as mãos e condenar-se à sua eterna vergonha? Devemos defender-nos então como?
Eu confesso que estou um bocadinho confuso com o texto do Sr embaixador. É que parece-me que o discurso público dominante durante muitos meses foi mais no sentido de minimizar as capacidades militares da Federação Russa, ignorando mesmo o facto de o potencial de recrutamento ser muito superior, tendo sido mesmo alimentada a ideia de que a Rússia não conseguiria resistir a contra-ofensiva ucraniana. Houve algumas vozes discordantes (o General Agostinho Rosa apelidado por muitos de putinista) mas a esmagadora maioria dos comentadores alinhou na visão de que a Rússia estava exangue e incapaz de suportar as baixas crescentes. Ora as notícias mais recentes parecem sugerir que é mesmo a Ucrânia que tem dificuldade em suster o avanço russo.
O que me parece preocupante são os desenvolvimentos nos países Bálticos em relação as (significativas) comunidades russófonas. Por exemplo na Letónia e na Estónia onde a minoria russófona representa cerca de 25% da população. Fala-se de testes de língua que têm como penalidade a expulsão, limitações ao voto e a recusa do financiamento do ensino em russo. Tratam-se de medidas de assimilação forçada da minoria de origem russa. Claro que em grande medida estas ações são resposta à russificação forçada destes países iniciada por Estaline após a anexação na sequência do Pacto Germano Soviético que incluiu a deportação massiva de população autóctone, mas nem por isso deixam de contrastar com a convenção europeia para proteção das minorias nacionais as resoluções do PE sobre os direitos das minorias nacionais. Ora, o Sr. Putin afirmou em várias ocasiões como justificação para a intervenção na Ucrânia a opressão das minorias russas. Forte dum acordo favorável na guerra da Ucrânia é de temer que a Rússia não queira deixar desamparados os russos nos países Bálticos.
A Santa Alemanha precisa de defender-se de quem? Do gangster Trump e do monstro Putin ou da louca Baerbock e da fraude de Merkl que se vergou à CIA e à oligarquia financeira nos acordos de Minsk e na austeridade pós-crash? Ou de Scholz na destruição dos acordos de Instambul e da maior infraestrutura energetica europeia pós-WWII? Os superavites comerciais são tão insustentaveis a longo prazo como os defices comerciais porque todos os países precisam de se desenvolver. Como Keynes provou em Bretton Woods.
A Alemanha precisa de parar de se vergar à oligarquia financeira e reconhecer como o próprio Borrell que todo o seu crescimento economico pré-crash dependeu da energia russa barata e das trocas comerciais com a China, os US e os pobres países europeus como nós. O que a Alemanha precisa
é de permitir que todos os países europeus se desenvolvam como a Alemanha antes do crash e da sua actual desindustrialização exponenciada devido ao conflito na Ucrania! A Europa precisa inclusive de recuperar do atraso em áreas tecnologicas fundamentais que muito se ficou a dever à austeridade e à total paralização do investimento publico na UE pós-crash.
E de celebrar a paz com a Russia e a China, que têm preocupações de segurança tão legitimas como a Europa e os US. Talvez a ferrovia de alta velocidade em todo o espaço europeu para acabar com a poluição dos voos intraeuropeus sejam um investimento economico muito melhor para o presente e o futuro da Europa e do mundo que mais tanques de guerra, cuja unica aplicação é a própria guerra. O Complexo Militar dos US pós-WWII não ajudou muito os americanos e o resto do mundo, como até eles percebem hoje.
Gostei de ler os comentários muito pertinentes dos leitores Paulo Guerra e Lúcio Ferro.
"...um esforçado otimismo, quase mimético do de Moscovo:..."
E outros tinha um discurso quase mimético de Kiev ou Washington. A diferença é que os primeiros tinham de ter muito cuidado ao falar e muita dificuldade em que o seu discurso passasse nos media. Duvidar de que os Ucranianos iam vencer ... era-se considerado putinista e, frequentemente, coisas piores. Pouco sabemos do pensamento e das motivações de Moscovo. Era preferível que soubéssemos mais...
