quinta-feira, setembro 25, 2014

"Os gatos não têm vertigens"

Cada vez mais, na minha vida, opto pelas reações mais simples e automáticas. Um amigo, há minutos, no Chiado, dizia-me que, no cinema, escolhe sempre cadeiras de coxia, para poder sair se o filme lhe não agrada. Há muitos anos que, sempre que posso, procedo de forma idêntica: se não estou a apreciar o que vejo, "desando" logo, vou "à vida", porque já não tenho idade para me aborrecer com histórias que me entediam. Se, na televisão, "zapamos" quando nos não apetece o que estamos a ver, se fechamos, sem cerimónias, um livro que nos não agrada, porque não sair de um filme (ou até de um teatro) a meio? É o que eu faço.

Vem isto a propósito, curiosamente, de um filme que me provocou uma reação contrária. Trata-se do "Os gatos não têm vertigens", de António Pedro de Vasconcelos. Há mais de quatro anos, escrevi neste blogue: "António Pedro de Vasconcelos pertence a uma raça muito rara de cineastas portugueses que conseguem cumular três características: terem indiscutível qualidade, não serem chatos e, seguramente por isso, terem, entre nós, um público que paga para ver as suas obras - essa coisa pouco comum, algo "suspeita" e até menos dignificante, no peculiar mundo da produção cinematográfica lusa".

O filme a que faço referência fez-me passar momentos deliciosos e divertidos. Construído com arte e graça, servido por um conjunto magnífico de atores onde se destaca - e não o digo por uma velha amizade - Maria do Céu Guerra, é uma obra que recomendo vivamente. Por ali estão a Lisboa contemporânea, os tiques da sociedade portuguesa de hoje, o problemas e as figuras de um país cheio de interrogações mas, igualmente, onde ainda é possível descortinar gestos de solidariedade e de generosidade que, afinal, também são belas caraterísticas nossas.

9 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

Ora aqui está, meu caro Francisco, duas posições emque coincidimos. Nas coxias e no APV.
Nas coxias exactamente pelo mesmo motivo: a vida está lá fora, quando a de "dentro" não rende.
No APV que conheço desde que fui colega, no liceu, da Maria Helena e que reencontraria com o Álvaro Guerra. São tantos, mas tantos anos, apre! Ele é tudo quanto disse. E ainda tem uns filhos a quem me unem outras amizades. Começa-se pelos pais e acabamos nos herdeiros. É bom!

Anónimo disse...

As coxias.
As escapadelas que elas permitiam e permitem.
Quem tem poder crítico, e não só ,liberta-se com uma coxia, seja qual for o tipo de espetáculo.
Quanto ao regresso de APV e JB os cinéfilos regorgitam de alegria.

Guilherme.

patricio branco disse...

pode ser que vá, depois de ver a publicidade na tv e de ler esta entrada.
também pode ser que não vá, cada vez vejo mais cinema em casa e menos nas salas.
qualquer espectáculo que não mereça ser visto é de sair, concordo.

Isabel Mouzinho disse...

Eu, que gosto muito de cinema, não sou particularmente fã de cinema português, por mais que me custe dizer isto.
No entanto, vi a apresentação deste filme de APV umas três vezes e fiquei com vontade de o ver, nem que seja por Maria do Céu Guerra, que é garantia certa de qualidade.
Este seu post convenceu-me ainda um pouco mais. Este acho que vou ver!

(E também eu prefiro as coxias... :))

Anónimo disse...

O meu Pai mandava-me comprar o seu lugar no cinema sempre na coxia. Mas não era para eventuais saídas antecipadas. Gostava de ser mais discreto do que muitos em Vila Real que pediam um lugar explicitamente: “Sem pilar e sem Carlos!”
Este, não será um remake do filme Harold and Maude dirigido por Hal Ashby? Na época muito bom!
antónio pa

Unknown disse...

Depois que lhe passou a tetralidade de origem ficou uma tambem excelente perfomance em cinema a MCG.

Anónimo disse...

Esta Isabel Moutinho foi aluna do D. Liceu Pedro V no post-25 de Abril?
Com uma irmã editora? Amante de literatura.Por este blogue?

Isabel Mouzinho disse...

Não é Moutinho. Nem Mourinho. É Mouzinho...

Anónimo disse...

"Nos por ca todos bem". Ha muito que sou useira e vezeira do lugar na coxia. Pelas mesmas razoes saida rapida quando necessario e conveniente mas tambem para poder estender as pernas e evitar cabecudos a minha frente.

Vai comecar o Festival de cinema em Londres. A unica participacao Portuguesa "Dinheiro Cavalo" de Pedro Costa que este ano ganhou um premio em Locarno vai ser projectado 2 vezes, uma no National Film Theatre (ja esgotou) e no dia seguinte no ICA (ainda ha bilhetes). La estarei.

Aguardo com grande espectativa "Os gatos nao tem vertigens" e "Os Maias" de Joao Botelho. Por mim tenho mais fe no cinema Portugues que alguns compatriotas. A ver vamos!

Por festivais e Portugal/portugueses: uma jovem portuguesa residente em Londres tem uma curta no festival de Espinho - Eduarda lima com "Eastern Blues". Ide ver, ide ver que e muito bom.

Bom fim de semana

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