O caso Marquês marcará os meses que aí vêm. A justiça tem um desafio importante: para condenar Sócrates, terá de identificar, para além das idas e vindas de dinheiro, que decisões por ele tomadas ou influenciadas resultaram em vantagens que justificaram pagar tantos milhões.
quarta-feira, julho 09, 2025
terça-feira, julho 08, 2025
Nobel
É de facto uma imensa honra para Trump ser proposto para Prémio Nobel da Paz por iniciativa de alguém que é acusado de crimes de guerra e contra a humanidade.
Justiça
O caso da mulher grávida que desapareceu e que a voz pública acha que foi assassinada por um homem com quem teve uma relação, que o tribunal acaba de absolver por falta de provas, é um "case study" sobre o próprio conceito de justiça, em que o "in dubio pro reo" é regra de ouro.
segunda-feira, julho 07, 2025
A (não) fazer
Ontem, a meio da tarde, tive uma sensação estranha: ou era eu quem me estava a esquecer de alguma coisa ou, de facto, não tinha rigorosamente nenhum compromisso de escrita pendente. Era a primeira vez, desde há bastante tempo, que tinha essa sensação.
Espanha (4)
Há um estranho "iberismo" nas redes sociais: gente da direita lusa desfaz-se em insultos contra Sánchez e exulta, de forma quase doentia, com os seus desaires; alguma esquerda exalta como pode o PSOE e chama "facho" a tudo quanto estiver à direita dos socialistas. Que coisa!
Espanha (3)
Não correu bem a Sánchez a reunião do PSOE do passado fim de semana. Mais trapalhadas e revelações comprometedoras para figuras próximas da liderança vieram a lume. As vozes críticas foram poucas, mas o mal-estar no partido é evidente. Que coelho ainda terá Sánchez na cartola?
Espanha (2)
A vedeta liberal do PP de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, pouco discreta candidata potencial à liderança da direita espanhola, viu-se obrigada a refrear as suas ambições, em face do quase unanimismo em torno de Feijóo. O seu tempo, claramente, não é este.
Espanha (1)
A direita espanhola, pressentindo o vento a soprar contra o PSOE, reentronizou Feijó com grande estadão. O "não é não" face ao Vox começou já a cair, embora com recusa de coligação. Salvo por uma improvável onde de fundo, não se percebe como um PP "só" conseguirá chegar a Moncloa.
América
É cedo para contar votos no Congresso americano, depois das eleições intercalares de 2026. Em regra, nada é garantido para qualquer dos lados. Talvez isso explique algum nervosismo - mas pode ser só irritação - no modo como Trump reagiu à criação do partido de Musk.
domingo, julho 06, 2025
Este blogue é o que é
Nos últimos dias, ouvi dois comentários sobre este blogue.
O primeiro, estranhando que eu não tivesse falado sobre a morte de Diogo J. Para essa pessoa, era algo insólito que um acontecimento que mobilizou emocionalmente o país tivesse passado completamente desapercebido por aqui.
O segundo, sublinhando que o blogue acabava por ser demasiado pessoal, com historietas minhas sobre assuntos irrelevantes para a maioria das pessoas, o que não facilitava a sua estabilização como algo que poderia facilmente ser: uma plataforma de debate sobre alguns temas de atualidade, no plano nacional ou global. E essa outra pessoa foi acrescentando o seguinte comentário: "Abre-se o blogue e nunca se sabe se vai surgir uma reflexão sobre um tema sério ou se optaste por publicar uma graçola, às vezes sem a menor graça, ou a que só tu achaste graça. Tenho que confessar: em muitos dias, esperava muito melhor de ti."
Ambos os comentários se interligam. Não comentei a morte de Diogo J mas coloquei a fotografia de um azulejo humorístico numa tasca. É ou não uma falta de sentido das proporções? Comentei uma dormida num hotel quando seria muito mais "útil" denunciar a vergonhosa deriva direitista do governo em matéria securitária e migratória? Como é que eu tenho o desplante de analisar a ementa de um restaurante de luxo onde fui jantar quando crianças morrem de fome em Gaza?
