domingo, setembro 21, 2014

Problemas de liquidez

Tive ao longo da vida e, por um conjuntural acaso, continuo a ter, uma vida de hotéis. Nos últimos três dias, estive em três, todos pela primeira vez. Ontem, ao ler uma nota de Bagão Felix no "Público", reconheci-me nela.

Passa-se de um hotel para outro e, por mais experiência que acumulemos, o sistema das torneiras do banho continua a ser um mistério recorrente. Às vezes, entro numa nova casa de banho a ansiar por que tenha um sistema "à antiga", nada sofisticado, mesmo com o "preço" de ter um fluxo de água pífio. Tenho a sensação de que os arquitetos que engenham os mecanismos para tomarmos banho nos hotéis modernos fazem de propósito para instalarem sistemas cada vez mais complicados. Como sou um irreconvertível "late riser", o meu tempo matinal é marcado por um ritmo rápido, sem tempo para pausas ou congeminações (aliás, impossíveis para mim antes do primeiro "expresso"). Por isso, o sistema de banho tem de ser muito "óbvio", isto é, não tenho tempo a perder para raciocinar sobre como funcionam as misteriosas torneiras que giram entre o chuveiro e a água que sai mais abaixo, com crípticos mecanismos que misturam temperaturas com fluxos de água. (Recordo-me sempre do meu querido amigo Raul Solnado, quando nos explicava a descoberta dos "repuxos" nos bidés da modernidade). 

Assumo, sem dificuldade, que o defeito deve ser meu (até porque se estende, frequentemente, ao funcionamento das luzes dos quartos: há semanas, acreditem!, passei quatro noite num hotel sem conseguir perceber, por completo, como funcionavam todas as luzes!) Muitas vezes, tenho a sensação angustiada, pelas manhãs, de que necessitaria de ter um MBA qualquer para perceber como vou conseguir tomar um simples banho. Mas já não tenho idade para tirar novos cursos. 

8 comentários:

jj.amarante disse...

Nalguns casos, como é patente nas torneiras, a falta de normalização e o excesso de inovação é mais um incómodo do que uma vantagem. E receio que os ambientes caseiros irão piorar. Um dia não muito longínquo será necessária uma app para acender/apagar as luzes e outra app para lavar as mãos.

Isabel Seixas disse...

Ó Sr. Embaixador, gosto mesmo da forma como aborda esta questão claro que a culpa é das torneiras, das luzes, dos sistemas de som e eu a pensar que era trenga, penso que está tanta tanta coisa descoberta que a adolescência das coisas e dos objetos concebidos pela nova geração têm de confundir a lógica.

Anónimo disse...

Sr. embaixador, essa de não ter idade para tirar um novo curso depende...da universidade...

Silva.

Anónimo disse...

Será culpa do progresso???
Quem diria que uma coisa destas, tão apregoada durante tantos anos, está a dificultar a vida da nossa geração.

Fernando Correia de Oliveira disse...

Toda a compreensão e solidariedade hoteleira, Senhor Embaixador.Passo frequentemente pelo mesmo. Recordo como exemplo o Palafitte, em Neuchâtel. Tão high-tech em luzes, som, tv, estores e chuveiro que é sempre uma dolorosa aprendizagem, por mais que me toque lá pernoitar. E até é, apesar de tudo, único (em palafita, sobre o lago) e agradável.

Anónimo disse...

Se se deixasse dessas "mariquices" e colocassem torneiras normais, com pinta de torneira, funcionais era bem melhor. Agora com esta treta do "design", só serve é para complicar a vida das pessoas.

Susana Lucena disse...

Sr. Embaixador, como o compreendo. Tenho histórias hilariantes à conta dessas "malditas" torneiras. Ao ler o seu post, senti-me mais confortada, julgava que o problema era meu.

Susana Lucena

patricio branco disse...

acontece em muitas áreas, nos automóveis, p ex. a abertura das portas, o travão de mão, as luzes,as chaves de ignição, a pulsão para inovar, redesenhar, fazer diferente do outro marca, etc, guia o fabricar e vender.
e muitas vezes já nem são manuais estes instrumentos, os comandos, mesmo das torneiras, são electrónicas, digitais.
enfim, tantos hoteis em sucessão fazem de facto confusão, acredito.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...