Ali por fins de 2008 e princípios de 2009 deu-me para aceitar ser promitente sócio-fundador de uma empresa de produção de azeite, uma associação de portugueses (que tinham e têm cá os lagares) e de tunisinos ou tunisianos (que tinham mas desconheço se ainda têm lá as oliveiras, houve por lá umas voltas da vida). A Tunisia é um três grandes produtores de azeite do mundo, sendo 90% da sua produção encaminhada para Itália, Espanha, França (e EUA) pelo que não convém embirrar muito com eles quando se pensa na importância que têm nas cozinhas, das quais saem os pratos que alimentam as almoçaradas onde se resolvem os negócios. Ainda hoje desconfio que o interesse na minha pessoa tinha duas vertentes, o dinheiro da quota e o facto de falar francês como falo o português pois, na hora dos finalmente, não queriam a minha opinião de gestor experiente para (quase) nada, mas ter alguém a dialogar de igual para igual foi fundamental, o francês fluente foi bem útil. Em resumo: um sócio-intérprete. Foi assim uma experiência muito interessante e que felizmente não deu em nada, pois em Dezembro de 2010 o jovem Mohamed Bouazizi imolou-se pelo fogo e deu origem à propagação do movimento conhecido como Primavera Árabe, que começou na Tunísia e se estendeu para todo o Norte da África e Médio Oriente (o resto já se sabe). E felizmente não deu em nada porque nós portugueses continuámos todos amigos, a sociedade era para constituir lá, os sócios de lá tinham “ligações” políticas (e também por isso desconheço se ainda têm lá as oliveiras) e eu estava cada dia menos interessado naquilo tudo. Assim não tive que fazer nada para deixar de ser “promitente sócio-fundador” de uma sociedade industrial e comercial, com sede num país com gentes de que gostei muito, mas onde não me entusiasmaria deixar lá umas massitas. O interessante disto tudo é que confirmei mais uma vez que, apesar de se tratar de situações que têm como único elemento comum o país, se não tivesse vivido aquilo durante algum tempo não teria apreendido tão bem isto que aqui está, no fundo a diferença entre o simples turista e o que foi um pouco mais fundo na vida local.
A Tunísia é um caso particularmente interessante. Tal como em Portugal tem um presidente da república professor de direito constitucional. Lá, o presidente da república depois de chegar ao poder mandou a constituição sanita abaixo. Por cá não fez isso, é apenas um substituto da Renova. A criatividade não chega tão longe como lá, mas ainda assim espanta. Basta um exemplo: vou dissolver o parlamento...daqui a três meses. Desta duvido que o legislador (entre os quais se contava (ele tivesse algum dia pensado.
Vejam lá como está o mundo, que agora até da Tunísia se fala, só para evitar falar-se da Ucrânia! Ao longo dos últimos anos falou-se repetidamente da Ucrânia e só dela. Havia Ucrânia em todas as edições da Economist. Agora, deixou de se falar: a Ucrânia foi derrotada na guerra mas não convém falar disso, pelo menos até à eleição nos EUA.
Anónimo: muito bem observado, é uma flagrante inconstitucionalidade fazer aquilo que Marcelo fez, não dissolver o parlamento mas avisar que o faria daqui a um mês e tanto. A Constituição diz que o presidente dissolve e as eleições são passados 55 dias. Isto tem que ser cumprido assim mesmo, o presidente não pode deixar de dissolver mas avisar que dissolverá.
5 comentários:
Ali por fins de 2008 e princípios de 2009 deu-me para aceitar ser promitente sócio-fundador de uma empresa de produção de azeite, uma associação de portugueses (que tinham e têm cá os lagares) e de tunisinos ou tunisianos (que tinham mas desconheço se ainda têm lá as oliveiras, houve por lá umas voltas da vida).
A Tunisia é um três grandes produtores de azeite do mundo, sendo 90% da sua produção encaminhada para Itália, Espanha, França (e EUA) pelo que não convém embirrar muito com eles quando se pensa na importância que têm nas cozinhas, das quais saem os pratos que alimentam as almoçaradas onde se resolvem os negócios.
Ainda hoje desconfio que o interesse na minha pessoa tinha duas vertentes, o dinheiro da quota e o facto de falar francês como falo o português pois, na hora dos finalmente, não queriam a minha opinião de gestor experiente para (quase) nada, mas ter alguém a dialogar de igual para igual foi fundamental, o francês fluente foi bem útil.
Em resumo: um sócio-intérprete.
Foi assim uma experiência muito interessante e que felizmente não deu em nada, pois em Dezembro de 2010 o jovem Mohamed Bouazizi imolou-se pelo fogo e deu origem à propagação do movimento conhecido como Primavera Árabe, que começou na Tunísia e se estendeu para todo o Norte da África e Médio Oriente (o resto já se sabe).
E felizmente não deu em nada porque nós portugueses continuámos todos amigos, a sociedade era para constituir lá, os sócios de lá tinham “ligações” políticas (e também por isso desconheço se ainda têm lá as oliveiras) e eu estava cada dia menos interessado naquilo tudo.
Assim não tive que fazer nada para deixar de ser “promitente sócio-fundador” de uma sociedade industrial e comercial, com sede num país com gentes de que gostei muito, mas onde não me entusiasmaria deixar lá umas massitas.
O interessante disto tudo é que confirmei mais uma vez que, apesar de se tratar de situações que têm como único elemento comum o país, se não tivesse vivido aquilo durante algum tempo não teria apreendido tão bem isto que aqui está, no fundo a diferença entre o simples turista e o que foi um pouco mais fundo na vida local.
A Tunísia é um caso particularmente interessante. Tal como em Portugal tem um presidente da república professor de direito constitucional. Lá, o presidente da república depois de chegar ao poder mandou a constituição sanita abaixo. Por cá não fez isso, é apenas um substituto da Renova. A criatividade não chega tão longe como lá, mas ainda assim espanta. Basta um exemplo: vou dissolver o parlamento...daqui a três meses. Desta duvido que o legislador (entre os quais se contava (ele tivesse algum dia pensado.
Vejam lá como está o mundo, que agora até da Tunísia se fala, só para evitar falar-se da Ucrânia!
Ao longo dos últimos anos falou-se repetidamente da Ucrânia e só dela. Havia Ucrânia em todas as edições da Economist. Agora, deixou de se falar: a Ucrânia foi derrotada na guerra mas não convém falar disso, pelo menos até à eleição nos EUA.
Anónimo: muito bem observado, é uma flagrante inconstitucionalidade fazer aquilo que Marcelo fez, não dissolver o parlamento mas avisar que o faria daqui a um mês e tanto. A Constituição diz que o presidente dissolve e as eleições são passados 55 dias. Isto tem que ser cumprido assim mesmo, o presidente não pode deixar de dissolver mas avisar que dissolverá.
Amigo Manuel, só lhe tenho a dizer o seguinte: antes azeite tunisino do que trigo ucraniano.
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