Entendamo-nos de uma vez por todas: este não é um espaço de comunicação social. É um bloco-notas pessoal, repito, estritamente pessoal, às vezes de memórias, outras de comentários (cada vez mais) breves e às vezes caricaturais (passei a utilizar a cómoda brevidade do Twitter), de instantâneos apanhados ao acaso - na net, na rua, nos jornais que cada vez menos leio. O "Duas ou Três Coisas" é só isso e não tem a menor pretensão de ser mais do que é. Não quer ser doutrinário, não quer "ir a todas", ou sequer pretende ser coerente no equilíbrio global daquilo que publica. Este blogue, repito, é o que é, é um pouco o que sou. Gostam dele assim? Leiam-no. Não gostam? Passem à frente. Amigos como dantes!
sábado, julho 05, 2025
Avignon
Espanha
Pedro Sánchez tenta evitar ser tingido pelas escandaleiras que saem de todo o lado no partido, desde a corrupção pura e crua até ao machismo ostensivo. A direita está à espreita e agita ruas e discursos. Numa Espanha economicamente sã e com voz externa, Sánchez vai sobrevivendo.
Tour
Começa hoje a Volta à França 2025 em bicicleta. Desde há 40 anos, com Bernard Hinault, que um francês não ganha a prova maior do ciclismo mundial.
França
François Bayrou, desistente do sonho presidencial em França, forçou Macron a nomeá-lo primeiro-ministro. Para surpresa de alguns e conforto do preconceito de outros, revelou-se um fraco líder do governo, onde se afronta a direita tradicional e o extertor ruidoso do macronismo.
sexta-feira, julho 04, 2025
Ai se fosse hoje...
Os Estados Unidos estão a dever um forte pedido de desculpas a Richard Nixon. Se o Watergate tivesse ocorrido neste "big, beautiful" mundo de Trump, nem uma agulha teria bulido do lado da agora "so-called" justiça americana para incomodar o presidente.
quinta-feira, julho 03, 2025
Pousadas de Portugal
- Desde 1942, foram criadas 70 Pousadas.
- Atualmente (julho de 2025), existem 38 Pousadas.
- Ao todo, foram encerradas 32 unidades - 8 antes da chegada do Grupo Pestana (1942-2003) e 24 sob gestão Pestana (2003-2025).
- Após a chegada do Grupo Pestana foram construídas 16 novas unidades.
- Elvas. Santa Luzia (1942-2012)*
- Marão. São Gonçalo (1942-2007)*
- Macinhata do Vouga. Santo António de Serem (1942-2002)
- Covão da Ametade, Santo António (1942-1967)
- Alfeizerão. São Martinho (1943-1967)
- São Brás de Alportel. São Brás (1944-2010)*
- Alijó. Barão de Forrester (1944-2013)*
- Santiago do Cacém. S. Tiago (1945-2001)
- Manteigas. São Lourenço (1948-2005)*
- Madeira, Pousada dos Vinháticos (1949-1967)
- Berlengas. Forte de São João Baptista (1953-1971)
- Tomar. São Pedro. Castelo do Bode (1954-2003)*
- Serpa. São Gens (1960-2003)*
- Miranda do Douro. Santa Catarina (1962-2002)
- Caramulo. São Jerónimo (1963-2005)*
- Setúbal. São Filipe (1965-2014)*
- Santa Clara a Velha (1969-2006)*
- Póvoa das Quartas. Santa Bárbara (1971-2003)*
- Torrão. Vale do Gaio (1977-2007)*
- Guimarães. Senhora da Oliveira (1980-2013)*
- Cerveira. Dom Dinis (1982-2008)*
- Sagres. Forte do Beliche (1982-1989)
- Batalha. Mestre Afonso Domingues (1985-2007)*
- Almeida. Nossa Senhora das Neves (1987-2005)*
- Santiago do Cacém. Quinta da Ortiga (1991-2008)*
- Sousel. São Miguel (1992-2010)*
- Condeixa. Santa Cristina (1993-2019)*
- Monsanto (1993-2011)*
- Mesão Frio. Solar da Rede (1998-2012)*
- Vila Pouca da Beira. Convento do Desagravo (2003-2017)*
- Proença a Nova. Amoras (2006-2011)*
- Braga. São Vicente (2007-2012)*
- Óbidos. Castelo. (1951)
- Marvão. Santa Maria (1956)
- Bragança. São Bartolomeu (1959)
- Sagres. Infante (1960)
- Murtosa. Pousada da Ria, Santa Joana Princesa(1962)
- Valença. São Teotónio (1962)
- Évora. Loios (1963)
