O neologismo é meu. Sarkozy vai voltar, contrariamente aos que o davam como politicamente "morto" na vida política francesa. A sua candidatura à presidência da UMP parece ser uma certeza.
O "ranger de dentes" na direita já se pressente: Alain Juppé pode perder "le dernier metro" para o Eliseu, François Fillon perceberá que a vingança se serve como a "vichyssoise", baronetes ambiciosos como Xavier Bertrand, François Baroin ou Bruno le Maire vão ter de repensar o seu tempo de entrada em cena. O humilhado François Copé sentir-se-á vingado. Imagina-se o sorriso, nem assim bonito, de Nadine Morano, ou bonito mesmo, muito BCBG, de Nathalie Kosciusko-Morizet. Mais amarelo, "très Vieux-Port", será o de Rashida Dati. Emergirá o gozo dos "barbouzes" da "politique politicienne" como Brice Hortefeux ou Christian Estrosi. E imagino que muitos dos meus velhos conhecidos do XVIème e seus arredores sociais vão fazer saltar rolhas no Fouquet's.
O eventual regresso de Nicolas Sarkozy à política francesa, colocando-se como potencial recandidato à presidência em 2017, não será um caminho sem espinhos. Ser líder da oposição, mesmo contra um governo que "está a pedi-las", é um "caminho das pedras", que as surpresas da Justiça francesa podem ainda tornar penoso. Sarkozy é um auto-convencido que o passado provou ser muito dado a erros, por precipitação, deficiente avaliação ou ambição desmesurada. O seu objetivo, para além da dimensão do projeto pessoal, pode vir a ancorar o eleitorado conservador um pouco mais distante de Marine Le Pen - e isso não seria uma má notícia para a França e mesmo para a Europa.
À esquerda, com ou sem Sarkozy, François Hollande já terá perdido as esperanças de reeleição. Para Manuel Valls, que poderá suceder-lhe como candidato apoiado pelo PSF, Sarkozy é um adversário temível, até porque Valls será co-responsável, enquanto primeiro-ministro de Hollande, de tudo quanto Sarkozy vier a combater nos próximos dois anos. E a menos que uma súbita retoma económica caia do céu, não se está a ver como o vento possa mudar. Valls, tal como aconteceu com Michel Rocard noutros tempos, já foi "a esquerda de que a direita gosta" - uma "raça" política que por cá também existe. Mas a direita só gosta dessa "esquerda" quando não pode exercer ela própria o poder. E, com Sarkozy, pode.
Dir-se-á que os franceses, em 2012, mostraram estar "exaustos" da "hiperpresidência" de Sarkozy. Talvez, mas os portugueses, em 1995, já "não podiam" com Cavaco Silva e, mesmo assim, viriam a colocá-lo em Belém, uma década depois. Agora, lembram-se bem; na altura, esqueceram-se. Repito uma banalidade: a memória dos povos é muito curta.
7 comentários:
Caro Dr Seixas, Cavaco Silva criou expectativas muito altas e e foi a razão. Agora dizer que já não podiam com ele, é forte. Facto é como o diz, que voltou a ganhar, portanto o seu trabalho foi reconhecido.
Foi pena não te tido coragem e ter demitido Sócrates e não chegaríamos a esta situação.
O seu a seu dono.
cumps.
Todos os governos burgueses, com diferenças de grau e não de essência, são corrompidos. Mas sob Sarkozy, "les affaires" floresciam e banalizavam-se mais facilmente. Sarkozy tinha prometido uma " Republica irrepreensível" e uma "democracia que seria exemplar ".
Na realidade deixou atrás dele uma republica corrompida e uma democracia inteiramente entregue ao capital e aos parasitas especuladores sem fé nem lei.
Depois da "Republica irrepreensível" de Sarkozy, veio a "Republica exemplar" com um Presidente" normal" de Hollande. A realidade da Republica, hoje como ontem, contrasta tristemente com as declarações de um e de outro presidente. Os escândalos financeiros e os casos de corrupção que põem em causa membros dos governos respectivos têm tendência a perpetuar-se.
