Vitor Bento era o nome que credibilizava a arriscada operação BES. Não era a sua experiência bancária (que era pouca, mas para isso lá estava a inquestionável capacidade de José Honório) que o recomendava, nem sequer uma grande proximidade com o poder político (que não era excessiva, mas para isso lá estava Moreira Rato a servir de garante). Era a sua reconhecida e indiscutível competência e o prestígio na área económica. Agora, aí está uma nova administração tecnocrática, integrada por alguns "safe pair of hands", que farão apenas o que "lá de cima" lhes mandarem. Vitor Bento não terá conseguido convencer da bondade da solução que propunha. A qual poderia ser pior ou melhor do que a que se seguirá. Nunca o saberemos. Mas será que alguém ainda acabará por ter saudades de Vitor Bento?
A atitude do governo perante o caso BES foi de uma inaudita cobardia. Não gosto de usar palavras fortes como esta, mas é o que penso. Recordo os silêncios algarvios, as referências fugidias a que tudo não passava de uma crise "numa empresa privada", passando "a bola" para o Banco de Portugal. Só quando tudo pareceu começar a compor-se é que o governo surgiu à boleia do sucesso potencial da solução. Seguiram-se as dissonâncias públicas entre o governo e o presidente da República, para tudo culminar num discurso incendiário de Maria Luísa Albuquerque, durante a posse dos novos administradores por ela impostos ao Banco de Portugal, criando um mal estar profundo dentro da instituição. Não basta ter um discurso "certinho" e projetar um ar de firmeza (a colar-se a uma espécie de síndroma "thatcheriana" que já fez a glória efémera de Manuela Ferreira Leite) para obter resultados concretos, aqueles que não dependam exclusivamente da evolução favorável da conjuntura externa. Será que alguém ainda acabará por ter saudades de Vitor Gaspar?
Partindo de um passado de inquestionável seriedade, Carlos Costa deu sinais de ser inábil a jogar com o fator tempo. Perdeu dias preciosos, que hoje se contam numa máquina calculadora, e, como agora se vê, prolongou um equívoco sobre o modelo gizado para o "Novo Banco". Além disso, é corresponsável por não se ter blindado juridicamente as consequências patrimoniais para quem caiu no "Banco Mau" (e vamos ouvir falar muito disto) e foi sua a decisão de colocar o BESA no lado negativo do banco, o que fez "estoirar" inapelavelmente a anterior garantia financeira de Luanda. Fica também a relação conflitual com a CMVM (por onde andará a investigação do "leak" que fez ganhar milhões a alguns, em poucos minutos, naquele célebre dia?) e, sabe-se agora, a KPMG terá deixado um alerta que deveria ter levado a medidas prudenciais do regulador. A supervisão também falhou com Carlos Costa. E falhou num tempo em que, em todo o mundo, está instalada uma cultura de supervisão bancária muito mais forte do que a que existia (cá como em todo o mundo) ao tempo do desencadear da crise, isto é, na altura do BPN (e dos vários bancos que faliram, em algumas grandes economias com poderosos bancos centrais, precisamente pela mesma razão). Será que alguém ainda acabará por ter saudades de Vitor Constâncio?
(Artigo que hoje publico no "Diário Económico")
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