- Caniçada. São Bento (1968)
- Estremoz. Rainha Santa Isabel (1970)
- Viana do Castelo. Santa Luzia (1979)
- Palmela. Santiago (1979)
- Guimarães. Santa Marinha da Costa (1985)
- Alvito (1993)
- Beja. São Francisco (1994)
- Queluz. Dona Maria I (1995)
- Arraiolos. Nossa Senhora da Assunção (1995)
- Crato. Flor da Rosa (1995)
- Vila Viçosa. Dom João IV (1996)
- Amares. Santa Maria do Bouro (1997)
- Alcácer do Sal. Afonso II (1998)
- Belmonte. Convento de Belmonte (1999)
- Ourém. Conde de Ourem (2000)
- Horta . Forte de Santa Cruz (2004)#
- Lisboa. Praça do Comércio (2005)#
- Bahia, Brasil, Convento do Carmo (2005)#
- Tavira. Convento da Graça (2006)#
- Angra do Heroísmo. Forte de São Sebastião (2006) #
- Estoi. Palácio de Estoi (2009)#
- Porto. Palácio do Freixo (2009)#
- Viseu (2009)#
- Cascais. Cidadela (2012)#
- Covilhã. Serra da Estrela. (2014)#
- Obidos. Vila de Óbidos (2018)#
- Óbidos Lidador (2019)#
- Câmara de Lobos. Churchill Bay (2019)#
- Vila Real de Santo António (2020)#
- Porto - Rua das Flores (2021)#
- Lisboa. Alfama (2023)#
A primeira Pousada
A antiga Pousada de Santa Luzia tinha uma oferta de restauração que fez história. O seu bacalhau dourado, que ainda hoje por lá de serve, convocava gente ida de muito longe. Ainda hoje, o restaurante Cadeia Quinhentista, em Estremoz, do mesmo proprietário do hotel, continua a oferecer este prato na sua lista.
Com o 25 de Abril, a receita tinha já emigrado para o Brasil, novo destino de vida quem então dirigia a Pousada. Aí se fixou no mítico restaurante Antiquarius, no Rio de Janeiro, que encerrou há poucos anos.
Há 2023, vim a redescobrir esse prato, e constatei que mantinha grande qualidade, no restaurante "Entre Amigos', em Botafogo, dirigido por uma pessoa que tinha trabalhado no Antiquarius.
A vida é assim mesmo.
quarta-feira, julho 02, 2025
Seguro
António Vitorino e Augusto Santos Silva, o primeiro há dias, o segundo hoje, anunciaram não irem avançar com uma candidatura presidencial. Se acaso o tivessem feito, seriam acusados de se terem colocado no "mercado" político de António José Seguro, que tem no terreno, desde há já algum tempo, uma candidatura própria. A desistência de ambos revelou um grande sentido de responsabilidade, procurando evitar a divisão da esquerda e do centro-esquerda.
À direita, "les jeux sont faits". Gouveia e Melo arrebanhará, com naturalidade, todo o eleitorado populista e de direita, moderada e extrema, ficando por definir o momento em que o voto do Chega se lhe colará. A vítima direta será o candidado oficial do PSD, Luís Marques Mendes, cujos votantes também parecem seduzidos, cada vez mais, a vogarem pelas águas do almirante.
À esquerda, não obstante toda a consideração pessoal e política que merece a figura de António Filipe, ficou hoje claro que o único candidato que se apresenta como um claro contraponto a Gouveia e Melo é António José Seguro.
Conheço António José Seguro há bastantes anos. Fomos colegas de governo, onde ele foi secretário de Estado e ministro, trabalhámos de perto quando liderou os socialistas no Parlamento Europeu, a seu convite colaborei na iniciativa "Novo Rumo", com a qual o Partido Socialista procurou desenhar, em tempos difíceis do governo de "coligação" PSD-Troika, uma alternativa ao "passismo".
Em 2011, Seguro foi herdeiro de um partido que fora copiosamente derrotado nas eleições, depois de ter assinado o "memorando de entendimento" a que o colapso financeiro tinha forçado a gestão de José Sócrates. Ao seu lado, se a expressão se deve aqui utilizar sem ironia, Seguro teve um grupo parlamentar desenhado pelo seu derrotado antecessor, e que nunca lhe facilitou a vida.