Zeca
Senhor Embaixador, esta é uma guerra de alta intensidade, como nenhuma outra. Guerra urbana, dentro das localidades, campos minados, drones, localizações por satélite, a alta tecnologia nas informações e imagem fornecida pelo ocidente à Ucrânia, etc. Os avanços nesta guerra não são um passeio em campo aberto. É uma guerra de tipo novo. Nenhum país, incluindo os US, faria melhor do que a Rússia, nestas circunstâncias. A somar a isto, uma ajuda massiva do exterior em equipamentos e munição, como se nunca viu, e quase tudo de graça. Eu diria que, feito este balanço, a Rússia manter 20% do território ucraniano (e avançando gradualmente) é assinalável, sendo de notar que esse é o território que sempre foi considerado o mais rico da Ucrânia, em termos industriais e de recursos naturais, nomeadamente minério. Somando ainda mais, temos que a situação económica da Ucrânia é catastrófica, e que não se sabe ainda como vai acontecer a reconstrução da Ucrânia, situação que tem sido tratada com pezinhos de lã. E, somando mais, a crise demográfica. É ver os números. Se estes eram objetivos também da Rússia, estão cumpridos. E tudo isto vai ter, inevitavelmente, efeitos na politica interna da Ucrânia.
Quanto ao colapso da Rússia, eu julgo que é o único país do mundo a colapsar continuamente, todos os dias, desde há quatro anos, a ver pelas noticias. Aliás, colapsou logo em março/abril de 2022…
Enfim, como vai acabar isto, para a Europa e a Ucrânia salvarem a face? A declaração de vitória da Ucrânia, por a Rússia não ter tomado Kiev…
A maioria dos alemães hoje considera a belicista Baerbock a pior chefe da diplomacia e a pior Ministra de Negocios Estrangeiros de sempre, que fez da Alemanha motivo de chacota no mundo inteiro. E Robert Habeck, o pior Ministro das Finanças de sempre que ficará na história, como o Ministro da desindustrializalão alemã. O próprio já pediu desculpas publicas várias vezes pelo seu "fraco" desempenho.
Não por acaso a nova Coligação Governamental reune o pior resultado do SPD desde a reunificação e o segundo pior resultado da CDU. E a taxa de aprovação de Merz ainda não parou de descer desde as eleições. Talvez porque ele anda a tentar convencer os alemães que a Russia não vai atacar a Alemanha enquanto está desarmada mas só daqui a 3 anos, quando a Alemanha já estiver totalmente rearmada. Um verdadeiro estratega militar da Rheinmetall e da BlackRock, o maior acionista institucional da Rheinmetall. E termino com a mesma pergunta, a Alemanha tem que se defender de quem? Da sua classe politica e dos mercados financeiros?
Os comentários a este post são a prova irrefutável da existência de mundos paralelos :) Só que estes mundos, contrariamente aos verdadeiros paralelos, podem encontrar-se.
Perante a perspectiva propagandeada de perder por muitos o senhor embaixador já fica satisfeito de perder por poucos.
Como democrata que é, o que deve preocupar o senhor embaixador é o convite à denúncia, perseguição e saneamento de 3 ou 4 vozes dissonantes que ainda são toleradas na comunicação social dominante.
«A verdade nunca pode ser o domínio e a imposição de uma única doutrina que não se possa pôr em discussão e não admita o diálogo de igual para igual com opiniões diferentes, mas só pode ser, como ensina Lessing, um incessante confronto, ou seja, um diálogo e uma constante pesquisa». Cláudio Magris, in «As fronteiras do diálogo»
Como é habitual, não estranhei que depois da análise feita com a maior profundidade e rigor pelo Senhor Embaixador sobre a guerra da Ucrânia e “o que aí pode vir”, os comentários críticos tenham provindo dos habituais comentadores (dispenso-me de dizer os nomes, porque já todos sabem quem são) alinhados pelas narrativas de Moscovo/Putin!
