Bernard-Henry Lévy, conhecido em França como BHL, esteve em Lisboa, onde apresentou, há dois dias, um monólogo teatral, no Tivoli. Teve casa cheia. Não estive lá, mas disseram-me que não perdi muito.
Lévy foi o filósofo francês que estimulou Nicolas Sarkozy à invasão da Líbia e que, no auge da tensão ucraniana, surgiu em Kiev a mobilizar os nacionalistas anti-russos. Foi aliás na Ucrânia que o encontrei, em 2016 e 2017, em dois congressos em que ambos participámos.
A França é muito dada à gestação deste tipo de "guerrilheiros da palavra", de corajosos combatentes com os mortos dos outros, prenhes de gesticulação mediática e com uma avaliação das consequências das lutas ao nível das batalhas de soldadinhos de chumbo. Estou a ler um livro da filha de Régis Debray que fala desse outro exemplo.
Lévy é um intelectual que, como filósofo, diz quem sabe que tem apreciável mérito. É um esteta. Veste-se daquilo que os brasileiros qualificam de "esporte fino", isto é, fatos de fino recorte com camisa branca aberta até ao terceiro botão, a mostrar o peito, cabelo ondulado e falsamente esvoaçante, graças à eficácia da laca. Quando vivi em Paris, via-o regulamente no “Flore", preponderando numa corte de admiradores, acompanhado da vistosa mulher, a atriz e modelo Ariel Dombasle.
Um dia, em 2010, a vida intelectual francesa foi sacudida por uma imensa e cruel gargalhada. Numa obra de Lévy, "De la Guerre en Philosophie", este citou, a certo passo, as conferências proferidas por um tal Jean-Baptiste Botul, perante os neokantianos do Paraguai, a seguir à Segunda Guerra Mundial. Lévy já havia usado excertos de Botul numa conferência na Ecole normale supérieure, em 2009. Ambas as citações vinham da obra de Botul, “A vida sexual de Emmanuel Kant”.
Ora Botul era uma figura inventada, criada em 1995 por um jornalista do satírico Canard Enchainé. O filósofo caiu na esparrela e, mais do que do valor (que parece que era real) das 1340 páginas do livro, a França intelectual passou por algum tempo a falar de Botul e a rir-se de Lévy. Há que convir que deve ser uma grande ingenuidade acreditar na existência de uma massa crítica de neokantianos no Paraguai! Pensando melhor: talvez houvesse alguns, entre os refugiados políticos centro-europeus da época...
11 comentários:
Esta criatura apareceu na TV, numa entrevista a um canal português.
Teceu grandes elogios a Portugal e recordou a sua vinda ao Portugal de Abril com um
"O POBLO unido RAMÁS será vencido"
Por mim, ficou marcado.
Só contaram pra você, ó Francisco !
Bem, sobre essa dos "guerrilheiros da palavra", acho que a França tem uma maior tradição do que outros países de intelectuais que puseram as mãos na massa e arriscaram de facto a vida começando pelo caso do Debray, passando pela Resistência e pela guerra civil de Espanha. Se são guerras justas ou não, é outro assunto. Nisso, acho que o senhor Embaixador está a ser injusto.
Vous lui faites grand honneur, à ce bourreau, Senhor Embaixador.
Lévy, o mais importante defensor de uma guerra contra a Líbia, desapareceu do fogo da rampa no contexto líbio.
Está talvez agora a instigar outra guerra algures… em nome da sua filosofia duvidosa.
Cumpriu a sua missão na Líbia, que está agora pior que sob Gaddafi. Merci BHL Sarkozy, e Hillary, aquela que disse ao chegar a Tripoli :" Veni, Vidi, Vici…"
Bravo para os milhares de mortos e o mercado de escravos negros de Tripoli…
Se o primeiro-ministro Netanyahu é "o judeu mais influente do mundo inteiro", B.-H. Lévy é o número 45, de acordo com um artigo publicado em Jerusalém em 21 de Maio de 2010.
Lévy chegou apenas dois lugares atrás de Irving Moskowitz, "o Tycoon da Florida, principal apoio para a construção judaica em Jerusalém Oriental , que era Palestiniana !
Proclamar que Lévy é um impostor intelectual, é perder a lógica clara que parece unificar todas as actividades deste homem, trabalho e escritos. Ele parece obcecado com "libertar" os muçulmanos, da Bósnia ao Paquistão, da Líbia e de outros lugares.
No entanto, não se pode falar de uma obsessão saudável emanando de um amor aberto e um fascínio pela sua religião, a sua cultura e os seus estilos de vida infinitos.
"Um Messias que não tem medo de promover a violência para o maior bem da humanidade"
Ao longo da sua carreira difícil de apreender, Lévy fez muito mal, às vezes servindo como um lacaio para os homens de poder, outras vezes, liderando as suas próprias cruzadas.
Grande defensor da intervenção militar, o seu perfil é repleto de referências a países muçulmanos e intervenções militares, do Afeganistão ao Sudão e, finalmente, à Líbia.
A direita israelita é fascinada por B.-H. Lévy. No “Jerusalém Post”, a celebração da sua influência global culmina com a seguinte citação: "um filósofo francês e um dos líderes do novo movimento de filósofos que disse que os judeus estão destinados a fornecer uma voz moral única no mundo." Rien que ça… E depois toca a assassinar os pequenos Palestinianos! e a roubar a terra aos Pais !
Mas a moralidade não tem nada a ver com isso. As façanhas filosóficas do nosso homem parecem apontar exclusivamente para os muçulmanos e as suas culturas. "O véu é um convite para o estupro", disse ele na crônica judaica em Outubro de 2006. E viva a filosofia.
Gostei daquela parte em que os guerrilheiros disparam protegidos das balas do inimigo enquanto outros camaradas dão o peito às balas. BHL é, manifestamente, um cavalheiro vaidoso. Se for um grande filósofo talvez se lhe possa perdoar uma certa excentricidade...
José Figueiredo
Braga
Gostei daquela parte em que os guerrilheiros disparam protegidos das balas do inimigo enquanto outros camaradas dão o peito às balas. BHL é, manifestamente, um cavalheiro vaidoso. Se for um grande filósofo talvez se lhe possa perdoar uma certa excentricidade...
José Figueiredo
Braga
Nunca se deve confiar num homem com laca. Quanto ao resto nós também já tivemos algumas do MMCarrilo. Já para não falar dos violinos de Chopin. Alguns exemplos que nunca mais largam a pele de quem os profere. Com ou sem laca.
Estamos a assistir ao fim da civilização cristã como se estivéssemos a ver um filme em câmara lenta.
As coisas acontecem à frente dos nossos olhos e nós fingimos não ver.
Estamos a criar uma juventude que não percebe o que se passa (fruto da lavagem cerebral do politicamente correcto),invasão de refugiados na Europa vindos de países de religiões medievais, com políticos bem instalados que não querem saber nem querem mudar......
UM CROMO…
Há quem diga "tudólogo" às personagens assim descritas em vez de filósofo... E, citando Luis Maffei, de outro contexto, tal produz inevitavelmente « (...) um famélico esboroamento de limites e de integrantes (...)». Como não consigo empatia suficiente, problema meu certamente, para ouvir BHL na CNN, ou onde já me deparei com suas reflexões, não posso proporcionar opinião fundamentada na experiência viva que aqui nos traz nem na argumentação que tenho ouvido, que me não mereceu, nesses momentos, viva atenção.
devem ter ido a assistir ao espetáculo muitos franceses que já vivem em Portugal ?!
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