Com a passagem do tempo e com o surgimento de resultados políticos tidos por insuficientes, o seu difícil papel começou a ser contestado dentro do PS. Uma pulsão em favor de António Costa foi crescentemente tomando conta do partido. Em face dessa pressão e do desafio de Costa, António José Seguro tomou a corajosa decisão de organizar uma votação, aberta a simpatizantes, para um tira-teimas em termos do nome do futuro líder.
A resposta dos votantes foi a escolha de António Costa. Seguro abandonou, com dignidade, a liderança, remetendo-se ao silêncio a partir de então. Antes disso, porém, cometeu, a meu ver, um erro grave: nos debates públicos com António Costa utilizou uma linguagem confrontacional que se afastou radicalmente da serenidade da imagem que era a sua. Não havia necessidade - e muitos de nós dissemos-lhe então isso, com a frontalidade que se deve aos próximos. A meu ver, esse foi o seu único mas grande erro.
António José Seguro esteve por uma década num quase silêncio. Afastou-se da política ativa e dedicou- se so ensino. Aos 63 anos, ao aproximar-se a mudança de ciclo em Belém, decidiu, com toda a legitimidade, ensaiar um regresso à vida pública, apresentando-se como candidato presidencial.
Não começou por assegurar a unanimidade dentro do Partido Socialista, bem como de pessoas próximas do partido, como foi o meu caso. Há meses, deixei aqui claro que a minha primeira opção ia, preferencialmente, para outras hipóteses. Contudo, não se tendo qualquer dessas candidaturas concretizado, não tenho hoje a menor dúvida em afirmar que o meu voto, em janeiro de 2026, irá para António José Seguro. E, com toda a liberdade de quem já não é militante, ouso esperar que o Partido Socialista se una em torno da sua candidatura. Vir a ter um Belém um comprovado democrata, uma personalidade equilibrada, íntegra, com forte e comprovada experiência, nacional e europeia, com uma incontestada capacidade de diálogo e bom conhecimento dos mecanismos políticos do Estado, é algo em que vale a pena apostar.
terça-feira, julho 01, 2025
Elvas
segunda-feira, junho 30, 2025
Simplesmente Trump
domingo, junho 29, 2025
43,5 ºC !
Na vida, lembro-me de ter apanhado caloraças inimagináveis. Algumas na quase vintena de países africanos por que passei, outra num deserto da Ásia Central, mas também nos centros do Rio e de Nova Iorque, num fim de tarde na Tailândia, num meio-dia em Atenas, numa jornada em Córdova (no "Verão quente"), até na minha Vila Real da juventude, em domingos sinistros de pasmaceira, nos anos 60. Tenho tantas, muitas memórias de ocasiões com um calor quase insuportável, coisa que foi quase sempre agravada pelo facto de eu ser como o leite que se usa cá em casa: meio gordo.
43,5° C foi o que há horas registei no meu carro. Isto está a mudar! Qualquer dia já temos camelos a andar por aí. E não, não é desses!
Senhora da Pena
Na minha juventude, lá por Vila Real, quando alguma coisa tinha luzes a mais, costumava dizer-se: "Aquilo já parece o arraial da Senhora da Pena". Em transcrição fonética, em "vila-realês", lê-se "sedapâna".
sábado, junho 28, 2025
sexta-feira, junho 27, 2025
O voto em Branco
"Estou muito desiludido com o leque de candidatos às presidenciais. Até estou a pensar votar em branco", disse-me ontem um conhecido. "Já fiz isso, por duas vezes", respondi-lhe. Ficou surpreendido. "Quando foi?". "Votei duas vezes no candidato Jorge Branco Sampaio". E ganhei!"
Os talheres da viscondessa
Em 1930, com menos de 20 anos, o meu pai saiu da sua Viana do Castelo natal para ingressar, em Lisboa, na Caixa Geral de Depósitos. Nesse tempo, acrescentava-se ao nome "Crédito e Previdência". Mal ele sabia que esse acabaria por ser o seu muito feliz destino de trabalho, nos 47 anos que se iam seguir.