Pode-se adoptar tantas leis quantas quisermos contra a corrupção, os "negócios" e os privilégios, abrir inquéritos e mesmo diminuir e limitar a sua importância, mas não se pode eliminá-las. Porque a sua existência e a do capitalismo são tão imbricados ma no outro que não se pode eliminar uma sem eliminar o outro.
E isto no momento em que se exige da população sacrifícios cada vez mais pesados, cada vez mais insuportáveis, no momento em que os desempregados e os precários se contam em milhões, os representantes da burguesia, eles, permitem-se de aferrolhar nos paraísos fiscais o que não declaram ao fisco. E depois há aqueles que se servem directamente nos cofres do Estado e gozam de imensos privilégios.
Mas o Estado ele mesmo é o património da burguesia, e em todos os casos ela considera-o como tal. Ela tolera os socialistas temporariamente como criados diplomados nos seus hotéis, como "extras" de certa maneira.
E quando o Chefe dos socialistas se comporta "normalmente", como não importa qual social liberal , aplicando um programa completamente contrário ao que prometeu, corrompido por esta adesão passiva ao sistema, que o leva a dar milhões aos empresários e a retirar aos desfavorecidos, a sanção é fatal.
O governo não é nada mais que um comité que gera os negócios comuns da classe burguesa inteira. E mais ele serve os interesses da burguesia, mais se afasta das classes populares. O Presidente já não é o presidente de todos os Franceses.
Entretanto, o FN prepara-se para retirar os frutos da renegação do socialismo e da amnésia dos cidadãos, pelo menos daqueles que desde Vichy não repugnam colaborar.
Mas o Sr Embaixador esqueceu-se de um apoiante de peso para a sua lista ficar mais completa. Trata-se de Balkany, Maire de Levallois-Perret et Deputado des Hauts-de-Seine, um grande amigo de Sarkozy.
Apesar de Balkany ter tido problemas com a justiça, o que o levou a expatriar-se um tempo de França, a amizade entre os dois homens nunca foi interrompida.
Eu bem sei que não devia dizer isto porque os franceses perdoaram tudo a Balkany e voltaram mesmo a reelegê-lo.
E a Sarkozy, claro, também lhe vão perdoar todos os pecados antigos, e os presentes e os que hão de vir.
Está na lógica do curso das coisas. A minha preocupação hoje já se situa noutro tempo mais avançado e é esta: como vamos nós, pessoas honestas, poder afirmar a nossa honestidade sem termos vergonha de o fazer ?
José Barros
assemelham-se as peças de teatro encenadas que se apresentam aos povos nos vários países,
mas mesmo assim parece há povos que pagam mais do que outros pelo bilhete para assistirem à mesmas
Caro Francisco,
Concordo globalmente com este "telegrama". Em França, agora tudo é infelizmente possível. Acho sobretudo que este "pré-revenant" vai ter que ultrapassar grandes obstáculos para chegar ao que quer, ou seja a imunidade a que terá direito o próximo Presidente. Não só o PS e o FN, mas os seus rivais dentro da UMP (sobretudo Juppé que não terá outra oportunidade) e todos os juízes de França. Ele até poderá ganhar agora o partido mas, mais próximo das eleições, é muito possível que com os processos a correr, o candidato venha a ser outro.
Um abraço do JPGarcia
Quando vi Valls nas actuais funções, escrevi um post em que conselhava a que Hollande se cuidasse.
E se Manuel Valls enfrentar Sarkozy creio que será o primeiro a ter maiores dificuldades. Sobretudo com a actual situação económica francesa.
Os ventos que se adivinham não são os melhores...
Sarkozy, no seu egocentrismo, adapta-se bem à idiossincracia dos franceses e por isso vai regressar a ser reeleito. Os problemas com a magistratura reemergirão à medida que forem aparecendo cada vez mais sinais sólidos de que é candidato. A magistratura francesa gere a oportunidade e a oportunidade mediática de brilhar.
Portugal é herdeiro de uma população inculta e rural e por isso tem Cavaco no poder ou um seu avatar.
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