O Senhor Embaixador bem propõe o diálogo crítico, mas os argumentos deles são sempre fundamentalistas, basta atentar como intitulam os que se lhe opõem de “fanáticos”, mas eles que se enfileiram à visão de paz de Putin de uma Ucrânia subjugada e de uma UE/NATO inserida numa comunidade euro-atlântica fraca (com o beneplácito de Trump) não são fanáticos do putinismo!
alguma coisa correu muito mal no planeamento russo
É sabido que os generais planeiam sempre a última guerra, isto é, que eles planeiam sempre a próxima guerra como se ela fosse ser combatida com as mesmas armas e as mesmas tecnologias que a anterior.
Neste caso, os generais russos não tiveram em conta a nova tecnologia dos drones FPV, que fazem da presente guerra algo totalmente diferente de todas as anteriores, nomeadamente permitindo que qualquer ataque couraçado inimigo possa ser neutralizado por drones FPV num instante.
É esta tecnologia que explica que o avanço russo seja extremamente lento e prudente.
Mas não devemos confundir este avanço penosamente lento com incapacidade para vencer. Devemos lembrar a Grande Guerra, na qual em 1918 os Aliados também avançaram muito lentamente - até ao momento em que a Alemanha colapasou.
O colapso da Ucrânia chegará inexoravelmente e será rápido.
Em que é que os "argumentos deles são sempre fundamentalistas"? Importa-se de concretizar?
Queria dizer profetas.
As Forças Armadas da Federação Russa são hoje as mais bem equipadas, treinadas e bem preparadas na face da terra. Ponto. Em relação a baixas, os russos terão sofrido na Ucrânia até agora, no máximo umas 100 a 120 mil baixas. Todas essa conversa sobre "centenas de milhares de baixas em combate" é pura propaganda inventada pela SBU e os vários serviços secretos ocidentais. Em relação a perdas de equipamento, são normais e expectáveis numa guerra desta dimensão e intensidade.
À falta de argumentos, putinistas, trumpistas e fundamentalistas. Já foi uma sorte não ter saído o mais usual comunistas, porque na verdade o que muitos ainda combatem é a URSS, desaparecida há mais de 30 anos. Mas que ninguém duvide que foi a falta de equilibrio que permitiu um mundo unipolar e um Xerife em Washington, responsavel por milhões de mortos e refugiados nos ultimos 30 anos. Então porque não, Sadamista, Gadafista, Talibanista, etc?
Só para esclarecer, no meu caso na verdade não. Defendo Instituições democráticas fortes e não homens fortes. Infelizmente no caso da Russia, os US também têm alguma responsabilidade no homem forte que já admiraram tanto. Bastava que parassem de interferir nas eleições russas, como curiosamente acusam a Russia de fazer nos US.
Tantos titulos por apenas denunciar a propaganda da CIA e o erro do alargamento da NATO? Ou a destruição de mais um país? Só para acabar, na verdade não atribuo qualquer relevância à velocidade do avanço russo retratado no texto. Porque não conheço os planos militares da Russia como porventura o Sr. Embaixador, porque tem várias explicações e sobretudo porque todos sabemos que o campo de batalha que a NATO moldou durante uma década na UA era na verdade só uma pequena parte do plano para derrubar o Governo de Moscovo. Sobretudo com sanções económicas, que também falharam estrondosamente e só depois com o máximo de soldados russos mortos na UA.
