sexta-feira, setembro 05, 2014

Presidenciais brasileiras


A morte do candidato Eduardo Campos alterou radicalmente o panorama das próximas eleições presidenciais brasileiras. Campos nunca deixara de ser o terceiro preferido nas sondagens, com Aécio Neves a grande distância, como o principal competir da atual presidente, Dilma Roussef.

Com a desaparição de Campos, Marina Silva, que era a candidata à vice-presidência da sua lista, assumiu a liderança e, de um dia para o outro, a sua cotação eleitoral "disparou", colando-se a Roussef nas intenções de voto. Por seu turno, o anterior "challenger" de Roussef, Aécio Neves, "despencou" (como dizem os brasileiros) nas análises de opinião e ficou para o terceiro lugar (antes ocupado por Campos). Marina Silva parece agora ser a mais séria ameaça à reeleição de Dilma Roussef. Ontem, um amigo brasileiro dizia-me que a última graça que por lá corre é a de que o avião em que Campos teve o acidente mortal caiu, afinal, "na cabeça" de Aécio Neves...

Marina Silva é uma figura atípica, de origens populares, muito marcada por um discurso religioso, bastante moralista nas questões de costumes, tudo complementado com um radicalismo em matéria ambiental que, noutros tempos, a tornou a grande inimiga do "agronegócio" e do desenvolvimento energético, área onde se confrontou com Roussef. Ministra do Ambiente de Lula, viria a ser afastada precisamente pela sua inflexibilidade. Há minutos, publicou no Twitter esta mensagem: “@marinaecologia: Hoje o dia ta corrido, vários compromissos e ainda tô costurando minha roupa de fibra de bananeira que usarei pra fazer campanha mais tarde.” Creio que diz muito de um estilo, não acham?

O Brasil não deixa de nos surpreender!

13 comentários:

Anónimo disse...

Ainda teremos alguém da Igreja Maná ou dos Jeovás com pelouros ministeriais.

Anónimo disse...

Depois de experimentarem outros candidatos que não resolveram os problemas dos Brasileiros, está na hora de elegerem esta ecologista filha de Pai Português!

Helena Sacadura Cabral disse...

Não sei, não, meu caro amigo. Ouvi a Lula coisas de igual quilate e ele chegou à Presidência.
Marina assusta. Mas Dilma já não convence ninguém.
Parece que governar o Brasil está perigoso.

Joaquim Moura disse...

Ainda que o destaque do post seja as "presidenciais brasileiras", de facto o post é dedicado, quase por inteiro, à candidatura da Marina, apoiada pelo PSB.
Descontando a resma de estereótipos e de inexactidões que dedica a Marina,
no essencial estou de acordo.
Marina não é uma figura atípica. Bem pelo contrário. Quem conhece e viaja pelo Brasil, encontra frequentemente muitos evangélicos- e sobretudo mulheres evangélicas - com características de personalidade idênticas às de Marina. Penso mesmo que aí reside uma das razões da popularidade de Marina. Essa identificação com a mulher de origem humilde, evangélica e com um discurso político marcado pelo populismo.
Eu nunca votaria Marina ou nos tocanos. Mas compreendo que para muita gente está difícil de voltar a votar na Dilma.
O voto Dilma nestas eleições vai ser, em muitos casos, um voto da classe média urbana assustada com a possibilidade de Marina ganhar e os evangélicos virem a aumentar, ainda mais, a sua já grande influência política em Brasília. Veja-se o recuo de Marina no caso recente do casamento das pessoas do mesmo sexo após a chantagem pública do pastor Silas Malafaia. Em quatro tweets, Malafaia obrigou-a a rasgar o seu programa, em menos de 24 horas. Elucidativo.
Por outro lado, um aspecto muito importante e novo nestas eleições, nem sequer é abordado no seu post. Refiro-me à coligação da Marina com o sector financeiro paulistano, que escreveu o seu programa económico, e que detesta Dilma. É uma coligação essa sim atípica. Marina tem revelado nos debates públicos uma confrangedora ignorância em matérias económicas. Debita a cassete e daí não sai.
Dilma foi uma decepção. Sem dúvida. Mas esta Marina assusta muita gente. Não tanto por ela mas pelos que estão por detrás dela. E como bem sabe, não há maneira de governar o Brasil sem ter de meter as mãos na bosta.