Para trás, em Viana, deixava a minha avó Filomena, viúva já há cinco anos, mãe de oito filhos, dois que há muito tinham morrido. O meu pai era então o mais novo e essa sua ida para Lisboa terá sido traumática para a mãe. Para ele foi muito difícil, confessava sempre. Toda a família vivia em Viana, com uma fortíssima ligação afetiva à minha avó. Os três irmãos e uma das irmãs estavam bem encaminhados - usava-se então muito a expressão "lançados" - nas respetivas vidas profissionais, concluído que fora o liceu para todos eles. Chegar à universidade é que não tinha sido possível, por razões económicas, para nenhum dos filhos da minha avó.
A Lisboa de então, na memória esparsa que, ao longo dos anos, fui ouvindo do meu pai, ressoava a páginas de "A Capital", do Eça, no olhar deslumbrado de Artur Corvelo. O meu pai, contudo, trabalhava, não fazia poesia como o injustamente pouco apreciado autor do "Esmaltes e Joias".
Falava-me imenso dos cafés desse tempo, dos cinemas existentes, de algumas revistas no Parque, a que ia com os baratuchos "bilhetes de claque", isto é, com obrigação de aplaudir. E também se lembrava da agitação política, dos cívicos de chanfalho que, na confusão das manifestações, dissolviam "ajuntamentos de mais do que uma pessoa" e determinavam, alto e bom som: "É proibido andar parado!"
O 28 de maio tinha sido quase nas vésperas, as revoltas violentas estavam no ar do tempo, republicanos e integralistas agitavam aqueles dias. Educado numa família solidamente republicana, o meu pai olhou a subida do autoritarismo com uma saudável inquietação democrática, atitude que o viria a acompanhar até ao final dos seus longos dias.
Foram muito poucos esses meses de Lisboa, mas terá sido um tempo de imagens fortes e impressivas para um miúdo que, contudo, nem por um dia esqueceu o seu Minho - onde tinham ficado a mãe e todos os seus irmãos. Logo que pôde, conseguiu transferir-se para lá.
A mulher de um dos irmãos do meu pai tinha uma tia em Lisboa, senhora com posses, com bela casa e um título de viscondessa. O meu pai contava, às vezes, divertido e com pormenores, um jantar para que foi convidado pela senhora.
A ocasião era social e ficou-lhe então no goto uma pequena muito bonita com quem meteu conversa à mesa e com a qual, por timidez, havia de falhar um futuro encontro. Sorte a minha: se o conhecimento tivesse tido boa sequência, eu não estaria agora a ser o narrador desta história.
Desse jantar, lauto e imagina-se que um pouco diferente da comida das tascas de galegos do Bairro Alto que o jovem funcionário da Caixa podia frequentar, o meu pai contava o embaraço em que ficou, ao deparar-se com uma parafernália de talheres, cuja ordem de utilização não lhe resultava evidente. A bela rapariga ao seu lado, notando a sua hesitação, deu-lhe, discretamente, um prático conselho protocolar: esperar para ver como os outros faziam.
Às vezes, já tenho pensado que, em certos períodos, a nossa política externa, na prudência obsessiva perante os acontecimentos do mundo, aprendeu demasiado com a lição dos talheres da viscondessa: fica à espera para ver o que os outros fazem, seguindo-os depois, contentinha da vida.
Acabei há pouco de escrevinhar um texto sobre questões de protocolo que me foi solicitado, para um fim que não vem aqui ao caso. E foi então que me lembrei dessa viscondessa que me ficou da memória familiar, uma titular sem nome, mas que o meu primo Rogério, descendente de um ramo próximo dessa ala aristocrática, talvez ainda consiga identificar. Se assim fosse, fechava-se a história com garfo de ouro.
Os trios das quintas
António Vitorino
Tenho muita pena, António!
Muito pouca gente, da gente que temos, representaria melhor toda a nossa gente: com equilíbrio, maturidade, cultura, cosmopolitismo e sentido de Estado.
Preocupem-se
Deve haver poucas coisas mais impopulares do que aquela que vou dizer, mas digo-a, sem a menor tibieza: não sendo o anti-semitismo, há muito, entre nós, uma questão preocupante, acho que nos devemos começar a inquietar seriamente com a onda de islamofobia que aí começa a grassar.
quinta-feira, junho 26, 2025
Belgas
Brasil cá e lá
É muito bom que um jornal com a história do "Diário de Notícias" esteja envolvido num projeto jornalístico que atravessa o Atlântico. Agora sob a direção de Filipe Alves, que por anos conduziu o "Semanário Económico", o DN Brasil tem Amanda Lima na condução deste projeto luso-brasileiro. Só lhes posso desejar muito sucesso. No que me toca, gosto muito de ver, cada vez mais, o Brasil em Portugal.
quarta-feira, junho 25, 2025
Aposto
A missiva de Mark Rutte a Trump é um nojo. Mas até aposto que, no seio dos seus colegas, a grande maioria aplaude-o e elogia o seu "sacrifício", ao ter-se prestado àquele ridículo para conseguir preservar Trump "a bordo" da NATO e, pelo menos, não piorar a atitude face à Ucrânia.