Um numero que ainda hoje está muito longe das centenas de milhares que o texto também descreve. Pura propaganda porque a Russia não tem sequer duas centenas de milhar de soldados KIAs. Mas concordo que já pagou um preço alto, que também vai reflectir na mesa das negociações. Não vai haver Istambul II. E aproveito só para lembrar que a Russia entrou na UA com uma pequena força expedicionária para pressionar negociações. E ainda hoje continua com poucos homens contra 50 aliados e sobretudo uma linha da frente enorme. Hitler entrou na UA com mais de 3 Milhões. E BoJo ainda aterrou de avião em Kiev quando foi sabotar as negociações. Mas ninguém aterra ou desembarca em Gaza há muitos anos. Porque os países não são todos iguais, ao contrário do que também diz a propaganda da CIA.
Da mesma forma que o conflito militar na UA também era só uma parte do plano para manter a hegemonia dos US a qualquer custo. Mas economicamente, como digo desde o 1º dia e independentemente do tamanho da sua economia, a Russia tem mais impacto no mundo ou se preferirmos junto de 80% da população mundial, que a UE. Da mesma forma que os BRICS já valem hoje economicamente mais que os G7. Independentemente do Sr. Embaixador também concordar ou não. O mundo já mudou. A Ordem Mundial segundo as regras dos US, a nação que mais viola o direito internacional e sabota o esforço meritório da ONU votando contra a maioria das suas resoluções maioritárias como no caso de GAZA, acabou!
Evidentemente que a Russia não perdeu centenas de milhares de homens. Aliás a propaganda de Kiev sobre o campo de batalha é uma projeção das suas proprias baixas desde o 1º dia. E não o digo com alegria nenhuma. Seres humanos são seres humanos, independentemente da nacionalidade, etnia, genero, religião, opinião política, etc. E veja-se as projeções da Mediazona com activos em toda a Russia ou até da inteligencia francesa. Infelizmente o Ocidente nunca chorou, quanto mais honrou, os milhões de mortos da Russia para derrotar o nazismo ou até os resultantes da recessão economica dos anos 90, também totalmente imposta pelo Ocidente. Em Economia estimamos algo com o impacto de 3 grandes depressões de 1929.
Mas em todo o caso as baixas da Russia neste conflito visavam unicamente desestabilizar a sociedade russa de modo a provocar a queda do Governo em Moscovo. Foi para isto que NATO passou 10 anos a construir fortalezas na Ucrania para um conflito totalmente "unprovoked" segundo a CIA. E sob este ponto de vista foi um falhanço tão grande como as sanções economicas. Os russos estão mais unidos que nunca, infelizmente também contra nós na Europa.
As autoridades ucranianas informaram que já este mês recebeu da Rússia 909 cadáveres de ucranianos e entregou 43 de soldados russos . A morte não tem nacionalidade mas se a informação que nos vendem tivesses credibilidade talvez o conflito já tivesse acabado ou nem tivesse começado. Os corajosos de sofá usam o sofrimento alheio .
Onde se lê “as mortes não têm nacionalidade” deve ler-se” o sofrimento não tem nacionalidade”.
Só umas breves notas sobre a senhora de Bruxelas: eu não tenho dúvida em afirmar que a Rússia invadiu a Ucrânia e mostrou-se impiedosa face ao governo e ao povo da Ucrânia. Sobre a legitimidade histórica da Ucrânia como estado independente acho que é um assunto mais controverso… a Ucrânia integra o império russo há vários séculos e territórios como a Crimeia são historicamente parte da Rússia e a sua integração na Ucrânia foi fruto dum episódio da luta pelo poder na URSS. Voltando à Sra de Bruxelas convém lembrar que a adesão à democracia Ucraniana contrasta com o abandono dos Arménios e o abraçar entusiasmado da causa do Azerbaijão legitimando a expulsão das populações do Nagorno Karabah. É só revisitar as palavras da Sra von Der Leyen após a sua visita ao Azerbaijão e o encontro com o Presidente Alyiev. Ora na insuspeita avaliação da Freedom House o Azerbaijão tem um score de 1.07 (equivalente à Rússia) em 100 enquanto a Arménia tem um score de 74. Os “nossos” ditadores serão melhores do que as ditaduras amigas de Putin?
Enviar um comentário