sexta-feira, abril 18, 2025

Zangas de um outro tempo


Em 1996, Isabel Mota e eu havíamos sido designados, por Marcelo Rebelo de Sousa e António Guterres, líder do PSD e primeiro-ministro, respetivamente, para mantermos um contacto regular sobre a Conferência Intergovernamental que estava a rever o Tratado de Maastricht, e que viria a resultar no Tratado de Amesterdão. 

Eu representava o governo português nessa negociação e Isabel Mota, que fora secretária de Estado e conhecia bem os assuntos europeus, era o "focal point" do principal partido da oposição. Almoçávamos de quando em vez, procurando coordenar posições, com efeitos na atitude a assumir no seio das famílias políticas europeias a que o PS e o PSD pertenciam. 

Mas os amigos, às vezes, são "forçados" a zangar-se. Um dia, Marcelo Rebelo de Sousa, referindo-se à condução da negociação, disse à imprensa uma coisa de que não gostei, tanto mais que eu era pessoalmente visado nesse seu comentário. Embora me não recorde exatamente do tema específico que motivou a polémica que se seguiria, tenho clara memória de que reagi, com veemência, à declaração do líder do PSD, numa resposta dada de imediato num telejornal, diretamente de Bruxelas.

Foi a vez do PSD também não gostar daquilo que eu disse e, através desta carta de Isabel Mota, decidiu "cortar relações" naquele domínio com o governo, tendo eu sido o pretexto. Tenho ideia de que Marques Mendes, então líder parlamentar, me atacou também na imprensa. Marcelo Rebelo de Sousa escreveu-me mesmo uma carta pessoal, a que respondi com outra, mas já não consegui encontrar nenhuma delas. Tenho pena: ajudar-me-ia a lembrar o "grave" motivo do dissídio...

Em compensação, há tempos, na limpeza de alguns raros papéis do passado que ainda andam cá por casa, encontrei esta missiva de Isabel Mota. 

À distância, tudo isto não deixa de ter alguma graça. É assim que recordo o episódio, publicando esta carta e aproveitando para deixar um abraço amigo a Isabel Mota, Luís Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa.

2 comentários:

Anónimo disse...

Felicito-o pela sua saudação a adversários de outros tempos. Nos tempos que correm, sabe bem.

Carlos Antunes disse...

Um diplomata será para sempre um diplomata!

Bélgicas

Uma fila de carros para lavagem automática não é um local habitual para manter diálogos com estranhos. Mas aconteceu-me ontem.  Era um homem...