domingo, abril 06, 2025

Jerónimo Martins


Daqui a dias, como foi já publicamente anunciado, vou deixar o cargo de membro não-executivo do conselho de administração da empresa Jerónimo Martins, lugar que ocupava desde abril de 2013. Sou, atualmente, um dos administradores mais antigos da empresa, tendo cumprido quatro mandatos de três anos, o que, aliás, já de si é pouco usual. 

Comigo saem outros cinco colegas, um português e quatro estrangeiros, num processo de rotação que se processa com toda a normalidade, similar a outros que testemunhei no passado. No meu caso, aliás, a saída estava definida e datada há três anos. 

Passarão agora a integrar o conselho, além de figuras estrangeiras, três personalidades portuguesas extremamente qualificadas, que aliás conheço bem e que, tenho a certeza, carrearão novas perspetivas, fruto da sua muito diversa e rica experiência profissional, para os debates no seio da administração. 

É esse, precisamente, o sentido da contribuição que se pretende seja dada pelos administradores não-executivos ao trabalho das empresas, facto que a opinião pública em regra desconhece. A grande maioria dos administradores não-executivos raramente é oriunda do ramo económico das companhias que integram.

Foi em dezembro de 2012, a semanas de sair de embaixador em Paris, por imposição legal, e de ir abandonar o serviço público que tinha exercido por mais de quatro décadas, que recebi um convite de Alexandre Soares dos Santos para me juntar à Jerónimo Martins. Tinhamo-nos encontrado brevemente ao tempo em que ambos presidíamos aos Conselhos Gerais de duas universidades públicas.

Foi para mim uma total surpresa: viviam-se os tempos da "troika" e do governo Passos Coelho, executivo que ninguém desconhecia estar muito longe da minha simpatia. Entendi dever dizer isso mesmo, com clareza, a quem me formulava o convite, não fosse dar-se o caso de poder haver algum equívoco. A resposta desarmou-me: "A política não é para aqui chamada. Precisamos de si para nos ajudar a pensar o futuro, à luz da sua considerável experiência internacional. Só isso!" 

E foi exatamente assim, durante 12 anos. Os meus colegas de conselho, entre os quais fiz alguns amigos para a vida, testemunharam frequentemente a minha teimosa heterodoxia, e até algum isolamento, em face de outras perspetivas conjunturalmente dominantes nos debates. Mas sempre ali disse tudo o que quis dizer, às vezes coisas que sabia irem ser menos cómodas de ouvir. Honra muito a empresa o cultivo desse saudável ambiente de pluralismo e de tolerância.

Aliás, a prova provada da total liberdade que sempre vivi na Jerónimo Martins - também comum a outras empresas com que colaborei e a outras em que atualmente continuo a trabalhar - é que, como colunista de três jornais, que entretanto tinha passado a ser, eu zurzia regularmente, sem contemplações, as minhas "bêtes noires" políticas. Contudo, nem por isso alguma vez recebi a menor observação de desagrado, ou sequer uma recomendação de contenção, da parte de qualquer dos meus empregadores. Nem por uma só vez! E eu sabia, de certeza segura, que, muitas vezes, eles não concordavam minimamente com muito do que eu por ali escrevia.

Quando entrei para a Jerónimo Martins, fui à Colômbia, à inauguração da primeira loja que lá foi criada. No ano passado, abrimos ali a loja 1000! Nos quatro mercados onde hoje opera, a Jerónimo Martins tem cerca de 6000 lojas, dando emprego a mais de 140 mil pessoas. Há 12 países membros da ONU que têm menos habitantes... 

Quero, assim, nesta ocasião, deixar claro que tive um imenso gosto e orgulho em ter colaborado, durante estes 12 anos, com a Jerónimo Martins, onde fui muito bem acolhido e que, afetivamente, me sentirei para sempre "lá de casa". 

Aproveito para deixar um sincero abraço a Pedro Soares dos Santos, o líder da empresa, o principal responsável pelo imenso êxito que ela tem vindo a ter, nas quatro geografias onde hoje atua. É público e notório que Pedro Soares dos Santos é uma pessoa que, em certos setores, suscita alguma polémica, que tem motivado o surgimento de alguns detratores e até, posso imaginar, de alguns inimigos. Mas é bom que se saiba que também tem muitos amigos. Eu, por exemplo.

5 comentários:

João Cabral disse...

De realçar ainda a Fundação FMS, que grande trabalho tem feito (apesar de uma certa colagem ao radicalismo de esquerda nos últimos tempos). Já para não falar da Pordata, um contributo inestimável para conhecermos um pouco melhor os dias que nos trespassam.

egr disse...

Penso que é sempre excelente que alguém , como o Senhor Embaixador , depois de uma carreira profissional brilhante , possa contribuir para que uma empresa portuguesa tenha estratégia de governação bem alicerçada ; já me causa perplexidade que , quem nunca teve vida profissional , mas já foi ministro , - Negócios Estrangeiros - primeiro ministro , presidente da Comissão Europeia - seja , depois de cessar funções , convidado para integrar a administração de certas empesas ; fazem exatamente o percurso inverso ao Senhor Embaixador .

Luís Lavoura disse...

Quais são os quatro mercados em que a Jerónimo Martins opera (de acordo com o post)?
De acordo com a wikipedia, a JM somente opera em Portugal, Polónia e Colômbia, ou seja, somente em três mercados.

Francisco Seixas da Costa disse...

O Luís Lavoura tem de acomodar-se à ideia de que o seu conhecimento pode, muitas vezes, ficar aquém da realidade dos factos: https://www.jeronimomartins.com/pt/press_releases/pr_20250305_1_pt/

Luís Lavoura disse...

Francisco,

como referi no meu comentário, não é somente o meu conhecimento que está em causa, mas também o da wikipedia.

A Jerónimo Martins entrou na Eslováquia há somente um mês, é normal que eu ainda não me tivesse apercebido disso.

Le Lapin Agile