sexta-feira, agosto 22, 2014

Dam

Era o centro de um certo mundo, no final dos anos 60. A praça Dam era o local de encontro em Amesterdão. Vínhamos de mochila, chegados à boleia, às vezes sem a menor referência, sem saber onde dormir. Ali conhecíamos outras gentes, de toda a Europa e do outro lado do Atlântico. Ficávamos sentados à conversa naqueles degraus, com uma cerveja e uma sanduíche na mão, até que as mangueiras da municipalidade por lá passavam, ao final do dia, para varrer a lixeira. Era então o momento de zarpar, com os novos conhecimentos criados, para a noite em outras zonas da cidade, algumas mais aventurosas, outras apenas divertidas e agradáveis. Penso que não éramos nem piores nem melhores do que a juventude de todos os tempos. Éramos apenas diferentes.

O Dam de Amesterdão deixou, há muito, de ter esse estatuto mítico. Passei há pouco por lá. Chovia. Mas agora, em agosto, em trabalho, de blazer e gravata... É a vida!

7 comentários:

Defreitas disse...

Não era exatamente a "dolce vita" Senhor Embaixador, mas sente-se a nostalgia nas suas palavras. Não?

ignatz disse...

cerveja & sandocha é versão betamax de turista interrail autorizado pelo governo civil. aquilo era mais um centro hippyco de charro a cavalo dos vhs (vintage high school) que andavam à boleia (hitchickers) e serviam de cenário para as selfies dos betos-olha-que-pugressista-eu-sou.

patricio branco disse...

esses locais mudam, apagam-se finda a temporada, nascem outros. o dam em amsterdão, a carnaby str dos 60 em londres, em paris não sei o que seria equivalente, nem em lisboa ou porto. enfim, rever é bom, saudavel mesmo, olhar objectivamente o passado, e vemos que está o sitio, não o mundo que eram

Francisco Seixas da Costa disse...

E você, ignatz, por esse tempo, fazia o quê ? - seguramente algo de notável que escaparia à caricatura sardónica dos que sofrem eternamente da vesícula

ignatz disse...

eu andava à boleia e ilegal, porque passaporte era para quem tinha situação militar resolvida ou fiador do regime acreditado na pide. conte lá o que é que lhe fez azia no meu comentário inicial.

Francisco Seixas da Costa disse...

Ó Ignatz. À boleia também eu andava: estamos quites. O "ilegal" é que lhe dá um ar de clandestino, muito anti-fascista, muito "cinco noites, cinco dias". Não lhe deram ainda a Ordem da Liberdade? São uns ingratos! A azia de que falei é a sua, é a que espalha invariavelmente por várias colunas onde, na sua reforma profissional frente ao écran, diatriba diariamente a sua escrita ácida, com uma graça rebuscada, mas sempre raivosa. Quem o ler por esses espaços onde se devem divertir à brava a ler os seus adjetivos biliosos, deve-o achar "irreconhecível" no que deixa por aqui. Porquê? Porque você sabe que aqui fia tudo um pouco mais fino, o que o leva a excelar num registo de bilis com dose dupla de Kompensan. Deve ser um esforço do camandro, homem! Às vezes até tenho pena de si... Mas porque insiste em frequentar esta "tasca", como você lhe chamou há dias noutro espaço? Masoquismo ou ânsia de protagonismo, atendendo ao número de leitores do blogue?

ignatz disse...

oh chefe, você é mestre a distorcer e a saltar de assumpto. vamos lá pôr as coisas no sítio.

boleia, uns andam por necessidade outros por forma de vida

ilegal, era para a grande maioria dos que não tinham situação militar resolvida. passaportes só havia para os protegidos do regime, o que parece ter sido o seu caso.

clandestinidades, anti-fascismos e ordens da liberdade é você que apregoa com tanta snobeira que nem se dá conta do ridículo do terreno que pisa.

o irreconhecível, já anteriormente expliquei que tem a ver com a técnica de fintar a censura usada pelos senhores que autorizavam passaportes.

quanto ao frequentar a tasca, venho cá porque me apetece, dá-me gozo frequentar sítios finos onde pia fino e praticar birdwatching enquanto não for bloqueado, o que já me aconteceu na maioria dos blogues bem e mal educados de direita.

xau, no hard feelings.

Agostinho Jardim Gonçalves

Recordo-o muitas vezes a sorrir. Conheci-o no final dos anos 80, quando era a alma da Oikos, a organização não-governamental que tinha uma e...