Bélgicas
Uma fila de carros para lavagem automática não é um local habitual para manter diálogos com estranhos. Mas aconteceu-me ontem.
terça-feira, junho 24, 2025
Estão bem um para o outro
Natas
segunda-feira, junho 23, 2025
Com dedicatória
Fabiano
Íamos num pequeno jato, de Brasília para Salvador. Havia por lá um qualquer evento e a Maria Josina e o Arnaldo Cunha Campos, um excelente casal amigo que o tempo já levou, que tinham um "jatinho", disseram que nos podiam dar "carona".
Sou pouco dado a aventurar-me nesses pequenos aviões privados. Porquê? Por medo, claro, coisa própria dos humanos. Sou um crente na aviação comercial. Mas não quisemos dizer que não a esses nossos novos amigos.
Durante a viagem, num momento da conversa para encher o tempo, veio à baila o modo como, em Portugal e no Brasil, se designavam pessoas indeterminadas: Fulano, Cicrano e Beltrano. Sem wifi nas alturas, interrogávamo-nos sobre qual seria a origem de cada um desses nomes, não tendo chegado a nenhuma conclusão.
Foi então que, para completar a lista dessas designações gerais, eu adiantei: "Em Portugal, também era comum, no passado, utilizar a expressão 'um fabiano', para designar uma pessoa indeterminada. Cá pelo Brasil, também se usa?"
Levei à conta do barulho do motor, que envolvia o ambiente no interior do "jatinho", o silêncio com que a minha questão não foi respondida. A cara séria do Arnaldo Cunha Campos, que por regra era um tipo divertido, surpreendeu-me ligeiramente. Logo a resposta veio com uma pergunta: "Francisco, você sabe o nome do meu filho?" Respondi que não. À época, ainda não tinha tido o gosto de conhecer a família do casal. Ele respondeu: "Fabiano".
Nunca concluí se foi ou não um poço de ar o abanão que o "jatinho" me pareceu sofrer nesse instante.
Um abraço saudoso para si e para as suas irmãs, caro Fabiano Cunha Campos.
domingo, junho 22, 2025
Os meus
Solstício
Então, é assim
O cozinheiro "iraniano"
sábado, junho 21, 2025
Irra!
Já esteve mais longe a decisão de desamigar quem quer que use a expressão "vergonha alheia". Tenham vergonha própria!
Já agora...
Estejam atentos: agora que a extrema-direita caseira está, dia após dia, a mostrar a sua face violenta, pode-se constar, aqui pelas redes sociais, em jeito subliminar de "compensação", as crescentes referências às FP25. Terrorismo por terrorismo, convém lembrar-lhes o do MDLP.
Alguma vez havia de ser...
São tantas as vezes em que discordo do meu amigo Sérgio Sousa Pinto que me apraz muito registar este momento em que subscrevo a sua análise, como sempre muito bem articulada, sobre um tema internacional da atualidade.
Ver aqui.
Noite de Verão
sexta-feira, junho 20, 2025
Internacional
Relembrar
A análise televisiva de temas internacionais, quando (como, infelizmente, quase sempre acontece) não consegue ser equidistante, ganha bastante com o contraditório, no qual estejam representadas todas (repito, todas) as posições e narrativas. Com vivacidade, educação e respeito.
quinta-feira, junho 19, 2025
Futebóis
Na Europa, jogava-se a taça dos Campeões Europeus, a taça das Taças e a taça das cidades com Feiras (é verdade, chamava-se assim!).
No tocante a seleções nacionais, havia os campeonatos do mundo, de quatro em quatro anos, com o campeonato da Europa de equipas nacionais a surgir só mais tarde. E havia jogos entre seleções militares, imaginem.
