segunda-feira, abril 21, 2025

Francisco e o San Lorenzo


Passei há minutos junto ao espaço que foi o antigo Estádio do Lima, no Porto. E - logo verão porquê - lembrei-me do papa Francisco, que hoje deixou o mundo.

Na minha infância, o nome de San Lorenzo de Almagro era sinónimo de perfeição em futebol. Ao que o meu pai me contava, aquela equipa argentina teria feito, em 1946/1947, uma temporada de exibição pela Europa e o seu jogo, marcado por passes curtos e uma apurada técnica individual, surpreendeu e venceu todos os adversários que defrontou. 

Popularizado então como o "Ciclone", o San Lorenzo infligiu mesmo uma derrota pesada a uma seleção de Lisboa (chamada BSB - Benfica, Sporting e Belenenses). Nada menos que 10-4.

Cito o que o histórico Ribeiro dos Reis escreveu, sobre esse jogo, em "A Bola": "Uma orquestra afinadíssima, com avançados primeiros violinos, com dribles num palmo de terreno, passes repetidos para trás, extenuando os adversários, tantas as voltas que obrigavam a dar. Basta! Basta! Basta! Dá vontade de gritar aos malabaristas de circo que são os jogadores argentinos"

Dias antes, no estádio do Lima, no Porto, o San Lorenzo tinha dado também uma "abada" ao Futebol Clube do Porto. Foram 9-4. 

Uma noite, no final dos anos 60, num jantar no Pedro dos Leitões, na Bairrada, tive o privilégio de assistir a uma rememoração dessa partida, feita por Gomes da Costa, que fora "avançado-centro" dos portistas nesse jogo e era médico em Vila Pouca de Aguiar, e o meu pai, testemunha de bancada. Eu "vi" o jogo, nessa noite.

Quando Jorge Bergoglio saiu do banco dos cardeais para alinhar na seleção dos papas, com o inspirado nome de Francisco, foi noticiado que ele era, desde criança, um fanático pelo San Lorenzo de Almagro, clube de que era sócio vitalício. 

Agora, tal como as cerejas, as coisas vieram umas atrás das outras, no meu algoritmo íntimo: a morte, o papa, o futebol, o San Lorenzo, o meu pai, as "abadas", o estádio do Lima, o jantar no Pedro dos Leitões. 

Adeus, Francisco! 

6 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde. Creio que a "selecção" BSB era Senfica, Sporting, Belenenses. Então, como agora, a malta sulista não queria nada com o FC Porto.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Coisas boas da vida que rimam muito bem com o Papa Francisco.
E a mestria do Sr. Embaixador em apanhar estas rimas nunca falha!

Flor disse...

Adeus! Que descanse em paz.

Anónimo disse...

Bela crónica! Uma espécie de táctica à Guardiola antes do tempo?

Paulo Guerra disse...

Também devia ressuscitar ao terceiro dia. Sem sombra de dúvida o Papa mais cristão do meu tempo de vida. Ainda na véspera da sua morte voltou a lembrar o terror em Gaza.

Para quem também ainda não percebeu a diferença entre os “danos colaterais” na Ucrânia e em Gaza. Um campo de concentração a céu aberto, que o Ocidente Coletivo nunca reconheceu como parte de uma nação, com direito a Forças Armadas além da Resistência que luta contra a ocupação sionista desde a WWII e que nós tratamos carinhosamente como terroristas, ao contrário do “head chopper” da Al Quaeda, o novo Senhor de Damasco. Muito menos ao apoio da Superpotencia Unipolar, com mais de metade do orçamento de defesa mundial - só às suas bombas burras mais pesadas indiscriminadamente - e aos 50 aliados de Bliken.

Que sobretudo a nós europeus devia incomodar muito mais. Não considerássemos nós Israel, em muitas domínios, uma nação europeia. Como na Eurovisão ou na UEFA do futebol, etc. Porque o genocídio em GAZA também é motivado por racismo puro e duro no seculo XXI!

Além de limpar o lixo no banco do Vaticano, também a descoberto pelo crash de 2008. Que um dia todos perceberemos como o último prego na hegemonia ocidental. Que fez com que, por exemplo, a UE passasse de condenar a invasão do Iraque para cúmplice do Imperialismo e da propaganda da CIA e do MI6 na tentativa de tomar a Rússia como qualquer Napoleão. O que infelizmente também amargaremos por longos anos.

albertino ferreira disse...

O meu pai foi assinante da antiga revista Stadium cujos exemplares ofereci ao museu do Sporting; pois numas dessas revistas dos anos 40 havia reportagens dos jogos do San Lorenzo e eram só cabazadas por essa Europa fora!

Bélgicas

Uma fila de carros para lavagem automática não é um local habitual para manter diálogos com estranhos. Mas aconteceu-me ontem.  Era um homem...