segunda-feira, agosto 18, 2014

Pires Veloso


A História é feita de heróis improváveis. Pires Veloso, o general que agora desaparece aos 88 anos, é um deles. O bom senso com que conduziu o processo de transição de S. Tomé e Príncipe para a independência (um tempo que não foi tão fácil como alguns podem hoje supor) trouxeram algum prestígio a este militar, um tanto simplório (e que muitos acabaram por vir a conhecer quase apenas como o tio de Rui Veloso), que as forças conservadoras haviam de incensar e conseguir colocar no comando da Região Militar Norte.
O país com memória recorda as "romagens" do país político a um hospital onde recuperou de um aparatoso acidente de helicóptero, um "beija-mão" quase ridículo, que ficou no anedotário do "Verão quente" de 1975. Pires Veloso era a "resposta" de uma zona conservadora do país que abertamente rejeitou a tutela gonçalvista, titulada pela figura militar de Eurico Corvacho. À sua volta, juntou-se toda a gente que rejeitava a deriva esquerdista: desde verdadeiros democratas até bombistas (do MDLP ao ELP). Veloso terá cometido o erro de não pretender distinguir, com algum critério, dentre quem se opunha ao "inimigo" e isso levou-o a aceitar coisas que só a candura dos costumes políticos lusos é capaz de ter esquecido. Militarmente, e por conflitos mais pessoais que políticos, cometeu o erro de se opor a Eanes e isso acabaria por ditar o seu destino como figura com alguma ambição.
Tal como Pinheiro de Azevedo, Veloso acreditou que os episódicos banhos de multidão anti-comunistas se transformariam um dia numa maré de votos, pelo que arriscou protagonizar uma triste candidatura presidencial. As memórias que deixou - sob o titulo significativo de "Vice-rei do Norte" - são um registo de acrimónia desnecessária, que nada lhe acrescentam à biografia, que hoje se completou.

6 comentários:

Anónimo disse...

Como sou não-politizado não me lembro desta figura do PREC.

Anónimo disse...

Como sou não-politizado não me lembro de quem foi D. João II. Nem quem foi Sá Carneiro. Nem Marcello Caetano.
Rui Matos

João Marques Petinga Avelar disse...

Confundir valor com incenso é conversa de despeitado.

Anónimo disse...

Caro Rui Matos,

Concordo plenamente com o seu comentário...

Caro Anónimo das 16:54,

E quem é "não-religioso" não se lembra de Jesus Cristo, Maomé... E quem é "não-desportista" não se lembra de Pelé, Eusébio... Ou seja, anda-se neste planeta a ver passar comboios!

E cultura geral não existe?

Aquando do 25 de Abril estava no início da adolescência e, no entanto, sei quem foi Pires Veloso... e como gosto de música também sei que era tio do Rui Veloso.

Isabel BP

Anónimo disse...

a esquerda radical, de que o embaixador foi um adepto e agora é "um nostálgico de", embora se registe alguma mea culpa do tipo "quem nunca fez disparates que se levante", nunca percebeu uma coisa bem simples: as pessoas, genericamente falando, estiveram com o 25 de Abril mas as pessoas, na sua enorme maioria, estiveram contra o esquerdismo que reinou nos dois anos seguintes e a favor das "mocas de Rio Maior" e do movimento que deu cabo da tentativa totalitária que decorreu. A história mais recente já refere isso embora a esquerda não goste de o admitir porque gosta de atribuir esse papel a Mário Soares. E o que aconteceu é que Mário Soares teve um papel importantíssimo, mas depois de Salgado Zenha e das ditas mocas e quando já ele próprio estava em risco.
João Vieira

Alexandre Portugal disse...

A esquerda e Direita são cada vez mais jargões do passado, representações pictóricas de um mundo fraccionado que já não existe e cujo manutenção apenas aproveita a quem nada mais tem apresentar.

A esquerda que governou aburguesou-se tanto ou mais que o centro ou a direita. A extrema-esquerda continua igual: insatisfeita, revolucionária e cega.

Num tempo, o do PREC, onde essas querelas faziam todo o sentido, foi o norte que salvou o País.

O País, ou melhor, Lisboa, nunca lhe perdoou.

O resultado está à vista.

http://pensamentoliberalelibertario.blogspot.pt/

Agostinho Jardim Gonçalves

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