Pedro disse...

Venho duma região brasileira vocacionada à rizicultura, bem longe daquela onde nasceu a aludida candidata, especializada no cultivo do seringal. Distante como de Lisboa a Kiev.

Marina defende um único código para regularizar o manejo florestal em todo o Brasil, ou seja, a lei que disciplinaria a rizicultura do sul seria a mesma pros seringais do norte. Imagine uma regra unitária a regular os vinhedos do Porto e os trigais ucranianos.

Pois bem, a lei que Marina defende proíbe o plantio nas margens dos rios de 30 a 500 metros, a depender da largura do rio. Também impõe restrições em nascentes em cursos d'água (50 metros), e terrenos desníveis superiores a 100 metros.

Ora, Marina tomou como base a realidade que conhece - o norte do Brasil - com suas grandes fazendas, grandes rios, grandes florestas. Mas no sul a realidade é outra: as propriedades são familiares e os rios pequenos são a regra.

Com a aprovação do Código, uma quantidade prodigiosa de produtores rurais do sul foram à ilegalidade imediatamente, em especial os rizicultores.

O arroz é a base da alimentação brasileira e seu quilo, na região que nasci, custa em torno de R$1,80 (algo como 0,6 euros). Na região de São Paulo, distante 800km, ele custa exatamente o dobro (1,5 euros). Considere que o salário mínimo brasileiro é de 300 euros.

Se a lei de Marina for seguida à risca, a produção de arroz cairá e o preço aumentará. Os ambientalistas com quem conversei não me souberam dizer o impacto que o aumento do quilo do arroz teria nas famílias mais pobres, embora reconheçam que os seres humanos fazem parte do "meio ambiente".

O que quero dizer com isso? Que o ambientalismo defendido por Marina é coisa de gente estúpida, dessas que desconhece a realidade nacional e ignora os valores de nossa eficaz ciência agropecuária, essa mesma que nos torna o líderes neste mercado e oferece aos brasileiros uma farta gama de gêneros alimentícios a preços muito baixos.

Ano passado, tivemos uma crise na produção de tomate, com aumentos de 100%. Foi um rebuliço. Imagine se ocorre isso com o arroz!

Janus disse...

Este Brasil...este Brasil, só mesmo visto à sombra da bananeira a qual, aliás, fornece a fibra com que a candidata Marina se vai entretendo nas costuranças!!!

Pedro disse...

Aliás, os portugueses são os culpados do Brasil se tornar uma "república de bananas". Foram vocês que trouxeram o produto para cá!

Anónimo disse...

Onde é que está o acordo ortográfico no tweet de Marina? Será que vamos passar a ter que escrever como ela, caso seja eleita?

Isabel Seixas disse...

Enfim, dá que pensar...

Mário Machado disse...

Esse perfil cômico Marina Ecológica arranca boas risadas.

ARD disse...

Pedro, nós somos os descendentes dos portugueses que NÃO foram para o Brasil; você é (presumo) descendente dos que foram e ficaram. Por isso, foram vocês que levaram o produto para aí...

Anónimo disse...

a minha grande dúvida quanto a essa candidata, e se ela vai querer ser chamada de presidentA como a outra que inventou essa moda. Todos da base aliada de aluguel são obrigados de tratá-la presidentA.

Pedro disse...

Boa tese, caro ARD, mas para ela prosperar, teríamos de aceitar que os imigrantes, antes de virem pro Brasil, arriscaram uma passadinha pelo sudeste asiático, mas temo que não tenha sido este o caso.

O mais provável é que esses produtos (bananas, mangas, cana-de-açúcar e o boi zebu) tenham sido trazidos por vossos bravos conquistadores, que transitavam de lá para cá com exclusividade, a fim de abastecer os pequenos povoados que pipocavam pelo nosso litoral nos tempos idos (o "nosso" é modo de dizer).

Considere também que os que por aqui andavam até, sei lá, 1750, consideravam-se portugueses e não brasileiros. E nossa independência, a propósito, deu-se em 7 de Setembro de 1821.

Eis porque repito: a culpa do Brasil ser hoje uma república de bananas é dos portugueses, que para cá trouxeram o produto.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...