Por esse tempo, lá por Vila Real, eu lia "A Bola", que saía três vezes por semana. Às vezes também o "Record", "O Mundo Desportivo" e, raramente, "O Norte Desportivo". Colecionava cromos com jogadores saídos nos rebuçados de uma lata cúbica que havia pelos cafés, mas nunca me saiu "o número da bola" (como se dizia em Vila Real) ou "o mais custoso" (como se dizia em outros locais), que dava direito a uma bola de couro.
O futebol era quase só aquilo e era muito simples. Agora é o que se vê.
Às malvas
Uma viúva do Irão
Não esquecer
Já agora: que é feito do famoso muro que Trump estava a construir? Como tem andado a tomada do canal do Panamá? Há avanços na invasão da Gronelândia? E o Canadá já se convenceu a ser o 51° estado americano? Há dossiês tão "beautiful" e "great" que não devem ser esquecidos.
Já agora
É lamentável que os mísseis com que o Irão bombardeia Israel originem vítimas civis. Ao invés, útil seria que esses ataques contribuíssem para tornar ineficazes as armas nucleares que Israel mantém, à revelia de qualquer fiscalização da Agência Internacional de Energia Atómica.
Jorge Coelho
quarta-feira, junho 18, 2025
O Clube e eu
Sou atualmente presidente do Clube de Lisboa / Global Challenges, uma associação com cerca de 100 sócios, criada em 2016, que pagam as suas quotas e que tem como objetivo discutir temáticas de natureza global. O Clube não é um "think tank", não produz doutrina, apenas "produz" debates e reflexões.
Haverá Intifada?
A Palestina está em polvorosa com as "condições" colocadas pelo governo português para o seu reconhecimento. Em Gaza não se fala de outra coisa.
Ai, Canadá...
António Costa
Israel (3)
O Estado de Israel tem pleno direito a existir, em segurança, dentro das fronteiras que o Direito Internacional lhe reconhece. Se repetir esta frase a um diplomata israelita, passa por inimigo de Israel, porque o país não reconhece tais fronteiras como legítimas. E estamos assim.
Israel (2)
Israel considera-se isento do cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Os EUA e os países europeus membros permanentes desse Conselho, sem cujo apoio ou a abstenção as resoluções não teriam sido aprovadas, não mexem uma palha para forçar Israel a cumpri-las.
Europa
Antes, ironizava-se que a Europa, no Médio Oriente, tinha sempre o "Óscar para o melhor ator secundário", dado que os EUA lhe não deixavam levantar a grimpa. Agora, ver a senhora Leyen telefonar, carinhosa, a alguém com um mandado de detenção do TPI é uma bela comédia série B.
Israel
Israel é um país poderoso. Sabe que tem forma de condicionar internamente as administrações, de qualquer cor, da mais importante potência mundial. Além disso, usa o terror semântico do anti-semitismo e a memória do Holocausto para pôr a Europa aos seus pés. Ganha o dia de amanhã.
Irão, irão...
Trump pode não resistir à tentação de um "regime change" no Irão, para satisfazer o delírio israelita. Seria repetir o erro da Líbia e do Iraque, arriscando a implosão do país. A Arábia Saudita e as outras ditaduras medievais do Golfo que se cuidem com o que aí pode vir.
Eu, Trump
O desprezo de Trump confirmou o G7 como um cadáver adiado. Teve importância quando, com mais ou menos reticências, era a "voice of America", a expressão da força de Washington, com alguns poderes pequenos a fazerem figura de grandes, como se fossem eles os "donos" das decisões.
Na sequência da crise financeira, o G7 tentou ser relevante com o G20, procurando aculturar esses poderes de terceira linha aos seus interesses. Passado o atordoamento da crise, os cooptados libertaram-se, com os BRICS a aproveitar para fazerem proselitismo e agregação "a Sul".
Trump acha agora que está a perder tempo no G7, como no G20, como na NATO. Trump só tem tempo para o que interessa à expressão do poder singular da América - e faz gala de deixar isso muito claro a todos, que contudo lhe fazem um sabujo rapapé, entre bofetadas que vão recebendo.
terça-feira, junho 17, 2025
Lado a lado
Ó diabo! Isto começa a ficar sério!
Justiça
O caso Marquês marcará os meses que aí vêm. A justiça tem um desafio importante: para condenar Sócrates, terá de identificar, para além das ...